Memorial Waldir Rampinelli

Hist. América Latina: Memorial Acadêmico

Informações do documento

Autor

Waldir Rampinelli

instructor John Saxe-Fernández
Escola

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Curso História
Tipo de documento Memorial de Atividades Acadêmicas
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 1.47 MB

Resumo

I.O Subimperialismo Brasileiro e a América Latina 1964 1985

Este estudo analisa o papel do Brasil como potência subimperialista na América Latina entre 1964 e 1985. São analisadas as intervenções brasileiras em países como Bolívia (derrubada de Torres, exploração de recursos em Mutun), Uruguai (ameaça de invasão contra os Tupamaros) e o apoio à ditadura de Hugo Bánzer. A política externa brasileira, neste período, esteve intimamente ligada aos interesses dos Estados Unidos, buscando ampliar mercados, controlar matérias-primas e exportar capitais, influenciando eventos como a queda de Salvador Allende no Chile. O texto destaca a influência da ideologia de segurança nacional, em detrimento da autodeterminação dos povos, como elemento-chave na atuação brasileira na região. Palavras-chave: Subimperialismo brasileiro, América Latina, política externa, Estados Unidos, intervenção militar, segurança nacional, Bolívia, Uruguai, Chile.

1. Manifestações do Subimperialismo Brasileiro na Bolívia

O texto identifica a participação ideológica e logística do Brasil na derrubada do governo de Torres na Bolívia como uma demonstração de subimperialismo. Essa ação é descrita como mais contra-revolucionária do que a própria postura dos Estados Unidos. Além disso, o texto aponta para a apropriação das reservas de ferro de Mutun e do gás boliviano pelo Brasil, antes mesmo da Argentina, e a concessão de créditos pelo Banco do Brasil ao ditador Hugo Banzer como exemplos dessa política intervencionista. A exploração de recursos naturais de outros países e a atuação contra movimentos populares são destacadas como características centrais dessa política subimperialista brasileira na Bolívia. A frase 'assumindo uma atitude mais contra revolucionária que os próprios Estados Unidos' sintetiza a postura agressiva e intervencionista do Brasil na região, em busca de seus próprios interesses econômicos e geopolíticos em detrimento da soberania boliviana.

2. Intervenção Brasileira no Uruguai e a Petrobrás

A intenção do Brasil de invadir o Uruguai, caso o governo não controlasse o grupo guerrilheiro Tupamaro, demonstra a disposição de usar a força militar para garantir seus interesses na região. Essa ação planejada revela uma postura intervencionista e agressiva, típica do subimperialismo. Paralelamente, a ambição da Petrobrás em controlar o subsolo uruguaio reforça a estratégia de apropriação de recursos naturais de países vizinhos. O texto destaca a ambição de domínio sobre recursos estratégicos e a disposição de intervenção militar como elementos cruciais da política externa brasileira, buscando hegemonia regional em detrimento da soberania uruguaia e a clara intenção de dominar os recursos energéticos da nação vizinha. A pretensão da Petrobrás evidencia a combinação de poder econômico e potencial militar no projeto subimperialista.

3. O Brasil os Estados Unidos e a Queda de Salvador Allende

A participação brasileira nos eventos que antecederam, durante e após a queda de Salvador Allende no Chile reforça a conexão da política externa brasileira com os interesses estadunidenses. O texto sugere uma cooperação entre os dois países na desestabilização do governo chileno. Essa colaboração demonstra a subordinação da política externa brasileira aos interesses norte-americanos, caracterizando uma forma de subimperialismo. A criação de uma zona de segurança pelos países do Cone Sul, liderada pelo Brasil, com o objetivo de eliminar movimentos organizados, indica uma política de repressão a qualquer oposição aos interesses dos Estados Unidos e do próprio Brasil na região. A menção à queda de Allende sublinha a instrumentalização da política externa brasileira em favor de interesses imperialistas, comprometendo a soberania e a autonomia política de nações latino-americanas.

