
Sabedoria na Vida Adulta: Um Estudo
Informações do documento
Autor | Arminda Manuela Gomes Fernandes |
instructor | Professora Doutora Alice Bastos |
Escola | Instituto Politécnico de Viana do Castelo |
Curso | Gerontologia Social |
Tipo de documento | Trabalho de Mestrado |
Local | Viana do Castelo |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 1.07 MB |
Resumo
I.Abordagens ao Estudo Científico da Sabedoria
O estudo científico da sabedoria é recente, iniciando-se nos anos 80/90. Antes disso, era tema predominante da filosofia e religião. Existem duas principais abordagens: sabedoria implícita (baseada em crenças e percepções comuns) e sabedoria explícita (baseada em construtos teóricos e medição). Autores como Bluck & Glück (2005) e Staudinger, Dörner & Mickler (2005) contribuíram significativamente para a classificação e compreensão destas abordagens, identificando a sabedoria geral e a sabedoria pessoal como vertentes distintas, mas possivelmente coexistentes. O estudo de teorias implícitas, segundo alguns autores, apresenta maior solidez metodológica. Diversos modelos e escalas foram desenvolvidos para medir a sabedoria, incluindo o Paradigma da Sabedoria de Berlim e o Paradigma da Sabedoria Pessoal de Bremen, que utilizam tarefas complexas e avaliações de peritos.
1. Breve Histórico e Definição do Conceito de Sabedoria
O estudo científico da sabedoria, apesar de seu apelo ancestral, é relativamente recente, tendo-se iniciado no final da década de 1980 e início da década de 1990, segundo Brugman (2006) e Marchand (2005). Antes disso, a sabedoria era explorada principalmente através de teorias amplas, como a teoria do desenvolvimento psicossocial de Erikson, e era um conceito predominante na filosofia e religião (Birren & Svensson, 2005). A longa associação com a tradição religiosa e filosófica, segundo alguns autores, contribuiu para seu relativo esquecimento no campo científico. A distinção entre sabedoria e inteligência é crucial, pois uma pessoa inteligente pode não tomar decisões sábias, mostrando um uso ineficaz de seu conhecimento (Sternberg, 2004). A sabedoria é admirada e desejada desde a antiguidade, com registros desde as civilizações suméria e egípcia (Birren & Svensson, 2005), passando pela religião e filosofia antes de seu estudo científico mais formal.
2. Sabedoria Implícita vs. Explícita Sabedoria Geral vs. Pessoal
As abordagens ao estudo da sabedoria são diversas, podendo ser categorizadas em duas formas principais: abordagens à sabedoria implícita e abordagens à sabedoria explícita (Bluck & Glück, 2005). A sabedoria implícita baseia-se na opinião do senso comum, enquanto a sabedoria explícita se fundamenta em construtos teoricamente estabelecidos e em métodos científicos. Outra classificação importante diferencia a sabedoria geral, que se refere ao entendimento da vida e do mundo em geral, da sabedoria pessoal, que se centra na visão individual sobre a própria vida (Staudinger, Dörner & Mickler, 2005). A complexidade da sabedoria leva alguns pesquisadores a considerar o estudo das teorias implícitas como mais aceitável e sólido que o estudo da sabedoria explícita (Bluck & Glück, 2005), dado o caráter subjetivo dos valores e virtudes, que são frequentemente usados na avaliação da sabedoria explícita, em comparação com as descrições mais objetivas das teorias implícitas. Apesar das diferenças, ambas as abordagens contribuem para uma compreensão mais abrangente do conceito.
3. Níveis de Análise das Teorias Implícitas e Perspectivas Culturais
Bluck e Glück (2005) identificam três linhas de investigação nas teorias implícitas da sabedoria: identificação de descritores da sabedoria, relato de experiências pessoais e comentários sobre informações manipuladas (vídeos ou dilemas). Para uma compreensão completa dessas teorias, é importante considerar as diferenças em três níveis: societal, interpessoal e intrapessoal. A nível societal, analisa-se o uso do conceito de sabedoria em diferentes culturas e sociedades, identificando figuras históricas ou contemporâneas consideradas sábias. A nível interpessoal, investiga-se como os indivíduos julgam a sabedoria de outras pessoas e identificam indivíduos sábios. A nível intrapessoal, o foco está em como os indivíduos percebem seu próprio desenvolvimento de sabedoria. Ensinamentos de Confúcio e o Taoísmo na Ásia, e os Vedas na Índia (Birren & Svensson, 2005; Alves, 2011), exemplificam a diversidade de concepções da sabedoria em diferentes culturas, sendo algumas associadas a crenças religiosas. A precisão e limitação na utilização científica do termo sabedoria também são discutidas, defendendo-se que apenas pessoas que agregam todos os critérios da sabedoria podem ser consideradas verdadeiramente sábias. A sabedoria é descrita como perícia em dialéticas opostas da existência humana (bem e mal, certeza e dúvida, finito e eterno), onde a compreensão reside na integração dos dois lados contraditórios.
