
Educação Intergeracional: Avós e Netos
Informações do documento
Autor | Orlanda Maria Da Costa Almeida |
instructor/editor | Prof. Doutora Ana Camargo |
school/university | ESE - Viana do Castelo |
subject/major | Educação Artística |
Tipo de documento | Mestrado em Educação |
academic_year/year_document_was_written | 2012 |
city_where_the_document_was_published | Viana do Castelo |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 2.45 MB |
Resumo
I.Contexto do Estudo Envelhecimento Ativo e Isolamento Social
Este estudo, realizado em 2012 (Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e Solidariedade entre Gerações), investiga o impacto do desequilíbrio populacional e da rutura familiar na vida de idosos, frequentemente levando ao isolamento social. A pesquisa destaca a importância de resgatar o protagonismo dos idosos como transmissores de cultura e guardiões da memória coletiva, e o papel das crianças como mediadores na interação intergeracional. A arte é proposta como ferramenta simbólica para promover contatos sociais ativos e novas experiências sensoriais, combatendo a solidão e fortalecendo a autoestima.
1. O Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e a Realidade do Isolamento Social
O estudo, realizado em 2012, coincidiu com o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e Solidariedade entre Gerações. Este contexto forneceu a base para a investigação, que se concentrou na crescente disparidade populacional entre jovens e idosos, um desequilíbrio que, aliado à fragmentação das famílias intergeracionais, tem levado muitos idosos ao isolamento social. A pesquisa ressalta a urgência em recuperar o papel central dos idosos como transmissores de padrões comportamentais e guardiões da memória coletiva. A iniciativa da Comunidade Europeia de designar 2012 como o 'Ano Europeu do Envelhecimento Ativo' visava, entre outras metas ambiciosas, estimular a vitalidade das pessoas idosas, fomentando sua participação na sociedade e reduzindo as barreiras entre gerações. Este objetivo almejava, a longo prazo, construir uma cultura sustentável de envelhecimento ativo, exigindo a colaboração de entidades nacionais, regionais e locais, bem como de parceiros sociais, empresas e a sociedade civil como um todo. O estudo destaca a importância de investimentos em bem-estar, participação social e cuidados de saúde para a população idosa.
2. O Desafio do Envelhecimento Populacional Projeções e Implicações Sociais
Uma projeção global indica que, pela primeira vez na história, em 2050, o número de adultos com mais de 60 anos ultrapassará o número de jovens. Este fenômeno de envelhecimento populacional, particularmente acentuado nos países ocidentais durante o último século, apresenta um aumento significativo na proporção de adultos com mais de 60 anos, em contraste com a diminuição do número de indivíduos abaixo dos 15 anos. Este cenário gera uma série de problemas sociais complexos. Harper S. (2008) destaca a crucial necessidade de promover o bem-estar e um estilo de vida ativo e saudável para os idosos, fornecendo-lhes as ferramentas físicas, mentais, sociais e financeiras necessárias para uma adaptação eficaz a esta nova fase da vida. Especificamente em Viana do Castelo, o estudo destaca o investimento no Programa Cultura da Idade, iniciativa do Gabinete Cidade Saudável da Autarquia de Viana do Castelo. Este programa, parte de um projeto global baseado no conceito de Saúde para Todos (SPT) do século XXI da Organização Mundial da Saúde e nas diretrizes da Carta de Otava, alinha-se com seis princípios de ação: equidade no acesso à saúde, promoção da saúde e prevenção de doenças, proteção da saúde e dos riscos ambientais, participação da comunidade, serviços de saúde acessíveis e cooperação internacional para lidar com os problemas de saúde.