4. A Política Externa Brasileira Mercados Matérias Primas e Exportação de Capitais

A política externa brasileira, no período analisado, tinha como objetivos principais a ampliação de mercados para seus produtos manufaturados, o controle de fontes de matérias-primas e a exportação de capitais. Essa política se dava, muitas vezes, em associação com grupos financeiros estrangeiros, reforçando a dependência econômica e a subordinação a interesses externos. A exportação de capitais brasileiros, principalmente através do Estado, visava à exploração das riquezas de outros países, demonstrando o caráter exploratório do subimperialismo brasileiro. O texto sublinha que a política externa brasileira estava diretamente ligada aos interesses dos Estados Unidos, buscando partilhar zonas de influência na região e consolidar uma posição dominante, confirmando a tese do subimperialismo como um mecanismo para o Brasil expandir sua influência na América Latina em detrimento da soberania de outros países.

II.A Revolução Mexicana e sua Influência Continental

A Revolução Mexicana de 1910 é apresentada como um marco na história da América Latina, com alcance nacional, continental e mundial, impactando a economia, a política, a diplomacia e as relações entre Estado e Igreja. A Constituição Mexicana de 1917, considerada avançada para a época, influenciou outras constituições latino-americanas. O texto destaca a obra de Friedrich Katz, La guerra secreta en México, para analisar as disputas entre México, Estados Unidos e potências europeias antes e durante a revolução, e a estratégia mexicana de diversificar investimentos para se afastar da influência norte-americana. Palavras-chave: Revolução Mexicana, América Latina, Friedrich Katz, Estados Unidos, Constituição de 1917, política, economia, diplomacia.

1. A Revolução Mexicana Um Marco na História da América Latina

O texto apresenta a Revolução Mexicana de 1910 como um evento de grande impacto, com repercussões nacionais, continentais e globais. Apoiando-se na obra de Friedrich Katz, La guerra secreta en México, o autor argumenta que a revolução ultrapassou suas fronteiras físicas, gerando mudanças significativas na economia, política, diplomacia, sociocultura e nas relações entre Estado e Igreja. A revolução é comparada com as revoluções Francesa e Russa, destacando-se sua importância na derrocada da hegemonia oligárquica e sua substituição por uma burguesia agrária. A Constituição Mexicana de 1917, considerada a mais avançada do mundo na época em termos de conquistas sociais e afirmação do Estado laico, influenciou profundamente as constituições de outros países latino-americanos, consolidando o alcance transformador da revolução mexicana no contexto latino-americano.

2. Disputas Internacionais e a Ditadura de Porfírio Díaz

As disputas e rivalidades entre potências mundiais no México, especialmente entre os Estados Unidos e a Europa, são analisadas no contexto que antecedeu a Revolução Mexicana. A ditadura de Porfírio Díaz, buscando reduzir a dependência de investimentos estadunidenses, tentou aproximar-se de capitais europeus. Essa estratégia irritou profundamente o governo de Washington, que, baseado em seu 'destino manifesto', considerava o México como parte de sua esfera de influência. O texto cita Friedrich Katz para explicar as razões da estratégia de afastamento dos investimentos americanos por parte da elite mexicana: maior envolvimento com europeus, maior flexibilidade das companhias europeias em parcerias e a incompatibilidade do domínio estadunidense com o conceito de desenvolvimento econômico dos 'científicos' mexicanos. A famosa frase atribuída a Díaz, 'O México está tão longe de Deus e, ao mesmo tempo, tão perto dos Estados Unidos', resume a complexa relação entre o México e os seus vizinhos poderosos.

III.O Brasil e a Questão Colonial Portuguesa

O texto analisa a complexa relação entre o Brasil e Portugal no contexto da descolonização africana. Inicialmente, sob governos como o de Juscelino Kubitschek, o Brasil apoiou a posição portuguesa na ONU. No entanto, com Jânio Quadros e, posteriormente, João Goulart, o Brasil mudou sua postura, votando a favor da autodeterminação das colónias portuguesas. A análise considera as razões políticas e econômicas por trás dessas mudanças, incluindo a concorrência do café africano e a pressão dos produtores brasileiros. O apoio de Salazar aos EUA contra o comunismo também é abordado. Palavras-chave: Brasil, Portugal, descolonização, África, política externa, Jânio Quadros, João Goulart, Juscelino Kubitschek, António de Oliveira Salazar, ONU, comunismo.

