Jovens estudantes de graduação: fatores que influenciam sua permanência ou evasão do meio rural

Evasão Rural: Jovens e a Graduação

Informações do documento

Autor

Ricardo Marian Tiherro

instructor Profa. Dionéia Dalcin
Escola

Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) - Campus Cerro Largo

Curso Administração
Tipo de documento Trabalho de Conclusão de Curso
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 1.18 MB

Resumo

I.Fatores que Influenciam a Permanência ou Evasão de Jovens Rurais

Esta pesquisa quantitativa descritiva analisou os fatores que influenciam a permanência ou evasão do meio rural entre estudantes de graduação presencial em Cerro Largo – RS. Foram coletados dados primários de 90 participantes (54% mulheres, 46% homens) através de questionários em setembro de 2019. A análise focou em fatores positivos (diálogo universidade-aluno, acesso à internet, incentivos de políticas públicas, recursos tecnológicos) e negativos (melhores oportunidades de emprego nas cidades, falta de lazer, ausência de autonomia na tomada de decisões). Os resultados indicaram que os fatores negativos, especialmente para mulheres (61,22% pretendem deixar o meio rural), superam os positivos, apontando para a necessidade de fomento ao desenvolvimento rural e criação de novos programas para reverter o êxodo rural.

1. Metodologia da Pesquisa

A pesquisa, realizada em setembro de 2019 em Cerro Largo – RS, utilizou uma abordagem quantitativa descritiva. Dados primários foram coletados por meio de um questionário fechado aplicado a 90 estudantes de graduação presencial de universidades locais (UFFS e URI). A amostra consistia de 54% de mulheres e 46% de homens. A análise considerou frequências, médias, medidas de dispersão, gráficos e tabelas para melhor visualização dos dados. O objetivo principal era identificar e analisar os fatores que influenciam a permanência ou evasão desses jovens do meio rural. Um pré-teste com 5 participantes foi realizado para garantir a adequação do questionário antes da aplicação principal. A pesquisa visava a entender as motivações por trás da decisão de permanecer ou deixar o meio rural, considerando fatores como acesso a recursos, oportunidades de emprego, e apoio familiar. A falta de informações sobre jovens rurais no ensino superior motivou a pesquisa, que buscou preencher essa lacuna na literatura acadêmica brasileira.

2. Fatores Positivos para a Permanência no Campo

A pesquisa identificou diversos fatores que contribuem positivamente para a permanência dos jovens no meio rural. O diálogo entre alunos e a universidade, promovendo a aplicação prática do conhecimento adquirido, destacou-se como um elemento crucial. O acesso a meios de comunicação, especialmente a internet, também se mostrou importante, tanto para a obtenção de informações quanto como fonte de lazer e socialização. As políticas públicas e programas de incentivo ao desenvolvimento rural foram apontados como fatores que estimulam a permanência dos jovens em suas comunidades de origem. Por fim, a disponibilidade de recursos tecnológicos que auxiliam na execução das atividades produtivas, principalmente em grandes propriedades, facilitaram a vida dos jovens estudantes, permitindo melhor conciliação entre estudos e trabalho. A pesquisa ressalta a importância da modernização do campo para atrair e reter jovens, reconhecendo o papel da tecnologia na agricultura.

3. Fatores Negativos que Contribuem para a Evasão Rural

Contrariando os aspectos positivos, a pesquisa também revelou fatores que impulsionam a evasão rural. A principal razão apontada pelos jovens foi a existência de melhores oportunidades de emprego nas cidades, destacando a falta de opções de trabalho no campo e a precariedade das condições de trabalho muitas vezes encontradas. A falta de opções de lazer e diversão no meio rural, comparativamente à oferta de entretenimento nos centros urbanos, também contribuiu para a decisão de migrar. A ausência de autonomia para os jovens tomarem suas próprias decisões dentro das atividades rurais, e a expectativa de pouca ou nenhuma remuneração fixa pelo trabalho no campo, além da insegurança quanto à renda foram fatores significativos para a busca por novas oportunidades fora do ambiente rural. A pesquisa ressalta que esses fatores negativos, e a falta de perspectiva financeira, contribuem significativamente para o êxodo rural, afetando especialmente as mulheres.