4. Modelos de Sabedoria Berlim e Bremen A Questão da Coexistência de Sabedoria Geral e Pessoal
O Grupo de Berlim, com sua investigação orientada por previsões sobre a sabedoria como um ideal de desenvolvimento ontogenético, utiliza tarefas complexas e hipotéticas, avaliadas por peritos (Baltes & Kunzman, 2003). Esta abordagem enfatiza o papel da experiência de vida e a capacidade de lidar eficazmente com assuntos complexos. O Paradigma da Sabedoria Pessoal de Bremen (Mickler & Staudinger, 2008), baseado no Paradigma de Berlim, distingue a sabedoria pessoal da geral, questionando se podem coexistir. Um indivíduo pode ser sábio na forma como percebe a vida dos outros, dando bons conselhos, sem ser sábio na gestão da própria vida. A sabedoria geral pode preceder a pessoal, e vice-versa, não havendo necessidade de coincidência entre ambas. A avaliação da sabedoria pessoal em Bremen integra a literatura sobre a maturidade da personalidade, identificando características comuns a pessoas maduras e criando critérios específicos, incluindo meta-critérios como a interrelação do self, auto-relativismo e tolerância à ambiguidade. Utilizando tarefas centradas em dilemas relacionados à amizade, busca-se avaliar a sabedoria pessoal, superando as limitações do auto-relato em estudos anteriores. A utilização de tarefas hipotéticas e a avaliação por peritos treinados garantem a padronização na avaliação, buscando uma medida de desempenho mais objetiva e criteriosa. A amizade surge como um aspeto central para a avaliação da sabedoria pessoal neste paradigma.
5. Diferentes Perspectivas sobre Sabedoria Webster Levenson e Outros
Webster (2003) apresenta cinco dimensões inter-relacionadas da sabedoria (experiência, reflexividade, regulação emocional, abertura e humor), medidas pela Self-Assessed Wisdom Scale (SAWS). A integração dessas dimensões em alto nível caracteriza a sabedoria. Levenson et al. (2005) abordam a sabedoria como auto-transcendência, medida pelo Adult Self-Transcendence Inventory (ASTI), refletindo confiança decrescente em fatores externos para a definição de si mesmo e maior introspeção. O modelo MORE (Glück & Bluck, 2013) apresenta domínio, abertura, reflexividade e regulação emocional e empatia como recursos que influenciam positivamente o desenvolvimento da sabedoria, integrando experiências de vida. Takahashi e Overton (2002, 2005), através de estudos transculturais, propõem um modelo que integra sabedoria analítica (tradição ocidental, foco em elementos únicos) e sintética (tradição oriental, foco em integração de sistemas psicológicos). Para Meachan, a sabedoria consiste em encontrar o equilíbrio entre certeza e dúvida, sendo a consciência dos limites do conhecimento um elemento fundamental (Brugman, 2006). A discussão sobre as diferentes perspectivas destaca a complexidade do conceito de sabedoria e as diferentes formas de mensurá-la.
II.Teorias do Envelhecimento e a Sabedoria
O envelhecimento é um processo complexo, envolvendo mudanças biológicas, psicológicas e sociais. Não há consenso sobre uma única teoria explicativa. Autores como Gans et al. (2009) defendem a necessidade de uma abordagem integrativa, considerando aspectos biológicos, psicológicos e sociais. As teorias sociais do envelhecimento enfatizam a interação indivíduo-sociedade e o estatuto social atribuído aos idosos. Baltes (1997) e Baltes & Smith (2003) dividem a velhice em terceira e quarta idade, destacando desafios e potenciais de cada etapa. A relação entre envelhecimento e sabedoria é debatida: algumas visões a consideram como algo que se desenvolve na velhice, enquanto outras apontam para padrões de desenvolvimento mais complexos, influenciados por fatores como a experiência de vida e a saúde. O estudo da sabedoria nesse contexto visa contribuir para a promoção de um envelhecimento bem-sucedido.