1. O Apoio Inicial do Brasil à Posição Portuguesa na ONU

Inicialmente, o Brasil apoiou a posição portuguesa na ONU, principalmente na Quarta Comissão, onde se debatia a questão colonial. O representante brasileiro chegou a afirmar que 'tocar em Portugal era tocar no Brasil', endossando a tese de Salazar de que Portugal não possuía colónias, mas sim províncias ultramarinas. Essa posição foi mantida em sessões subsequentes da Assembleia Geral das Nações Unidas, com o Brasil votando contra a prestação de informações sobre os territórios ultramarinos portugueses. Em 1960, o embaixador brasileiro Freitas Vale atacou a proposta soviética pela independência imediata de todos os territórios não-autônomos, demonstrando uma forte aliança com Portugal contra movimentos de descolonização. Este apoio inicial demonstra uma convergência de interesses entre Brasil e Portugal, principalmente em relação à manutenção do 'status quo' colonial.

2. As Mudanças na Política Externa Brasileira sob Jânio Quadros e João Goulart

As primeiras mudanças na política externa brasileira em relação ao colonialismo português ocorreram com o governo de Jânio Quadros. A concorrência do café africano, produzido a baixo custo devido à exploração de mão de obra africana, gerou crise no setor cafeeiro paulista, ao qual Quadros estava ligado. A recusa de Portugal em aceitar uma proposta brasileira de associação com os produtores de Angola aumentou a animosidade contra a política ultramarina portuguesa. Sob João Goulart, o Brasil votou favoravelmente a uma resolução da ONU que solicitava a Portugal o reconhecimento imediato do direito à autodeterminação e independência de suas colónias, marcando uma mudança significativa na postura brasileira em relação à questão colonial, contrastando com o apoio dado durante o governo de Juscelino Kubitschek. A mudança de postura refletia uma mudança ideológica em relação ao colonialismo.

3. A Ambiguidade da Política Externa Brasileira durante a Ditadura Militar

Após o golpe de Estado de 1964, a política externa brasileira, embora mantivesse uma postura anticolonial, passou a apresentar ambiguidade em relação ao colonialismo português. A prioridade da luta contra o comunismo internacional levou a uma aproximação estratégica com Salazar, que era visto como um aliado contra a influência soviética. Os Estados Unidos, nesse contexto, mantinham bases militares nos Açores, demonstrando a importância estratégica da aliança com Portugal. Apesar de uma viagem do Ministro das Relações Exteriores, Mário Gibson Barboza, à África para aproximar o Brasil do continente, os governos de Castello Branco, Costa e Silva, a Junta Militar e Médici mantiveram uma postura ambígua em relação ao colonialismo português. Somente com o governo Geisel se deu o reconhecimento da independência de Angola e Moçambique, mostrando a complexidade e os interesses em jogo na relação entre Brasil e Portugal.

IV.A Universidade Brasileira e o Colonialismo Cultural

Este segmento discute o papel da universidade brasileira no contexto da dependência e do colonialismo cultural. O autor critica a subordinação do pensamento acadêmico a padrões norte-americanos e europeus, contrastando o florescimento intelectual anterior com a atual estagnação, utilizando a perspectiva de Ruy Mauro Marini. A importância de intelectuais que promovam a crítica social e o debate é enfatizada, citando Edward Said e Milton Santos. A falta de crítica e o medo dentro dos campi universitários são destacados como problemáticos. A obra de Darcy Ribeiro sobre a “universidade necessária” é mencionada como um ideal a ser buscado. Palavras-chave: Universidade brasileira, colonialismo cultural, dependência, Ruy Mauro Marini, Edward Said, Milton Santos, Darcy Ribeiro, crítica social, academia.

