Envolvimento dos pais no TPC de matemática: desenvolvimento da comunicação matemática dos alunos

Envolvimento Parental no TPC de Matemática

Informações do documento

Autor

Marta Maria Morais Moreno

instructor Professora Doutora Lina Fonseca
Escola

Mestrado em Educação, Especialidade em Didática da Matemática e das Ciências

Disciplina

Educação

Curso Didática da Matemática e das Ciências
Tipo de documento Dissertação de Mestrado
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 2.70 MB

Resumo

I.A Importância da Comunicação Matemática e o Envolvimento dos Pais

Este estudo investiga a comunicação matemática no 1º ciclo do ensino básico, focando o papel crucial do envolvimento dos pais no trabalho de casa (TPC). Documentos como o Programa de Matemática do ME (2007) e o NCTM (2007) destacam a comunicação matemática como habilidade transversal essencial para a aprendizagem matemática. A pesquisa explora como tarefas de TPC, com o devido feedback entre alunos, pais e professor, podem melhorar a literacia matemática e a resolução de problemas. A investigação analisa a influência de diferentes estilos parentais na motivação escolar e na capacidade dos alunos de comunicar matematicamente, considerando também a teoria da autodeterminação.

1. A Comunicação Matemática como Habilidade Transversal

O estudo inicia-se enfatizando a importância da comunicação matemática no ensino básico, conforme destacado pelo Programa de Matemática do Ensino Básico (ME, 2007) e pelo National Council of Teachers of Mathematics (NCTM, 2007). Ambos os documentos apontam a comunicação matemática como uma capacidade fundamental e transversal a toda a aprendizagem da matemática, indispensável para organizar e clarificar o pensamento matemático dos alunos. O ME (2007) destaca a necessidade dos alunos interpretarem enunciados orais e escritos, expressarem ideias com precisão usando linguagem matemática, descreverem estratégias e processos, argumentarem e discutirem as argumentações de outros. Similarmente, o NCTM (2007) sublinha a comunicação como parte essencial da educação matemática, ressaltando a importância da clareza e coerência na comunicação entre alunos, professores e outros, bem como a análise crítica das estratégias e pensamentos matemáticos de terceiros. Apesar da predominância da comunicação oral em sala de aula, o documento destaca a importância da comunicação escrita para a consolidação do pensamento matemático, forçando a reflexão sobre o trabalho e o esclarecimento das ideias.

2. O Papel do Trabalho de Casa TPC e o Feedback

A investigadora defende que as tarefas de TPC devem ser vistas como rotina de trabalho essencial, não apenas uma obrigação. O TPC deve ser adequadamente aplicado pelo professor, e os alunos devem aprender a integrá-lo em seu percurso académico. A implementação precoce do TPC, com a orientação do professor e o envolvimento dos pais, contribui para o sucesso académico dos alunos, principalmente no início da escolaridade, permitindo aos pais acompanharem a vida escolar dos seus filhos. Os alunos devem enxergar o TPC como um instrumento benéfico para a aprendizagem. Um elemento fundamental e indissociável do TPC é o feedback: a interação entre a realização do TPC pelos alunos (com envolvimento dos pais), e a correção pelo professor. Este processo de feedback é essencial para a aprendizagem e para a melhoria da comunicação matemática.

3. Ambientes de Aprendizagem e o Desenvolvimento do Raciocínio Matemático

O NCTM (2000) enfatiza a importância de criar ambientes de formação onde os alunos sejam encorajados a expressar seu pensamento, indo além de uma necessidade formal imposta pelo professor. Fonseca e Moreira (2005) destacam a relevância de questões como “Como?” e “Porquê?” para estimular o raciocínio matemático, levando os alunos a questionar e a não aceitar passivamente informações baseadas apenas em autoridade. Menezes (2004) considera a comunicação como a essência do ensino e aprendizagem da matemática. O estudo presta especial atenção à comunicação matemática, considerada uma capacidade transversal à aprendizagem matemática (ME, 2007), e à sua associação com o envolvimento dos pais. O NCTM (2007) reforça a necessidade dos alunos explicitarem seus raciocínios, analisarem os raciocínios dos colegas e comunicarem com rigor e clareza, ouvindo as ideias da professora e dos pais. A discussão, a validação em pares e em grupo, e a relevância atribuída às conclusões são igualmente importantes.

