
Validação da 3D-WS: Sabedoria em Adultos
Informações do documento
Autor | Raquel Sofia Arieira Gonçalves |
instructor | Alice Bastos, Professora Doutora |
Escola | Universidade não especificada |
Curso | Gerontologia Social |
Tipo de documento | Trabalho de Mestrado |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 0.98 MB |
Resumo
I.Sabedoria Conceito e Abordagens
Esta dissertação investiga o conceito de sabedoria, explorando suas abordagens implícitas (concepções populares e caracterização de pessoas sábias no quotidiano) e explícitas (manifestações comportamentais e teorias formais para sua mensuração). A pesquisa distingue entre sabedoria pessoal (percepção individual da própria vida) e sabedoria geral (compreensão da vida em geral, de forma objetiva). Diversas teorias são analisadas, incluindo as perspectivas de Baltes, Sternberg, e a abordagem neo-piagetiana, demonstrando a natureza multidimensional da sabedoria e sua relação com o envelhecimento positivo e o bem-estar.
1. Envelhecimento Positivo e a Sabedoria
A dissertação inicia com a definição de envelhecimento positivo, segundo Fernández-Ballesteros (2008), como um processo de adaptação ao longo do ciclo de vida, visando o funcionamento físico, psicológico e social ótimo na velhice. A sabedoria é apresentada como um fator crucial para alcançar esse bem-estar, sendo vista como o ápice do desenvolvimento humano. O envelhecimento é considerado um processo heterogêneo, influenciado por fatores relativos à própria velhice e a experiências de vida anteriores (eventos, atitudes, personalidade e contexto sociocultural). A Gerontologia Social é destacada como fundamental para a compreensão e intervenção nesse processo, dada a sua importância acadêmica, científica e para as políticas sociais. A percepção dos idosos sobre sua situação, a variabilidade interindividual e a plasticidade são apontadas como elementos essenciais na busca de um envelhecimento bem-sucedido, fortemente influenciados por mudanças sócio-históricas e características pessoais (Paúl & Ribeiro, 2012).
2. Abordagens Implícitas e Explícitas da Sabedoria
O estudo da sabedoria é dividido em abordagens implícitas e explícitas. As abordagens implícitas baseiam-se em concepções populares, investigando como o conceito é usado no quotidiano e como as pessoas sábias são caracterizadas. As abordagens explícitas, por sua vez, focam-se em manifestações comportamentais da sabedoria, buscando uma teoria formal para sua definição e mensuração. Staudinger e Glück (2011b) propõem a diferenciação entre sabedoria pessoal (percepção individual sobre si mesma e sua vida) e sabedoria geral (compreensão objetiva da vida). Diversos modelos são mencionados: o Paradigma de Sabedoria Geral da equipe de Berlim, a perspectiva de Sternberg, e a abordagem neo-piagetiana (incluindo teorias de Loevinger, Labouvie-Vief, Dörner, Staudinger, a tradição Eriksoniana, Webster, Levenson e colaboradores, e Ardelt), sendo os dois últimos classificados como pertencentes à Sabedoria Pessoal.
3. Sabedoria como Constructo Multidimensional
A sabedoria é apresentada como um constructo multidimensional, sendo conceptualizada em diferentes domínios, como a tomada de decisões, ajuda a outros, questões sociais e espirituais, e autorreflexão (Kramer, 1990). Existem relações significativas entre sabedoria, harmonia, inteligência, calor humano, natureza, espiritualidade (Barros-Oliveira, 2006), experiência de vida, controle emocional, reflexão, satisfação, abertura de espírito e simplicidade (Webster, 2003). O juízo moral (Sternberg, 2000) e a capacidade de emitir juízos de valor assertivos (Conley, 2003) também são fortemente relacionados com a sabedoria, assim como a dedicação à espiritualidade (Janson et al.). Diversos autores (Jordan, 2005; Baltes & Staudinger, 2000; Sternberg, 2001) propõem as abordagens implícitas e explícitas ao estudo da sabedoria, sendo as implícitas baseadas nas concepções populares e as explícitas nas manifestações comportamentais e teorias formais, procurando mensurar objetivamente os níveis de sabedoria.
II.Sabedoria na Tradição Histórica Filosófica e Religiosa
O conceito de sabedoria é analisado em diferentes tradições: a ênfase em virtudes como paciência e justiça no Antigo Egito; a influência de Confúcio na Ásia Oriental; a visão budista da sabedoria empírica; e as concepções gregas (Sócrates, Platão, Aristóteles) e romanas (Cícero), destacando a busca pela harmonia, virtude e compreensão do bem. O estudo demonstra o significado trans-histórico, transcultural e transdisciplinar da sabedoria.