1. O Florescimento Intelectual e sua Posterior Estagnação

O texto contrasta um período de extraordinário florescimento intelectual nas ciências sociais brasileiras com a pobreza teórica e o formalismo acadêmico subsequentes. Ruy Mauro Marini é citado como referência para explicar o auge anterior, destacando fatores como instabilidade política devido a ditaduras de segurança nacional, expansão econômica com investimentos em universidades públicas e centros de pesquisa, e o crescimento das ciências humanas com foco no desenvolvimento e subdesenvolvimento. Questões cruciais sobre as causas do subdesenvolvimento, obstáculos ao desenvolvimento e tipos de desenvolvimento viáveis foram debatidas intensamente por uma intelectualidade brasileira e latino-americana. Essa vitalidade intelectual é contrastada com a subordinação atual do pensamento a padrões estadunidenses e europeus, representando uma reversão de tendências e uma 'anemia da capacidade criadora'.

2. Colonialismo Cultural e a Necessidade de Intelectuais Críticos

A subordinação do pensamento às normas estrangeiras é interpretada como um retorno ao colonialismo cultural, refletindo a estagnação econômica e a desagregação social. A sociedade brasileira, segundo o texto, necessita de intelectuais que tornem públicos e elucidem criticamente os conflitos impostos pelo sistema capitalista. Edward Said é citado, enfatizando a necessidade de desafiar o silêncio e a quietude normalizada do poder invisível, superando o medo, principalmente nos campi universitários. Milton Santos é mencionado por seu alerta de que a universidade só sobrevive se aceitar críticas internas; caso contrário, condena-se ao silêncio e à morte. A falta de crítica social e a complacência no meio acadêmico são consideradas nocivas à construção de uma universidade vital para o Brasil e a América Latina.

3. A Universidade Brasileira e seu Distanciamento das Funções Sociais

O texto argumenta que a universidade brasileira, apesar da luta pela manutenção de seu caráter público e gratuito, está longe de cumprir as funções que uma instituição desse tipo requer em sociedades dependentes e marcadas pela desigualdade e submissão ao imperialismo. A produção científica, o conhecimento e a tecnologia gerados, em muitos casos, fortaleceram a condição periférica do país, com os alunos atuando como reserva de mão de obra para empresas nacionais e multinacionais. A crítica se estende à falta de crítica social e à complacência dos professores, indicando um colonialismo cultural que se manifesta mesmo em períodos de 'bonança financeira'. A miséria intelectual é vista não apenas como produto de limitações econômicas, mas também como resultado da dependência e do colonialismo cultural consolidado ao longo da história.

V.A Teologia da Libertação e a Ação Social

A experiência do autor com a Teologia da Libertação na década de 1960 é descrita, mostrando sua influência em sua formação intelectual e seu envolvimento em ações sociais no Paraná e em Imaruí (SC). O papel dos intelectuais na atuação dialética na sociedade é enfatizado, assim como a importância do Concílio Vaticano II e do Encontro de Medellín. A atuação de figuras como Leonardo Boff, Clodovis Boff, Dom Pedro Casaldáliga, e Padre Francisco Vandervather é mencionada. O texto aborda a luta contra a ditadura militar e por justiça social, com exemplos da atuação em comunidades locais. Palavras-chave: Teologia da Libertação, Concílio Vaticano II, Encontro de Medellín, ação social, justiça social, Paraná, Imaruí, Leonardo Boff, Clodovis Boff, Dom Pedro Casaldáliga.

1. Primeiros Contatos com a Teologia da Libertação

O autor relata seus primeiros contatos com a Teologia da Libertação em meados da década de 1960, após o Concílio Vaticano II, quando a Igreja Católica passou a ter uma 'opção preferencial pelos pobres'. Citando Saramago, o texto sugere que a Igreja, ao focar excessivamente no céu, deixou de lado sua própria luz. O Encontro de Medellín (1968), promovido pelo Conselho Episcopal Latino-Americano, radicalizou a necessidade de um Deus transformador e libertador. A influência dos teólogos Leonardo e Clodovis Boff, e a atuação político-pastoral de bispos como Dom Pedro Casaldáliga, são mencionadas como exemplos dessa teologia em ação. A formação de uma consciência social e coletiva é descrita, onde o teólogo era visto como um intelectual atuando dialeticamente na sociedade.