4. Análise Comparativa e Conclusões

A análise cruzada dos dados indicou uma forte correlação entre o tamanho da propriedade e a capacidade de manter todos os filhos envolvidos nas atividades rurais. Propriedades maiores, com maior acesso à tecnologia, tendem a ser mais atrativas. A pesquisa também confirmou que, independentemente do apoio recebido dos pais, a maioria dos jovens concordou que a escolaridade oferece maiores oportunidades nas cidades. Um dado preocupante foi que 52% dos jovens entrevistados pretendem se desvincular do meio rural, com um percentual ainda maior entre as mulheres (61,22%). Essa tendência, associada à falta de políticas públicas efetivas para o desenvolvimento rural, reforça a urgência de intervenções que contemplem as necessidades e aspirações dos jovens rurais, particularmente as mulheres, para reverter o êxodo rural. A pesquisa destaca a necessidade de políticas mais abrangentes para atrair jovens para o campo e assegurar a sucessão rural.

II.Características dos Jovens Rurais e suas Perspectivas

O estudo caracteriza os jovens rurais como fortemente influenciados por suas relações familiares e comunitárias. A família, muitas vezes a unidade de produção, desempenha um papel central, embora conflitos relacionados à falta de diálogo e de autonomia sejam frequentes. O acesso à tecnologia, principalmente a internet, surge como uma importante fonte de lazer para esses jovens. A pesquisa destaca a importância da qualificação profissional, que embora abra portas para oportunidades nas cidades, também pode ser um estímulo para o desenvolvimento de habilidades administrativas e agropecuárias, contribuindo para a sucessão rural. A falta de expectativa de renda regular e satisfatória é um fator crucial para a evasão do meio rural.

1. Aspectos da Vida Cotidiana dos Jovens Rurais

A pesquisa destaca que a vida cotidiana dos jovens rurais é fortemente marcada pelas relações familiares e comunitárias. A família é frequentemente descrita como uma comunidade afetiva de interesses, muitas vezes funcionando como a unidade de produção, com o pai geralmente à frente (Wanderley, 2007). Os jovens rurais carregam experiências que se entrelaçam desde sua vida cotidiana até seus projetos para a vida adulta. A busca por espaços destinados à juventude, a identidade geracional, e a valorização familiar e do ambiente social são elementos importantes na descrição de seu dia a dia (Wanderley, 2007). A pesquisa enfatiza a importância das relações sociais no contexto rural e como a família influencia seus projetos de vida, mesmo que existam conflitos e falta de diálogo em alguns casos. A autora destaca que essa vivência familiar e comunitária molda profundamente suas perspectivas de futuro, tanto na perspectiva de permanecer ou deixar o meio rural.

2. Mudanças na Migração Rural e o Papel da Universidade

Historicamente, a migração de jovens do meio rural era limitada ao ingresso nas forças armadas ou em seminários religiosos. Atualmente, Oliveira et al. (2016) apontam a incerteza na sucessão rural e as oscilações das atividades agrícolas, além da insuficiência das políticas públicas, como fatores que contribuem para o desprendimento dos jovens de seu convívio familiar no campo. No entanto, a pesquisa também reconhece que a universidade tem desempenhado um papel importante na influência sobre os jovens, fomentando a formação cidadã e a inclusão social, e incentivando os mesmos a assumirem um papel ativo no meio rural. A expansão do ensino superior em áreas antes desfavorecidas é destacada como um fator relevante neste contexto (Redin, 2017), mostrando como a educação pode ser uma ferramenta de transformação e incentivo à permanência no campo.

3. Desafios da Permanência e o Conceito de Capital Humano

Diversos estudos abordam as dificuldades de permanência dos jovens no meio rural, focando no desenvolvimento familiar e na expectativa social depositada neles para a continuidade das práticas agrícolas (Oliveira et al., 2016). A família muitas vezes vê o jovem rural como uma importante contribuição para sua continuidade, mas ele não quer ser considerado apenas mão de obra. Barbosa e Sousa (2013) destacam o papel do capital humano para o crescimento econômico, bem-estar individual, redução de desigualdades e melhora na qualidade de vida, mostrando a diferença entre os meios urbano e rural. A pesquisa de Zago (2016) revela a escassez de informações sobre jovens rurais no ensino superior e seus projetos de vida, indicando uma tendência de pesquisas a focarem, majoritariamente, na condição urbana. Essa lacuna na pesquisa existente justifica a importância do estudo para uma melhor compreensão das perspectivas e desafios da juventude rural.