1. A Sabedoria como Conceito Transcultural e Transdisciplinar
O texto inicia afirmando que a sabedoria é um constructo complexo com significado trans-histórico, transcultural (Baltes, 2004) e transdisciplinar (Baltes, Glück & Kunzmann, 2002, citado em Kunzmann & Baltes, 2005). Seu estudo não é recente, sendo conectado a diversas tradições culturais, religiosas e filosóficas. O documento cita alusões à sabedoria em textos clássicos gregos e romanos, assim como em escritos da Mesopotâmia e do Antigo Egito (Alves, 2011). Como exemplo, a civilização egípcia, em documentos como “The Instruction of Ptah Hotep”, destaca virtudes como paciência, honestidade, autocontrole e justiça como essenciais para relações humanas harmoniosas (Takahashi & Overton, 2005). O pensamento de Confúcio influenciou a cultura asiática, com a capacidade de dar exemplo de vida como princípio essencial da sabedoria (Alves, 2011), focando questões morais e éticas, prática do bem e relações sociais, baseando-se na ideia de uma retidão inata do homem. Já o budismo apresenta três tipos de sabedoria: adquirida, intelectual e empírica, sendo esta última, proveniente da experiência individual, capaz de transformar a vida e a mente dos indivíduos (Bercholz & Kohn, 1994; Levitt, 1999). O exercício da sabedoria, ou prajna, conduz à iluminação e à libertação da ignorância.
2. Concepções Ocidentais da Sabedoria Grécia e Roma
A cultura grega é apontada como a primeira a investigar sistematicamente a natureza da sabedoria. No pensamento socrático, a sabedoria é a maior das virtudes, transcendendo o domínio cognitivo, podendo até mesmo os iletrados serem considerados sábios, pois se relaciona com caráter, autocontrole e a busca constante da harmonia, beleza e verdade (Marchand, 1994). Para Platão, a sabedoria é o conhecimento do Bem absoluto, ultrapassando o amor por coisas particulares (Alves, 2011). Aristóteles vincula a sabedoria à excelência moral, encontrando e adotando o “golden mean” em eventos significativos da vida (Marchand, 1994). O estoicismo romano, exemplificado por Cícero (106 a.C. - 43 a.C.), defendia que a felicidade, harmonia e sabedoria residem num estado de alma em que o homem se torna indiferente às mudanças externas, devido ao reconhecimento da fugacidade das coisas, temor a Deus, confiança na justiça de seus atos, conhecimento das causas físicas, respeito à natureza e viver de acordo com suas capacidades (Gomes, 1998).
3. Sabedoria na Psicologia Integração Tardia e Abordagens Contemporâneas
Apesar de mencionada ao longo da história, a sabedoria só recentemente se integrou à psicologia, impulsionada pela perspectiva positiva do desenvolvimento humano. Stanley Hall (1844-1924), primeiro presidente da APA, associou a sabedoria à atitude meditativa, calma e imparcial, com a busca por lições morais (Barros-Oliveira, 2006, citado em Araújo, 2010). Antes da década de 80, a sabedoria estava incluída em teorias mais amplas, como a Teoria Psicossocial de Erikson (Erikson, 1959, 1976), onde era vista como resultado do último conflito psicossocial (integridade vs. desespero), e a Teoria do Raciocínio Moral de Kohlberg (Kohlberg, 1973), associada implicitamente ao último estádio de desenvolvimento moral (Brugman, 2006). A partir da década de 80, a pesquisa em sabedoria na psicologia se consolidou, fundamentada no paradigma contextualista, considerando o desenvolvimento como um fenômeno ao longo da vida e a possibilidade de otimização de capacidades e potencialidades (Gonçalves, 2010). Diversos autores, como Ardelt (1997), Assmann (1994), Baltes & Freund (2003), Jordan (2005), Staudinger (1999) e Sternberg (1990b, citado em Ardelt, 2010) contribuíram para o estudo da idade e desenvolvimento da sabedoria.
III.Sabedoria na Psicologia Teorias Explícitas e Instrumentos de Medida
A pesquisa em sabedoria na psicologia, iniciada na década de 80, utiliza abordagens explícitas para medir a sabedoria. O estudo compara diferentes instrumentos de mensuração, focando na Escala Tridimensional de Sabedoria (3D-WS) de Ardelt, que avalia as dimensões cognitiva, reflexiva e afetiva. A dissertação aborda desafios metodológicos na medição empírica de um constructo tão complexo como a sabedoria, discutindo a validade e a fidedignidade de instrumentos existentes, incluindo a adaptação e validação da 3D-WS para a população portuguesa.