3. A Arte como Arca Intergeracional Promovendo a Interação e o Combate à Solidão
O estudo propõe a arte como um elemento simbólico fundamental, agindo como uma 'arca intergeracional', protetora e promotora de contatos sociais ativos entre os idosos e crianças. Ao promover a interação entre gerações, a arte possibilita novas experiências sensoriais que auxiliam no enfrentamento do isolamento e da solidão, fortalecendo a autoestima dos idosos. As crianças, por sua vez, desempenham um papel crucial como agentes mediadores da comunicação, facilitando a interação entre os idosos e a sociedade. A perspectiva da pesquisa é que, através de experiências compartilhadas, os idosos possam desempenhar um papel mais ativo na transmissão de padrões de comportamento e na preservação da memória coletiva. A integração entre gerações promovida pela arte, portanto, não só reduz o isolamento social, mas também fortalece o sentimento de inclusão e valoriza a contribuição cultural dos idosos, enriquecendo as experiências de vida tanto dos idosos quanto das crianças envolvidas nesse processo de interação.
II.A Percepção do Envelhecimento e os Estereótipos
A pesquisa aborda a percepção negativa frequentemente associada ao envelhecimento, muitas vezes ligada ao medo da morte e estereótipos negativos perpetuados pela mídia. O estudo analisa como as famílias contemporâneas enfrentam dificuldades em cuidar dos idosos, e como as relações intergeracionais próximas (avós e netos) podem ser benéficas. A investigação explora a influência dos estereótipos na compreensão do envelhecimento, contrastando-os com a necessidade de uma visão positiva e a promoção de um envelhecimento ativo e bem-sucedido.
1. Visões negativas do envelhecimento e o medo da morte
A literatura apresenta uma vasta gama de estudos que investigam por que o envelhecimento é muitas vezes encarado de forma deprimente, frequentemente associado ao medo da morte (Hughes e Heycox, 2008). A inevitável deterioração física, confrontada pelos próprios jovens, também contribui para esta visão negativa (Martens et al., 2005, citado por Hughes e Heycox, 2008). Estereótipos, amplamente disseminados pela mídia, distorcem a compreensão plena desta fase da vida, representando-a como um evento único e irrepetível que merece uma perspectiva diferente daquela a que as crianças são expostas diariamente – um olhar superficial e apressado, como descrito por Susan Sontag (citada por Gulette, 2004) como 'faster and faster seeing'. Este estudo se propõe a contrapor essas visões negativas, buscando uma compreensão mais abrangente e positiva do processo de envelhecimento.
2. O papel da família e as relações intergeracionais
As famílias contemporâneas enfrentam desafios na sua capacidade e vontade de cuidar dos seus idosos, contribuindo para o isolamento destes dos seus filhos e outros familiares. Embora se observe uma recuperação do papel do idoso, impulsionada pela motivação e obrigações familiares (Parsons, 1944; Popenoe, 1993, citado por Lowenstein e Katz, 2010), a pesquisa destaca a importância das relações próximas entre gerações, mesmo à distância, enfatizando a proveitosidade das ligações entre avós e filhos adultos (Hogan et al., 1993; Silverstein et al., 1997, citados por Silverstein e Attias-Donfut, 2010). A pesquisa cita ainda que os filhos que apoiam os pais na velhice são frequentemente aqueles que sentiram maior apoio por parte de seus pais (Ikken et al., 1999, citado por Silverstein e Attias-Donfut, 2010), demonstrando uma relação recíproca e significativa entre gerações.
