
Formação Continuada: Percepção Docente
Informações do documento
Autor | Gisele Tyburski |
instructor | Bernardo Mattes Caprara |
Escola | Universidade Federal da Fronteira Sul |
Curso | Ciências Sociais |
Tipo de documento | Trabalho de Conclusão de Curso |
Local | Erechim |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 1.31 MB |
Resumo
I.Objetivo da Pesquisa e Metodologia
Esta pesquisa qualitativa analisa a percepção de quatro professoras de uma escola estadual em Erechim (RS) sobre programas de formação continuada de professores. Utilizando entrevistas semi-estruturadas, o estudo investiga a influência desses programas na prática pedagógica, focando na última formação docente realizada e em reflexões mais gerais sobre educação continuada.
1. Objetivo Principal da Pesquisa
O objetivo central da pesquisa foi analisar a percepção das docentes de uma escola estadual localizada no município de Erechim (RS) sobre os programas de formação continuada oferecidos a professores. A pesquisa se concentrou em compreender como esses programas impactam a prática pedagógica dessas professoras. Para tanto, a pesquisa se aprofundou na compreensão da formação continuada como um conceito complexo, que vai além da simples aquisição de métodos de ensino. O estudo buscou entender a formação continuada como um processo que promove a reflexão sobre a prática, a ação e a própria reflexão previamente realizada, visando a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem dos alunos. A pesquisa busca responder a questões cruciais sobre os efeitos práticos desses programas na reflexão e no aprimoramento da docência, buscando identificar se estes programas realmente auxiliam os professores a refletir criticamente sobre sua prática em sala de aula.
2. Metodologia Utilizada
A metodologia empregada na pesquisa se baseou em entrevistas semi-estruturadas realizadas com quatro professoras da escola estadual em Erechim (RS). As entrevistas foram cuidadosamente conduzidas para abordar tanto a experiência da última formação continuada em que as professoras participaram, quanto suas percepções mais gerais sobre a formação continuada em serviço. Essa abordagem permitiu uma análise mais aprofundada das opiniões e experiências das participantes, oferecendo uma perspectiva rica e multifacetada sobre o tema. A escolha das entrevistas semi-estruturadas possibilitou um diálogo mais aberto e flexível, permitindo que as professoras expressassem suas opiniões e experiências de forma livre e natural, sem restrições a um roteiro rígido. A análise dos dados coletados através das entrevistas buscou identificar os principais pontos de convergência e divergência entre as percepções das professoras sobre a formação continuada, bem como suas implicações para a prática pedagógica em sala de aula. O município de Erechim, no Rio Grande do Sul, serviu como o cenário específico desta pesquisa qualitativa.
II.A Formação Continuada Conceito e Importância
A pesquisa define formação continuada como um processo complexo que visa estudar e intervir nas formas de aprendizagem e desenvolvimento da prática educativa dos docentes, promovendo a reflexão na prática. O estudo destaca a necessidade de programas de formação docente que combinem produção científica com saberes didáticos e críticos, superando as deficiências da formação inicial e respondendo às mudanças sociais e tecnológicas. A pesquisa também aborda diferentes modelos de formação, incluindo aqueles que priorizam a reflexão na ação e a pesquisa-ação.
1. A Formação Continuada como Processo de Reflexão
A formação continuada é apresentada como um processo complexo e multifacetado, indo além da simples transmissão de métodos de ensino. O texto destaca seu papel fundamental na promoção da reflexão sobre a prática pedagógica, a ação docente e a própria capacidade de reflexão dos professores. Não se trata apenas de obter novas técnicas, mas de aprofundar o pensamento crítico sobre o fazer docente, buscando a constante melhoria e o desenvolvimento profissional. A formação continuada, segundo o documento, deve auxiliar os professores a analisarem suas ações em sala de aula, a repensarem suas estratégias e a buscarem soluções inovadoras para os desafios da educação. Esse processo reflexivo é essencial para que a formação docente seja efetiva e contribua para uma transformação significativa na prática educativa. A formação continuada, portanto, é vista como um instrumento crucial para a atualização e o desenvolvimento profissional dos educadores, permitindo a construção e a reconstrução contínua do conhecimento, articulada à teoria e à prática.
