HISTÓRIAS DA LÍNGUA PORTUGUESA: (Des)ENCONTROS

História da Língua Portuguesa: (Des)Encontros

Informações do documento

Autor

Cryslãynne Schetz

Escola

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

Curso Letras – Língua Portuguesa e Literaturas
Ano de publicação 2015
Tipo de documento Relatório final de Estágio
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 4.59 MB

Resumo

I.Observações e Projeto de Docência Prática Pedagógica em Língua Portuguesa

Este estudo relata um estágio de ensino de Língua Portuguesa e Literatura realizado no Colégio de Aplicação (CA) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. A pesquisa se concentrou na observação de aulas de uma professora de Ensino Médio (1º ano), totalizando 10 horas/aula. Com base nessas observações e questionários aplicados aos alunos, um projeto de docência foi elaborado, considerando as necessidades dos alunos e o Projeto Político Pedagógico (PPP) do CA. O projeto abrangeu história da língua portuguesa, escrita, oralidade, leitura, análise linguística e interpretação, embasado em teóricos como Vygotsky, Bakhtin e Geraldi. Um projeto extraclasse, utilizando a obra 'O Santo e a Porca' de Ariano Suassuna, também foi planejado, mas enfrentou desafios logísticos.

1. Observação da prática docente e construção do projeto de docência

O estágio de ensino de Língua Portuguesa e Literatura II, realizado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), teve como foco a observação da prática de uma professora no Colégio de Aplicação (CA). Durante 10 horas/aula, foram observadas as aulas do 1º ano B do Ensino Médio, incluindo a participação em conselhos de classe e uma viagem de estudos. Essa observação detalhada, combinada com questionários respondidos pelos alunos ao final do período, serviu como base para a construção do projeto de docência. O objetivo era atender às demandas dos alunos, integrando as diretrizes do Projeto Político Pedagógico (PPP) do CA e as reflexões de teóricos como Vygotsky, Bakhtin e Geraldi. O projeto abrangeu a história da língua portuguesa, práticas de escrita, oralidade, leitura, análise linguística e interpretação. A experiência também incluiu um projeto extraclasse com a obra 'O Santo e a Porca', de Ariano Suassuna, na Ação Social Coloninha, para alunos com idades entre 10 e 15 anos. A ênfase foi na escuta de diferentes vozes para alcançar metas e conciliar a prática com os princípios pedagógicos subjacentes, visando uma formação coerente dos estudantes.

2. Análise da prática pedagógica da professora de Língua Portuguesa

A professora observada demonstrou grande competência no manejo da sala de aula e na organização dos conteúdos. Sua postura era contagiante e comprometida, marcada pela constante revisão de metodologias e pela incorporação de novas perspectivas surgidas ao longo de sua trajetória profissional. O uso de diferentes espaços da escola, como biblioteca e laboratório de linguagem, demonstrava flexibilidade e adaptação às atividades propostas. Um aspecto interessante observado foi a capacidade da professora em lidar com os imprevistos e incorporar os insights dos alunos durante as aulas. Sua avaliação abrangia leitura, produção textual e análise linguística, utilizando diversos instrumentos como produção textual, interpretação de textos, trabalhos em grupo e provas (no máximo uma por trimestre, com consulta permitida). O trabalho da professora se alinha com a perspectiva de Geraldi, em 'A aula como acontecimento', que defende a importância da participação ativa dos alunos na construção da aula, dando voz às suas dúvidas e curiosidades, em contraste com a prática comum de 'podar' as ideias dos estudantes.

3. Abordagem de temas específicos escrita leitura e análise linguística

As atividades observadas abordaram diferentes aspectos da língua portuguesa. Em relação à escrita, os alunos elaboraram memórias de leitura, guiados pela professora, que revisou conceitos como o de epígrafe e as etapas da escrita. A análise linguística focou na compreensão dos recursos linguísticos presentes em letras de música, privilegiando a construção do significado em conjunto com os alunos, através de perguntas e reflexões. Essa abordagem se aproxima das ideias de Geraldi sobre a importância de perguntas instigadoras e da construção coletiva do conhecimento. Em fonologia, a abordagem considerou a significação social dos fonemas, enfatizando o conhecimento metalinguístico, mais valorizado no ensino médio, conforme aponta Mendonça. A leitura, por sua vez, foi abordada como um processo de agência da língua, considerando o contexto sócio-histórico e o horizonte de expectativas dos leitores, integrando a perspectiva de Geraldi sobre a leitura como pressuposição de escritura e vice-versa. A análise linguística foi apresentada como complementar às práticas de leitura e produção de texto, buscando a reflexão consciente sobre fenômenos gramaticais e textuais-discursivos. O objetivo foi contribuir para a formação de leitores e escritores autônomos e eficientes, contextualizando o estudo da linguagem.