4. Lazer Família e a Perspectiva de Gênero

O lazer é um fator importante para os jovens rurais. Enquanto na cidade o acesso a opções de lazer é mais facilitado, no meio rural a falta de opções de diversão e a pressão dos afazeres da propriedade rural, contribuem para o desejo de migração. A tecnologia, como internet, Facebook e WhatsApp, surge como uma fonte de lazer, independente da aprovação dos adultos (Cover; Cerioli, 2015). A família, embora seja uma fonte de apoio em momentos de dificuldade (Durand; Alves, 2015), não é vista como incentivadora de lazer, sendo muitas vezes rígida em relação a este aspecto. A pesquisa de Zago e Bordignon (2012) destaca o conflito entre o desejo de lazer e as obrigações no campo. Em relação ao gênero, observa-se que a evasão é mais fácil para as mulheres devido à maior oportunidade de trabalho em casas de família ou em empresas, e ao maior interesse pelos estudos e formação profissional (Zótis, 2011; Magri, 2008). A pesquisa evidencia a necessidade de se entender as diferenças de perspectiva entre os gêneros no que diz respeito a permanência no meio rural.

III.Análise dos Fatores de Permanência e Evasão

A análise dos dados revelou que, enquanto fatores como o diálogo com a universidade e o acesso à tecnologia são positivos para a permanência no campo, a busca por melhores oportunidades de emprego, a falta de lazer, e a ausência de autonomia são fatores negativos determinantes. A análise por gênero mostrou que as mulheres são mais propensas a buscar oportunidades fora do meio rural devido à menor valorização e a dificuldades como a necessidade de pedir dinheiro para atividades básicas. Em relação ao tamanho da propriedade, propriedades maiores demonstram maior capacidade de manter os filhos envolvidos nas atividades rurais devido ao maior acesso a tecnologia e recursos, contudo, a maioria dos jovens, principalmente as mulheres, pretendem se desvincular do meio rural. A pesquisa destaca a urgência de políticas públicas que visem ao desenvolvimento rural e à permanência dos jovens no campo.

1. Caracterização da Amostra e Dados Iniciais

A primeira etapa da análise caracteriza a amostra de 90 estudantes de graduação de Cerro Largo – RS. A amostra apresenta uma predominância do sexo feminino (54%), enquanto o masculino representa 46%. A grande maioria (98%) dos participantes era solteira. A idade média dos entrevistados é de 21,58 anos. O curso de Administração foi o mais frequente na amostra, possivelmente devido à sua oferta em ambas as universidades estudadas (UFFS e URI). Os entrevistados provieram de propriedades com tamanho predominante entre 10,1 e 20 hectares, sendo a principal atividade a plantação de milho, embora a diversificação de atividades também tenha sido observada. Essa caracterização da amostra fornece um contexto importante para a interpretação dos fatores de permanência e evasão no meio rural, considerando a distribuição por gênero, idade, tamanho das propriedades e atividades agrícolas desenvolvidas. A maioria dos jovens relatou receber incentivo dos pais em relação aos estudos e qualificação profissional.

2. Fatores Positivos e Negativos para a Permanência Análise Quantitativa

Utilizando uma análise quantitativa, a pesquisa avaliou diversos fatores que influenciam a permanência ou evasão dos jovens. Fatores positivos incluíram o diálogo entre alunos e universidade, o acesso à internet e outros meios de comunicação, incentivos de políticas públicas e recursos tecnológicos que auxiliam nas atividades produtivas. Os fatores negativos mais relevantes foram a presença de melhores oportunidades de emprego nas cidades, a falta de lazer e diversão no meio rural e a ausência de autonomia para tomar decisões. A análise considerou médias e desvios-padrão para cada fator, revelando, por exemplo, que a valorização do estudo como meio de acesso a outros mercados de trabalho (média 4,57, desvio-padrão 0,78) foi vista como fator positivo para deixar o meio rural. Já a questão da propriedade comportar todos os filhos nas atividades rurais, apresentou resultado indeciso (média 2,82, desvio-padrão 1,52), indicando uma dispersão significativa nas respostas. A análise numérica forneceu uma base objetiva para a comparação entre os fatores analisados.