1. Teorias Implícitas de Sabedoria Concepções Populares
A pesquisa psicológica sobre sabedoria, iniciada na década de 1980, utiliza abordagens implícitas e explícitas. As abordagens implícitas buscam entender as concepções populares sobre sabedoria, analisando como o conceito é usado no dia a dia e como as pessoas sábias são caracterizadas. Estudos como o de Baltes e Staudinger (2000) mostram que a sabedoria é um conceito específico, partilhado e compreendido popularmente, diferenciando-se de inteligência, criatividade e maturidade. É vista como um nível excepcional de funcionamento humano, associada à excelência e aos ideais de desenvolvimento, envolvendo uma interação dinâmica e balanceada de aspetos intelectuais, afetivos e motivacionais, e alta competência pessoal e interpessoal. A sabedoria, nesse contexto, envolve boas intenções, sendo utilizada para o bem-estar próprio e dos outros. Outros estudos, como o de Holliday e Chandler (1986, citado em Gonçalves, 2011), exploram a concepção de sabedoria em diferentes grupos etários, identificando fatores como entendimento notável, juízo seguro, competência geral e capacidades relacionais, reforçando a ideia da sabedoria como constructo multidimensional (similarmente ao estudo de Clayton e Birren, 1980). Estudos com vinhetas (Knight & Parr, 1999, citado em Bluck & Glück, 2005) e filmes (Hira & Faulkender, 1997, citado em Bluck & Glück, 2005) apresentam resultados divergentes, sugerindo a influência de fatores não verbais na percepção da sabedoria.
2. Teorias Explícitas de Sabedoria Mensuração e Instrumentos
Em contraponto às abordagens implícitas, as teorias explícitas focam-se na mensuração da sabedoria. A pesquisa busca definir e operacionalizar o conceito para medi-lo objetivamente com rigor. A complexidade do constructo, no entanto, apresenta desafios na construção de instrumentos sensíveis, válidos e fidedignos, o que limita a quantidade de estudos neste âmbito (Marchand, 2005; Kunzmann & Baltes, 2005). As abordagens explícitas buscam responder a questões como "Quão sábio é este indivíduo?" e focam-se na criação de métricas. Algumas abordagens se orientam mais para o processo (sabedoria como característica do pensamento adulto), enquanto outras se concentram nos resultados (sabedoria como padrão de características de personalidade ou capacidade de resolução de problemas). O texto menciona a inteligência fluida (processamento rápido da informação, decrescendo após a adolescência) e a inteligência cristalizada (compreensão verbal e raciocínio sobre problemas da realidade, podendo aumentar ao longo da vida com ambiente enriquecido; Baltes, 1997) como fatores relevantes. A pesquisa busca mensurar a sabedoria de forma clara, válida e fidedigna, o que exige uma definição e operacionalização precisas.
3. Modelos e Escalas de Medida da Sabedoria Perspectivas de Ardelt Levenson e o Grupo de Berlim
O texto descreve diferentes instrumentos de medida da sabedoria, destacando a Three-Dimensional Wisdom Scale (3D-WS) de Ardelt (2003, 2004). Ardelt define a sabedoria como uma variável latente avaliada por uma medida padronizada (Benedikovicová & Ardelt, 2008), abrangendo a pessoa como um todo (cognitivo, reflexivo e afetivo) e aproximando-se de um ideal raramente encontrado na realidade. Sua pesquisa em população idosa mostrou relação positiva com bem-estar geral, mestria e objetivos de vida, e negativa com depressão, medo da morte e pressão econômica. A 3D-WS, composta por 39 itens (posteriormente reduzida a 3D-WS-19 neste estudo), foi validada para a população americana. O estudo também menciona a perspectiva de Levenson e colaboradores (2005), que definem a transcendência pessoal como equivalente à sabedoria, medindo-a através do Adult Self-Transcendence Inventory (ASTI). Por fim, o Paradigma de Sabedoria Geral da equipe de Berlim utiliza o método de “pensar em voz alta” sobre dilemas de vida para avaliar a sabedoria, focando na capacidade de lidar com incerteza e complexidade. O texto indica que o diálogo social ou interno melhora o desempenho nestas tarefas, sugerindo potencial para melhoria das respostas.