II.Abordagem Metodológica e Conteúdos do Projeto de Docência

A metodologia empregada no projeto de docência priorizou a participação ativa dos alunos, seguindo as premissas de Geraldi sobre a aula como acontecimento. Os conteúdos abordaram a história da língua portuguesa, a variação linguística, a normatização, e a análise linguística, integrando atividades de leitura, produção textual e análise de canções e textos literários. O trabalho com a oralidade e escrita buscou superar a dicotomia tradicional entre elas, enfatizando a prática discursiva em diferentes contextos sociais, conforme a perspectiva de Antunes. A avaliação foi concebida como um processo contínuo e cumulativo, utilizando diversos instrumentos avaliativos e buscando o desenvolvimento da capacidade de pesquisa e reflexão dos alunos.

1. Metodologia Priorizando a participação ativa dos alunos

A metodologia do projeto de docência se pautou na participação ativa dos alunos, alinhando-se à concepção de Geraldi sobre a aula como acontecimento. A proposta foi criar um ambiente de interação, onde não apenas o professor, mas também os alunos, com suas dúvidas, curiosidades e posicionamentos, contribuíssem para a construção do conhecimento. A professora observada incentivava essa participação, instigando os alunos a se manifestarem e respondendo às suas perguntas de forma convincente, mesmo que isso demandasse tempo extra. A abordagem da professora demonstrava flexibilidade e adaptação às contribuições dos alunos, muitas vezes desviando do plano inicial para aprofundar aspectos relevantes levantados pela turma. Essa dinâmica, longe de ser desordenada, demonstrava uma prática pedagógica que valorizava o diálogo e a construção compartilhada do conhecimento, contrastando com a prática em muitas escolas de 'podar' as ideias dos alunos. A metodologia incluiu o uso de diversos recursos e espaços da escola, como biblioteca e laboratório de linguagem, demonstrando flexibilidade e adaptação às necessidades das atividades.

2. Conteúdos História da Língua Portuguesa e Análise Linguística

O projeto de docência teve como base a história da língua portuguesa, buscando proporcionar aos alunos uma compreensão mais ampla da evolução e da complexidade da língua. Foram abordados temas como a variação linguística, a normatização, a oralidade e a escrita, sempre buscando integrar diferentes perspectivas teóricas, como as de Antunes, Geraldi e Mendonça. A análise linguística foi integrada às práticas de leitura e produção textual, focando na compreensão dos recursos linguísticos em diferentes gêneros discursivos, utilizando letras de música como material de estudo. A oralidade e a escrita foram consideradas como práticas discursivas interativas, inseridas em contextos sociais específicos, superando a dicotomia tradicional entre elas. O projeto também buscou desenvolver o conhecimento metalinguístico nos alunos, valorizando a reflexão sobre os usos da língua em diferentes contextos e a percepção da língua como algo dinâmico e sujeito a variações geográficas, sociais e cronológicas. A metodologia incluiu roteiros e atividades que guiaram as discussões e permitiram verificar a compreensão dos alunos sobre os temas abordados.

3. Avaliação Um processo contínuo e cumulativo

A avaliação foi compreendida como um processo contínuo e cumulativo, envolvendo alunos, professores e a escola. O objetivo era verificar o desempenho dos alunos frente aos desafios propostos, utilizando diversos instrumentos avaliativos, conforme proposto pelo PPP do CA. A ênfase estava na busca por instrumentos que levassem o educando ao hábito da pesquisa, reflexão, iniciativa e criatividade. A proposta era superar a visão tradicional de avaliação como mera atribuição de notas, buscando, em vez disso, compreender o processo de construção de saberes pelos alunos. A avaliação diagnóstica, contínua e progressiva, permitiria identificar os pontos fortes e fracos de cada aluno, permitindo intervenções pedagógicas que promovessem o sucesso pessoal do discente. A avaliação também visava a integrar a família e a escola no processo de acompanhamento do aprendizado do aluno. O objetivo era que o conhecimento adquirido não ficasse restrito à sala de aula, mas pudesse ser aplicado e expandido para outros contextos.

