Envelhecimento e Cognição: Um Estudo
Informações do documento
| Autor | Marta Sofia Oliveira Neiva |
| instructor | Professora Doutora Alice Bastos |
| Escola | Mestrado em Gerontologia Social |
| Curso | Gerontologia Social |
| Tipo de documento | Dissertação de Mestrado |
| Idioma | Portuguese |
| Formato | |
| Tamanho | 2.25 MB |
Resumo
I.Envelhecimento e Capacidade Funcional Um Estudo com Análise de Dados Simbólicos
Este estudo investiga a capacidade funcional de idosos, focando-se na relação entre envelhecimento, défice cognitivo, independência e autonomia na realização das atividades de vida diária (ADLs), tanto básicas (ABVD) como instrumentais (AIVD). Utilizando Análise de Dados Simbólicos, a pesquisa analisa a variabilidade dos dados, sem perda de informação, em grupos segmentados por género, grupo etário (3ª idade e 4ª idade), e nível de escolaridade. Instrumentos como o MMSE (Mini-Mental State Examination) e o Índice de Lawton foram utilizados para avaliar o desempenho cognitivo e a dependência em AIVDs.
1. Introdução O Envelhecimento como Transformação Social e Desafio à Capacidade Funcional
O estudo inicia reconhecendo a longevidade como uma das maiores transformações da humanidade, resultando no aumento da esperança de vida e redução da natalidade. O envelhecimento, um processo individual que ocorre do nascimento à morte, envolve mudanças biológicas, psicológicas e sociais. Este processo inclui mecanismos que atuam em momentos e ritmos diferentes para cada indivíduo, influenciados por fatores externos (estilo de vida) e internos (saúde e genética). O envelhecimento autônomo e independente por um período mais longo representa um desafio crescente para idosos, famílias e sociedade. Uma consequência significativa é a deterioração progressiva da capacidade funcional, afetando o desempenho cognitivo e a independência nas atividades da vida diária (AVDs). O estudo utiliza a Análise de Dados Simbólicos para analisar grupos de indivíduos com características específicas, sem perder informações sobre os dados associados a cada grupo. A metodologia garante que, ao analisar variáveis para um grupo específico (ex: homens/3ª idade/0 anos de escolaridade), a análise incluirá a distribuição de todos os registos associados a essa variável, e não apenas um único valor ou categoria. Dados iniciais (microdados) foram coletados através de questionário sociodemográfico, Índice de Lawton (AIVD) e Mini Mental State Examination (MMSE). Esses microdados foram trabalhados e agregados para construir grupos e variáveis simbólicas analisados no estudo. A Análise de Dados Simbólicos permitiu caracterizar e comparar grupos segmentados por gênero, grupo etário e nível de escolaridade em relação às características sociodemográficas, atividades instrumentais da vida diária (AIVDs) e capacidades cognitivas.
2. Metodologia Instrumentos de Avaliação e Análise de Dados
A pesquisa utilizou o questionário sociodemográfico para obter informações sobre as características dos participantes. O Índice de Lawton (Lawton & Brody, 1969; versão portuguesa de Sequeira, 2010) foi aplicado para avaliar a independência funcional em atividades instrumentais da vida diária (AIVD), como cuidar da casa, lavar roupa, preparar comida, fazer compras, usar telefone, usar transporte, usar dinheiro e tomar medicação. Este índice fornece uma pontuação que indica o nível de dependência, variando de independente (8 pontos) a dependência severa (acima de 20 pontos). O Mini Mental State Examination (MMSE; Folstein, Folstein & McHugh, 1975; Morgado et al., 2009) foi utilizado para avaliar o desempenho cognitivo, com pontos de corte atualizados para a população portuguesa. Os pontos de corte levaram em conta o nível de escolaridade dos participantes (0-2 anos: 22 pontos; 3-6 anos: 24 pontos; 7+ anos: 27 pontos). A análise dos dados utilizou a Análise de Dados Simbólicos, uma abordagem que permite considerar a variabilidade dos dados dentro de cada grupo, sem perda de informação. Isso foi crucial para analisar a distribuição de categorias de cada variável dentro de cada grupo, fornecendo mais informações sobre o comportamento das variáveis em diferentes grupos. O software SODAS (Symbolic Official Data Analysis System) foi utilizado para realizar as análises descritivas.