1. O Fenômeno do Envelhecimento Uma Visão Multifacetada
O envelhecimento populacional está intrinsecamente ligado ao processo de envelhecimento individual, um fenómeno multidimensional que abrange alterações biológicas, psicológicas e sociais (Cavanaugh & Blanchard-Fields, 2006). O envelhecimento biológico relaciona-se com alterações genéticas e de saúde, enquanto o envelhecimento psicológico engloba cognição, personalidade e emoções. O envelhecimento social, por sua vez, é influenciado por fatores culturais, societais e étnicos. A complexidade do envelhecimento é evidente na ausência de um consenso teórico e na diversidade de explicações propostas para o mesmo fenômeno (Fernández-Ballesteros, 2004; Austad, 2009). Gans, Putney, Bengtson e Silverstein (2009) destacam a necessidade de integrar as diferentes perspectivas (biológica, psicológica e social) no estudo do envelhecimento, superando as tensões teóricas atuais e desenvolvendo uma abordagem mais abrangente e integrada.
2. Teorias Sociais do Envelhecimento e a Perspectiva do Idoso na Sociedade
As teorias sociais do envelhecimento enfatizam a interação indivíduo-sociedade e a estrutura social na definição do papel e do estatuto social dos idosos (Fernández-Ballesteros, 2004; Hooyman & Kiyak, 2011). A posição social dos idosos varia entre culturas e depende das crenças sobre a população idosa. O estatuto do idoso pode ser determinado por um balanço entre suas contribuições e custos para a sociedade. Uma visão positiva reconhece os recursos, o poder e a disponibilidade dos idosos para contribuir para o desenvolvimento familiar e social. Por outro lado, uma visão negativa pode retratar os idosos como um fardo econômico e social. A grande heterogeneidade entre indivíduos, mesmo ao longo da vida de um mesmo indivíduo, leva alguns autores a categorizar a velhice em duas etapas distintas: a terceira e a quarta idade (Baltes, 1997; Baltes & Smith, 2003), sendo a transição, em países desenvolvidos, colocada entre os 80 e 85 anos. A terceira idade é caracterizada por aspectos positivos, como aumento da expectativa de vida e bem-estar, enquanto a quarta idade apresenta preocupações com perdas cognitivas, demência e fragilidade.
3. O Envelhecimento Ótimo e o Papel da Sabedoria
A crescente população idosa destaca a importância da formação de especialistas em Gerontologia Social para trabalhar com essa população e observar a diversidade de experiências de envelhecimento (Hooyman & Kiyak, 2011). A busca por fatores e estratégias para otimizar o envelhecimento e identificar seu potencial positivo é fundamental (Baltes et al., 1990; Fernández-Ballesteros et al., 2004). Baltes e Baltes (1990) defendem uma visão positiva da velhice, considerando que um único caso de ótimo funcionamento na velhice seria suficiente para comprovar a possibilidade de funcionamento positivo. No entanto, a raridade de tais casos na cultura atual levou ao estudo da sabedoria como um potencial preditor de envelhecimento bem-sucedido. A sabedoria, vista como um ideal máximo de desenvolvimento humano (Gonçalves et al., 2013), com suas características pró-desenvolvimento pessoal (Ardelt, 2003), pode representar um exemplo de aspeto positivo na velhice, contribuindo para um envelhecimento mais digno e ótimo.
4. Diferentes Visões sobre a Relação entre Sabedoria e Idade
Existem diferentes visões sobre a relação entre sabedoria e idade (Sternberg, 2005b). Uma visão considera que a sabedoria se desenvolve na velhice, associada a um despertar espiritual. Outras visões comparam o desenvolvimento da sabedoria a padrões da inteligência fluida (aumento na vida adulta, seguida de declínio) e cristalizada (aumento contínuo até a velhice). Há ainda a visão que considera o declínio da sabedoria com a idade, similar ao declínio físico. Os resultados de estudos sobre a relação entre sabedoria e idade são variados, com diferenças individuais significativas nas trajetórias da sabedoria (Sternberg, 2005b). O desenvolvimento da sabedoria parece depender de circunstâncias de vida, da forma como a sabedoria é operacionalizada e medida, e da vontade individual em desenvolver tais capacidades. Apesar de algumas pesquisas indicarem um declínio na velhice tardia, dependendo do declínio da saúde mental, a capacidade de desenvolvimento da sabedoria até os últimos dias de vida é discutida, dependendo de variáveis cognitivas, de personalidade e de experiência.
