Feno de alfafa em fardo, peletizado ou moído na alimentação de chinchilas lanígera

Alfafa em Chinchilas: Formas e Nutrição

Informações do documento

Autor

Arthur Dalri Hauck

instructor Marília Terezinha Sangoi Padilha
Escola

Universidade Federal de Santa Catarina

Curso Zootecnia
Tipo de documento Trabalho de Conclusão de Curso
city Florianópolis
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 0.93 MB

Resumo

I.Características da Chinchila e seu Mercado

A pele de chinchila, conhecida por sua maciez excepcional (cerca de 30 vezes mais suave que o cabelo humano, com 20.000 pelos por centímetro quadrado), impulsiona um mercado lucrativo. A criação de chinchilas no Brasil, iniciada há cerca de 40 anos em São Paulo, expandiu-se para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, estados com clima favorável, semelhante ao dos Andes chilenos (ASBRACHILA, 2005). A alta demanda por pele de chinchila a torna superior a outras peles consideradas nobres, como vison e raposa (NEVES, 1990; SILVA, 1976). A alimentação de chinchilas é crucial para a qualidade da pele e a saúde do animal.

1. Valor Econômico da Pele de Chinchila

A principal característica que impulsiona o mercado de chinchilas é a excepcional maciez de sua pele. Descrita como 30 vezes mais suave que o cabelo humano, devido à densidade de 20.000 pelos por centímetro quadrado, essa característica torna a pele um produto altamente lucrativo para criadores. A comercialização dessa pele se justifica pela beleza e o efeito estético que proporciona em vestuário. De fato, na escala de valores, a pele de Chinchilla lanígera supera consideravelmente o vison, a pele de raposa e outras peles consideradas nobres, consolidando seu lugar em um mercado de luxo. Essa demanda por peles de alta qualidade impulsiona a criação e o investimento no setor.

2. Histórico da Criação de Chinchilas no Brasil

A criação de chinchilas no Brasil tem aproximadamente 40 anos de história, com início em São Paulo. Posteriormente, a atividade se expandiu para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, regiões que oferecem condições climáticas mais amenas, semelhantes ao habitat original da espécie nos Andes chilenos. A Associação Sul Brasileira dos Criadores de Chinchila Lanígera (ASBRACHILA) destaca a maior concentração de criadores nos estados do Sul do país, onde o clima é mais propício à criação. Essa distribuição geográfica demonstra a adaptação da espécie a diferentes regiões do Brasil, mas com preferência por climas mais amenos, semelhantes aos de sua origem.

3. Importância da Alimentação na Qualidade da Pele

A qualidade da alimentação é um fator determinante na criação de chinchilas, impactando diretamente o bem-estar, a saúde, a capacidade reprodutiva e, consequentemente, a qualidade da pele. Animais mal alimentados apresentam deficiências físicas, reproduzem-se menos e produzem peles de qualidade inferior, comprometendo a lucratividade da criação. A adoção de princípios rígidos na produção de peles é crucial para atingir a quantidade e a qualidade exigidas pelo mercado mundial. O fornecimento de uma ração balanceada e uma boa ingestão de fibras naturais, especialmente para animais com grande apêndice, é fundamental para garantir a saúde e a qualidade da pelagem. A alfafa, uma leguminosa perene conhecida como “o melhor alimento”, é frequentemente usada como fonte de fibras.

4. Aspectos Fisiológicos da Chinchila e sua Digestão

A chinchila, como roedor, possui incisivos e molares que se desgastam naturalmente com a alimentação, mas uma dieta inadequada pode causar alterações dentárias, afetando a capacidade de alimentação e absorção de nutrientes. Qualquer mudança na dieta deve ser gradual para evitar problemas digestivos e estresse. A rotina alimentar é importante; a alimentação deve ser em horários regulares, preferencialmente no início da manhã ou no início da noite, devido aos hábitos noturnos do animal. O aparelho digestivo da chinchila é adaptado para uma dieta rica em gramíneas e pequenos arbustos cactáceos, necessitando de um intestino longo para a digestão adequada. As fezes de chinchilas adultas saudáveis são secas e sólidas, mas a nutrição inadequada pode alterar significativamente sua aparência. A ingestão de cecotrófos, porção do conteúdo em digestão no ceco, otimiza a absorção de nutrientes, influenciada pela qualidade da fibra.

II.Nutrição e Alimentação de Chinchilas O Papel do Feno de Alfafa

Uma alimentação balanceada é essencial, incluindo uma boa ingestão de fibras. O feno de alfafa, considerado o “melhor alimento” (tradução do árabe), é uma fonte de fibra crucial. Sua qualidade afeta diretamente a digestão e a saúde dentária da chinchila. Diferentes métodos de fornecimento de feno de alfafa, como em fardo ou peletizado, influenciam o consumo, o ganho de peso, e o custo. O estudo utilizou feno de alfafa peletizado e feno de alfafa em fardo para comparar eficácia e custo.