2. Suprir Deficiências da Formação Inicial e Atualizar o Ensino
A formação continuada é apresentada como um meio de compensar as deficiências frequentemente encontradas na formação inicial dos professores, muitas vezes desatualizada e precária. Ela surge como uma oportunidade para revisar o ensino qualitativamente, possibilitando a construção e reconstrução do conhecimento, sempre embasada em reflexões. A atualização dos professores é apontada como um objetivo crucial da formação continuada, através de reflexões que levem à criação e à reconstrução de novos saberes, integrando teoria e prática. O objetivo final é melhorar o ensino, tornando a escola um ambiente mais atraente para os estudantes. A formação continuada se torna, assim, um complemento indispensável, buscando aprimorar a formação inicial e trazer as práticas pedagógicas para o dia-a-dia atual, considerando as transformações tecnológicas e as novas demandas da sociedade.
3. Elementos para uma Formação Continuada Efetiva
Para ser efetiva, a formação continuada precisa combinar a produção científica com os saberes didáticos, críticos e de gestão. A ação do professor é multifacetada, exigindo um amplo conhecimento para aprimorar o processo de ensino-aprendizagem. Autores como Romanowski (2007) e Garcia (1999) são citados, destacando a importância do desenvolvimento pessoal do professor e a necessidade de uma formação que abarque diversos aspectos da profissão. Exemplos de ações de formação continuada são apresentados, como congressos, seminários, e projetos de pesquisa-ação, mostrando a variedade de possibilidades e a necessidade de uma abordagem abrangente e integrada. A formação continuada, portanto, não deve se limitar a momentos pontuais, mas sim a um processo contínuo e inovador que acompanhe as transformações da sociedade, respondendo as necessidades dos docentes e, em consequência, dos estudantes. A formação precisa ser contínua e inovadora, alinhada aos princípios éticos, didáticos e pedagógicos que norteiam as licenciaturas.
III.Análise da Percepção Docente sobre a Formação Continuada
As entrevistas revelaram percepções divergentes sobre a formação continuada oferecida pela escola. Algumas professoras destacaram a importância do diálogo e da troca de experiências para a reflexão docente, mesmo que os cursos não fossem totalmente focados nas necessidades específicas das séries iniciais do ensino fundamental. Outras professoras, especialmente aquelas das séries iniciais, sentiram que a formação, muitas vezes genérica e com foco em palestras, não contribuiu significativamente para melhorar sua prática pedagógica, enfatizando a necessidade de programas mais direcionados e com maior investimento em recursos e tempo dedicado à educação continuada.
1. Percepções Divergentes sobre a Formação Continuada
A análise das entrevistas revelou percepções divergentes entre as professoras sobre a eficácia dos programas de formação continuada. Enquanto algumas consideraram as palestras e a troca de experiências como úteis, promovendo a reflexão sobre a prática e o diálogo entre os docentes, outras, principalmente as professoras dos anos iniciais do ensino fundamental, expressaram insatisfação. Para essas últimas, os temas abordados nas formações eram frequentemente genéricos e pouco relevantes para suas necessidades específicas, como a alfabetização. A falta de direcionamento para as séries iniciais foi apontada como um problema recorrente, com a discussão muitas vezes dominada por assuntos pertinentes ao ensino médio, deixando as docentes dos anos iniciais à margem. Apesar dessas divergências, com exceção de uma professora, todas relataram mudanças na prática docente, atribuídas à formação, ainda que em alguns casos o impacto tenha sido superficial, sem promover uma reflexão crítica mais profunda. A pesquisa evidenciou a necessidade de programas de formação que considerem a diversidade de contextos e necessidades entre os professores.
2. A Formação como Palestra x Formação como Curso
O estudo identificou uma diferença entre a formação continuada como palestra e como um curso propriamente dito. Enquanto o compartilhamento de informações e experiências em palestras, embora valioso para o diálogo entre os professores, pode não ser suficiente para promover o desenvolvimento prático e a reflexão crítica, os cursos mais estruturados podem ter um impacto mais significativo. O texto destaca que mesmo a formação em formato de palestras, em alguns casos, propiciou mudanças na prática docente e um olhar mais compreensivo em relação às dificuldades dos estudantes. Entretanto, a pesquisa evidencia a limitação desse formato, que frequentemente se limita a temas gerais, sem alcançar as necessidades específicas dos professores em diferentes etapas do ensino. O estudo ressalta a importância da reflexão contínua do professor para que a formação tenha um impacto duradouro na sua prática, assim como a necessidade de um planejamento cuidadoso e objetivo dos cursos, buscando evitar a superficialidade e a falta de coerência que muitas vezes prejudicam a capacidade de reflexão e criticidade dos docentes.
