
Letramento Estatístico e Cidadania
Informações do documento
Autor | Paula Cristina Lima Silveira de Aguiar Quintas |
instructor | Professora Doutora Lina Fonseca |
Escola | Universidade não especificada no documento |
Curso | Mestrado em Educação, Especialidade em Didática da Matemática e das Ciências |
Tipo de documento | Dissertação de Mestrado |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 7.03 MB |
Resumo
I.A Importância da Literacia Estatística no Ensino Básico e Secundário
Este estudo analisa a educação estatística em Portugal, focando-se na Organização e Tratamento de Dados (OTD). Diversos autores (Batanero e Godino, Silva, Pestana, Rumsey) enfatizam a necessidade de desenvolver a competência estatística e a cidadania estatística nos alunos, destacando o ALEA como recurso valioso para melhorar a literacia estatística. O estudo TIMSS de 2011 destaca a importância da OTD, alocado 15% e 20% para o quarto e oitavo anos, respetivamente. A pesquisa aponta para a necessidade de formar alunos críticos e capazes de interpretar dados estatísticos presentes nos meios de comunicação, combatendo a manipulação da informação e promovendo a tomada de decisões conscientes. A integração da estatística nos currículos portugueses é discutida, desde sua introdução nos anos 60 até às reformas mais recentes, abordando as dificuldades de implementação e a importância da interdisciplinaridade no ensino de estatística.
1. A Importância da Literacia Estatística e o Papel do ALEA
O estudo defende a importância crucial da literacia estatística, citando Batanero e Godino (2005) e Silva (2011), que recomendam fortemente o ALEA (Ação Local Estatística Aplicada) como um recurso excepcional para o ensino. O ALEA é apresentado como uma ferramenta que melhora significativamente a literacia estatística em sala de aula, promovendo ambientes e experiências de aprendizagem diversificados com o uso de novas tecnologias da informação. Seu objetivo é contribuir para a elaboração e disponibilização de instrumentos de apoio ao ensino da estatística para alunos e professores do ensino básico e secundário, utilizando principalmente um site na web como suporte principal. A melhoria da literacia estatística é apresentada como condição fundamental para criar ambientes de aprendizagem mais ricos e eficazes, utilizando as novas tecnologias de informação como facilitadoras do processo pedagógico. A disponibilidade de recursos online, como os oferecidos pelo ALEA, se mostra como um fator determinante para alcançar esses objetivos educacionais.
2. O Estudo TIMSS e a Organização e Tratamento de Dados OTD
O estudo TIMSS de 2011 atribuiu 15% e 20% para a Organização e Tratamento de Dados (OTD) nos currículos do quarto e oitavo anos, respectivamente. Os autores do estudo TIMSS defendem que os alunos devem ser educados para reconhecer a OTD como uma conquista da humanidade e apreciar sua natureza. A capacidade de usar a matemática, particularmente em OTD, é vista como essencial para a eficácia do cidadão no mercado de trabalho, dado o crescimento de profissões que requerem esse tipo de raciocínio, impulsionado pelo avanço tecnológico e pelos métodos modernos de gestão (Mullis et al., 2009). O objetivo da matemática escolar é criar aprendizes autónomos que compreendam e aprendam, sendo necessário desafiar os alunos com tarefas apropriadas para promover a aprendizagem. A ênfase na importância da OTD no estudo TIMSS reforça a necessidade de um ensino que vá além da memorização, focando na aplicação prática e na compreensão do significado dos dados.
3. Estatística como Instrumento de Cidadania e a Visão de Deborah Rumsey
Em linha com Pestana (2007), o estudo considera a estatística um instrumento fundamental na transformação de informação em conhecimento, atuando como uma defesa contra a desinformação e sendo seu conhecimento considerado “um escudo da cidadania”. A ubiquidade de dados estatísticos nos meios de comunicação social reforça a necessidade de os alunos desenvolverem habilidades de leitura e interpretação crítica desses dados, evitando a manipulação e tomando decisões informadas. Rumsey (2002) amplia esse conceito, propondo a dualidade “Competência Estatística” e “Cidadania Estatística”. A primeira refere-se ao conhecimento básico e ao raciocínio estatístico, enquanto a segunda representa uma “life skill”, uma habilidade essencial para a vida na era da informação. Para Rumsey, os alunos devem ser “bons cidadãos estatísticos”, capazes de consumir informação criticamente, avaliá-la e tomar decisões acertadas. A visão de Rumsey destaca a importância da estatística não apenas como conhecimento técnico, mas também como ferramenta para o exercício pleno da cidadania.