3. Resultados Características Sociodemográficas Desempenho Cognitivo e Dependência Funcional
Os resultados do estudo, obtidos através da Análise de Dados Simbólicos, mostraram uma tendência de maior dependência em homens nas atividades instrumentais da vida diária (AIVDs), independente do nível de escolaridade. Nos grupos etários da 3ª e 4ª idade, a percentagem de homens com défice cognitivo foi menor que a das mulheres. Ao analisar grupos com e sem défice cognitivo, observou-se que as variáveis gênero, profissão e escolaridade são as mais afetadas pela presença do défice. A análise destacou a influência da escolaridade na independência funcional. Maior escolaridade está associada a maior autonomia em AIVDs, tanto para homens como mulheres. O gênero também influenciou a capacidade funcional, com as mulheres apresentando maior dependência em algumas AIVDs (tarefas domésticas), enquanto os homens mostraram maior dependência em outras (uso do telefone, gestão financeira). A idade também é um fator determinante, com idosos na 4ª idade exibindo maior dependência funcional que na 3ª idade. A pesquisa explorou os modelos de envelhecimento bem-sucedido propostos por Baltes & Baltes (equilíbrio entre ganhos e perdas) e Rowe & Kahn (ausência de doença, alta capacidade física e cognitiva, envolvimento na vida). Em idades avançadas (80+), a longevidade pode estar associada ao declínio da capacidade funcional e redução na qualidade de vida.
II.Análise do Impacto do Défice Cognitivo na Capacidade Funcional
A análise revelou uma tendência para maior dependência em homens nas AIVDs, independente do nível de escolaridade. A percentagem de homens com défice cognitivo foi inferior à das mulheres, nas faixas etárias da 3ª e 4ª idade. Ao comparar grupos com e sem défice cognitivo, observou-se que as variáveis género, profissão e escolaridade são mais impactadas pela presença de défice. A Análise de Dados Simbólicos permitiu uma caracterização detalhada da distribuição de categorias para cada variável dentro de cada grupo.
1. Défice Cognitivo e Dependência em Atividades Instrumentais da Vida Diária AIVDs
Esta seção analisa a relação entre o défice cognitivo e a dependência em AIVDs. O estudo observou uma tendência de maior dependência em homens em relação às AIVDs, independente do nível de escolaridade. Em ambos os grupos etários (3ª e 4ª idade), a percentagem de homens com défice cognitivo se mostrou inferior à das mulheres. Essa diferença de género na prevalência de défice cognitivo é um dado relevante, a ser considerado em futuros estudos. A pesquisa utilizou a Análise de Dados Simbólicos para estudar a distribuição das categorias de variáveis (género, profissão e escolaridade) nos grupos com e sem défice cognitivo, oferecendo um entendimento mais profundo da influência do défice cognitivo em diferentes segmentos populacionais. A metodologia permitiu uma visão mais completa, evitando a perda de informação inerente a métodos estatísticos tradicionais que reduzem a variabilidade dos dados a um único valor ou categoria. O estudo destaca o potencial da Análise de Dados Simbólicos para aprofundar a compreensão da complexa interação entre o envelhecimento, o défice cognitivo, e a capacidade funcional dos idosos. Através da análise da distribuição das categorias em cada variável, o estudo obteve insights sobre como o défice cognitivo influencia os padrões de dependência funcional.