5. Gênero Experiência de Vida e Sabedoria Estudos e Resultados
Estudos sobre teorias implícitas frequentemente reportam diferenças de género, favorecendo homens em aspectos cognitivos e mulheres em aspectos interpessoais da sabedoria (Bluck & Glück, 2005; Aldwin, 2009). Ardelt (2009), num estudo com 642 participantes usando a 3D-WS, observou que a sabedoria não estava relacionada ao gênero, exceto em algumas dimensões específicas na coorte mais velha, sugerindo mudanças em práticas de socialização. Webster (2003) usando a SAWS, encontrou correlação positiva entre gênero e sabedoria, com mulheres pontuando mais alto. A falta de associação entre sabedoria e idade na SAWS é consistente com a ideia de que não é a idade cronológica, mas as experiências de vida que influenciam o desenvolvimento da sabedoria. A ênfase em componentes não-cognitivos na SAWS, incluindo uma dimensão afetiva explícita, pode explicar as diferenças de género observadas, pois as mulheres tendem a apresentar pontuações mais elevadas nesses aspectos. A idade é vista como fator essencial, porém não suficiente, para o desenvolvimento da sabedoria, sendo a experiência de vida, acumulada ao longo do ciclo de vida, um fator determinante para o alcance de altos níveis de maturidade psicológica. A adolescência é mencionada como um ponto de viragem no desenvolvimento, ao contrário da vida adulta.
III.Modelos e Escalas de Medição da Sabedoria
Diversas escalas foram criadas para medir a sabedoria, cada uma com diferentes operacionalizações do conceito. A 3D-WS (Ardelt, 2003) mede dimensões cognitiva, reflexiva e afetiva. A SAWS (Webster, 2003) foca-se em componentes não-cognitivos. A BWSS (Glück et al., 2013) é uma escala breve integrando múltiplos aspetos da sabedoria. O ASTI (Levenson et al., 2005) mede a auto-transcendência como um aspeto da sabedoria. O modelo MORE (Glück & Bluck, 2013) propõe quatro elementos essenciais para o desenvolvimento da sabedoria: mestria, abertura, reflexividade e regulação emocional e empatia. As diferenças entre as escalas refletem as diversas definições e abordagens ao conceito de sabedoria, influenciando os resultados e a interpretação dos estudos. O estudo utilizou a 3D-WS, a SAWS e a BWSS para avaliar a sabedoria em diferentes participantes.
1. A 3D WS Uma Abordagem Tridimensional da Sabedoria
A Three-Dimensional Wisdom Scale (3D-WS), desenvolvida por Ardelt (2003), propõe uma medição da sabedoria a partir de três dimensões inter-relacionadas: cognitiva, reflexiva e afetiva. A escala foi construída a partir de itens selecionados em outras escalas e itens criados de novo, totalizando inicialmente 158 itens. Após um pré-teste e avaliação por uma equipe de especialistas, a escala final ficou composta por 39 itens, distribuídos entre as três dimensões. A versão portuguesa da escala (Bastos, Lamela & Gonçalves, 2012) utiliza escalas de resposta do tipo Likert e de classificação de verdade para avaliar as diferentes facetas da sabedoria. Exemplos de itens incluem: "É possível classificar quase todas as pessoas como honestas ou desonestas" (cognitiva), "Frequentemente as coisas correm-me mal sem ser por minha culpa" (reflexiva), e "Por vezes sinto uma verdadeira compaixão pelos outros" (afetiva). A construção desta escala demonstra a tentativa de operacionalizar a sabedoria considerando suas múltiplas facetas, buscando uma compreensão abrangente do construto.
