Identificação das causas das subnotificações das intoxicações da população exposta a agrotóxicos: estudo de caso de Laranjeiras do Sul - PR

Subnotificação de Intoxicação por Agrotóxicos

Informações do documento

Autor

Eleonora Escobar Tosetto

instructor Prof. Dr.
Escola

Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)

Curso Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável
Tipo de documento Dissertação
Local Laranjeiras do Sul - PR
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 2.63 MB

Resumo

I.Subnotificação de Intoxicações por Agrotóxicos no Paraná

Esta pesquisa investiga a preocupante subnotificação de casos de intoxicação por agrotóxicos no Paraná, Brasil. Apesar do aumento exorbitante no consumo de agrotóxicos (mais de 700% nos últimos 40 anos, segundo a Embrapa), os sistemas nacionais de vigilância, como o SINITOX e o SINAN, registram números insignificantes de intoxicações. O estudo, realizado em Laranjeiras do Sul e na 5ª Regional de Saúde do Paraná, aponta para a fragmentação dos dados entre diferentes sistemas de monitoramento (IBGE, IPARDES, IBAMA, SIAGRO), resultando em falta de confiabilidade e subnotificação em todas as etapas: a) agricultores não buscam atendimento médico; b) profissionais de saúde enfrentam dificuldades de diagnóstico (falta de capacitação, sintomas confundidos com outras doenças, ausência de exames conclusivos); c) falta de registro nos sistemas de informação devido à sobrecarga de trabalho e à falta de percepção da importância da notificação. A pesquisa destaca a necessidade de interligação entre os sistemas de notificação, capacitação dos profissionais de saúde e conscientização dos agricultores sobre os riscos dos agrotóxicos para a saúde pública.

1. Contexto da Pesquisa e Objetivo

A pesquisa aborda a problemática da subnotificação de intoxicações por agrotóxicos no Paraná, contrastando o crescimento exorbitante no consumo dessas substâncias com os números insignificantes registrados pelos sistemas de vigilância toxicológica nacionais (SINITOX e SINAN). O objetivo principal é estudar a correlação entre o uso excessivo de agrotóxicos e a invisibilidade das intoxicações, buscando identificar as causas da subnotificação e as dificuldades relatadas pelos profissionais da rede de saúde. Para tanto, foram utilizados dados bibliográficos e estatísticos de órgãos oficiais (IBGE, IPARDES, IBAMA, SIAGRO, SINITOX e SINAN), e realizado um estudo de caso com aplicação de questionários a profissionais da Secretaria Estadual de Saúde (SESA), 5ª Regional de Saúde – PR, da Rede de Saúde municipal e a agricultores de Laranjeiras do Sul – PR. Os resultados preliminares indicam fragmentação dos dados entre sistemas de monitoramento, com ausência de informações em alguns períodos. A necessidade de interligação entre os sistemas para maior confiabilidade dos dados é enfatizada. O estudo também demonstra que os profissionais de saúde consideram a relação agrotóxico-saúde uma problemática importante, reconhecendo a subnotificação dos casos.

2. Resultados do Estudo de Caso Fragmentação de Dados e Subnotificação em Três Etapas

O estudo de caso revela a fragmentação dos registros de intoxicações entre os sistemas de monitoramento de dados e a ausência de dados em certos períodos. O SINITOX, por exemplo, não apresentou dados para a região estudada entre 2010 e 2012, enquanto o SINAN registrou baixa incidência. Essa fragmentação ressalta a necessidade crucial de interligar todos os sistemas de notificação para garantir maior confiabilidade e transparência dos dados. A pesquisa identificou a subnotificação em três etapas do processo: primeiro, na intoxicação, com o agricultor muitas vezes não buscando atendimento médico; segundo, no atendimento de saúde, devido à falta de capacitação dos profissionais, à confusão dos sintomas com outras patologias e à ausência de exames laboratoriais conclusivos; e terceiro, na não efetivação do registro nos sistemas de informação, decorrente do acúmulo de tarefas e da falta de percepção da relevância da notificação pelos profissionais. Esses fatores contribuem para minimizar os efeitos dos agrotóxicos na saúde humana, prejudicando a mensuração precisa dos impactos na saúde pública e os custos para o sistema de saúde, especialmente no tratamento de doenças crônicas.