3. Análise Cruzada dos Resultados Gênero Tamanho da Propriedade e Tecnologia

A última parte da análise cruzou os principais resultados com as características dos respondentes. Observou-se uma relação entre o tamanho da propriedade e a capacidade de abrigar todos os filhos nas atividades rurais: propriedades maiores tendem a reter os filhos. Não houve relação significativa entre a percepção de inferioridade por residirem no meio rural e outros fatores. Em relação ao gênero, a maioria das mulheres concordou que são menos valorizadas no meio rural, um fator que contribui para a evasão. Independentemente do tamanho da propriedade, os jovens concordaram que os recursos tecnológicos contribuem para o desenvolvimento da propriedade e a permanência no meio rural. Esse tipo de análise ajuda a entender como diferentes fatores interagem e como as características pessoais dos jovens impactam suas decisões. A análise destaca que, apesar da maior propensão das mulheres a deixarem o meio rural, a utilização de tecnologia é um fator positivo para a permanência, independente do gênero ou tamanho da propriedade.

IV.Considerações Finais e Implicações

A pesquisa evidencia um cenário preocupante de êxodo rural, com 52% dos jovens estudantes pretendendo deixar o meio rural, sendo este número ainda maior entre as mulheres (61,22%). A pesquisa sugere que a dicotomia entre políticas de produção focadas em grandes propriedades e políticas de assistência social para famílias mais vulneráveis contribui para este problema. A conclusão enfatiza a necessidade de políticas públicas integradas e inovadoras, que considerem a qualificação profissional, o acesso à tecnologia, o lazer, a autonomia dos jovens e a geração de renda regular, para assegurar a permanência dos jovens rurais e o futuro do desenvolvimento rural no Brasil, particularmente em regiões como Cerro Largo – RS.

1. Síntese dos Resultados e Tendências Preocupantes

A pesquisa identificou fatores tanto positivos quanto negativos para a permanência dos jovens no meio rural após a graduação. Fatores positivos incluem o diálogo com a universidade, acesso à tecnologia e internet, e incentivos de políticas públicas. No entanto, fatores negativos, como melhores oportunidades de emprego nas cidades, falta de lazer e autonomia, pesaram mais na decisão dos jovens. É preocupante que 52% dos entrevistados pretendam deixar o meio rural, com esse número sendo ainda maior entre as mulheres (61,22%). Essa tendência de êxodo rural é um alerta para a necessidade de políticas públicas mais eficazes e programas que incentivem a permanência dos jovens, especialmente as mulheres, no campo. A pesquisa demonstra uma necessidade urgente de ações para mudar a percepção negativa sobre o meio rural, oferecendo alternativas atrativas que considerem as necessidades e aspirações dessa população.

2. Desigualdades de Gênero e a Necessidade de Políticas Inclusivas

O estudo evidencia uma disparidade significativa entre os gêneros na decisão de permanecer ou deixar o meio rural, com as mulheres mostrando maior propensão à evasão (61,22%). Isso está ligado a fatores como menor valorização histórica das mulheres no campo, falta de incentivos financeiros por parte dos pais, e melhores oportunidades de trabalho e qualificação profissional fora do ambiente rural (Faria, 2009; Zótis, 2011; Magri, 2008). Apesar de algumas mulheres discordarem da ideia de exclusão no processo de sucessão rural, o estudo reforça a necessidade de políticas públicas que promovam a igualdade de gênero e a inclusão das mulheres em todas as etapas da atividade rural. As políticas devem contemplar as especificidades das necessidades femininas e fomentar o empoderamento das mulheres no contexto rural, garantindo sua participação efetiva na sucessão e no desenvolvimento da agricultura familiar.

3. O Papel das Políticas Públicas e a Dicotomia Produção x Assistência Social

As conclusões reforçam a necessidade de maior fomento à permanência dos jovens no campo por meio de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento rural. A criação de novos programas e incentivos é crucial para reverter a tendência de êxodo rural. A pesquisa aponta para uma dicotomia entre políticas de produção, que priorizam unidades familiares com tecnologias convencionais, e políticas de assistência social, que atendem estabelecimentos mais fragilizados, sem integração entre ambas (Cazella et al., 2016). Essa falta de integração, apesar de ter auxiliado na diminuição da pobreza em alguns casos, mantém um grande número de famílias em situação de vulnerabilidade, contribuindo para a saída dos jovens. A criação de políticas mais abrangentes, que contemplem tanto a produção quanto a assistência social, é fundamental para garantir o futuro do meio rural e promover o desenvolvimento sustentável.