4. Práticas Educativas Parentais e seus Estilos

O estudo aborda a influência das práticas educativas parentais na aprendizagem matemática dos filhos. Baseando-se em Baumrind (década de 70), são identificados três estilos parentais: autoritário (controle elevado, regras rígidas e disciplina restritiva), democrático (regras claras, mas com explicação dos fundamentos e comunicação aberta) e negligente (poucas exigências e regras inconsistentes ou desligamento emocional dos pais). O estilo democrático, que promove a comunicação aberta e encoraja a responsabilidade e autorregulação nos filhos, se destaca como mais positivo. O estudo também menciona a teoria da autodeterminação (Grolnick e Ryan, 1989), identificando três dimensões promotoras da motivação e autonomia: apoio da autonomia, envolvimento e estrutura. O apoio à autonomia se relaciona positivamente com a autorregulação, competência percebida e resultados escolares; a estrutura com a compreensão dos meios para o sucesso e a prevenção do fracasso; e o envolvimento com as percepções de competência e a ausência de problemas comportamentais. A importância de regras, orientações e feedback claros para o sucesso académico e a satisfação da necessidade de vinculação entre pais e filhos também são enfatizadas.

II.Práticas Parentais e seu Impacto na Aprendizagem Matemática

A pesquisa relaciona diferentes práticas parentais com o sucesso na aprendizagem matemática. Observou-se que alunos com maior proficiência em literacia matemática, segundo dados do PISA 2003, dedicavam mais tempo ao TPC. O estudo destaca a importância de um ambiente familiar rico em bens culturais e educativos, com interações frequentes entre pais e filhos, para um bom desempenho escolar. A investigação explora como o envolvimento dos pais no TPC de matemática pode fortalecer a comunicação matemática entre alunos e familiares, promovendo o diálogo e a compreensão mútua.

1. Resultados do PISA e a Importância do Contexto Familiar na Literacia Matemática

O estudo inicia-se analisando os resultados do PISA 2003, que revelaram baixa proficiência em literacia matemática em cerca de um terço dos estudantes portugueses de 15 anos. Observa-se uma correlação entre o contexto familiar e o nível de literacia matemática: alunos mais proficientes dedicavam mais tempo ao trabalho de casa (TPC). O nível de literacia matemática familiar é um fator relevante, mas não o único. O primeiro Relatório Nacional do PISA (2000) já apontava o ambiente familiar como fator crucial para a aprendizagem, enfatizando a presença de bens culturais e educativos e a frequência de interações sociais entre pais e filhos, mais do que recursos estritamente económicos. Assim, a pesquisa destaca a necessidade de expandir o envolvimento dos pais no TPC de matemática, desenvolvendo a capacidade de comunicação matemática entre alunos e familiares, já que as interações entre pais e filhos em questões educativas devem ser constantes.

2. Expectativas Familiares e o Envolvimento na Aprendizagem

O estudo explora as expectativas familiares sobre o percurso escolar dos filhos e como isso influencia o envolvimento dos pais na aprendizagem. Famílias com expectativas positivas tendem a delegar na escola a responsabilidade pela aprendizagem dos filhos, enquanto, em caso de insucesso, frequentemente culpam a escola e se mantêm distantes (Moreira & Sampaio, 2000). Este dado reforça a necessidade de promover a parceria entre escola, família e comunidade, como demonstrado no projeto “A parceria entre a escola, a família e a comunidade: a descoberta da Matemática e a dinamização da biblioteca como formas de envolvimento dos pais” (Moreira & Sampaio, 2000). O objetivo deste projeto era incentivar a participação ativa dos pais na aprendizagem dos filhos, através da interatividade e da resolução de problemas em conjunto. A escola, ao promover esse diálogo e enquadrá-lo pedagogicamente, fortalece o relacionamento pais-filhos e cria laços afetivos, melhorando a qualidade do trabalho docente e reduzindo conflitos. Moreira e Sampaio (2000) destacam duas finalidades do envolvimento dos pais no TPC: fomentar o diálogo para ajudar os filhos a estudar e se prepararem para avaliações e promover o diálogo pais-filhos através da realização conjunta do TPC. A participação ativa dos pais na aprendizagem matemática é essencial para a aprendizagem e para o sucesso dos filhos.