2. A SAWS Foco nos Componentes Não Cognitivos da Sabedoria
A Self-Assessed Wisdom Scale (SAWS), criada por Webster (2003) e posteriormente adaptada para a população portuguesa por Amado (2008), difere da 3D-WS por sua ênfase nos componentes não-cognitivos da sabedoria. Originalmente com 30 itens, a escala expandiu-se para 40 itens, abrangendo cinco dimensões inter-relacionadas: experiência, reflexividade, regulação emocional, abertura e humor. Cada componente é necessário, mas não suficiente para o surgimento da sabedoria. A escala foi desenvolvida para avaliar como os indivíduos integram essas cinco dimensões em diferentes graus, caracterizando a presença de sabedoria. A validação da SAWS para a população portuguesa não detalha relações entre a sabedoria e outras variáveis, focando-se nos próprios componentes da sabedoria conforme operacionalizados por Webster e Amado. A ausência de uma ênfase tão forte em características cognitivas, em comparação com a 3D-WS, explica a diferença de resultados em estudos que utilizaram ambas as escalas.
3. O ASTI Sabedoria como Auto Transcendência
Levenson e sua equipe (Levenson, Jennings, Aldwin, & Shiraishi, 2005) abordam a sabedoria através do conceito de auto-transcendência, entendida como um distanciamento de preocupações externas e uma maior conexão com algo maior que si mesmo, incluindo gerações passadas e futuras. O instrumento de medida utilizado é o Adult Self-Transcendence Inventory (ASTI), uma escala de auto-relato com 18 itens. Os indivíduos avaliam seu nível de concordância com cada item, comparando seu estado atual com o de cinco anos atrás, utilizando uma escala Likert de 1 a 4. Exemplos de itens incluem: "Sinto que minha vida individual faz parte de um todo maior" e "Não fico zangado tão facilmente". Esta abordagem difere das anteriores ao focar-se em um aspeto específico da sabedoria, relacionado à espiritualidade, ao autoconhecimento e à aceitação da impermanência, fornecendo uma perspectiva complementar sobre a multidimensionalidade da sabedoria.
4. O Modelo MORE e a Escala Breve de Sabedoria BWSS
Glück e Bluck (2013) propuseram o modelo MORE (Mastery, Openness, Reflectivity, Emotion Regulation and Empathy) como um modelo conceitual para o desenvolvimento da sabedoria, focando-se em recursos que impactam positivamente a vida individual e sua integração na história de vida. Este modelo considera a heterogeneidade dos percursos individuais em direção à sabedoria. Baseado em pesquisas sobre sabedoria, desenvolvimento do ciclo de vida e experiências de vida, o modelo propõe quatro elementos centrais: mestria, abertura, reflexão e regulação emocional e empatia. A Escala Breve de Sabedoria (BWSS; Glück et al., 2013) resultou em seis fatores após análise fatorial exploratória, incluindo oito aspetos da sabedoria: auto-transcendência, regulação emocional, dimensão reflexiva e afetiva, abertura, humor, reminiscência e reflexividade e experiência de vida crítica. A análise de componentes principais (ACP) revelou que o primeiro fator explica uma porção significativa da variância da escala. O teste de esfericidade de Bartlett e a medida KMO confirmaram a adequação da matriz de correlações para a análise fatorial. A BWSS, construída a partir de itens de outras escalas, demonstra uma tentativa de integrar diferentes aspectos da sabedoria numa medida concisa.
IV.Sabedoria Envelhecimento e Fatores Relacionados
A relação entre sabedoria e idade é complexa. Embora a experiência de vida seja crucial, a idade cronológica não garante a aquisição de sabedoria. Algumas pesquisas demonstram diferenças de gênero, com homens pontuando mais alto em aspectos cognitivos e mulheres em aspectos afetivos, embora isso possa variar com as escalas usadas e as coortes estudadas. Fatores como a escolaridade, estado civil (casado/não casado), a presença ou ausência de filhos e a responsabilidade social no trabalho também influenciam os níveis de sabedoria observados, segundo os resultados obtidos com a utilização das escalas 3D-WS, SAWS e BWSS.
1. A Relação entre Sabedoria e Idade Perspectivas Divergentes
A relação entre sabedoria e idade é um tópico central na pesquisa, com diferentes visões apresentadas por Sternberg (2005b). Uma perspectiva, a visão recebida, sugere que a sabedoria se desenvolve na velhice, mesmo com o declínio físico, associada a um despertar espiritual. Outra visão a compara com o padrão de desenvolvimento da inteligência fluida, com aumento na vida adulta e declínio posterior. Há também a perspectiva da inteligência cristalizada, onde a sabedoria aumenta gradualmente ao longo da vida, até a velhice ou próximo da morte, dependendo de problemas de saúde. Uma quarta visão integra a inteligência fluida e cristalizada, com aumento até a meia-idade e declínio posterior, devido ao declínio das capacidades fluidas. Finalmente, uma quinta visão propõe o declínio da sabedoria com a idade, paralelo ao declínio da saúde física. A complexidade da questão é evidente na falta de consenso e na existência de trajetórias individuais diversas. O estudo da relação entre sabedoria e idade também é influenciado pela forma como a sabedoria é operacionalizada e medida, impactando a interpretação dos resultados. A vontade individual em desenvolver a sabedoria também é um fator crucial a ser considerado.