IV.Metodologia da Pesquisa Instrumentos e Amostra
A dissertação apresenta a metodologia utilizada para testar a versão portuguesa da 3D-WS. A pesquisa utilizou uma amostra de 308 participantes, divididos em três grupos etários (jovens adultos, adultos de meia-idade e idosos), buscando uma amostra diversificada em termos de género e nível educacional. O instrumento principal foi a 3D-WS, com análise de sua estrutura fatorial através de Análise Fatorial Confirmatória (AFC), resultando na 3D-WS-19 após ajustes metodológicos. As instituições envolvidas na recolha de dados incluem o Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), Universidade do Porto, e várias Academias Sénior e Residências Assistidas em Portugal.
1. Instrumento de Medida Three Dimensional Wisdom Scale 3D WS
A metodologia da pesquisa centra-se na utilização da versão portuguesa da Three-Dimensional Wisdom Scale (3D-WS; Ardelt, 2003), uma escala de auto-administração composta por 39 itens, divididos em duas subescalas com escalas Likert de 1 a 5. A escala mede três dimensões da sabedoria: cognitiva, reflexiva e afetiva. Os valores de alfa de Cronbach, calculados em dois momentos, demonstram a fiabilidade da medida das três dimensões para teste-reteste: no primeiro momento foram .78 (cognitiva), .75 (reflexiva) e .74 (afetiva), e no segundo, .85, .71 e .72, respetivamente. O nível de sabedoria dos participantes foi calculado pela média das médias obtidas em cada dimensão. A escolha desta escala se justifica pela busca de um instrumento que avalie a sabedoria como integração de qualidades de personalidade cognitivas, reflexivas e afetivas, abrangendo a pessoa na sua totalidade, uma vez que a sabedoria não pode ser limitada ao domínio intelectual. A utilização da 3D-WS é justificada pela ausência de outros instrumentos validados para a população portuguesa que meçam a sabedoria, embora o estudo reconheça limitações intrínsecas aos instrumentos de auto-relato, como viés de autopercepção e processos seletivos de memória (Lindquist & Barrett, 2008).
2. Seleção da Amostra e Critérios de Inclusão Exclusão
O estudo utilizou uma amostra de 308 participantes, após a exclusão de dois protocolos com elevado número de respostas omissas. A amostra foi composta por três grupos etários: jovens adultos (18-34 anos), adultos de meia-idade (35-54 anos) e idosos (acima de 55 anos), buscando uma distribuição minimamente equilibrada de cerca de 100 participantes em cada grupo. A idade inferior a 18 anos foi o único critério de exclusão. A seleção dos participantes visou uma amostra diversificada e representativa da população portuguesa, semelhante à amostra original dos estudos de validação da 3D-WS (Ardelt, 2003) em termos de idade, género e habilitações literárias, com acréscimo de participantes com menores habilitações académicas para maior heterogeneidade. A recolha de dados ocorreu entre março e junho, em instituições de ensino superior (Instituto Politécnico de Viana do Castelo e Universidade do Porto), instituições para idosos (Academia Sénior do IPVC, Universidade Sénior de Viseu, Academia Sénior do Centro de Estudos Regionais de Viana do Castelo e Residência Assistida Bella Vida – Viana do Castelo) e através de contactos informais, especialmente para participantes de meia-idade e séniores. A distribuição da amostra em termos de escolaridade incluiu 17% com ensino médio, 17% ensino superior, 13% bacharelado e 31% pós-graduação.
3. Análise Estatística e Considerações Metodológicas
A determinação do tamanho da amostra seguiu as recomendações de Kline (2010) e Muthén e Muthén (2002) para a Análise Fatorial Confirmatória (AFC). Embora Kline sugira amostras acima de 200 participantes, Muthén e Muthén demonstram que o número necessário varia de acordo com a distribuição dos dados e a existência de valores ausentes, chegando a 315 participantes em casos com missing values e não-normalidade dos dados. Visando garantir o poder estatístico, optou-se por uma amostra maior que 200. A fiabilidade da escala foi avaliada pelo alfa de Cronbach (α) e correlação corrigida item-total, com valores aceitáveis acima de .70 (Nunnally & Bernstein, 1994). A análise factorial confirmatória do modelo de três fatores da 3D-WS original mostrou ajuste inadequado. Posteriormente, itens com saturação inferior a .30 foram eliminados (Kline, 2010), resultando na 3D-WS-19 após análise dos índices de modificação (IM), com eliminação de itens cuja adição de trajectórias a outras dimensões latentes fosse estimada pelos IM para melhorar o ajuste (Byrne, 2001; Kline, 2010; Arbuckle, 2008; Marôco, 2010; Field, 2009). O estudo reconhece a natureza transversal como limitação, sugerindo estudos longitudinais para análise preditiva mais robusta.