1. A Alfafa como Fonte Principal de Fibra

A nutrição adequada de chinchilas requer uma dieta balanceada com alta ingestão de fibras. O feno de alfafa, derivado do árabe e significando “o melhor alimento”, destaca-se como a principal fonte de fibra para essas dietas. Sua utilização é amplamente difundida entre criadores, sendo apresentado em diferentes formatos, como fardos e cubos, este último frequentemente importado do Chile, sujeito à variação cambial. A alfafa é uma leguminosa perene, e sua qualidade nutricional está intrinsecamente ligada à fertilidade do solo e à época do corte. A alfafa bem curada, limpa e isenta de contaminantes e agentes químicos, é altamente palatável e fornece importantes nutrientes, incluindo proteínas, embora o teor destes varie de acordo com o momento da colheita. A qualidade da fibra de alfafa afeta diretamente a capacidade das chinchilas de obter nutrientes através da ingestão de cecotrófos, que impacta a velocidade de passagem e o padrão fermentativo.

2. Importância da Fibra na Saúde Digestiva e Dentária

A fibra desempenha um papel crucial na manutenção da saúde digestiva da chinchila, prevenindo alterações no pH, na motilidade e na flora intestinal que podem levar a enterite. Além disso, a fibra é essencial para o controle do crescimento dos dentes incisivos. O crescimento excessivo desses dentes pode causar má formação, dor e impedir a alimentação normal, resultando em má nutrição e anorexia. Vários fatores podem contribuir para esse problema, incluindo ração inadequada, defeitos dentários, prognatismo, corpos estranhos e fatores genéticos. Fêmeas em gestação e lactação demonstram maior predisposição ao problema devido à movimentação de cálcio, sendo necessária uma dieta especial nestes períodos. O uso de cubos de feno de alfafa ajuda no desgaste natural dos dentes, prevenindo problemas e assegurando uma mastigação e digestão adequadas.

3. Características do Feno de Alfafa e seu Manejo

O feno de alfafa de qualidade para chinchilas deve apresentar-se seco, sem umidade, com odor agradável e predominância de cor verde nos talos e folhas, que são mais ricos em nutrientes. Os caules de alfafa são folhosos e atingem alturas consideráveis. O processo de enfardamento precisa ser feito com o teor de umidade adequado (16-20%), o que garante boa conservação. O feno em fardos pode ser fornecido em pequenas quantidades em dias alternados, enquanto os cubos de alfafa podem ser oferecidos duas a três vezes por semana. Para filhotes, é recomendado colocar pequenos pedaços de cubos no piso para facilitar o acesso. O armazenamento do feno é crucial: péletes, cubos e suplementos devem ser mantidos em locais secos, ventilados, elevados do chão, em recipientes plásticos com tampa para preservar sua qualidade e evitar contaminação.

III.Experimento Comparação de Métodos de Fornecimento de Feno

O experimento na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), no DZDR (Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural) e CCA (Centro de Ciências Agrarias), avaliou quatro tratamentos em 32 chinchilas Lanígera (16 machos e 16 fêmeas) com 6-7 meses de idade durante 7 semanas (após 2 semanas de adaptação). Os tratamentos incluíram: (T0) ração comercial peletizada; (T1) ração peletizada + feno de alfafa peletizado; (T2) ração peletizada + feno de alfafa em fardo; e (T3) ração caseira com feno de alfafa moído. Parâmetros como consumo alimentar, ganho de peso, e conversão alimentar foram analisados. As análises bromatológicas (matéria seca, matéria mineral, gordura bruta, proteína bruta, fibra bruta, FDN, FDA) seguiram as metodologias de Silva e Queiroz (2006) e Van Soest (1991).

1. Delineamento Experimental

O estudo realizado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especificamente no Departamento de Zootecnia e Desenvolvimento Rural (DZDR) e no Centro de Ciências Agrarias (CCA), utilizou um delineamento experimental para avaliar diferentes métodos de fornecimento de feno a chinchilas. Foram utilizados 32 animais da raça Lanígera, com idades entre 6 e 7 meses, divididos igualmente entre machos e fêmeas. Os animais foram divididos aleatoriamente em quatro grupos (tratamentos) com oito animais cada, buscando minimizar as diferenças de peso, idade e sexo entre os grupos. O experimento durou 9 semanas, com as duas primeiras dedicadas à adaptação alimentar dos animais para evitar estresse. Os dados foram coletados nas sete semanas seguintes. Os tratamentos consistiram em: T0 - ração comercial peletizada; T1 - ração peletizada + feno de alfafa peletizado; T2 - ração peletizada + feno de alfafa em fardo; e T3 - ração caseira com feno de alfafa moído. A quantidade de ração e feno em cada tratamento seguiu recomendações de literatura, como a de Linden (1999) para o feno.

2. Análises Bromatológicas e Procedimentos

Análises bromatológicas foram realizadas no laboratório de Nutrição Animal da UFSC, abrangendo o feno de alfafa (em fardo e peletizado) e as rações (comercial e caseira). Foram determinadas a matéria seca (MS), matéria mineral (MM), gordura bruta (GB), proteína bruta (PB), fibra bruta (FB), e o extrativo não nitrogenado bruto (ENNB), seguindo a metodologia de Silva e Queiroz (2006). A fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) foram analisadas usando a metodologia de Van Soest (1991). A escolha dos horários de alimentação (6h e 16h) levou em consideração as temperaturas mais amenas e os hábitos alimentares da chinchila, conforme sugestões de Neves (1990) e Linden (1999). Durante o experimento, as chinchilas foram mantidas individualmente em gaiolas de arame galvanizado, com acesso livre à água, comedouro tipo gaveta, superfície elevada para pó de mármore e bandeja coletora de fezes e urina.