4. A História da Estatística nos Currículos Portugueses e a Sociedade da Informação
A estatística foi integrada nos programas escolares do ensino secundário em Portugal na década de 1960, em conjunto com a reforma do ensino da Matemática. No entanto, os conteúdos estatísticos eram frequentemente relegados para o final dos programas, não sendo lecionados por falta de tempo ou interesse. A partir dos anos 1990, com novas reformas, a estatística foi introduzida no 2º e 3º ciclos do ensino básico e, em 2007, no 1º ciclo. Loura (2009) destaca a produção crescente de informação no mundo atual, salientando que a capacidade de gerir, organizar e extrair tendências dessa informação é fundamental para aproveitar oportunidades e tomar decisões fundamentadas. Loura reforça que a integração gradual de tópicos sobre tratamento estatístico de dados nos programas de Matemática nas últimas três décadas não é coincidência, refletindo a crescente importância da estatística na sociedade contemporânea. A análise histórica da inserção da estatística nos currículos portugueses demonstra a evolução da sua importância e a necessidade de uma abordagem mais consistente e integrada.
II.Desafios e Dificuldades no Ensino de Estatística
O estudo investiga as dificuldades dos alunos em estatística, abordando a falta de formação dos professores nesta área e a pouca experiência de ensino da temática. As dificuldades dos alunos abrangem desde a compreensão de conceitos até a aplicação de procedimentos e cálculos. A pesquisa analisa como os professores contribuem para atenuar essas dificuldades, investigando as metodologias, materiais e processos de avaliação usados em sala de aula. A falta de uso de novas tecnologias e estratégias de trabalho em grupo, bem como a avaliação predominantemente individual, são identificadas como pontos críticos. A importância da formação contínua dos professores em estatística é sublinhada para um ensino mais eficaz e alinhado com as necessidades atuais.
1. Dificuldades dos Alunos e Formação Docente em Estatística
Um estudo de caso qualitativo, envolvendo três professoras do 3º ciclo do ensino básico e secundário (7º ano), revelou que as docentes apresentavam formação reduzida em estatística e pouca experiência no ensino desta área. Consequentemente, os alunos demonstraram dificuldades em todos os conteúdos abordados, desde a compreensão de conceitos até a aplicação de procedimentos e cálculos. Para contornar as dificuldades, as professoras frequentemente optavam por não aprofundar os conteúdos, aumentando o número de exercícios e trabalhos de casa, ou fornecendo diretamente as respostas. O estudo não registou o uso de novas tecnologias ou estratégias de trabalho em grupo ou projetos, sendo a avaliação feita através de testes escritos individuais. Os resultados evidenciaram a urgente necessidade de melhorar a formação dos professores em estatística e criar melhores condições para o seu ensino, refletindo a sua importância atual. A falta de formação específica e a experiência limitada das professoras refletem-se diretamente na aprendizagem dos alunos, demonstrando a importância da formação contínua e qualificada dos docentes nesta área.
2. Análise das Dificuldades de Alunos em Tarefas de Organização e Tratamento de Dados OTD
Outro estudo, utilizando uma metodologia qualitativa com dois estudos de caso em turmas do 5º ano, investigou as estratégias e dificuldades dos alunos na resolução de tarefas de Organização e Tratamento de Dados (OTD), considerando os níveis de literacia estatística propostos por Gal (2002). Embora os alunos tenham demonstrado recorrer a estratégias características da estatística, formulando questões e utilizando conhecimentos de outros temas matemáticos, foram identificadas dificuldades nos três níveis de literacia propostos por Gal. Este estudo destaca a complexidade da aprendizagem de conceitos estatísticos e a necessidade de abordagens pedagógicas que considerem as diferentes etapas do processo de investigação estatística, desde a formulação de perguntas até a comunicação dos resultados. A pesquisa evidenciou a necessidade de um acompanhamento mais próximo dos alunos para superar as lacunas de compreensão e a importância de uma metodologia de ensino que promova o desenvolvimento gradual e sólido das habilidades estatísticas.