2. Análise de Dados Simbólicos e a Variabilidade dos Dados
A Análise de Dados Simbólicos foi fundamental para este estudo, permitindo a análise da distribuição completa de dados dentro de cada grupo, sem simplificações que levam à perda de informação. Ao contrário dos métodos estatísticos tradicionais, que reduzem os dados a um único valor ou categoria, a Análise de Dados Simbólicos considera a variabilidade inerente a cada variável dentro de cada grupo. Este aspecto é particularmente relevante quando se estudam populações heterogêneas, como a população idosa, onde a variabilidade é esperada. O estudo ilustra como, por exemplo, a análise de um grupo de ‘homens/3ª idade/0 anos de escolaridade’ incluiu não apenas um valor único para cada variável, mas sim a distribuição de todos os registos associados a essa variável para esse grupo específico. Este detalhamento proporcionou uma riqueza de informações não acessível por meio de abordagens analíticas convencionais. A capacidade de analisar a distribuição das categorias de cada variável dentro de cada grupo, utilizando a Análise de Dados Simbólicos, demonstra um avanço metodológico com grande potencial para a pesquisa em gerontologia, pois permitiu uma descrição detalhada das características dos grupos estudados, resultando em uma compreensão mais precisa e completa dos impactos do défice cognitivo na capacidade funcional.
III.A Importância da Escolaridade e do Género na Independência Funcional
Os resultados demonstram a influência da escolaridade na independência para executar AIVDs, tanto em homens como em mulheres. Maiores níveis de escolaridade estão associados a maior autonomia nas AIVDs. O género também influencia a capacidade funcional, com as mulheres apresentando maior dependência em algumas AIVDs, particularmente tarefas domésticas, enquanto os homens demonstram maior dependência em outras como o uso do telefone e gestão financeira. A idade também é um fator determinante, com idosos na 4ª idade exibindo maior dependência funcional que aqueles na 3ª idade.
1. Escolaridade e Independência Funcional Uma Relação Positiva
Esta seção analisa a influência da escolaridade na independência funcional em idosos, considerando as atividades instrumentais da vida diária (AIVDs). Os resultados indicam uma forte associação positiva entre maior nível de escolaridade e maior independência na realização das AIVDs, tanto em homens quanto em mulheres. Indivíduos sem escolaridade apresentaram uma tendência maior para a dependência moderada em AIVDs, segundo o Índice de Lawton. Esses achados corroboram a literatura existente, sugerindo que a educação desempenha um papel crucial na manutenção da capacidade funcional na velhice. A escolaridade parece influenciar comportamentos e hábitos de vida mais saudáveis, facilitando também o acesso a informações e serviços de saúde. A maior probabilidade de procurar informações que permitam adotar estilos de vida mais adequados, hábitos saudáveis, e de procurar serviços de saúde, quando se possui maior nível de educação, foram apontados como fatores contribuintes para esta observação. A pesquisa destaca a importância de políticas que promovam a educação ao longo da vida, visando não só o desenvolvimento cognitivo, mas também a manutenção da independência funcional na terceira e quarta idades. A capacidade de realizar tarefas cotidianas, como usar o telefone, transporte público e gerenciar finanças – todas atividades instrumentais importantes que requerem habilidades cognitivas e planejamento – foi afetada diretamente pela escolaridade, indicando uma correlação importante entre educação e autonomia na vida diária.
2. Género e Independência Funcional Diferenças e Padrões Observados
A análise da influência do gênero na independência funcional revela padrões distintos em relação às AIVDs. Embora a escolaridade mostre um impacto positivo na independência para ambos os sexos, observa-se uma diferença de gênero na forma como essa independência se manifesta. O estudo indica uma tendência para maior dependência em homens em relação a algumas atividades domésticas, independentemente da idade e nível de escolaridade. Em contrapartida, em atividades como a preparação de refeições e tarefas de casa, as mulheres obtiveram pontuações mais altas de independência, sugerindo papéis de gênero tradicionais que persistem na velhice. É importante notar que estudos como o de Pinto et al. (2016) sugeriram que o gênero masculino poderia ser um fator de proteção para a manutenção da capacidade funcional, o que reforça a necessidade de investigações mais aprofundadas para melhor compreender essa aparente contradição. De qualquer modo, o estudo evidencia que a análise de género é crucial para uma interpretação completa dos dados sobre capacidade funcional. Resultados de pesquisas anteriores, como Alves, Leite e Machado (2008, 2010), são citados para contextualizar as observações sobre o impacto da idade e do comprometimento da capacidade funcional. É fundamental considerar tanto a escolaridade quanto o género para uma compreensão abrangente dos fatores que influenciam a independência funcional em idosos.