2. Ação Pastoral e Conscientização Social no Paraná e Imaruí SC

O autor descreve sua participação, como estudante de filosofia e teologia, na organização de cursos sobre realidade social e transformação social no sudoeste do Paraná, durante os meses de janeiro e fevereiro. Essa região era marcada pela grilagem de terras durante o governo de Moisés Lupion. Os cursos, com duração de uma semana em cada cidade, visavam criar consciência política e social nas lideranças locais, lutando contra a ditadura militar, pelo retorno da democracia e por uma distribuição justa de riqueza. Posteriormente, como presbítero em Imaruí (SC), o autor enfrentou uma oligarquia que governava o município desde 1930, nomeada por Getúlio Vargas. A oposição era duramente reprimida, com assassinatos registrados no Livro Tombo da Paróquia de São João Batista, revelando o controle da oligarquia sobre os três poderes e a influência do poder regional sobre o local.

3. EFAPI e a Busca pela Mudança Social em Imaruí

Em Imaruí, a EFAPI (Escola de Formação de Agentes Pastorais) iniciou um processo de conscientização da população, com líderes locais disseminando a mensagem da mudança social para vivenciar um Deus Libertador. Um programa diário na rádio “26 de Abril” reforçava essa visão, ao lado de catequistas, igrejas, sindicatos rurais e os presbíteros da paróquia. A luta pela liberdade e a superação do medo não significava apenas a escolha livre de candidatos, mas também a libertação da exploração econômica pelos atravessadores. A citação de Augusto Roa Bastos sobre a memória do medo e a superação deste é utilizada para ilustrar o processo de empoderamento da comunidade. A atuação do autor nesse contexto revela o impacto da Teologia da Libertação na vida de comunidades locais e sua capacidade de mobilização social.

VI.O México como Centro de Estudos Latino Americanos

O México é apresentado como um local crucial para os estudos latino-americanos, devido à sua história e à intensa atividade intelectual. O autor menciona sua experiência de mestrado na UNAM, destacando professores como Agustín Cueva e Gregório Selser, e a importância de eventos acadêmicos e políticos que presenciou no país. São mencionados encontros com figuras importantes como Francisco Julião, Daniel Ortega, e Dom Mendes Arceu. A experiência ressalta a rica troca intelectual e a importância do debate de ideias. Palavras-chave: México, UNAM, estudos latino-americanos, Agustín Cueva, Gregório Selser, Francisco Julião, Daniel Ortega, Dom Mendes Arceu.

1. O México como Local de Importância para Estudos Latino Americanos

O autor destaca a importância do México para os estudos latino-americanos, apontando que sua experiência de mestrado na UNAM (Universidade Nacional Autônoma do México) foi marcante. Essa importância é justificada pela intensa atividade intelectual e histórica do país. O autor realizou seu mestrado em Estudos Latino-Americanos, com foco em História, na Faculdade de Ciências Políticas e Sociais (FCPyS) da UNAM, sendo aprovado com menção honrosa e recebendo a medalha Gabino Barreda. Sua dissertação, defendida em 1991, teve a orientação do professor John Saxe-Fernández, autor de uma importante obra sobre as relações dos Estados Unidos com a América Latina, especialmente sobre o uso estratégico do petróleo mexicano para interesses militares do Pentágono. A escolha do México para seus estudos demonstra a relevância da nação no contexto acadêmico latino-americano.

2. Experiência Acadêmica e Contatos Intelectuais no México

A experiência no México incluiu a convivência com renomados professores, como Agustín Cueva (equatoriano), autor de O desenvolvimento do capitalismo na América Latina, e Gregório Selser (argentino), jornalista que entrevistou figuras importantes da esquerda latino-americana, como Che Guevara e Fidel Castro, e autor da Enciclopédia das intervenções estrangeiras na América Latina. O autor descreve a atmosfera acadêmica vibrante, com cursos de curta duração, lançamentos de livros com palestras dos autores, conferências magistrais e a presença de intelectuais importantes e exilados. São mencionados encontros com Francisco Julião (líder das Ligas Camponesas do Brasil), Daniel Ortega (presidente da Nicarágua), Dom Mendes Arceu (bispo de Cuernavaca), e André Gunder Frank (criador da teoria marxista da dependência). Esses contatos enriqueceram seus estudos e pesquisas, demonstrando a riqueza do ambiente intelectual mexicano.