V.Resultados e Discussão Análise da 3D WS 19 e Conclusões
Os resultados da AFC da 3D-WS levaram à criação de uma versão reduzida, a 3D-WS-19, após a eliminação de itens com baixa saturação fatorial. A análise psicométrica da 3D-WS-19 mostrou um bom ajustamento aos dados. A dissertação discute as implicações dos resultados para a compreensão da sabedoria na população portuguesa, suas relações com o envelhecimento, bem-estar, e os desafios metodológicos da pesquisa em Gerontologia Social. A pesquisa destaca a importância de estudos longitudinais para uma compreensão mais completa do desenvolvimento da sabedoria ao longo do ciclo de vida.
1. Análise Fatorial Confirmatória AFC e a 3D WS 19
A análise dos resultados focou-se na avaliação psicométrica da Three-Dimensional Wisdom Scale (3D-WS), utilizando a Análise Fatorial Confirmatória (AFC). Inicialmente, o modelo de três fatores proposto pela versão americana da 3D-WS apresentou ajuste inadequado aos dados. Após a eliminação de itens com saturação fatorial inferior a .30 (um item na dimensão cognitiva, quatro na reflexiva e cinco na afetiva; Kline, 2010), o ajuste permaneceu inadequado. A análise dos índices de modificação (IM) levou à eliminação de itens adicionais, resultando em uma versão reduzida da escala, a 3D-WS-19. O novo modelo apresentou um bom ajuste aos dados, indicando uma estrutura fatorial robusta e confirmando a validade da escala reduzida para a população portuguesa. A confiabilidade da escala 3D-WS-19 foi avaliada através do alfa de Cronbach, com valores que demonstram boa consistência interna nas três dimensões (cognitiva, reflexiva e afetiva). A validade convergente foi inferida a partir das correlações significativas entre as dimensões da escala. A análise detalhada dos resultados inclui a discussão das características psicométricas da 3D-WS-19, comparando com os resultados da análise psicométrica da escala original.
2. Discussão dos Resultados e Limitações do Estudo
A discussão dos resultados relaciona as características psicométricas da 3D-WS-19 com a reflexão teórica e resultados empíricos apresentados anteriormente. São analisadas as implicações da versão reduzida (3D-WS-19) da escala para a compreensão do conceito de sabedoria e sua relação com o bem-estar na população portuguesa. O estudo reconhece diversas limitações. O caráter transversal do estudo impede a avaliação da estabilidade temporal da solução fatorial. Apesar da robustez da 3D-WS-19, estudos longitudinais são sugeridos para análises preditivas mais sólidas. A utilização exclusiva de um instrumento de auto-administração apresenta a limitação da subjetividade inerente às respostas dos participantes, influenciadas por processos de memória seletivos e idiossincráticos (Lindquist & Barrett, 2008), bem como a desejabilidade social. A heteroradministração em parte da amostra (4.4%) também é apontada como fator que pode ter influenciado a compreensão dos itens. Além disso, a sabedoria se manifesta em comportamentos não-verbais e sociais, não totalmente capturados pelo instrumento utilizado (Baltes & Smith, 2008), levantando questões sobre a totalidade da avaliação da sabedoria individual.
3. Conclusões e Sugestões para Pesquisas Futuras
O estudo conclui com a apresentação das principais conclusões, destacando o desenvolvimento e validação da 3D-WS-19 para a população portuguesa. A versão reduzida da escala demonstra ser uma ferramenta útil para a avaliação da sabedoria, considerando suas características psicométricas e o bom ajuste aos dados. No entanto, as limitações metodológicas do estudo, como o caráter transversal e a dependência de um instrumento de auto-administração, são ressaltadas, sugerindo estudos longitudinais e a combinação com outros métodos de avaliação para uma compreensão mais completa do constructo. A ausência de outros instrumentos validados para medir sabedoria na população portuguesa reforça a importância da 3D-WS-19, mas também evidencia a necessidade de futuras pesquisas para validar e aprimorar os instrumentos de avaliação, considerando os vieses inerentes aos estudos transversais que comparam coortes distintas e os pressupostos da Teoria Desenvolvimental do Ciclo de Vida (Lerner, 2002; Baltes, Lindenberger & Staudinger, 2006; Hofer & Piccinin, 2010). É sugerida a utilização de designs longitudinais e a incorporação de métodos que contemplem os aspetos não-verbais e sociais da sabedoria.