O contributo da expressão musical nos primeiros anos da Educação Básica

Expressão Musical na Educação Básica

Informações do documento

Autor

Joana Mendonça Marques

instructor Professora Doutora Isabel Condessa
Escola

Universidade dos Açores, Departamento de Ciências da Educação

Curso Educação Pré-escolar e Ensino do 1º Ciclo do Ensino Básico
Ano de publicação 2011/2012
Tipo de documento Relatório de Estágio
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 416.27 KB

Resumo

I.A Formação Contínua do Professor e a Educação Musical

Este estudo investiga a importância da formação contínua do professor para o sucesso na educação básica, com foco na educação musical (Expressão Musical). A pesquisa destaca a necessidade de uma formação que vá além da teoria, integrando a análise de experiências práticas em sala de aula, observação de professores experientes, e reflexão sobre a própria prática pedagógica. Autores como Cró, Perrenoud, Postic, Barnes, e García são citados para fundamentar a importância da aprendizagem contínua e da adaptação a diferentes contextos educativos e alunos com necessidades especiais, além do desenvolvimento de competências essenciais, incluindo a gestão de tempo e recursos, e a criatividade na educação.

1. A Importância da Formação Inicial e Contínua

O texto inicia enfatizando a crucialidade da formação, tanto inicial quanto contínua, para educadores e professores. Cró (1998) destaca o papel do educador como aquele que, com empenho, vontade, arte e competência, trabalha na realização de um projeto educativo, aproveitando recursos para otimizar o processo pedagógico. A formação, segundo o texto, não se limita a fornecer respostas prontas, mas sim a dotar o educador de recursos para analisar e enfrentar diversas situações. Perrenoud (1993) é citado para apoiar a ideia de uma formação que capacite o professor a lidar com a diversidade de situações em sala de aula. Postic (1990) ressalta a adaptação progressiva do educador às reações dos alunos, mostrando a importância de experiências diversificadas para a construção de uma sólida bagagem profissional. A citação de Barnes (1991, via García, 1999) reforça a necessidade da análise de experiências em sala de aula, observações de professores experientes e reflexões sobre a própria prática como pilares da formação. A formação, portanto, é vista como um processo de construção pessoal e experiencial, resultando em modificações de comportamento estáveis (Tavares & Alarcão, 2005), um processo contínuo e ilimitado.

2. A Teoria e a Prática Pedagógica Uma Relação Dinâmica

O documento argumenta que a teoria, apesar de importante, não substitui a prática. García (1999) afirma que nenhuma teoria pode guiar completamente a prática do ensino. A formação docente deve, portanto, integrar a experiência prática, a reflexão sobre a mesma, e a adaptação do currículo às necessidades específicas dos alunos. A formação é compreendida como um processo de aprendizagem contínua, uma construção pessoal baseada em experiências, que resulta numa mudança de comportamento consistente (Tavares & Alarcão, 2005). O texto contrapõe a visão tradicional, que limita a aprendizagem à recepção passiva de conteúdos, com uma perspectiva construtivista, que defende a autonomia do aluno na busca do conhecimento (Cabanas, 2002). A escola é vista como um agente fundamental na formação do professor, devendo haver uma sinergia entre o desenvolvimento de ambos, criando um ambiente de colaboração e aprendizagem em sala de aula (García, 1999). Pacheco (1995) resume a natureza da formação como uma mudança para novos saberes e uma nova compreensão do contexto educativo. A necessidade de adaptação às mudanças constantes do meio e a busca contínua pelo aperfeiçoamento profissional são enfatizadas (Machado, 2007).