3. Fatores que Influenciam o Envolvimento Parental na Escola

Diversos fatores influenciam a participação dos pais na vida escolar dos filhos, conforme demonstrado no estudo de Reis, Pereira, Canavarro e Mendonça (2005). O nível socioeconómico dos pais, o número de retenções dos alunos e as práticas educativas parentais foram identificados como fatores significativos. Observa-se que, predominantemente, a mãe, e não o pai, assume o papel principal no acompanhamento escolar dos filhos, como comprovado pelo estudo de Van Voorhis (2001), onde 74% dos alunos que completam o TPC relatam ajuda da mãe. O professor, portanto, desempenha um papel crucial como impulsionador do envolvimento dos pais no TPC de matemática, facilitando o processo de ensino e aprendizagem e promovendo a motivação, afetividade, comunicação e feedback entre alunos, pais e professores. Esta participação, além de promover o desenvolvimento da criança, também contribui para o sucesso escolar e para o desenvolvimento de habilidades essenciais.

III.O Papel do Professor e as Tarefas de TPC

O estudo destaca o professor como agente principal na promoção da comunicação matemática e na implementação de tarefas de TPC eficazes. O TPC, além do treino rotineiro, pode desenvolver competências como iniciativa, autodisciplina e gestão de tempo (Abrantes, 1999; Cooper, 1989; etc.). As tarefas propostas devem ser diversificadas, contextualizadas e adequadas à faixa etária, estimulando a resolução de problemas e a explicação de raciocínios. A metodologia incluiu a criação de tarefas de TPC projetadas para incentivar o diálogo e a comunicação matemática entre alunos e suas mães, buscando melhorar a qualidade da aprendizagem matemática.

1. O Professor como Agente de Mudança na Educação Matemática

O estudo destaca o papel fundamental do professor na implementação das mudanças curriculares na Educação Matemática, especialmente com a introdução do Novo Programa de Matemática para o Ensino Básico. Autores como Pimentel et al. (2010) apontam o professor como o principal responsável por essa mudança, através do seu saber, conceções e atitudes. As tarefas propostas em sala de aula são consideradas indispensáveis como ponto de partida para a ação matemática dos alunos (Pimentel et al., 2010). Essas tarefas devem ser diversificadas em natureza, contexto e representações, utilizando recursos variados. O sucesso da aprendizagem depende em grande medida das tarefas propostas e da exploração matemática que o professor faz delas. Neste estudo, as tarefas foram selecionadas para permitir o envolvimento das mães no TPC de matemática, contribuindo para o desenvolvimento da comunicação matemática. Há uma preocupação em contextualizar as tarefas no dia a dia dos alunos, estimulando uma relação mais positiva com a matemática desde cedo, desmistificando a ideia de dificuldade intrínseca na disciplina. O professor, portanto, é central na criação de um ambiente de aprendizagem eficaz e na escolha de tarefas adequadas ao desenvolvimento da comunicação matemática.

2. Objetivos do Trabalho de Pesquisa TPC e Desenvolvimento de Competências

O trabalho de casa (TPC) pode ter objetivos além do simples exercício rotineiro ou treino. Rosário (2004) indica que o TPC é frequentemente usado para desenvolver competências extra-aulas. Quando aplicado eficazmente, contribui para o desenvolvimento de iniciativa, autodisciplina, responsabilidade, independência e gestão de tempo nos alunos (Abrantes, 1999; Cooper, 1989; Corno, 1996; Painter, 2003; Trissler, 2004; Xu, 2004). Carvalho (2004) considera o TPC como uma estratégia de ensino, podendo ser uma política da escola e dos sistemas de ensino para melhorar o desempenho académico dos alunos. Paula (2000) e Rothstein (2001) concordam, apontando que o TPC estimula a responsabilidade, autonomia e eficácia, sendo essencial a progressiva exigência nos contextos de aprendizagem. Baldaque (2008) reforça que a prescrição regular do TPC, com avaliação e devolução tempestiva pelo professor, melhora a aprendizagem, o aproveitamento e as atitudes dos alunos em relação à escola. A escolha e aplicação criteriosa das tarefas de TPC pelo professor são, portanto, fundamentais para o sucesso do processo de ensino-aprendizagem.