2. Gênero e Sabedoria Diferenças e Influências Culturais
Estudos sobre sabedoria frequentemente reportam diferenças de género. Homens tendem a apresentar pontuações mais altas em aspectos cognitivos, enquanto mulheres em aspectos interpessoais, possivelmente devido às concepções ocidentais da sabedoria que favorecem os componentes cognitivos (Bluck & Glück, 2005; Aldwin, 2009). No entanto, a 3D-WS não apresentou diferenças significativas entre os gêneros, exceto em algumas dimensões específicas na coorte mais velha (Ardelt, 2009). Mulheres pontuaram mais alto na dimensão afetiva, e homens mais velhos na cognitiva. A SAWS (Webster, 2003), por outro lado, mostrou correlação positiva entre gênero feminino e pontuações mais altas, possivelmente devido à ênfase em componentes não-cognitivos e afetivos da sabedoria. Essas divergências nos resultados sugerem a influência das medidas utilizadas na percepção das diferenças de gênero na sabedoria, com medidas mais integradoras beneficiando ambos os sexos, e indivíduos sábios tendendo a ser andrógenos. Diferenças culturais e métodos de socialização também são fatores relevantes a serem considerados na interpretação dessas discrepâncias.
3. Experiência de Vida e Sabedoria Idade como Fator Essencial Mas Não Suficiente
A experiência de vida é crucial para o desenvolvimento da sabedoria (Bluck & Glück, 2005; Takahashi & Overton, 2005), embora a idade cronológica por si só não seja suficiente. Enquanto em teorias explícitas a idade não é necessariamente associada à sabedoria, nas teorias implícitas essa associação é mais evidente. Entretanto, mesmo entre idosos, a crença de que idade implica maior sabedoria não é consensual. A idade está associada à sabedoria não pela cronologia em si, mas pela experiência de vida acumulada, que aumenta com a idade, proporcionando mais oportunidades para a maturidade psicológica. Três modelos relacionam sabedoria e idade: aumento contínuo, decréscimo e probabilidade igual entre jovens e idosos. Embora idosos apresentem desempenhos mais elevados em tarefas relacionadas à sabedoria (Kunzman & Baltes, 2005), o envelhecimento não garante altos níveis de sabedoria. Muitos indivíduos possuem potencial latente para aprimorar sua performance nessas tarefas, destacando a importância da experiência de vida, mas não apenas quantitativamente, mas também na forma como é processada e integrada pelo indivíduo.
4. Outros Fatores que Influenciam o Desenvolvimento da Sabedoria
Baltes e Smith (2008) identificam três fatores para a construção da sabedoria: idade cronológica avançada, traços de personalidade favoráveis (abertura à experiência) e experiências específicas na resolução de dilemas pessoais e éticos. A sabedoria, segundo a definição de Berlim, difere da inteligência acadêmica, podendo ser desenvolvida e aprimorada através de um processo de aprendizagem e prática (Kunzman & Baltes, 2005). Diversos fatores influenciam seu desenvolvimento: capacidades cognitivas, mentores, experiência na resolução de problemas, abertura à experiência e valores pró-crescimento pessoal. O contexto de vida (cultural, social e de género) também exerce influência, moldando a forma como os indivíduos veem o mundo e lidam com suas vidas. A influência de emoções no desenvolvimento da sabedoria é complexa, com a regulação emocional como um aspeto fundamental, mas não o único. Apesar de estudos sobre teorias implícitas mostrarem diferenças de gênero, com homens apresentando melhores resultados em testes de sabedoria, a complexidade deste tópico requer uma análise mais ampla, considerando a diversidade de operacionalizações da sabedoria em diferentes instrumentos de medida. Medidas mais integradoras tendem a minimizar essas diferenças, sugerindo que indivíduos sábios podem apresentar características andróginas.