3. Formação e Adaptação a Contextos Diversos e Necessidades Especiais

O texto salienta a importância de preparar os educadores para lidar com a diversidade em sala de aula, incluindo alunos com necessidades especiais. A competência em matérias escolares, por si só, é insuficiente, principalmente em salas de aula culturalmente diversificadas (Arends, 2008). As escolas utilizam instrumentos como os Projetos Educativos de Escola (PEE), Projetos Curriculares de Escola (PCE) e Projetos Curriculares de Grupo/Turma (PCG/T) para melhor gestão curricular e socialização, promovendo uma educação que incorpore diferentes culturas e a democracia (Leite, Gomes & Fernandes, 2002). A ênfase é colocada na mediação partilhada e participada do currículo, envolvendo docentes, alunos, famílias e comunidade, superando a mediação individualista, através do desenvolvimento de um projeto educativo/curricular que define a identidade da escola-comunidade educativa (texto, p. 12). A discussão inclui a importância do desenvolvimento da criatividade, refutando a ideia de que ela é inata, e sublinhando a necessidade de incentivá-la através de atividades práticas, especialmente as expressões artísticas (Woods, 1999). A capacidade de reconhecer e aprender com os erros é apresentada como um elemento fundamental na construção da criatividade (Robinson, 2011).

II.O Papel da Expressão Musical no Desenvolvimento da Criança

A pesquisa argumenta a importância da expressão musical como ferramenta chave para o desenvolvimento da criança na educação básica. O texto enfatiza a necessidade de integrar a música na educação, desmistificando a ideia de que a criatividade é inata e promovendo sua aprendizagem através de atividades práticas que estimulam a imaginação e a interação com outras áreas curriculares. Autores como Robinson, Woods, e Snyders sustentam a ideia de que a música promove a criatividade, o pensamento crítico, e a interdisciplinaridade. A importância da escuta ativa e da avaliação formativa são igualmente destacadas como aspectos cruciais da educação musical eficaz.

1. A Criatividade e a Expressão Através da Música

A seção discute o papel da expressão musical no desenvolvimento da criatividade infantil. Contrariando a ideia de que a criatividade é inata, o texto argumenta que ela pode ser desenvolvida, principalmente com incentivo. As expressões artísticas, incluindo a música, são apontadas como meios eficazes para o desenvolvimento da criatividade, habilidades mentais e capacidade de criação (Woods, 1999). A educação, segundo o texto, muitas vezes desrespeita a criatividade das crianças, levando à perda gradual do entusiasmo ao longo do percurso escolar. Esta situação é atribuída à falta de atividades relacionadas com as expressões artísticas e sua integração com outras áreas curriculares. A expressão vai além das palavras; ações como melodias, danças e pinturas podem expressar sentimentos que as palavras não conseguem, fomentando a criatividade (texto). Robinson (2011) é citado para reforçar a importância do erro no processo criativo, argumentando que a capacidade de errar é essencial para a originalidade. Aprender com erros e aperfeiçoar o trabalho são etapas importantes no processo criativo, e pessoas de sucesso muitas vezes erraram antes de alcançar seus objetivos.

2. A Música na Educação Além da Técnica

O texto destaca a importância de se valorizar a música na educação, e não apenas a educação musical em si. O foco deve estar nos benefícios da expressão musical para o desenvolvimento da criança, e não apenas nos aspectos técnicos da música (Levitin, 2007). A autora enfatiza a necessidade de distinguir entre música e sons aleatórios, salientando a importância da combinação dos atributos musicais e suas relações (Levitin, 2007). A falta de informação e intuição de alguns professores pode afetar o ensino da música, às vezes confundindo as crianças (Gainza, 1988). A formação insuficiente tanto de educadores de infância como de professores de música é apontada como um problema (Peery, 2010), mas sugere-se uma colaboração entre ambos para melhoria do ensino. Bréscia (2003) destaca a responsabilidade do professor de classe pelo ensino das artes, incluindo a música, ressaltando a necessidade de investimento em formação docente, especialmente em escolas públicas, onde a educação musical integral da criança não é prioridade, mesmo com os conhecidos benefícios afetivos, cognitivos e sociais do aprendizado da música (Bréscia, 2003).

