
Composto Orgânico e Produtividade de Alface
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Idioma | Portuguese |
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Resumo
I.Efeito do Compostado de Resíduos de Cunicultura no Crescimento da Alface
Este estudo investigou o impacto da aplicação de compostos de resíduos de cunicultura (CRC) e de resíduos de ovinocultura (CCRO) na produtividade da alface. Resultados mostraram que a acumulação de macronutrientes (N-P-K) nas folhas de alface aumentou significativamente com doses crescentes de ambos os compostos, sendo o efeito mais pronunciado com o CCRO. A aplicação de CRC aumentou a absorção de nutrientes e a produtividade, mas uma melhor seleção dos materiais e do processo de compostagem é recomendada para reduzir a condutividade elétrica, que pode afetar negativamente o crescimento em altas concentrações. A produção de alface foi superior com o CCRO (12,2 t/ha) comparado com a maior produção com CRC (74,4 g/planta). A alta condutividade elétrica do CRC (16,9 dS m⁻¹) em comparação com o CCRO (1 dS m⁻¹) pode explicar a menor produtividade com o CRC. O estudo destaca a importância da qualidade do composto, incluindo a maturação e a razão carbono/nitrogênio, para otimizar o crescimento da alface e a fertilidade do solo em sistemas de agricultura biológica.
1. Acumulação de Macronutrientes e Produtividade
A acumulação de macronutrientes (N-P-K) nas folhas de alface aumentou significativamente com o aumento das doses de compostado de resíduos de cunicultura (CRC) e ainda mais com o compostado de resíduos de ovinocultura (CCRO). A aplicação de CRC mostrou-se eficaz em aumentar a absorção de nutrientes e a produtividade da alface, especialmente em sistemas de produção biológica. No entanto, a pesquisa recomenda uma melhor seleção de materiais e um processo de compostagem mais refinado, focando na redução da condutividade elétrica do CRC para otimizar os resultados. A alta condutividade elétrica, um indicador de imaturidade ou excesso de sais, pode prejudicar a absorção de água e nutrientes pela planta. Os resultados sugerem que o uso de compostos orgânicos, como o CRC e o CCRO, pode ser uma alternativa viável aos fertilizantes minerais, contribuindo para práticas agrícolas mais sustentáveis. A análise comparativa entre CRC e CCRO revela diferenças na eficácia, destacando a importância da qualidade do composto para a obtenção de máxima produtividade na cultura de alface.
2. Comparação entre CRC e CCRO Peso Fresco e Peso Seco
O estudo comparou o efeito de diferentes doses de compostos de resíduos de cunicultura (CRC) e de compostos de resíduos de ovinocultura (CCRO) no peso fresco e peso seco das plantas de alface. Os resultados indicaram que o CCRO produziu plantas com pesos significativamente maiores, tanto fresco quanto seco, em comparação com o CRC na maioria das situações. Embora o CRC tenha demonstrado um aumento gradual no peso das plantas com o aumento da dose aplicada, a diferença significativa em relação ao controle (sem aplicação de composto) foi observada apenas em doses mais elevadas e nem sempre em todas as plantações. A maior produtividade observada com CCRO, com 4 toneladas por hectare, atingindo 122 gramas por planta e uma produtividade de 12,2 toneladas por hectare, superou os resultados do tratamento com 8 toneladas por hectare de CRC. Estes valores, embora positivos, ficaram abaixo do esperado quando comparados com produções em campo, sugerindo que o cultivo em vasos pode apresentar limitações. O estudo citou pesquisas adicionais (Radics et al., 2008; Porto et al., 2008) que também observaram aumento de produção de alface com compostos de estrume de ovelha e bovino, respectivamente.