3. Recomendações para o Aperfeiçoamento do Ensino da Estatística
Um estudo realizado por Matos (2008) analisou o conceito de literacia e as capacidades subjacentes ao desenvolvimento do raciocínio estatístico, valorizando a estatística no currículo do ensino básico como algo inovador para o desenvolvimento de capacidades na sociedade da informação. Embora sem questões de investigação formalizadas, a recolha de dados baseou-se na análise de estudos internacionais, documentos curriculares e manuais escolares. As recomendações incluíram o aperfeiçoamento dos programas do ensino básico, o uso de novas tecnologias e ferramentas estatísticas para fomentar a literacia estatística na sociedade e a exigência de formação contínua para os professores. Este estudo, apesar de sua metodologia descritiva, aponta para a necessidade de atualizações curriculares, uso de recursos tecnológicos e a importância da formação profissional contínua dos educadores, garantindo que o ensino de estatística seja relevante e eficaz para os alunos no contexto da sociedade atual.
III.Recursos e Propostas para o Ensino de Estatística
O estudo defende a necessidade de criar recursos e estratégias que promovam a aprendizagem significativa de estatística, considerando o aluno como sujeito ativo e interventivo. As novas tecnologias, como calculadoras e computadores, são apontadas como ferramentas importantes para o tratamento de dados, liberando os alunos de cálculos demorados e permitindo o foco na análise e interpretação. A pesquisa destaca a importância de conectar o ensino de estatística às dimensões da educação para a cidadania (Educação para a Saúde, Educação para os Direitos Humanos, Educação para os Media, etc.), tornando a aprendizagem mais relevante e significativa. O documento apresenta e analisa diferentes estudos de caso, conduzidos em Portugal, que investigaram o desempenho de alunos e a prática docente no ensino da estatística.
1. O Uso de Novas Tecnologias e o Papel da Calculadora no Ensino de Estatística
O documento destaca a importância das novas tecnologias no tratamento de dados, citando o Ministério da Educação (ME, 2007). A calculadora e o computador são apontados como instrumentos fundamentais para o trabalho com estatística, permitindo que os alunos se concentrem na escolha e justificação dos métodos, na análise de dados e na interpretação de resultados, sem se perderem em cálculos demorados. Apesar de haver divergências sobre o uso da calculadora no ambiente escolar, o estudo considera sua utilização benéfica, especialmente quando permite aos alunos focar nos aspetos mais importantes do processo de aprendizagem estatística, como a análise e interpretação de resultados, em vez de cálculos extenuantes. A integração de ferramentas tecnológicas no ensino de estatística é apresentada como uma forma de tornar a aprendizagem mais eficiente e focada na compreensão dos conceitos, não apenas na execução de cálculos.
2. A Importância de uma Abordagem Ativa e Significativa no Ensino de Estatística
O estudo defende uma intervenção proativa da matemática no sentido de colocar a exploração, análise e interpretação de dados estatísticos a serviço do exercício de uma cidadania ativa. Para isso, a criação de recursos e disposições para a ação, num processo de aprendizagem ao longo da vida, é essencial. Segundo Arends (2008), os alunos constroem significados a partir das suas experiências, e o processo de ensino deve respeitar o aluno como sujeito ativo e interventivo, tanto na sua vida privada como pública. A formação não deve se limitar ao conhecimento de fatos científicos facilmente reproduzíveis em provas tradicionais de exame (Matos, 2005). O documento defende uma mudança de paradigma no ensino de estatística, onde a aprendizagem é significativa e o aluno é protagonista do seu processo de conhecimento, aplicando os conhecimentos em situações reais e desenvolvendo seu senso crítico.
3. Conexão entre o Ensino de Estatística e a Educação para a Cidadania
O estudo propõe a integração do ensino de estatística com as dimensões da educação para a cidadania, conforme proposto por Santos et al. (2011) e DGE (2012). Esta abordagem enfatiza a transversalidade da educação para a cidadania, integrando-a nas várias áreas disciplinares. A pesquisa busca estabelecer conexões entre a literacia estatística dos alunos e dimensões como Educação para os Direitos Humanos, Educação para a Saúde, Educação para os Media, entre outras, visando operacionalizar a passagem do juízo à ação (Fonseca, 2001). A integração dessas temáticas permite que os alunos não apenas aprendam conceitos estatísticos, mas também os apliquem em situações do mundo real, desenvolvendo habilidades de pensamento crítico e tomada de decisão, contribuindo para sua formação como cidadãos ativos e responsáveis. A contextualização do ensino de estatística no âmbito da cidadania contribui para uma aprendizagem mais significativa e relevante para a vida dos alunos.