3. Integração da Expressão Musical no Currículo e Desenvolvimento Curricular

O texto defende a integração da expressão musical com outras áreas do currículo. A colaboração entre educadores e professores de música é essencial para maximizar os benefícios da música para as crianças, já que os professores de música possuem a técnica, enquanto os educadores têm melhor conhecimento do desenvolvimento infantil e suas necessidades (Peery, 2010). O Referencial Curricular para a Educação Básica na Região Autónoma dos Açores (2011) é mencionado como um exemplo de documento que aborda a educação musical de forma abrangente, integrando-a às expressões artísticas e enfatizando a transversalidade e a construção de um perfil de aluno competente (texto, p. 86-87). O desenvolvimento musical da criança ocorre através de interações sensoriais, envolvendo audição, visão e tato (Ferrão & Rodrigues, 2008). A educação pré-escolar e o 1º CEB devem se complementar, com o professor do 1º CEB dando sequência ao trabalho anterior, adaptando-o às necessidades das crianças (texto). A educação através da arte, incluindo a música, é vista como um veículo para aprender conteúdos de outras disciplinas e demonstrar resultados educacionais (Sousa, 2010), promovendo a interdisciplinaridade e o melhor aproveitamento das outras áreas curriculares (Snyders, 2008).

III.Desafios e Práticas em Sala de Aula Pré escolar e 1º CEB

A experiência de estágio em pré-escolar e 1º CEB demonstra os desafios e as oportunidades de integrar a educação musical no contexto da sala de aula. O estudo destaca a importância de atividades que promovam a aprendizagem significativa, a interação entre alunos, e o desenvolvimento de competências sociais. A implementação de projetos educativos, a adaptação do currículo às necessidades individuais dos alunos, e a articulação entre diferentes áreas do conhecimento são discutidas. A pesquisa aborda a utilização de metodologias inovadoras e a importância da colaboração entre professores de música e educadores de infância. O método MEM (caso seja um método específico), é mencionado como uma abordagem pedagógica aplicada no 1º CEB.

1. Experiência no Pré Escolar Atividades e Desafios

A experiência de estágio na educação pré-escolar é descrita, focando-se nas atividades desenvolvidas e nos desafios encontrados. A autora relata a implementação de tarefas rotineiras para as crianças, como ser presidente da sala, marcar faltas e fazer o sumário. A função de presidente, em vez de ser de chefia, era de auxiliar os colegas, lembrar tarefas, ajudar os mais novos e tentar resolver conflitos, sempre com a educadora como figura de autoridade. A autora menciona dificuldades em captar a atenção de todas as crianças, sugerindo a necessidade de mais dinamismo e cuidado nas atividades. Apesar dos desafios, a experiência foi positiva, demonstrando a possibilidade de interdisciplinaridade através da educação musical, mesmo com atrasos e necessidade de adaptação de atividades. O desenvolvimento de conteúdos musicais ocorreu de forma implícita, preparando as crianças para conteúdos mais aprofundados no futuro. A autora utiliza a experiência como forma de refletir sobre a própria atuação, buscando aperfeiçoar sua prática pedagógica e avaliação das crianças. A menção de crianças americanas falando português fluentemente em uma das atividades demonstra a diversidade do ambiente da sala de aula.

2. Experiência no 1º CEB e o Modelo Pedagógico MEM

A experiência no 1º Ciclo do Ensino Básico (1º CEB) é descrita, destacando a ansiedade inicial em relação à primeira experiência com uma turma, regida pela proposta pedagógica do MEM (cujo significado não é explicitado no texto). A autora, apesar do receio, reconhece o potencial motivacional do método, promovendo um ensino mais dinâmico e centrado nos alunos, criando envolvimento afetivo e confiança em grupo (González, 2002). Uma atividade específica, na qual as crianças identificavam instrumentos musicais ausentes, é descrita, com observações sobre a participação e desempenho dos alunos, incluindo algumas dificuldades por falta de concentração. A autora compara o programa com a prática, observando a subvalorização de um eixo curricular específico, relacionado à escuta ativa e exploração de sons, que deveria ser mais valorizado além dos momentos de silêncio (Orientações curriculares do Ministério da Educação, 2007). A ausência de atividades com criação de instrumentos musicais é mencionada, e a autora reflete sobre como poderia ter enriquecido a experiência, sugerindo, por exemplo, uma visita de estudo.