3. Análise de Nutrientes e Condutividade Elétrica
A análise dos teores de nutrientes nas folhas de alface revelou que a maior acumulação foi de potássio (K), variando de 39,8 a 53,8 g/kg, valores inferiores aos sugeridos na literatura (Silva, 1999). A maior disponibilidade de potássio no solo de origem granítica pode explicar essa maior acumulação. A condutividade elétrica (CE) do composto foi um fator determinante na produtividade da alface. O CRC apresentou uma CE significativamente mais elevada (16,9 dS m⁻¹) que o CCRO (1 dS m⁻¹), o que provavelmente afetou a absorção de água e nutrientes pelas plantas, resultando em menor produtividade em comparação com o CCRO. O baixo teor de N-NH4+ no CRC (14 mg kg⁻¹) também limitou o crescimento. Embora o CCRO tenha apresentado um teor de N-NH4+ muito alto (6128 mg kg⁻¹), indicando possível falta de maturação, isso não impediu o crescimento das plantas, sugerindo ausência de fitotoxicidade. Os resultados reforçam a importância da maturação adequada dos compostos orgânicos para garantir a disponibilidade de nutrientes e evitar efeitos negativos sobre o crescimento da alface.
II.Qualidade do Composto e Processo de Compostagem
A qualidade do composto é crucial para o sucesso na agricultura. A pesquisa analisou as características físico-químicas e biológicas dos compostos, incluindo a humidade (ideal entre 50-60%), a razão carbono/azoto (C/N, ideal próximo de 30:1), e o pH (ideal próximo da neutralidade). A condutividade elétrica é um indicador importante de maturação e salinidade, devendo ser inferior a 1,99 dS m⁻¹ para uma boa germinação e crescimento das plantas. O processo de compostagem envolve fases mesófila e termófila, com variações na temperatura e atividade microbiana. A fase termófila é importante para a higienização do composto, eliminando patógenos. A pesquisa destaca diferentes sistemas de compostagem (abertos e fechados) e a importância do controlo da aeração para evitar condições anaeróbicas.
1. Parâmetros da Qualidade do Composto
A qualidade do composto orgânico é multifatorial, abrangendo aspectos físico-químicos e biológicos. Segundo Cunha (1999) e Cunha Queda (2006a), a avaliação não se resume a um único parâmetro, mas sim à análise integrada de vários. As características físicas incluem humidade (ideal entre 50-60%), temperatura, odor, cor e presença de materiais estranhos; propriedades como porosidade, capacidade de retenção de água e textura também são relevantes. Em termos químicos, Brito (2014) destaca a concentração de matéria orgânica (MO), a razão carbono/nitrogênio (C/N), o pH e a condutividade elétrica como indicadores cruciais. Metais pesados tóxicos também devem ser considerados. Finalmente, as características biológicas podem ser avaliadas após a incorporação no solo ou por testes de germinação de sementes (Manser, 1996), refletindo a atividade microbiana e a estabilidade do composto. A condutividade elétrica, em particular, é um indicador importante do grau de maturação e da salinidade do composto, devendo ser monitorizada cuidadosamente para evitar efeitos negativos no crescimento das plantas, conforme sugerido por Kiehl (1980) e Abad et al. (2004).
2. Processo de Compostagem Fases e Fatores Críticos
O processo de compostagem, apesar de antigo, tem sido aprimorado com a aplicação de princípios científicos. O processo de decomposição biológica é dividido em duas fases: decomposição e maturação (Cunha, 1999). A fase de decomposição é altamente ativa, com biotransformações aeróbias e temperaturas elevadas devido à intensa liberação de energia na forma de calor, CO2, H2O e NH3. A fase de maturação é mais lenta, com diminuição gradual da temperatura, perda de toxicidade da biomassa e equilíbrio da população microbiana, culminando na síntese de substâncias húmicas (Rosas, 2005). A razão C/N é um fator crítico, com um ideal próximo de 30:1 para um desenvolvimento microbiano adequado (Martins, 2007). O pH também varia durante o processo, iniciando-se com valores ácidos e alcançando a neutralidade no final (Brito, 2014; Moura, 2007). A humidade é essencial, mas valores acima de 65% podem levar à anaerobiose e produção de lixiviados (Trautmann e Krasny, 1997; Piedade et al., 2010). A fase termófila é crucial para a higienização, eliminando microrganismos patogênicos e sementes infestantes (Hoitink et al., 1996; Almeida et al., 2005).