IV.Resultados e Conclusões Comunicação Matemática e Envolvimento Familiar

A análise dos dados, incluindo entrevistas com as mães e observação das alunas em sala de aula e durante o TPC, revelou a evolução da comunicação matemática das alunas ao longo do estudo. Inicialmente com comunicação matemática razoável, elas progrediram para uma comunicação boa e muito boa, demonstrando maior confiança e clareza na explicação de seus raciocínios. O envolvimento das mães foi fundamental para este processo, embora tenham apresentado diferentes níveis de conforto e experiência com a matemática. O estudo conclui que o envolvimento parental no TPC de matemática, quando orientado e apoiado pelo professor, é um fator determinante na melhoria da comunicação matemática, da motivação escolar e do sucesso na aprendizagem matemática dos alunos. As mães participantes também relataram ganhos pessoais em relação à sua própria compreensão e apreciação da matemática.

1. Evolução da Comunicação Matemática das Alunas

A análise dos dados, comparando registros de tarefas em sala de aula com as realizadas em casa com as mães, e gravações de áudio, revelou uma evolução significativa na comunicação matemática das alunas. No início do estudo (1ª fase), a qualidade da comunicação era majoritariamente razoável, devido à insegurança em expor explicações e à falta de vocabulário específico. Em ambientes mais individualizados (aluna-professora e aluna-mãe), as alunas conseguiam transmitir informações relevantes para a aprendizagem. No final da 1ª fase, as mães e alunas passaram a integrar mais termos e conceitos matemáticos para justificar operações e estratégias. A integração natural de termos matemáticos no discurso das alunas reflete a importância atribuída ao desenvolvimento da comunicação matemática em sala de aula. A qualidade da comunicação evoluiu de razoável para boa e muito boa na 2ª fase (2º ano), com as alunas demonstrando maior autoanálise e perfeccionismo nos registros, estruturação e fundamentação das respostas. A motivação constante, tanto das alunas como das mães, foi um fator determinante para essa evolução, e as próprias alunas reconheceram a importância da ajuda das mães no TPC para sua aprendizagem e superação de dificuldades.

2. Participação e Envolvimento das Mães no TPC

As mães, na sua maioria, esforçaram-se por assumir um papel de questionadoras no TPC, estimulando as filhas a justificarem suas respostas e a fundamentarem seus raciocínios. Apesar de algumas dificuldades iniciais em entender completamente as explicações das filhas, e de adaptações necessárias para se familiarizarem com a linguagem e os métodos matemáticos da escola, as mães mostraram um envolvimento positivo. Algumas mães relataram mudanças significativas em sua própria atitude e compreensão em relação à matemática, passando a apreciá-la. Em casa, o ambiente era, em geral, mais propício ao desenvolvimento da comunicação matemática, mesmo em casos de alunas com timidez em sala de aula. O feedback diário e a prática constante contribuíram para a melhora da comunicação matemática das alunas, que conseguiram explicar seus raciocínios com mais clareza e confiança. O estudo reforça a importância da comunicação matemática e a necessidade de apoio e orientação dos professores para garantir um envolvimento parental positivo e eficaz, refletindo os pontos de vista de Coleman e Tabin (1992).

3. Conclusões e Limitações do Estudo

As entrevistas finais com as mães revelaram o reconhecimento da importância do envolvimento dos pais no TPC de matemática para o aumento dos saberes e competências das filhas (Henriques, 2006). As mães destacaram a contribuição para o desenvolvimento da comunicação matemática e a intenção de continuar com esse envolvimento, mesmo no futuro. A experiência foi considerada muito importante e motivante, levando as mães a mudar sua própria atitude em relação à matemática. Este resultado é consistente com Henriques (2006). O estudo aponta como limitação a dependência do apoio constante da professora para respostas fundamentadas e registros estruturados, especialmente para alunos no início da escolaridade. O tipo de tarefas propostas também poderia influenciar os resultados. Outra limitação é o fato de as mães serem, na maioria dos casos, as principais responsáveis pelo acompanhamento do TPC, à semelhança do observado por Van Voorhis (2001), podendo haver um afastamento dos pais e irmãos, exceto em casos com boa partilha e comunicação entre todos os membros da família envolvidos. Essa relação “exclusiva” mãe-filha poderá ter enviesado os resultados da pesquisa.