3. Trabalhos por Projeto e o Desafio da Orientação

O trabalho em projetos, proposto e gerido pelas crianças, é apresentado como uma metodologia positiva para a aprendizagem, promovendo cooperação, responsabilidade e gestão de tempo. Apesar dos benefícios, a autora expressa insegurança na orientação das crianças, particularmente no 1º CEB, e o medo de não estar a orientar da melhor forma. A experiência destaca a importância de educar as crianças para a curiosidade e autonomia, buscando suas próprias respostas, preparando-as para a realidade da comunidade (Castro, 2009). A necessidade de o educador ser curioso e experimentar diversos métodos é enfatizada. O texto menciona receios quanto às expressões artísticas por parte de educadores, em parte pela falta de informação suficiente, principalmente nas áreas musical e dramática, e pela escassez de professores com domínio dessas áreas nas escolas (texto). A experiência de estágio é, portanto, vista como um desafio para a aprendizagem contínua e desenvolvimento profissional, reconhecendo as limitações e a necessidade de aperfeiçoamento da prática pedagógica.

IV.Reflexões Finais e Contribuições da Música na Educação

A pesquisa conclui que a educação musical (expressão musical) é essencial para o desenvolvimento integral da criança, enfatizando a necessidade de uma maior valorização da música na educação e de uma formação continuada para professores. O estudo destaca a importância de integrar a música em todas as áreas do currículo, promovendo a interdisciplinaridade e a aprendizagem significativa. A experiência de estágio revelou a complexidade do processo de ensino-aprendizagem, mas também a sua grande recompensa em termos de crescimento pessoal e profissional do estagiário.

1. A Importância da Música na Educação Integral da Criança

As reflexões finais reforçam a importância da contribuição da expressão musical no desenvolvimento da criança na educação básica, integrando-a nas expressões artísticas. A autora critica a subvalorização do mundo sonoro na educação, observando uma presença do ensino da música, mas não da educação pela música. A autora defende que a música está presente em todas as áreas curriculares, necessitando apenas de maior atenção e interligação com os diversos conteúdos. Há um apelo para que a educação fomente mais momentos direcionados à música, estimulando sua interligação com as diferentes áreas do currículo. A autora enfatiza a necessidade de uma bagagem rica em atividades, estratégias e instrumentos, para facilitar o desempenho docente. Embora o texto contenha referências que alimentam a crença da autora sobre os benefícios da música na educação integral, seu desempenho durante o estágio não refletiu totalmente essa crença. Apesar disso, a experiência foi considerada relevante para o crescimento pessoal e profissional, servindo de base para reflexão e aprendizado.

2. Aprendizados e Desafios do Estágio

A autora reconhece que, apesar de seu desempenho não ter sido excecional, os estágios foram relevantes para o seu crescimento pessoal e profissional. A elaboração do relatório de estágio foi um processo fundamental de aprendizagem, estimulando o desejo de revolucionar a forma como as escolas encaram a educação artística. A autora identifica a pressão de cumprir o programa no estágio, principalmente no 1º CEB, e a necessidade de integrar outros conteúdos menos priorizados no currículo, para promover aprendizagens mais significativas. A ansiedade em promover a aprendizagem e a dificuldade em fazê-lo ressaltam a necessidade de uma boa organização educativa e repertório educacional. A autora expressa a vontade de continuar a melhorar suas competências como educadora/professora, valorizando as aprendizagens adquiridas com cooperantes, orientadores e outros professores, compreendendo a complexidade e a gratificação do processo de ensino-aprendizagem.

3. Necessidade de Formação Contínua e Investigação

A autora conclui que a experiência destacou a necessidade de formação contínua para os docentes e maior investimento em pesquisa que promova a autoformação. O educador deve valorizar sua própria aprendizagem e se sentir motivado para desenvolver uma melhor qualidade educacional. A confiança no próprio trabalho é crucial para que as crianças também confiem em suas aprendizagens. A autora sublinha a importância de o educador/professor em início de carreira sentir confiança, sem medo de errar, para o desenvolvimento de uma melhor formação pessoal e profissional. O relatório mostra como a prática e a reflexão permitem ajustar as atividades e reconhecer que as mesmas práticas não se aplicam igualmente a todos os grupos de crianças, reforçando a necessidade de adaptação constante. Em resumo, a autora defende uma abordagem mais holística da educação, integrando a música como um elemento fundamental em todas as áreas curriculares, para um desenvolvimento integral da criança.