3. Sistemas de Compostagem
A compostagem requer um processo controlado para garantir baixo custo operacional, um produto final higienizado e de qualidade consistente (Cunha, 1999). Existem diferentes métodos e tecnologias de compostagem, classificados por Bertoldi et al. (1985). Sistemas abertos são adequados para grandes quantidades de material orgânico, considerando disponibilidade de área e tempo de processo (Russo, 2003). A construção das pilhas influencia o processo, com a largura, altura e forma dependendo das características dos materiais, das condições climáticas e do equipamento utilizado (Batista e Batista, 2007). Sistemas fechados permitem um controlo contínuo de oxigênio, temperatura, odores e patógenos. Pilhas estáticas requerem menos capital mas ocupam mais espaço, enquanto sistemas in-vessel necessitam de menos espaço e permitem monitoramento, porém demandam maior investimento (Brito, 2014). A atividade microbiana varia ao longo das fases, com bactérias, actinomicetos e fungos desempenhando papéis distintos na degradação da matéria orgânica (Turovskiy e Mathai, 2006).
III.Produção de Alface e Análise de Nutrientes
O estudo avaliou o crescimento da alface em vasos utilizando diferentes doses de CRC e CCRO. O peso fresco e seco das alfaces foram significativamente maiores com o CCRO em comparação com o CRC. Os teores de nutrientes (N, P, K, Ca, Mg, Fe) nas folhas de alface foram analisados. A maior acumulação de potássio (K) nas folhas foi observada, possivelmente devido à maior disponibilidade deste elemento no solo. O estudo também considerou as pragas e doenças que afetaram as plantas, como o míldio (Bremia lactucae), esclerotínia (S. sclerotiorum), e septoriose (Septoria lactucae), sendo usados fungicidas (CIMOFARM e CABRIO DUO) para o controlo do míldio. A produção de alface em vasos foi inferior à produção em campo, conforme a literatura (Almeida, 2006).
1. Metodologia da Produção de Alface em Vasos
O estudo utilizou 72 vasos com um regossolo de baixo teor de matéria orgânica, proveniente de um olival da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima. Foram recolhidos e homogeneizados 400 kg de solo da primeira camada (0-20 cm), removendo-se infestantes, raízes e materiais inertes. Cinco amostras foram recolhidas para análise de fertilidade. As fezes de coelho, provenientes de duas explorações distintas (uma com limpeza diária e outra com recolha trimestral), foram utilizadas como um dos tipos de fertilizantes. Após o transplante, as plantas foram regadas diariamente por quatro dias e posteriormente semanalmente, ou conforme necessário, garantindo que a água não fosse um fator limitante do crescimento. Durante o ensaio, foram registadas pragas e doenças, incluindo míldio (Bremia lactucae), esclerotínia (S. sclerotiorum) e septoriose (Septoria lactucae), sendo necessário o uso de fitofármacos para controlar o míldio, utilizando os fungicidas CIMOFARM (Nufarm/Jovagro) e CABRIO DUO (BASF Portuguesa).
2. Análise dos Teores de Nutrientes
Após a secagem, as amostras de alface foram moídas num moinho (Retsch GM 200) e armazenadas em sacos selados. A determinação dos teores de nitrogênio (N) e fósforo (P) foi feita através de digestão sulfúrica, enquanto a digestão nitro-perclórica foi utilizada para obter os teores de potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e ferro (Fe). Os métodos analíticos utilizados foram os mesmos descritos na metodologia para as análises dos compostos. A análise dos nutrientes nas folhas de alface mostrou uma maior acumulação de potássio (K), com valores entre 39,8 e 53,8 g/kg, inferiores aos sugeridos por Silva (1999), que indicou valores entre 50 e 80 g/kg. Essa maior acumulação de potássio pode estar relacionada à maior disponibilidade deste elemento no solo de origem granítica. De acordo com Wen et al. (1997) e Varennes (2003), o potássio está naturalmente disponível nos compostos e fertilizantes orgânicos, não dependendo da mineralização da matéria orgânica disponível.