3. Tratamentos e Manejo Alimentar

O tratamento T0 (ração peletizada) mostrou consumo crescente com pouco desperdício, facilitado pela forma peletizada da ração que se adapta à forma de apreensão dos alimentos pelas chinchilas. O T1 (ração peletizada + feno de alfafa peletizado) apresentou maior tempo de adaptação, com rejeição de aproximadamente 36% da dieta nas primeiras três semanas, principalmente o feno peletizado, possivelmente devido à textura mais dura. O T2 (ração peletizada + feno de alfafa em fardo) teve boa aceitação, mas o feno em fardo permitiu fácil seleção do alimento pelos animais, que consumiam as folhas e deixavam os talos, resultando em desperdício. O manejo do feno em fardo também mostrou-se mais difícil devido à perda de folhas durante a manipulação e exigências de armazenamento para evitar umidade. Já o T3 (ração caseira com feno moído) resultou em alta seleção de alimentos pelos animais, que facilmente separavam os componentes da ração, gerando muito desperdício, o que dificultou a coleta das sobras.

IV.Resultados e Discussão Análise do Consumo e Ganho de Peso

O tratamento com feno de alfafa em fardo (T2) apresentou maior consumo alimentar, mas pior conversão alimentar nas últimas semanas. O feno de alfafa peletizado (T1), apesar do custo mais elevado, reduziu a seleção e o desperdício de alimento. A ração comercial peletizada (T0) apresentou resultados semelhantes à ração caseira (T3), embora esta última tenha sido mais barata, mas com maior seleção e desperdício. A escolha do método de fornecimento de feno de alfafa deve considerar o custo, manejo, conservação, e a qualidade final da pele de chinchila.

1. Consumo Alimentar e Seleção de Alimentos

Os resultados mostraram diferenças significativas no consumo alimentar entre os tratamentos. O grupo que recebeu feno de alfafa em fardo (T2) apresentou maior consumo diário em comparação ao grupo que recebeu feno peletizado (T1), mantendo níveis elevados de sobras nos comedouros. Essa diferença se deve à facilidade de seleção de partes mais palatáveis do feno em fardo, com os animais consumindo preferencialmente as folhas e descartando os caules. Em contrapartida, o feno de alfafa peletizado, apesar de mais caro, demonstrou reduzir a seleção e o desperdício, facilitando o manejo da alimentação e reduzindo o tempo e a mão de obra envolvidos. A ração peletizada (T0) e a ração caseira (T3) mostraram consumo e desperdício semelhantes, com a ração caseira apresentando maior seleção dos componentes e, portanto, maior descarte de partes menos palatáveis. A escolha entre os tipos de fornecimento de feno dependerá de fatores como teor de fibra, custo, manejo e conservação, sempre considerando a qualidade final da pele como parâmetro principal.

2. Conversão Alimentar e Ganho de Peso

A conversão alimentar (CA) apresentou diferenças entre os tratamentos, principalmente nas últimas semanas do experimento. O tratamento com feno em fardo (T2) apresentou pior conversão alimentar, apesar de um consumo maior. O ganho de peso foi semelhante em todos os grupos, o que é esperado considerando que o objetivo da criação de chinchilas é a produção de pele, e não o ganho de peso expressivo. O feno peletizado mostrou-se mais eficiente em termos de conversão alimentar, embora com menor consumo. A análise do custo da alimentação revelou a ração caseira como a opção mais barata, seguida pela ração comercial peletizada; as dietas com feno de alfafa (peletizado e em fardo) foram as mais caras. O consumo de feno peletizado foi menor em animais mais jovens. O uso de feno em forma de péletes, portanto, mostrou-se vantajoso, por evitar a seleção e desperdício de alimento, além de facilitar o manejo, o armazenamento e a redução de mão de obra.

3. Análise Bromatológica e Considerações Finais

A análise bromatológica dos alimentos revelou que tanto a ração comercial quanto a caseira atenderam aos níveis de proteína bruta recomendados na literatura (Neves, 1990; Linden, 1999; Merçon, 1979), embora os níveis de gordura estivessem acima do ideal. Ambas as rações, no entanto, ficaram aquém dos níveis de fibra bruta recomendados, justificando a suplementação com feno de alfafa. O feno de alfafa em fardo apresentou teores de fibra bruta (FB), FDN e FDA maiores que o feno peletizado, possivelmente devido à adição de melaço no processo de peletização. A necessidade de maiores estudos para determinar os níveis ideais de FDN e FDA para chinchilas foi destacada. Em resumo, a melhor opção de fornecimento de feno dependerá de uma avaliação completa dos fatores mencionados: teor de fibras, custo, facilidade de manejo e conservação, sempre visando a maximização da qualidade da pele.