3. Estereótipos e a construção social da idade
O estudo explora a formação de estereótipos, que, segundo Thornton (2002), resultam da tendência natural da mente em criar categorias para organizar a percepção da realidade ('Its necessary to make inferences from perceptions', p. 302). Para atribuir significado ao mundo, categorizamos pessoas, objetos e eventos com características semelhantes. Hagestad e Uhlenberg (2005), citando Braithwaite (2002), descrevem essas categorias como ferramentas cognitivas que processam estereótipos, reduzindo as diferenças internas e tornando o individual invisível. A idade emerge como um pilar fundamental na organização social, estruturando, segundo Fry (2010), os percursos de vida em três etapas distintas: preparação (adolescência), trabalho e casamento (vida adulta) e reforma e descanso (terceira idade). Esses estereótipos afetam a compreensão do envelhecimento, muitas vezes retratando os idosos de maneira negativa (Palmore, 2005), como pessoas incapazes de se adaptar, infelizes, pobres, irritáveis, e mais suscetíveis a violência familiar, entre outros preconceitos. Experiências educacionais são apontadas como importantes para contrabalançar esses estereótipos negativos. As atitudes das crianças para com os idosos são fortemente influenciadas pelas atitudes dos próprios adultos em relação ao envelhecimento, sendo moldadas por fatores culturais, familiares e pela influência da mídia (Gilbert et al., 2008). A teoria da 'cultivação', que analisa a influência da exposição repetida à mídia (Gorham, 1999), reforça a ideia de que a constante exposição aos estereótipos negativos na televisão e outros meios podem criar uma predisposição a aceitá-los como verdadeiros (Gerbner et al., 2002, citado por Robinson et al., 2009). O estudo de Robinson et al. (2009), analisando a representação de idosos em filmes para adolescentes, reforça como estereótipos físicos negativos (aparência de reformado, cabelos grisalhos, rugas, perda de cabelo, uso de muletas ou cadeiras de rodas) e de personalidade são frequentemente apresentados.
III. Práticas Intergeracionais na Aprendizagem ao Longo da Vida
O estudo se baseia em iniciativas da União Europeia, como o programa Erasmus for all e o projeto Cross Ages, que promovem a aprendizagem ao longo da vida através de dinâmicas intergeracionais. A pesquisa investiga métodos para facilitar a troca de experiências e ideias, visando um envelhecimento ativo e a inclusão social dos idosos, desafiando a visão tradicional de que a velhice representa somente ‘sans teeth, sans eyes, sans taste, sans everything’.
IV.A Arte como Ferramenta para a Educação Intergeracional
A pesquisa destaca a importância da arte na educação, enfatizando a criatividade, flexibilidade e adaptação como competências essenciais. Baseando-se em diretrizes da UNESCO, o estudo explora as práticas intergeracionais mediadas pela arte como um meio de promover o bem-estar e a saúde dos idosos, contrastando intervenções ativas com as passivas. O uso da arte em projetos intergeracionais serve para transmitir conhecimento e experiências de vida, confrontando estereótipos negativos sobre o envelhecimento.
1. A Arte na Educação Desenvolvimento de Competências para o Século XXI
A UNESCO, na Conferência Mundial em Educação pela Arte (2006), reconheceu a criatividade, flexibilidade, adaptabilidade e inovação como competências essenciais para o mercado de trabalho contemporâneo. O documento “Road Map for Arts Education” (2006) reforça a importância das artes no desenvolvimento dessas habilidades, promovendo a autoexpressão, a avaliação crítica do mundo e o envolvimento ativo na vida. Os quatro principais objetivos do ensino artístico, segundo a conferência, são: promoção do acesso à educação e participação cultural e artística; promoção do potencial humano (criatividade, iniciativa, imaginação, inteligência emocional, reflexão crítica, autonomia); aumento da qualidade da educação (aprendizagem ativa, currículo relevante, respeito pelas comunidades e culturas, professores motivados); e, por fim, o encorajamento da diversidade cultural através das expressões artísticas e práticas culturais. Este estudo se utiliza deste contexto para justificar o emprego da arte como instrumento pedagógico na interação intergeracional.
2. As Artes em Práticas Intergeracionais Contato Ativo e Bem Estar
Greaves (2006) destaca a superioridade de intervenções que promovem contatos sociais ativos e estimulam a criatividade, mediadas por um mentor, para a promoção da saúde e bem-estar dos idosos, em comparação com intervenções passivas, como visitas domiciliares (Greaves, citando Clark M et al., 1992; Howse, 2000; Findlay, 2003). Intervenções que fomentam o contato ativo, o desenvolvimento de papéis sociais significativos e o comprometimento ativo nas comunidades locais têm um impacto positivo na saúde e na qualidade de vida dos idosos (Greaves, citando Anderson, 1985; Tennstedt et al., 1998; Ciechanowski P et al., 2004; McAuley et al., 2000). A criatividade é apontada como um fator-chave na adaptação ao envelhecimento, conduzindo ao bem-estar psicológico (Greaves, 2006, citando Smith et al., 1989; Shaw, 2001; Wickstrom-Britt, 2002). A pesquisa investiga como as artes podem ser utilizadas como um meio para promover essas práticas intergeracionais, criando oportunidades para o contato ativo e a troca de experiências entre gerações, levando a um impacto positivo na saúde física e mental dos idosos e enriquecendo as experiências das crianças e jovens envolvidos.