III.Desafios e Resultados do Projeto Extraclasse com O Santo e a Porca

A implementação do projeto extraclasse com a peça 'O Santo e a Porca' de Ariano Suassuna na Ação Social Coloninha, em Florianópolis, apresentou desafios em relação à participação dos alunos do ensino médio do CA. A baixa adesão levou à adaptação do projeto, oferecendo-o como atividade complementar (ACCs) na UFSC e, posteriormente, integrando-o às aulas de recuperação (REs) no CA. Apesar das dificuldades, a experiência na Ação Social Coloninha obteve resultados positivos com a participação dos alunos dessa comunidade, com idades entre nove e quinze anos. A metodologia incluiu dinâmicas teatrais e leitura em grupo da peça adaptada, buscando engajamento e compreensão da obra.

1. Planejamento e Implementação do Projeto Extraclasse

O projeto extraclasse, utilizando a peça 'O Santo e a Porca' de Ariano Suassuna, visava a trabalhar aspectos teatrais e literários com alunos de 10 a 15 anos. Inicialmente planejado para ocorrer na Ação Social Coloninha, em Florianópolis, o projeto enfrentou dificuldades de adesão dos alunos do Ensino Médio do Colégio de Aplicação (CA). Apesar do interesse inicial de alguns alunos, a baixa participação efetiva no projeto extraclasse tornou necessário buscar alternativas. A metodologia planejada envolvia dinâmicas de aquecimento, distribuição de papéis, leitura expressiva do texto adaptado, exercícios teatrais e ensaios, com a participação ativa dos alunos na criação do figurino e cenário. A escolha dos personagens e funções seria feita por consenso, ou por sorteio, caso houvesse divergências. A expectativa era que os alunos desenvolvessem habilidades interpretativas, explorando entonação, sotaque e emoções, além de aprimorar a colaboração em grupo na construção da cena.

2. Desafios e Adaptações do Projeto

A dificuldade em mobilizar alunos do CA para o projeto extraclasse, mesmo após uma segunda tentativa de convites, resultou em uma significativa alteração dos planos. A baixa adesão foi atribuída à sobrecarga de atividades dos alunos no contraturno escolar, gerando a seguinte indagação: até que ponto a grande quantidade de atividades disponíveis aos alunos do CA se justifica, se os próprios estagiários encontram dificuldades em encontrar público para suas iniciativas? Diante disso, o projeto foi adaptado: primeiramente, uma oficina foi oferecida no curso de Letras da UFSC, mas sem sucesso. Em seguida, com o apoio dos professores de Língua Portuguesa do CA, as aulas de recuperação de ensino (REs) e algumas aulas regulares foram utilizadas para a realização do projeto, ainda que isso comprometesse o caráter extraclasse da proposta. Mesmo com essa adaptação, o início das atividades foi prejudicado por uma greve dos alunos do Ensino Médio do CA. Finalmente, o projeto foi executado na Ação Social Coloninha, envolvendo alunos com idades entre 9 e 15 anos.

3. Resultados na Ação Social Coloninha

A experiência na Ação Social Coloninha contrastou positivamente com os resultados obtidos no CA. Na comunidade da Coloninha, houve participação e interesse de todos os alunos. No primeiro dia, uma dinâmica de apresentação e um breve panorama sobre o autor Ariano Suassuna e a peça 'O Santo e a Porca' quebraram o gelo. Os alunos foram divididos em grupos para a leitura, intercalada com dinâmicas que mantiveram o interesse e o dinamismo da atividade. O entusiasmo dos alunos com a leitura, demonstrado pela curiosidade em relação ao desenlace da trama, foi um resultado animador. No segundo dia, as atividades mantiveram o bom nível de engajamento. Dinâmicas de mímica, leitura em grupo e encenações de cenas curtas pela própria turma demonstraram o sucesso da iniciativa. A finalização incluiu a apresentação de um vídeo com um trecho da peça encenada, demonstrando a efetividade da metodologia em contextos diferentes. A execução do projeto na Ação Social Coloninha revelou o sucesso da metodologia em um ambiente mais receptivo, contrastando com os desafios enfrentados no CA. Todos os alunos presentes participaram ativamente e demonstraram genuíno interesse pelas atividades.