IV.Envelhecimento Bem Sucedido e os Modelos de Baltes e Rowe Kahn
O estudo aborda diferentes modelos de envelhecimento bem-sucedido, incluindo as proposições de Baltes & Baltes (equilíbrio entre ganhos e perdas) e Rowe & Kahn (ausência de doença, elevada capacidade física e cognitiva, e envolvimento na vida). A pesquisa destaca a importância de considerar a longevidade como um fator que, em idades avançadas (80+), pode estar associado ao declínio da capacidade funcional e redução na qualidade de vida.
1. Modelos de Envelhecimento Bem Sucedido Baltes Baltes e Rowe Kahn
Esta seção discute diferentes modelos de envelhecimento bem-sucedido, contrastando as perspectivas de Baltes e Baltes (1990) e Rowe e Kahn (1997). Baltes e Baltes propõem três modos de envelhecimento: patológico, normal e bem-sucedido (ou ótimo). O envelhecimento bem-sucedido, segundo eles, implica um equilíbrio entre ganhos e perdas ao longo da vida, alcançado por meio de mecanismos adaptativos de otimização seletiva com compensação (SOC). Já Rowe e Kahn enfatizam a ausência de doença e incapacidade, alta capacidade física e cognitiva, e envolvimento ativo na vida como fatores protetores para um envelhecimento bem-sucedido. Ambas as perspectivas, embora distintas em sua ênfase, contribuem para uma compreensão mais completa do processo de envelhecimento e seus resultados. A discussão desses modelos serve para contextualizar os resultados do estudo, fornecendo um arcabouço teórico para a interpretação da capacidade funcional e da longevidade na população idosa. A complexidade do envelhecimento bem-sucedido é destacada, com a ênfase no equilíbrio entre ganhos e perdas ao longo do ciclo de vida. A pesquisa relaciona esses modelos com a observação de declínio funcional em idades mais avançadas (80+), destacando que uma vida mais longa nem sempre significa anos de vida com saúde e qualidade. A longevidade, portanto, não garante automaticamente um envelhecimento bem-sucedido.
2. A 3ª e 4ª Idade Boas Notícias e Más Notícias do Envelhecimento
A distinção entre a 3ª e a 4ª idade, conforme Baltes e Smith (2003), é abordada considerando critérios populacionais e individuais. A transição populacional entre a 3ª e a 4ª idade é definida como o momento em que cerca de 50% da coorte já faleceu. Individualmente, a transição considera a estimativa de vida máxima do indivíduo (entre 80 e 120 anos). Baltes e Smith caracterizam a 3ª idade como 'A boa notícia científica', associando-a ao aumento da esperança de vida, melhor aptidão física e mental, ganhos sucessivos de aptidão em coortes, bem-estar (auto-plasticidade) e estratégias eficazes para lidar com ganhos e perdas. Já a 4ª idade, denominada 'As más notícias', é associada a perdas cognitivas significativas, aumento do stress, alta prevalência de demência, fragilidade e disfuncionalidade. A plasticidade, maior na 3ª idade, permite mecanismos de compensação mais eficazes para lidar com as perdas, ao contrário da 4ª idade onde a probabilidade de patologia dificulta essa compensação. Os autores enfatizam que a 4ª idade não é uma mera continuação da 3ª, apresentando prevalência elevada de disfunções e potencial de funcionamento restringido, justificando a necessidade de avaliar a capacidade funcional de indivíduos nessas faixas etárias. O Berlin Aging Study (BASE) corrobora essas conclusões, indicando um alto grau de plasticidade na 3ª idade e mudanças negativas nos sistemas comportamentais na 4ª idade, com poucas funções robustas e resilientes a mudanças negativas.