3. Peso Fresco e Peso Seco das Alfaces e Produtividade
Os pesos fresco e seco das alfaces foram significativamente superiores com a aplicação de CCRO em relação aos tratamentos com CRC, exceto em algumas comparações com doses mais altas de CRC na primeira plantação. Embora o uso de doses crescentes de CRC tenha resultado em pesos fresco e seco sempre superiores, as diferenças significativas (p<0,05) foram observadas apenas entre as doses mais altas de compostado e a ausência de composto nos dois primeiros ensaios. O maior peso fresco e seco foi obtido com a aplicação de 4 t/ha de CCRO (122 g/planta), correspondendo a uma produtividade de 12,2 t/ha. Este valor superou a maior produção com CRC (74,4 g/planta com 8 t/ha). A produtividade obtida no estudo foi inferior à relatada por Almeida (2006), possivelmente devido às limitações do cultivo em vasos em comparação com o cultivo em campo. A pesquisa cita estudos (Radics et al., 2008; Porto et al., 2008) que mostraram aumento na produção de alface com compostos de estrume de ovelha e bovino, respectivamente.
IV.Características da Cunicultura em Portugal
O estudo utilizou resíduos de cunicultura como fertilizante. A produção de carne de coelho em Portugal tem diminuído (INE, 2008), concentrando-se principalmente nas regiões Norte e Centro. Em 2007, a produção atingiu 8.055 toneladas, um decréscimo de 7,7% em relação a 2008. As estimativas para a cunicultura tradicional indicam a presença de 700 mil fêmeas, distribuídas por cerca de 100.800 explorações (Lebas e Colin, 2000). A produção anual média de carne de coelho foi de 20 mil toneladas (Xiccato e Trocino, 2007), colocando Portugal na 9ª posição mundial. O estrume de coelho, rico em azoto e fósforo, é um recurso valioso, mas requer um manejo adequado devido a restrições ambientais.
1. Tendências da Produção de Carne de Coelho em Portugal
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a produção de carne de coelho em Portugal tem apresentado uma tendência de decréscimo. Em junho de 2007, a produção atingiu 8.055 toneladas, representando uma queda de 7,7% em relação ao mesmo período de 2008 (INE, 2008). A produção intensiva concentra-se principalmente nas regiões Norte e Centro, embora existam explorações em todo o território nacional. Inicialmente, as zonas de Viseu, Leiria e Oliveira do Hospital eram as principais produtoras, mas o desenvolvimento da atividade levou ao crescimento da sua importância em outras regiões, como Trás-os-Montes e Minho (Pereira, S., 2000). No início do milênio, existiam cerca de 650 explorações industriais e aproximadamente 200 mil fêmeas reprodutoras (Pereira, S., 2000). Lebas e Colin (2000) estimam valores superiores para a cunicultura tradicional, com 700 mil fêmeas distribuídas por cerca de 100.800 explorações, a maioria de pequeno porte (<20 fêmeas). Xiccato e Trocino (2007) indicam uma produção anual média de 20 mil toneladas, colocando Portugal na 9ª posição na produção mundial de carne de coelho. A gestão do estrume representa um desafio para os produtores, considerando as restrições ambientais impostas pela EPA (Environmental Protection Agency).
2. Características do Estrume e Compostagem de Coelho
O estrume de coelho, devido ao stress e ao pouco controlo dos músculos anais, é produzido em grande quantidade. Para os produtores, o estrume representa tanto uma vantagem quanto um problema, uma vez que precisa de um manuseio adequado. A composição química do estrume varia de acordo com o sistema de criação, idade, raça e alimentação do animal (Ricci et al., 2006). O compostado de coelho, utilizado como fertilizante, apresenta elevada qualidade devido à sua rica composição em azoto e fósforo (Quadro 4), nutrientes importantes para o crescimento de flores e frutos. Apresenta coloração castanho-escura, textura homogénea e humidade na ordem de 40%, com odor intenso a amoníaco proveniente da urina. A crescente preocupação ambiental em relação ao armazenamento de estrumes e as normas da EPA (Environmental Protection Agency) tornam a gestão adequada do estrume de coelho um fator ainda mais importante. O estudo demonstra a possibilidade de transformação desse resíduo em um recurso valioso para a agricultura, reduzindo impactos ambientais e valorizando a produção.