3. Necessidade de Investimentos e Melhorias na Formação
As entrevistas revelaram a necessidade de maiores investimentos na educação e, especificamente, nos programas de formação continuada. A falta de recursos e a precariedade da formação oferecida, muitas vezes limitada a palestras esporádicas e formadores não qualificados, prejudicam a capacidade de reflexão e desenvolvimento profissional dos professores. A pesquisa demonstra o descompasso entre o que as professoras desejam e o que recebem em termos de formação, com a falta de recursos financeiros limitando as possibilidades de planejamento de uma formação mais adequada e direcionada às necessidades específicas de cada docente e contexto escolar. A ausência de incentivos, como a promoção na carreira após a participação em cursos de formação, desmotiva muitos professores a buscarem formação além da oferecida pela escola. O estudo, portanto, aponta para a necessidade de um investimento maior nos programas de formação continuada, garantindo a qualidade dos cursos e a sua pertinência às necessidades dos profissionais da educação.
IV.Programas Governamentais de Formação Continuada
A pesquisa contextualiza a formação continuada no cenário brasileiro, mencionando programas governamentais como o PNAIC (Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa), Proinfo Integrado e Pró-letramento. Estes programas, embora com objetivos diferentes, buscam melhorar a qualidade do ensino e a formação docente, mas enfrentam desafios relacionados à falta de recursos e à necessidade de maior alinhamento com as reais necessidades dos professores.
1. Programas de Formação Continuada no Contexto Brasileiro
O texto contextualiza a formação continuada de professores no Brasil, mencionando a existência de diversos programas governamentais com diferentes objetivos e públicos-alvo. Alguns são mais específicos, voltados para metas definidas e grupos determinados de professores, enquanto outros têm um escopo mais amplo, funcionando como pontos de encontro entre instituições e cursistas para projetos com várias temáticas. A pesquisa destaca a importância da formação inicial ou complementar como elemento-chave para a melhoria da qualidade da educação no país, apontando para a necessidade de programas que atendam às diferentes necessidades e interesses dos professores, contribuindo para o desenvolvimento profissional e o aprimoramento da prática docente. A menção a programas governamentais serve para situar a pesquisa em um contexto mais amplo, mostrando os esforços do governo para a formação continuada, mas também evidenciando as lacunas e a necessidade de aprimoramento. A pesquisa não detalha cada programa, mas sim os usa como exemplos do contexto nacional da formação continuada de professores.
2. Exemplos de Programas Governamentais PNAIC Proinfo Integrado e Pró Letramento
São citados como exemplos o Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), o Proinfo Integrado e o Pró-Letramento. O PNAIC é destacado como um importante instrumento para auxiliar os professores alfabetizadores. O Proinfo Integrado, focado na integração da tecnologia em sala de aula, é articulado com a distribuição de equipamentos tecnológicos e a oferta de recursos multimídia. Já o Pró-Letramento visa melhorar a qualidade da aprendizagem da leitura, escrita e matemática nos anos iniciais do ensino fundamental. Esses exemplos ilustram diferentes abordagens e focos dos programas governamentais de formação continuada, mas também evidenciam a fragmentação e a diversidade de iniciativas, que, segundo o documento, nem sempre atendem de forma eficaz às necessidades dos professores. A menção a esses programas demonstra o investimento federal em educação continuada, mas não avalia seu sucesso ou eficácia individualmente. A Rede Nacional de Formação Continuada de Professores também é mencionada, criada em 2004 para garantir a qualidade dos cursos, principalmente os à distância e semipresenciais, com carga horária de 120 horas.
V.Desafios e Conclusões
O estudo conclui que a formação continuada, para ser efetiva, precisa superar a visão de simples atualização de conteúdos e focar na reflexão crítica da prática docente, considerando as especificidades contextuais e as condições socioeconômicas dos professores. A falta de investimento na educação continuada e a oferta de formações genéricas prejudicam o desenvolvimento profissional dos docentes e a qualidade do ensino. A pesquisa aponta para a necessidade de programas de formação docente mais focados, com maior investimento em recursos e que contemplem a diversidade de necessidades e contextos escolares, em especial no ensino fundamental, para impactar positivamente a prática pedagógica.