V.Metodologia Utilização do MMSE e do Índice de Lawton
O estudo utilizou o MMSE para avaliar o desempenho cognitivo, com pontos de corte atualizados considerando a escolaridade (0-2 anos: 22 pontos; 3-6 anos: 24 pontos; 7+ anos: 27 pontos). O Índice de Lawton foi empregue para medir a independência em AIVDs, com pontuações que indicam diferentes níveis de dependência: independente (8 pontos), dependência moderada (9-20 pontos), e dependência severa (acima de 20 pontos). Estes dados foram analisados através do software SODAS.
1. Mini Mental State Examination MMSE Avaliação do Desempenho Cognitivo
O estudo utilizou o Mini Mental State Examination (MMSE) para avaliar o desempenho cognitivo dos participantes. A escolha do MMSE justifica-se pela sua ampla utilização e reconhecimento internacional na avaliação de funções cognitivas em idosos. Para a interpretação dos resultados do MMSE, o estudo adotou os pontos de corte mais recentes, considerando o nível de escolaridade dos participantes. Foram utilizados diferentes pontos de corte: 22 pontos para indivíduos com escolaridade entre 0 e 2 anos; 24 pontos para aqueles com 3 a 6 anos de escolaridade; e 27 pontos para indivíduos com 7 ou mais anos de estudo. A consideração da escolaridade na interpretação do MMSE é crucial, uma vez que o nível educacional pode influenciar o desempenho no teste. Essa abordagem, que considera diferentes pontos de corte de acordo com a escolaridade, demonstra um rigor metodológico na busca por resultados mais precisos e confiáveis, minimizando o viés potencial da variável escolaridade na interpretação dos resultados cognitivos. Esta escolha de pontos de corte reflete a atualização dos valores normativos para o MMSE na população portuguesa, considerando a evolução cultural e educacional das gerações mais recentes de idosos.
2. Índice de Lawton Medição da Independência em Atividades Instrumentais da Vida Diária AIVDs
O Índice de Lawton (Lawton & Brody, 1969; versão portuguesa de Sequeira, 2010) foi empregado para avaliar a independência funcional dos participantes em relação às atividades instrumentais da vida diária (AIVDs). Este instrumento avalia oito atividades: cuidar da casa, lavar roupa, preparar comida, ir às compras, usar telefone, usar transporte, usar dinheiro e gerir medicação. Cada atividade é pontuada de acordo com o nível de dependência, variando de 1 (independente) a 5 (dependência severa). A pontuação total varia de 8 a 30 pontos, com três pontos de corte definidos: 8 pontos indicam independência; 9 a 20 pontos, dependência moderada; e acima de 20 pontos, dependência severa. A escolha do Índice de Lawton se justifica pela sua ampla utilização e validade na avaliação da independência funcional em idosos, permitindo uma avaliação tanto global quanto específica para cada AIVD. A aplicação do Índice de Lawton, em conjunto com o MMSE, permitiu uma avaliação multidimensional da capacidade funcional dos idosos, considerando tanto os aspectos cognitivos como os aspectos práticos do dia a dia. A utilização deste índice permite planear e avaliar intervenções junto da população idosa, pois identifica os pontos específicos onde a ajuda pode ser mais benéfica, contribuindo para um envelhecimento mais saudável e independente.
VI.Resultados Grupos de Idosos e suas Características
A pesquisa agrupou os participantes em 12 grupos, com base em género, grupo etário e nível de escolaridade. A análise destes grupos simbólicos revelou diferenças significativas nas variáveis sociodemográficas (estado civil, agregado familiar, profissão, área de residência), desempenho no MMSE, e pontuação no Índice de Lawton. Detalhes sobre a composição de cada grupo e suas características são apresentados, permitindo uma compreensão profunda dos fatores que influenciam a capacidade funcional em diferentes segmentos da população idosa.