3. Análise da Subnotificação em Laranjeiras do Sul e Região

O município de Laranjeiras do Sul, foco da pesquisa de campo, serve como um estudo de caso para analisar a subnotificação. O município, localizado na 5ª Regional de Saúde do Paraná, apresenta um consumo significativo de agrotóxicos (8,44 kg/ha em 2013), mas um número baixo de casos registrados no SINAN (53 casos entre 2011 e 2013). Entretanto, a pesquisa de campo com agricultores revela que 38% dos entrevistados relataram ter sofrido algum tipo de intoxicação, indicando uma significativa subnotificação nos registros oficiais. A comparação com outros municípios da região, com consumo de agrotóxicos 20 a 30 vezes maior (Foz do Iguaçu, Virmond e Cantagalo), reforça a preocupação com a possível subnotificação em áreas com maior exposição a agrotóxicos. A pesquisa destaca a falta de informação sobre os perigos dos agrotóxicos para a população (61,53% dos entrevistados consideram as informações insuficientes), a dificuldade de diagnóstico em casos leves (sintomas confundidos com outras doenças), e a falta de exames conclusivos como fatores que contribuem para a subnotificação.

II.Causas da Subnotificação Perspectivas dos Profissionais de Saúde e Agricultores

A pesquisa, através de questionários aplicados a profissionais de saúde (SESA, rede municipal) e agricultores de Laranjeiras do Sul, identificou as principais causas da subnotificação. Profissionais de saúde reconhecem a gravidade da problemática agrotóxicos versus saúde, mas relatam dificuldades como falta de capacitação para o diagnóstico de intoxicações (especialmente casos leves e doenças crônicas), sintomas confundidos com outras patologias e escassez de exames laboratoriais conclusivos. Entre os agricultores, a 'naturalização' do uso de agrotóxicos, a falta de informação sobre os riscos e a subnotificação por sintomas leves contribuem para a invisibilidade do problema. Em Laranjeiras do Sul, apesar do alto consumo de agrotóxicos (8,44 kg/ha em 2013), o SINAN registrou apenas 53 casos entre 2011 e 2013, enquanto 38% dos agricultores entrevistados relataram ter sofrido alguma intoxicação.

1. Perspectiva dos Profissionais de Saúde

A pesquisa entrevistou profissionais de saúde da Secretaria Estadual de Saúde (SESA), da 5ª Regional de Saúde do Paraná, e da rede municipal, buscando entender suas perspectivas sobre a subnotificação de intoxicações por agrotóxicos. Todos os profissionais entrevistados reconheceram a gravidade da problemática da relação agrotóxicos versus saúde, considerando-a um importante problema de saúde pública. Entretanto, eles apontaram diversas dificuldades que contribuem para a subnotificação. A falta de capacitação específica sobre a temática de intoxicação por agrotóxicos foi citada como um obstáculo significativo, dificultando o diagnóstico preciso. A sintomatologia de intoxicações leves pode ser facilmente confundida com outras patologias comuns em áreas rurais, levando a diagnósticos incorretos ou a omissão da relação com o uso de agrotóxicos. A escassez de exames laboratoriais conclusivos também foi apontada como um problema, dificultando a confirmação de intoxicações. Finalmente, a falta de tempo e o acúmulo de tarefas, somados à subvalorização da importância do registro nos sistemas de informação, contribuem para a subnotificação. A pesquisa destaca a necessidade de treinamento e capacitação continuada para esses profissionais, bem como a necessidade de melhorar a infraestrutura para a realização de exames específicos.

2. Perspectiva dos Agricultores

A pesquisa também coletou dados através de entrevistas com agricultores de Laranjeiras do Sul, buscando sua perspectiva sobre o uso de agrotóxicos e a ocorrência de intoxicações. Um dado relevante é que 38% dos agricultores entrevistados admitiram ter sofrido alguma intoxicação, frequentemente com sintomas leves como dor de cabeça, vômitos, febre e diarreia. Essa alta porcentagem, em contraste com os dados oficiais de notificação, demonstra mais uma vez a subnotificação do problema. Os relatos indicam que muitos agricultores, principalmente os familiares, iniciam o contato com agrotóxicos desde a infância, auxiliando seus pais nas atividades agrícolas. A prática do uso de agrotóxicos é muitas vezes percebida como algo natural e rotineiro, contribuindo para que os efeitos nocivos não sejam totalmente reconhecidos ou relatados. A falta de informação e o acesso limitado a equipamentos de proteção individual (EPIs), bem como práticas inadequadas de manuseio, armazenamento e descarte dos produtos, também contribuem para o risco de intoxicação. A pesquisa aponta para a necessidade de campanhas educativas e informativas para os agricultores, destacando os riscos do uso inadequado de agrotóxicos e a importância da prevenção.

