
Mulheres nas FALN: Ditadura Brasileira
Informações do documento
Autor | Luana Gonçalves Torres |
instructor | Alessandra Gasparotto |
Escola | Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) |
Curso | História - Licenciatura |
Tipo de documento | Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) |
Local | Erechim |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 7.94 MB |
Resumo
I.A Participação das Mulheres na Luta Armada Contra a Ditadura Civil Militar Brasileira 1964 1985 com foco nas FALN
Esta monografia analisa a participação de mulheres na luta armada contra a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985), com ênfase na Fuerzas Armadas de Liberación Nacional (FALN). O estudo destaca como essas mulheres romperam com as hierarquias de gênero e de poder para ingressar em organizações de resistência armada. A pesquisa utiliza como referência a experiência da militante Áurea Moretti, incluindo entrevistas realizadas pela própria autora. O trabalho examina os diferentes discursos que desqualificavam a participação feminina, tanto pela esquerda, que priorizava uma imagem de virilidade, quanto pela repressão estatal, que questionava o papel social das mulheres.
1. A Experiência de Áurea Moretti e a Quebra de Hierarquias
Esta seção inicia a análise da participação feminina na luta armada, utilizando a experiência da militante Áurea Moretti como fio condutor. O relato de Áurea, obtido por meio de entrevistas realizadas pela autora da monografia, é fundamental para compreender como mulheres transpuseram barreiras de gênero e poder para se engajarem na resistência armada durante as décadas de 1960 e 1970. A pesquisa evidencia a dupla luta enfrentada pelas mulheres: contra a ditadura e contra uma sociedade machista e patriarcal. A escolha metodológica, que integra fontes escritas e depoimentos de História Oral, ressalta a importância de dar voz a indivíduos historicamente excluídos dos processos históricos, possibilitando uma análise mais profunda da experiência de mulheres na luta contra a ditadura civil-militar brasileira. A análise dos discursos masculinizados, tanto da esquerda quanto dos órgãos de repressão, que marginalizaram ou desqualificaram as pautas das mulheres militantes, é crucial para entender o contexto da participação feminina na luta armada. A entrevista de Áurea Moretti se mostra crucial para a compreensão do contexto e das motivações que levaram as mulheres à luta armada no período da ditadura.
2. Contexto Político e a Escolha pela Luta Armada
Esta parte contextualiza o cenário político dos anos 60, focando no golpe de 1964, na implementação da ditadura civil-militar e na ascensão da luta armada como resposta de setores da esquerda. A renúncia de Jânio Quadros e a posse de João Goulart, marcada por tensões e pela Campanha da Legalidade, são analisadas. A fragmentação do PCB e o surgimento de diversas organizações armadas de esquerda, influenciadas pelas experiências revolucionárias na América Latina e por lideranças como Fidel Castro e Che Guevara, são discutidos. A seção destaca a influência do contexto internacional na formação e nos objetivos dos grupos revolucionários brasileiros. A análise demonstra como a luta armada, vista como a única alternativa viável para alguns grupos de esquerda, se tornou um caminho a ser percorrido perante a falência das tentativas de mudanças pacíficas e o agravamento da repressão estatal. A aliança do PCB com o governo Goulart e as consequências negativas dessa estratégia política, levando à perda de hegemonia e à fragmentação do partido, são importantes pontos de análise.
3. As FALN Formação Ação e Repressão em Ribeirão Preto
Esta seção detalha a trajetória das Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN), com enfoque em sua organização peculiar e atuação em Ribeirão Preto. O jornal 'O Berro', veículo de comunicação independente e vanguarda dos acadêmicos de Direito de Ribeirão Preto, fundado por Áurea Moretti, Nanci Marietto e Vanderley Caixe, é central nessa análise, atuando como ferramenta de propaganda, recrutamento e disseminação da ideologia. A seção aborda a composição da FALN, destacando a significativa participação de jovens, estudantes secundaristas e trabalhadores rurais, aspectos incomuns em outros grupos armados da esquerda. A descrição das ações da organização, inclusive o uso de bombas para espalhar panfletos, ilustra suas táticas de resistência à ditadura. A análise da repressão sofrida pela FALN, incluindo prisões, torturas e assassinatos, é fundamental para compreender as dificuldades enfrentadas pela organização e seus membros.