3. Influência do México na Trajetória Acadêmica do Autor

O México teve uma profunda influência na vida acadêmica, política e intelectual do autor. Após seu mestrado, ele voltou ao Brasil com o desejo de aprofundar os estudos latino-americanos na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Conseguiu atrair professores mexicanos para a UFSC, incluindo o politólogo Luís Javier Garrido e os filósofos Bolívar Echeverría, Adolfo Sánchez Vásquez e Enrique Dussel. A organização anual de simpósios internacionais, com o apoio da Associação dos Professores da UFSC, programas de pós-graduação e sindicatos de Florianópolis, demonstra o sucesso em ampliar os estudos latino-americanos na instituição. A experiência no México, portanto, foi fundamental para a construção de sua trajetória acadêmica e seu compromisso com os estudos latino-americanos.

VII.O NEHAL e a Pesquisa em História Latino Americana

A atuação do autor no NEHAL (Núcleo de Estudos da História da América Latina) na UFSC é descrita, destacando a abordagem interdisciplinar e o estudo do cotidiano na perspectiva da história social. A importância da Escola dos Annales e a análise de eventos como a Revolução Cubana, a Guerra do Contestado e a Revolta da Cabanagem são mencionadas. O foco está na análise de mudanças conjunturais e estruturais na América Latina, considerando temas como imperialismo, colonialismo, democracia, ditadura, e a resistência popular. Palavras-chave: NEHAL, UFSC, história latino-americana, Escola dos Annales, Revolução Cubana, Guerra do Contestado, Revolta da Cabanagem, história social, imperialismo, colonialismo.

1. NEHAL Abordagem Interdisciplinar e o Estudo do Cotidiano

O Núcleo de Estudos da História da América Latina (NEHAL), na UFSC, é apresentado como um espaço de pesquisa interdisciplinar. A abordagem do NEHAL se diferencia da história tradicional, buscando superar a narrativa centrada em eventos políticos e militares protagonizados por grandes homens. Influenciado pela Escola dos Annales, o NEHAL busca integrar as ciências humanas na compreensão da história, embora reconhecendo os excessos do Annales em desconsiderar eventos relevantes. O estudo do cotidiano é destacado como fundamental, porém condicionado pela formação social, estrutura e dominação de classe, e relações de gênero. A perspectiva de análise é contextualizada pelo imperialismo, colonialismo, democracia e ditadura, buscando entender as mudanças conjunturais e estruturais que geram o novo na América Latina.

2. Temas de Pesquisa do NEHAL e a Longa Duração

O NEHAL se dedica ao estudo de temas como a Revolução Cubana e sua resistência ao imperialismo estadunidense; a Guerra do Contestado e a luta pela reforma agrária; e a Revolta da Cabanagem e seu caráter de conflito de classes. Essa escolha demonstra a ênfase em analisar eventos que foram produtores de mudanças significativas, dentro de uma perspectiva de longa duração, contrária à história tradicional. A análise da relação entre a vida diária e a formação social é fundamental, considerando a influência da estrutura de classe e das relações de gênero na experiência das pessoas. O exemplo da opressão sofrida por mulheres de diferentes classes sociais ilustra a complexidade dessa análise. O objetivo é compreender a dinâmica social e política latino-americana a partir de uma perspectiva crítica e abrangente.

3. O NEHAL e a Descolonização da Mente na América Latina

O NEHAL se dedica ao estudo de processos de refundação das repúblicas latino-americanas, com a incorporação da plurinacionalidade, pluriculturalidade, plurietnicidade, poder popular, justiça comunitária e defesa das riquezas nacionais. Como exemplo, a constituição boliviana é mencionada por adotar modos de produção não capitalistas, como o ayllu. Esse processo de descolonização da mente e redescoberta da própria história é visto como um desafio aos interesses dos Estados Unidos. O Documento de Santa Fé II (estratégia para a América Latina na década de 1990) é citado, mostrando a preocupação do Departamento de Estado com o 'matrimônio do comunismo com o nacionalismo na América Latina', que é visto como um grande perigo. O trabalho do NEHAL se alinha, portanto, a uma perspectiva de transformação social e de superação da dependência.