1. Agrupamento dos Participantes e Análise de Dados Simbólicos
Os resultados foram obtidos a partir da análise de 12 grupos distintos de participantes, criados com base em três variáveis: género (masculino/feminino), grupo etário (3ª e 4ª idade), e nível de escolaridade (0 anos, 1-4 anos e 5+ anos). Esta segmentação permitiu uma análise detalhada das diferenças entre os grupos em relação a diversas características sociodemográficas, desempenho em testes cognitivos (MMSE), e nível de dependência em atividades instrumentais da vida diária (AIVDs), avaliadas através do Índice de Lawton. A utilização da Análise de Dados Simbólicos foi crucial para esta análise, permitindo considerar a variabilidade dos dados dentro de cada grupo, sem perda de informação. Em vez de usar um único valor para cada variável em cada grupo, a análise considerou a distribuição completa de todos os registos, fornecendo uma compreensão mais rica e completa do comportamento de cada variável em cada segmento populacional. Essa abordagem permitiu observar nuances e padrões que poderiam passar despercebidos em análises tradicionais. Os resultados mostraram tendências e padrões distintos em cada grupo, revelando a complexa interação entre idade, gênero, escolaridade, e os diversos aspectos da capacidade funcional.
2. Resultados para Mulheres na 3ª e 4ª Idade Influência da Escolaridade
A análise dos três grupos de mulheres na 3ª idade, divididos por nível de escolaridade, revelou diferenças na área de residência e profissão. As mulheres sem escolaridade viviam predominantemente em áreas rurais e trabalharam na agricultura, pesca e floresta. Aquelas com escolaridade entre 1 e 4 anos residiam em áreas semiurbanas e exerceram profissões não qualificadas ou domésticas. Já as mulheres com escolaridade superior a 5 anos residiam em áreas urbanas e trabalhavam predominantemente em setores administrativos, de serviços pessoais, proteção e vendas. Em relação às mulheres da 4ª idade, o estudo observou que a maioria era viúva e vivia com famílias alargadas em áreas semiurbanas, com variações nas profissões de acordo com a escolaridade. As mulheres sem escolaridade tinham trabalhado majoritariamente na agricultura; aquelas com escolaridade entre 1 e 4 anos, na indústria; e as mais escolarizadas em áreas como forças armadas, nível intermédio, ciências e representação política. A análise demonstra a influência da escolaridade na trajetória profissional e estilo de vida dessas mulheres, impactando, possivelmente, sua capacidade funcional. A metodologia permitiu observar como essas variáveis interagem de forma complexa, oferecendo insights valiosos para estudos futuros.
3. Resultados para Homens e Mulheres Dependência em AIVDs e o Impacto da Idade
Comparando homens e mulheres em relação à dependência em AIVDs, o estudo constatou diferenças significativas. De forma geral, os resultados indicam uma maior independência em relação às AIVDs à medida que o nível de escolaridade aumenta, para ambos os sexos. Quando os participantes não têm escolaridade, a tendência é para uma dependência moderada nas AIVDs, conforme o Índice de Lawton. Comparando os grupos de 3ª e 4ª idade, observou-se um aumento na frequência de indivíduos moderadamente dependentes na 4ª idade, com redução no número de indivíduos independentes. Essa diferença foi acentuada nas atividades de cuidar da casa e lavar roupa. Em mulheres na 4ª idade, maior escolaridade está associada a maior autonomia em AIVDs, exceto nas atividades de preparar comida e usar telefone. Nos grupos com menor escolaridade, a dependência é mais pronunciada. A comparação entre homens da 3ª e 4ª idade, especialmente aqueles sem escolaridade, revelou um aumento na frequência de pontuações mais baixas em testes de capacidades cognitivas (orientação no tempo, escrita, atenção e cálculo). Estes resultados evidenciam a influência da idade e da escolaridade no declínio da capacidade funcional na velhice.