4. Mulheres na Resistência Armada Opressão Resistência e Luta contra o Machismo
Este tópico aprofunda a análise da experiência das mulheres dentro da luta armada contra a ditadura, incluindo a violência sexual sistemática na tortura, o discurso machista na esquerda e a luta pela participação em posições de comando. São apresentados relatos de mulheres que sofreram estupro durante a tortura, mostrando a especificidade da violência de gênero nesse contexto. A discussão aborda a pressão sobre as mulheres para se masculinizar, se adequarem aos padrões da guerrilha e a quase inexistência de mulheres em posições de liderança nas organizações. A resistência individual e coletiva de mulheres como Áurea Moretti, que se recusaram a delatar companheiros mesmo sob tortura extrema, é destacada. A pesquisa analisa como a maternidade também se tornava alvo de ódio por parte dos torturadores. A seção enfatiza a importância de considerar a resistência como um processo contínuo e complexo, que se estendeu além da luta armada, para a vida pessoal e profissional das militantes.
5. O Caso da Irmã Maurina e a Representação Midiática
Esta parte destaca o caso da Irmã Maurina, cuja prisão e tortura são analisadas em relação à sua atuação no Lar Santana e ao seu confronto com famílias influentes de Ribeirão Preto. A análise investiga a construção de uma narrativa negativa sobre a Irmã Maurina nos meios de comunicação da época, que a representava como desviante e perigosa. O episódio da excomunhão de delegados pela Igreja, devido à sua defesa dos presos políticos, incluindo Áurea Moretti e Irmã Maurina, ilustra a oposição de alguns setores da Igreja ao regime militar. A análise enfatiza o papel da grande imprensa, em especial o jornal O Globo, na criação de um discurso negativo sobre a esquerda e na legitimação da repressão estatal. A forma como a Irmã Maurina foi representada pela imprensa, destacando sua condição triplamente marginalizada (como comunista, mulher e religiosa), serve como exemplo do processo de desumanização e demonização dos opositores do regime.
II.Contexto Político e o Surgimento da Luta Armada
O primeiro capítulo contextualiza o golpe de 1964 e a implementação da ditadura, abordando o posicionamento da esquerda em relação à luta armada. A renúncia de Jânio Quadros e a posse de João Goulart são analisadas, assim como a Campanha da Legalidade liderada por Leonel Brizola. A crescente polarização política e a repressão do regime criaram um ambiente propício ao surgimento de grupos armados de esquerda, influenciados por revoluções em outros países da América Latina e lideranças como Fidel Castro e Che Guevara. O Partido Comunista Brasileiro (PCB) e sua posterior fragmentação são analisados, destacando a transição para a resistência armada como resposta à repressão.
1. O Golpe de 1964 e a Instauração da Ditadura Civil Militar
A seção inicia com a contextualização do golpe militar de 1964, marcando o início da ditadura civil-militar no Brasil. A renúncia do presidente Jânio Quadros em 1961 e a subsequente posse de João Goulart, representando partidos políticos opostos (UDN e PTB, respectivamente), criaram um cenário de instabilidade política. A posse de Goulart foi conturbada, com tentativas de impedimento por parte dos ministros militares, culminando na Campanha da Legalidade, liderada por Leonel Brizola, que garantiu a sua ascensão à presidência. A atmosfera política já carregada de tensão se intensificou com a proposta de reformas de base pelo governo Goulart, que incluíam a reforma agrária e a extensão de direitos aos subalternos das Forças Armadas. Essa proposta gerou forte reação das forças conservadoras, culminando na Marcha da Família com Deus pela Liberdade em São Paulo, um claro prenúncio do golpe que se seguiria em 1964. O texto aponta para a fragilidade da democracia brasileira e a consolidação de um contexto autoritário que permeou as décadas seguintes.
2. O PCB e a Transformação da Esquerda Da Ação Pacifista à Luta Armada
Esta seção analisa o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e sua posição diante do golpe de 64. O PCB, apesar de sua influência no movimento operário, estudantil e camponês, manteve uma linha de atuação pacifista e gradualista (etapismo), priorizando a conquista de objetivos políticos por meio de processos institucionais, antes de uma revolução socialista. A aliança do PCB com o governo Goulart é criticada por ter fragilizado sua posição de vanguarda política da esquerda e por ter negligenciado os aspectos negativos da política do então presidente. O texto destaca a incapacidade do PCB de preparar seus militantes para o golpe e a consequente fragmentação do partido após o evento. A seção detalha a dissolução do PCB e o surgimento de novas organizações de esquerda, como a ALN, o PCBR, o MR8, e as próprias FALN, todas adotando a luta armada como estratégia de resistência à ditadura. A decisão pela luta armada é contextualizada, refletindo tanto a repressão do regime quanto a influência de movimentos revolucionários internacionais.