IV.Reflexões sobre a Prática Docente e Avaliação

A experiência do estágio revelou a importância de considerar as atividades extracurriculares dos alunos no planejamento das aulas, bem como a necessidade de flexibilizar o tempo destinado às atividades de pesquisa em sala. A avaliação mostrou-se fundamental, mas precisou ser repensada para se adequar à dinâmica do CA, buscando instrumentos que permitam avaliar o desenvolvimento contínuo do aluno, e não apenas atribuir notas. A pesquisa destacou a diversidade de abordagens pedagógicas e os desafios da formação de professores em um ambiente escolar complexo.

1. Reflexões sobre a prática docente Desafios e Aprendizados

A experiência de docência durante o estágio revelou desafios significativos, principalmente em relação ao comprometimento dos alunos com a entrega de atividades. Apesar da participação ativa na maioria das aulas, muitos alunos apresentaram dificuldades em entregar os trabalhos no prazo, alegando esquecimento ou mesmo faltando às aulas para evitar a entrega. Essa observação levou à reflexão sobre o planejamento das aulas, indicando a necessidade de um tempo maior para as atividades de pesquisa em sala e uma redução no número de roteiros. Um aspecto crucial foi a necessidade de considerar as atividades extracurriculares dos alunos, como aulas de educação física e recuperação, no planejamento das aulas para melhor adequar as atividades propostas à realidade dos alunos. Apesar dos desafios, a experiência foi considerada significativa, acrescentando à bagagem pessoal e profissional das estagiárias. A falta de comprometimento dos alunos na entrega das tarefas serviu como um importante aprendizado para a prática docente futura. A experiência reforçou a importância de considerar o contexto escolar e a realidade dos estudantes no planejamento pedagógico.

2. Aspectos da Avaliação no Colégio de Aplicação CA e Reflexões sobre a Prática

A participação em reuniões com os professores do CA forneceu insights sobre a avaliação na escola. Observou-se a ênfase em uma avaliação diagnóstica, contínua e progressiva, que considera o aluno como sujeito ativo na construção do conhecimento, e não apenas em seu desempenho em momentos pontuais de avaliação. Os professores de língua portuguesa destacaram a importância de diversificar os instrumentos avaliativos, de estabelecer critérios claros e de fazer com que os alunos os conheçam. Entretanto, observou-se também que alguns professores do CA ainda utilizam predominantemente a prova como instrumento avaliativo. As discussões sobre avaliação no CA também evidenciaram a necessidade de repensar o currículo e a organização escolar para que a aprendizagem seja efetiva para todos os alunos. A experiência destacou a importância da avaliação como um processo contínuo de acompanhamento da construção de conhecimento, e não apenas como um mecanismo de atribuição de notas.

3. Considerações Finais A Docência como um Processo Contínuo

O estágio de docência, mesmo com suas dificuldades e imprevistos, foi considerado uma experiência valiosa, repleta de aprendizados. A conclusão é de que o estágio nunca é suficiente para a formação completa de um docente, pois cada geração de alunos apresenta demandas e desafios específicos. A experiência destacou a importância da adaptação às diferentes percepções de tempo e dos temas relevantes para os alunos de cada geração. Por fim, a reflexão pessoal sobre a docência envolveu a compreensão da importância de se estar atento ao desejo e direito à felicidade do outro, mesmo diante dos desafios e da responsabilidade inerentes à profissão. A experiência reforça a ideia de que a prática docente é um processo contínuo de aprendizagem, que exige constante adaptação, reflexão crítica e a valorização da interação e do crescimento mútuo entre professor e alunos, lembrando os dizeres de Gandhi: “O que quer que você faça será insignificante. Mas é muito importante que faça, porque ninguém mais fará.”