3. Fatores Contribuintes para a Subnotificação Uma Visão Geral

Em síntese, a subnotificação de intoxicações por agrotóxicos é um problema multifatorial, envolvendo tanto a perspectiva dos profissionais de saúde quanto dos agricultores. No que se refere aos profissionais, a falta de capacitação, a dificuldade de diagnóstico em casos leves, a ausência de exames laboratoriais conclusivos e a sobrecarga de trabalho contribuem significativamente para o sub-registro dos casos. Já do lado dos agricultores, a 'naturalização' do uso de agrotóxicos, a falta de informação sobre os riscos, a ocorrência de intoxicações leves com sintomas facilmente confundidos com outras patologias, e o acesso limitado aos EPIs e a informações sobre o manuseio seguro dos produtos, são fatores que impulsionam a subnotificação. A pesquisa sugere que a combinação dessas falhas no sistema, tanto no diagnóstico como na notificação, resulta em uma imagem distorcida da realidade, com uma subestimação considerável dos impactos dos agrotóxicos na saúde pública.

III.Impactos na Saúde e Propostas para Melhoria

A subnotificação de casos de intoxicação por agrotóxicos impede a mensuração precisa dos impactos na saúde pública e dos custos para o sistema de saúde, especialmente no tratamento de doenças crônicas. A pesquisa destaca a urgência de ações para melhorar a situação: capacitação contínua dos profissionais de saúde sobre a identificação e notificação de intoxicações, melhoria na infraestrutura dos serviços de saúde para realização de exames laboratoriais conclusivos, campanhas educativas para agricultores sobre os riscos e o uso correto de agrotóxicos, e a implementação de políticas públicas que promovam a agroecologia como alternativa sustentável e menos prejudicial à saúde e ao meio ambiente. A pesquisa também ressalta a importância de conectar os diferentes sistemas de informação (SINAN, SIH, SINITOX) para uma melhor coleta e análise de dados sobre intoxicação por agrotóxicos.

1. Impactos na Saúde Pública da Subnotificação

A subnotificação de casos de intoxicação por agrotóxicos acarreta sérios problemas para a saúde pública. A falta de dados confiáveis impede a mensuração precisa dos impactos reais do uso desses produtos na saúde da população, especialmente no que diz respeito às doenças crônicas. A ausência de registros precisos dificulta a implementação de políticas públicas eficazes para proteger os agricultores e a população em geral. O estudo demonstra que o alto consumo de agrotóxicos, especialmente em regiões como a 5ª Regional de Saúde no Paraná, não se reflete proporcionalmente nos números de intoxicações registradas em sistemas oficiais como o SINAN. Essa discrepância indica a existência de um problema muito maior do que os dados oficiais sugerem, comprometendo o planejamento e a alocação de recursos para o tratamento de doenças relacionadas ao uso de agrotóxicos. Sem dados precisos, torna-se impossível quantificar o custo real para o sistema de saúde, tanto em termos de tratamentos para intoxicações agudas quanto para o manejo de doenças crônicas associadas à exposição prolongada a essas substâncias. A falta de informação sobre o real alcance do problema prejudica a implementação de políticas públicas efetivas de prevenção e controle, colocando em risco a saúde da população.

2. Propostas para Melhoria do Sistema de Monitoramento e Atendimento

Para reverter a situação de subnotificação e seus impactos na saúde pública, a pesquisa propõe diversas ações. Em primeiro lugar, é fundamental investir em ações educativas e informativas direcionadas tanto para os produtores rurais quanto para os profissionais de saúde. Campanhas educativas que conscientizem os agricultores sobre os riscos do uso inadequado de agrotóxicos e a importância da busca de atendimento médico em caso de intoxicação são cruciais. Paralelamente, é necessária a capacitação e o treinamento contínuos dos profissionais de saúde na identificação e no diagnóstico de intoxicações por agrotóxicos, com ênfase em sintomas que possam ser confundidos com outras doenças. O aprimoramento da infraestrutura dos serviços de saúde, com o investimento em exames laboratoriais conclusivos, é essencial para confirmar casos de intoxicação, especialmente os crônicos. A integração e a melhoria da comunicação entre os diferentes sistemas de informação (SINAN, SIH, SINITOX) são vitais para a consolidação de dados mais precisos e confiáveis. Por fim, a pesquisa defende a adoção de práticas agrícolas mais sustentáveis, como a agroecologia, que minimizem a dependência do uso de agrotóxicos na produção de alimentos, reduzindo consequentemente os riscos à saúde humana e ao meio ambiente. A transparência na divulgação dos dados sobre o consumo de agrotóxicos por região, incluindo o custo para o governo com isenções tributárias, também é fundamental para desmistificar a ideia de que a produção convencional é economicamente mais viável.