3. Resistência em Ribeirão Preto e a Repressão do Regime
A seção explora o contexto da resistência em Ribeirão Preto, cidade que, apesar de seu caráter conservador, também testemunhou um significativo movimento de oposição ao governo Goulart e à ditadura. O texto destaca a atuação do MAD (Movimento Ativo Democrático), um grupo fascista que se opunha ao governo e que atuou na cidade através de panfletos e boicotes à imprensa. A repressão do regime se fez sentir intensamente na cidade, com o fechamento de jornais como 'A Palavra', 'Diário da Manhã' e 'Diário de Notícias'. Apesar da repressão, a resistência continuou, principalmente no meio estudantil, com ações como a organização de protestos e a produção de jornais alternativos. A divisão interna do PCB em Ribeirão Preto também é relatada, demonstrando a efervescência política na cidade e a transição de grupos políticos para a luta armada. A cidade se tornou um importante foco de atividade para as FALN. O acordo MEC-USAID é mencionado como um fator de agravamento das tensões, intensificando as mobilizações estudantis contra a ditadura.
III.As FALN Organização Atuação e Repressão
O segundo capítulo foca na FALN, sua formação, atuação e desmantelamento. O jornal 'O Berro', fundado em 1966 em Ribeirão Preto por Áurea Moretti, Nanci Marietto e Vanderley Caixe, é apresentado como ferramenta de propaganda e recrutamento. A análise demonstra a composição peculiar da FALN, com uma alta proporção de jovens, estudantes secundaristas e trabalhadores rurais. O capítulo descreve ações da organização, como a utilização de bombas e panfletos, focando no papel de 'O Berro' na disseminação da ideologia e na mobilização da população. A repressão do regime, incluindo prisões, torturas e assassinatos, é detalhada.
1. O Surgimento das FALN e o Papel de O Berro
Esta seção discute o surgimento das Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN) como uma organização armada de esquerda, surgida no contexto da ditadura civil-militar brasileira. A seção destaca a importância do jornal 'O Berro', fundado em 1966 em Ribeirão Preto por ex-membros do PCB, Áurea Moretti, Nanci Marietto e Vanderley Caixe. 'O Berro' atuou como um importante instrumento de comunicação e mobilização, não apenas em Ribeirão Preto, mas também em cidades vizinhas e até mesmo em outros estados. A publicação, apesar de sua natureza subversiva, circulava abertamente, utilizando o nome e o endereço de Vanderley Caixe, o que demonstrava a ousadia e a estratégia da organização em buscar ampla divulgação de suas ideias. O jornal desempenhou um papel crucial na formação e na atuação política do grupo, atuando como um veículo alternativo de imprensa em um período de forte censura.
2. Composição e Atuação da FALN
A seção descreve a composição e as ações da FALN. Marcelo Botosso destaca três características peculiares: a elevada porcentagem de membros com menos de 25 anos (61%), o alto número de estudantes secundaristas (24%), e a quantidade significativa de trabalhadores rurais (22%). Estas características diferenciam a FALN de outros grupos de esquerda armados da época. Suas ações incluíam a colocação de bombas em locais públicos, geralmente acompanhadas de panfletos, principalmente em cinemas de Ribeirão Preto, com o intuito de promover sua ideologia e não causar ferimentos. Um relato detalha uma ação em homenagem ao Che Guevara, em que bombas foram detonadas simultaneamente em vários cinemas, lançando panfletos. Essas ações demonstram uma estratégia de impacto e divulgação, explorando a mídia e a cultura popular para disseminar a mensagem da organização. A organização também preparava ações mais ousadas como sequestros e expropriações de dinamite.
3. A Repressão e o Desmantelamento da FALN
Este tópico analisa a repressão sofrida pela FALN pelo regime militar e seu consequente desmantelamento. A seção menciona a prisão de vários membros da organização, incluindo líderes importantes como Vanderley Caixe e Áurea Moretti. O relato de Jacob Gorender sobre sua experiência no presídio Tiradentes com vários membros da FALN mostra o perfil dos presos (maioria jovens e secundaristas). A descrição da prisão de vários membros da organização, a apreensão de documentos, inclusive um relatório elaborado por Áurea Moretti, e a menção de nomes de colaboradores demonstram a efetividade da repressão estatal. O uso frequente do termo 'terrorista' pela imprensa, principalmente após a instauração do AI-5, é analisado como uma estratégia para desqualificar o movimento e desviar o foco de sua dimensão política. O texto enfatiza a estratégia de repressão como um método para deslegitimar a luta armada e intimidar a população. A prisão e a tortura dos membros da FALN demonstram a força da repressão estatal e seu impacto na organização. A estratégia do regime de criminalizar o movimento e desqualificar sua luta política é evidenciada.