V.Metodologia e Resultados Memória Coletiva e Envelhecimento em Viana do Castelo
A metodologia envolveu a participação de alunos do 8º ano de uma escola de Lanheses e seus avós em Viana do Castelo, Portugal. Utilizando fotografias, entrevistas e questionários, a investigação analisou a percepção do envelhecimento, as relações intergeracionais, e a transmissão da memória coletiva. Resultados mostraram a importância de fotografias como recordação de eventos e momentos de vida, refletindo a experiência do envelhecimento e as relações familiares. O projeto foi integrado no mapa europeu EMIL - European Map of Intergenerational Learning, dando visibilidade a iniciativas locais de Viana do Castelo, como o Programa Cultura da Idade pelo Gabinete Cidade Saudável da Autarquia de Viana do Castelo.
1. Metodologia Estudo de Caso em Viana do Castelo
A pesquisa utilizou uma metodologia qualitativa, envolvendo alunos do 8º ano da Escola Básica e Secundária de Lanheses e seus avós, em Viana do Castelo, Portugal. A proximidade geográfica facilitou a troca de informações e o desenvolvimento das sessões. Foram utilizados diversos instrumentos de recolha de dados: registos fotográficos, questionários, entrevistas e observações de campo. A investigadora Orlanda Maria da Costa Almeida, professora do Agrupamento de Escolas de Arga e Lima, obteve autorização para realizar a investigação como parte de sua dissertação de mestrado em Educação Artística na Escola Superior de Educação de Viana do Castelo, com o tema “Educar para o Envelhecimento”. O estudo se valeu de imagens, questionários e entrevistas para compreender a percepção do envelhecimento, o impacto do isolamento social e a importância da memória coletiva. A utilização de objetos pessoais e fotografias como elementos de análise busca enriquecer a compreensão das experiências de vida, conhecimento, valores e ações dos participantes, utilizando as perspectivas de McMillan e Schumacher (2009) e Gillian (2007) sobre a importância dos objetos e sua troca no contexto das relações sociais.
2. Análise de Dados Memória Coletiva e Relações Intergeracionais
A análise dos dados incluiu a observação de fotografias pessoais fornecidas pelos alunos, refletindo momentos significativos de suas vidas e de seus avós. A análise das imagens focou-se na representação do espaço (interior e exterior da casa, igreja, etc.), na relação entre avós e netos, e na sequência temporal apresentada. A ausência de fotografias atuais em alguns casos foi observada e analisada, relacionando-a com possíveis contextos socioeconômicos de privação. A análise se estendeu à exploração da memória coletiva, através da partilha de histórias de vida pelos avós, analisando os seus relatos sobre a experiência do envelhecimento, suas alegrias e dificuldades, e a importância da preservação da memória familiar e comunitária. A análise também considerou as percepções dos alunos, suas reflexões sobre as imagens e as histórias contadas pelos avós, buscando compreender a sua percepção sobre o envelhecimento e a relação intergeracional. O baixo nível de alfabetização em Portugal no passado (Candeias, 2005, p. 483, citando Graff, 1991) – 55%, comparado com 98% na Inglaterra e França, e 80% na Espanha – é considerado como um fator que pode ter influenciado a ausência de registros fotográficos das infâncias e juventudes dos avós. A pesquisa conclui com a observação de como projetos intergeracionais locais, como o da escola, podem ser valorizados e expandidos, integrando-se em projetos nacionais e internacionais, contribuindo para uma melhor compreensão e aproveitamento do processo de envelhecimento.
Referência do documento
- Wise Women: A Celebration of Insights and Courage