IV.Análise de Dados Qualitativos e Conclusões
A pesquisa utilizou uma metodologia qualitativa, com recolha de dados através de observação participante, registos áudio e vídeo, entrevistas semiestruturadas e análise de documentos produzidos pelos alunos. A análise dos dados focou-se na compreensão das estratégias utilizadas pelos alunos na resolução de tarefas de OTD, identificando as principais dificuldades e analisando a literacia estatística dos alunos. Os resultados apontam para a necessidade de melhorar a compreensão de enunciados, comunicação oral e escrita, e a organização e transmissão de ideias. O trabalho em grupo mostrou-se positivo, promovendo o debate e a autocorreção. A pesquisa conclui com sugestões para o aperfeiçoamento dos programas de ensino de estatística e formação contínua de professores, para um ensino de estatística mais eficaz e alinhado com as necessidades da sociedade.
1. Metodologia de Pesquisa Qualitativa e Recolha de Dados
A pesquisa utilizou uma abordagem qualitativa, recorrendo a múltiplas fontes de dados para uma análise aprofundada. A observação participante, crucial em estudos qualitativos, permitiu à investigadora recolher dados ricos em detalhes descritivos, observando diretamente as ações e reações dos alunos durante as atividades. As gravações áudio das aulas e entrevistas, e suas transcrições, mantiveram a integridade da informação recolhida, permitindo revisões e análises posteriores. Os documentos escritos pelos alunos, como folhas de registo das tarefas, forneceram dados valiosos sobre suas convicções e comportamentos (Goetz e LeCompte, 1984; Vale, 2004), possibilitando a comparação entre comunicação oral e escrita. A utilização de notas de campo complementou os dados, registando atitudes, dificuldades e reações dos alunos durante as atividades, permitindo uma comparação com o que foi verbalizado (Yin, 2001). A metodologia empregada permitiu uma compreensão profunda do processo de aprendizagem dos alunos.
2. Análise das Entrevistas e a Perspectiva dos Alunos
Quatro entrevistas semiestruturadas foram realizadas coletivamente com os alunos, num ambiente natural e descontraído, garantindo dados comparáveis entre os sujeitos (Bogdan e Biklen, 1994). Um guião de entrevista focado no tema em estudo orientou a conversa, mas permitiu a espontaneidade das respostas, garantindo que os alunos tivessem tempo suficiente para pensar e responder (Fernandes, 2009). As respostas dos alunos revelaram suas dificuldades na interpretação de enunciados, comunicação escrita e oral, e organização de ideias. Eles destacaram a necessidade de insistir no estudo da Língua Portuguesa e Matemática, melhorar a atenção e a leitura, e a importância de ler cuidadosamente as questões antes de responder. A análise das entrevistas forneceu insights valiosos sobre a percepção dos alunos sobre suas próprias dificuldades e a importância da linguagem e clareza na resolução das tarefas propostas. O ambiente descontraído e a metodologia das entrevistas contribuíram para a obtenção de respostas mais espontâneas e autênticas.
3. Análise dos Resultados e Conclusões da Pesquisa
A análise dos dados seguiu a metodologia de Wolcott, compreendendo três momentos: descrição, análise e interpretação. A descrição envolveu a escrita de textos resultantes da observação participante e transcrição das gravações. A análise consistiu na estruturação, resumo e apresentação dos dados mais relevantes. Finalmente, a interpretação, ou conclusão dos resultados, baseou-se na revisão da literatura, nas questões formuladas e na categorização dos factos observados. Os resultados demonstraram que, apesar das dificuldades encontradas, os alunos conseguiram usar conhecimentos de literacia estatística, matemática e senso comum para resolver tarefas. A pesquisa aponta para a necessidade de um ensino que promova a interpretação crítica de dados, o trabalho em grupo e a conexão com diferentes áreas da educação para a cidadania. Ponte (2008) destaca o avanço da investigação em educação matemática em Portugal, mas aponta para a necessidade de mais estudos, concordando com a relevância da pesquisa apresentada. O estudo finaliza com a sugestão de futuras investigações na área de educação estatística.