IV.As Mulheres nas FALN Opressão Resistência e Tortura
O terceiro capítulo aprofunda a participação das mulheres na luta armada, suas diferentes formas de atuação e as opressões sofridas, tanto pela ditadura quanto pelo machismo dentro das próprias organizações. A pesquisa explora a violência sexual durante a tortura como um método de humilhação e desumanização específico contra as mulheres. Os relatos de militantes, como Áurea Moretti, ilustram as experiências de tortura, prisão, e a resistência à pressão para delatar companheiros. A análise aborda a masculinização de algumas mulheres na tentativa de se adequarem aos padrões da guerrilha, assim como a quase inexistência de mulheres em posições de comando. A história da Irmã Maurina e a atuação da Igreja em Ribeirão Preto são também relevantes.
1. A Presença Feminina na Luta Armada Números e Contexto Social
Esta seção apresenta dados sobre a participação das mulheres na luta armada contra a ditadura, destacando que, embora em menor número que os homens, sua presença foi significativa e representou um ato de libertação. As militantes, provenientes principalmente do movimento estudantil, constituíam cerca de 18% dos integrantes dos grupos armados de esquerda. A maioria das mulheres processadas eram estudantes, professoras ou profissionais de nível superior, indicando uma predominância da classe média. Trabalhadoras rurais e urbanas também estavam presentes, demonstrando uma participação diversificada. Relatórios como o 'Brasil: Nunca Mais' apontam que 16% dos réus em processos políticos durante a ditadura eram mulheres, percentual que chega a 18,3% nos processos de guerrilha urbana. A análise aponta para a participação feminina na resistência como um marco de contestação à ordem estabelecida em todos os níveis, refletindo um processo de libertação e rompimento com a opressão de gênero.
2. Machismo na Esquerda e a Tentativa de Masculinização
A seção analisa a presença de discursos e práticas machistas dentro das organizações de esquerda, mostrando que a luta pela igualdade de gênero não estava isenta de contradições. Muitas mulheres, para se enquadrarem nos padrões da luta armada, tiveram que se masculinizar, buscando se igualar aos homens, considerados detentores de qualidades como coragem e força, características ideais para a guerrilha. O modelo de masculinidade seguido era frequentemente o de Marighella, líder da ALN. O texto destaca que algumas guerrilheiras tentavam se aproximar desse modelo masculino, acreditando que isso as tornaria mais eficazes nas ações militares. A quase inexistência de mulheres em posições de comando dentro dos partidos de esquerda é analisada como resultado do machismo estrutural, reforçando a ideia de que as mulheres eram vistas como menos aptas para a liderança, reforçando estereótipos de gênero, onde a mulher seria mais suscetível à tortura e delatação.
3. A Tortura e a Violência Sexual Contra as Mulheres Militantes
Esta parte aborda a experiência de tortura e violência sexual sofrida pelas mulheres militantes durante a ditadura. O texto enfatiza que a tortura tinha um caráter particular para as mulheres, explorando-se os padrões de conduta social e os estereótipos de gênero para intensificar a humilhação. A violência sexual era um método recorrente de tortura, usada para quebrar a resistência das mulheres. Relatos de ex-militantes, como Dulce Maria (VPR) e Gilse Cosenza (AP), descrevem experiências de estupro durante a tortura, juntamente com outros métodos cruéis como choque elétrico e pau-de-arara. A maternidade também se torna um alvo da violência, com relatos de ameaças contra as filhas das presas. A análise demonstra a intenção dos torturadores de não apenas extrair informações, mas de destruir a humanidade das mulheres, utilizando a violência sexual como instrumento de desumanização. O texto destaca a ausência de relatos de muitas mulheres que não sobreviveram à tortura, impossibilitando seus depoimentos.
4. A Resistência de Áurea Moretti e a Questionamento dos Estereótipos
A seção foca na experiência de Áurea Moretti durante a prisão e tortura, destacando sua resistência e recusa em delatar companheiros. Seu relato detalha as condições de tortura, incluindo a ameaça de violência sexual, e a sua firmeza em não ceder à pressão. A sua postura desafiou o estereótipo da mulher como 'sexo frágil' e menos resistente à tortura. A análise contrapõe a experiência de Áurea com a visão generalizada dentro das organizações de que as mulheres seriam mais propensas à quebra de resistência sob tortura, questionando a validade dessa crença. A reação de Mário Bugliani após a prisão de Áurea, marcada pelo sentimento de culpa, ilustra a persistência de preconceitos de gênero dentro do movimento. A análise do relato de Áurea questiona a eficácia dos estereótipos de gênero na predição do comportamento sob tortura. A coragem e a resistência de Áurea demonstram um rompimento com essas percepções, servindo como exemplo de força e determinação.
V.Figuras Importantes e Informações Adicionais
Ribeirão Preto: Cidade crucial para o estudo, servindo como base para as atividades da FALN, e palco de importantes eventos como a fundação do jornal 'O Berro' e as prisões de vários militantes. Áurea Moretti: Militante chave e fonte principal de informação para a pesquisa. Vanderley Caixe: Outro líder importante da FALN em Ribeirão Preto. Irmã Maurina: Freira presa pela sua ligação com a luta armada, seu caso gerou grande repercussão. 'O Berro': Jornal da FALN, importante ferramenta de divulgação e mobilização. Menções a outras figuras como Mário Bugliani, Laudelino Pires Filho, e a Comissão Nacional da Verdade também são importantes.
1. Áurea Moretti A Militante Central e sua Experiência
Áurea Moretti emerge como figura central na monografia, servindo como principal testemunho e referência para a análise da participação feminina na luta armada. Suas entrevistas, realizadas pela autora do trabalho, fornecem detalhes cruciais sobre a experiência de mulheres nas FALN, a dinâmica interna da organização, e a brutalidade da repressão estatal. O relato de Áurea sobre sua prisão, tortura e resistência é fundamental para a compreensão da temática. Sua trajetória pessoal, incluindo seus estudos de enfermagem e sua atuação posterior no Projeto Rondon e em trabalhos sociais, demonstra a resiliência e a continuidade de sua luta, mesmo após o fim da ditadura. A relação de Áurea com outros militantes, como Vanderley Caixe e Mário Bugliani, também é explorada, revelando tensões e dilemas inerentes à luta armada.
2. Ribeirão Preto Contexto Local e Atores Chave
Ribeirão Preto surge como um contexto fundamental para a pesquisa, servindo de base para as atividades das FALN e para a atuação de vários personagens. A cidade é apresentada como um espaço de contradições, com características conservadoras, mas também com forte resistência ao regime militar, especialmente no meio estudantil. Figuras como Vanderley Caixe e a Irmã Maurina são destacadas como atores-chave nesse cenário, ambos com histórias significativas que demonstram os desafios da resistência e a repressão sofrida. A União Geral dos Trabalhadores, sede do PCB na cidade, é mencionada como local de formação e organização política. O jornal 'O Berro' e sua divulgação em cidades da região como Franca, Cajuru, Bebedouro, Sertãozinho e outras, demonstram a extensão da atuação política da organização e seu alcance além do espaço urbano de Ribeirão Preto. O texto sugere uma relação entre a prisão da Irmã Maurina e seu enfrentamento com famílias influentes da cidade.
3. A Irmã Maurina A Freira Militante e a Reação da Igreja
A Irmã Maurina, Madre Superiora do Lar Sant’Ana, é apresentada como um caso emblemático da resistência, destacando a complexidade das relações entre fé, política e repressão. Sua prisão, possivelmente ligada a um conflito com famílias ricas da região devido à sua atuação no orfanato, gerou grande repercussão. O texto destaca a ação da Igreja em Ribeirão Preto, que se posicionou de forma uníssona contra a prisão e a tortura de vários membros das FALN, inclusive Áurea Moretti e Irmã Maurina, tendo o Arcebispo D. Felício da Cunha Vasconcelos um papel crucial nessa defesa. Essa posição inédita teve repercussão nacional e internacional. A narrativa em torno de sua prisão e supostos abusos sexuais é analisada, mostrando a tentativa de desqualificar a Irmã Maurina utilizando estereótipos sociais e religiosos. A reportagem do jornal O Globo é utilizada como exemplo da manipulação midiática no período.
4. Outras figuras relevantes e fontes utilizadas
A pesquisa se baseia em diversos autores e fontes, incluindo depoimentos e entrevistas. São citados Jacob Gorender (Combate nas Trevas), Marcelo Botosso, e Ridenti, além do relatório Brasil: Nunca Mais. Outros nomes importantes relacionados à FALN ou a movimentos políticos da época são mencionados, como Mário Alves, Carlos Marighella, Leonel Brizola, Laudelino Pires Filho, Guilherme Simões Gomes, Mário Bugliani, Luiz Gonzaga da Silva e outros militantes, destacando a rede de indivíduos e grupos envolvidos na resistência. A menção a Dona Glete Alcântara, que apoiou Áurea Moretti durante e após sua prisão, evidencia o apoio de outros indivíduos na luta contra a ditadura. O texto também menciona outras organizações de esquerda, como a ALN, VPR, MR-8, Colina e outras, destacando a fragmentação do movimento.