
Ancestralidade Afro-Ameríndia: Uma Tese
Informações do documento
Autor | Carla Wanessa Do A. Caffagni |
instructor | Marcos Ferreira-Santos |
Escola | Universidade de São Paulo, Faculdade de Educação |
Curso | Educação |
Tipo de documento | Tese |
Local | São Paulo |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 3.57 MB |
Resumo
I. A Autoformação do Sujeito Através da Ficção Autobiográfica Uma Análise Antropológica Simbólica
Esta pesquisa utiliza uma abordagem de antropologia simbólica para investigar o processo de autoformação da autora, analisando sua ficção autobiográfica. A narrativa, centrada na personagem Alice, explora a relação entre experiências de vida, emoções e a construção do eu. A análise fenomenológica se concentra nas experiências da autora, a menina Alice, considerando-a um ser em constante formação, influenciada tanto pelo meio social quanto por suas próprias escolhas e leituras do mundo. A mitohermenêutica auxilia na interpretação dos símbolos e narrativas. A relação mestre-aprendiz, explorada através das histórias de vida de mentores da autora, é crucial para compreender a trajetória de Alice e sua busca por conhecimento e identidade.
1.1 Metodologia da Pesquisa e Objetivo Principal
A pesquisa, realizada na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo em 2016, utiliza a antropologia simbólica como método para analisar o processo de autoformação do sujeito. O estudo se baseia na análise de uma ficção autobiográfica escrita pela própria autora antes da pesquisa. O material, que começou com um memorial acadêmico, oferece elementos para compreender a formação de um ‘eu-aprendiz’. A ficção autobiográfica, com a personagem principal Alice, permite uma análise fenomenológica das emoções e experiências de vida da autora, considerando seu desenvolvimento como um processo contínuo e não apenas um produto do meio social ou ambiental. A pesquisa busca compreender como as escolhas e leituras pessoais da autora contribuíram para sua formação. A análise também examina a relação mestre-aprendiz, fundamental na construção da identidade da autora.
1.2 A Ficção Autobiográfica e a Personagem Alice
A narrativa ficcional, centrada na menina Alice, é o material principal da análise. Alice vive aventuras em um mundo fantástico, repleto de simbolismos que são explorados através da análise fenomenológica. Sua jornada, marcada por encontros com os 'meninos de luz' que lhe contam histórias e a guiam em novos caminhos, contrasta com a presença do dragão, um símbolo de desafios e obstáculos na busca pelo autoconhecimento. As 'asas mágicas' de Alice representam momentos de liberdade e descoberta, mas também a efemeridade dessas experiências. O texto descreve a ambiguidade em sua vida, representando a dificuldade em distinguir entre amor e dor, maldade e cuidado. O dragão, habitante da mesma caverna, mas com quem Alice raramente se encontra, simboliza a distância e o conflito interno. A mitohermenêutica é empregada para analisar os símbolos da narrativa, buscando conectar os elementos fantásticos com a vida real da autora e sua formação. A relação mestre-aprendiz, vivenciada por Alice, será analisada com base nas histórias de vida dos mestres que foram decisivos na vida da autora.
1.3 A Mitohermenêutica como Ferramenta Analítica
A pesquisa utiliza a mitohermenêutica como método de interpretação, conforme a definição de Ferreira-Santos: uma hermenêutica simbólica de cunho antropológico que se apresenta tanto como estilo filosófico (inquietação e questionamento) quanto como método de investigação. A mitohermenêutica situa a compreensão de si mesmo como ponto de partida, meio e fim da jornada interpretativa. A análise não é apenas uma técnica de interpretação, mas uma jornada interpretativa em que o pesquisador se imersa na paisagem cultural das obras analisadas. A perspectiva da mitohermenêutica é fundamental para compreender como a autora utiliza símbolos e narrativas mitológicas para expressar sua autoformação. A relação com o pai e a discussão de sua influência na formação da autora também são consideradas, referenciando autores como Gusdorf, que aponta a complexidade e a dificuldade que os pais, mesmo sendo pedagogos, encontram para ensinar seus filhos. É importante ressaltar que a pesquisa também se baseia nas relações maternais e fraternais, analisando como essas relações moldaram a identidade da autora.
1.4 Importância da Relação Mestre Aprendiz na Autoformação
Para compreender o processo de autoformação da autora, a pesquisa analisa a relação mestre-aprendiz como elemento chave na narrativa. A relação entre o filho e o pai, e a ideia de menoridade que essa relação acarreta é explorada a partir da análise de autores relevantes. O estudo se aprofunda na busca das conexões entre as histórias de vida dos dois mentores e a ficção autobiográfica de Alice, para revelar como essas figuras e suas experiências de vida moldaram o desenvolvimento da autora e contribuíram para sua formação. A pesquisa busca compreender como essas figuras se tornaram mestres para a autora e como ela, por sua vez, se constituiu como aprendiz. Através da análise da relação mestre-aprendiz, a pesquisa busca desvendar a complexidade da autoformação e como as relações com os outros constroem o eu.
II. A Personagem Alice e Seu Mundo Simbólico
A personagem fictícia Alice vive em uma floresta encantada, interagindo com meninos de luz que lhe contam histórias e a guiam. O dragão na caverna representa um obstáculo, simbolizando desafios e conflitos internos na jornada da autora em busca de autoconhecimento. A análise dos símbolos da narrativa de Alice (as asas mágicas, o dragão, os meninos de luz) revela aspectos importantes da formação da identidade e do processo de autoformação da autora. As experiências vividas e representadas no mundo simbólico de Alice consideram como parte de sua criação o contato com alguns mestres que, através da oralidade e do convívio, influenciaram as escolhas ao longo da vida da autora. A relação entre mestre e aprendiz é um foco central, analisada através das histórias de vida de dois mentores.
III. Histórias de Vida dos Mestres Influências na Autoformação
A pesquisa resgata as histórias de vida de dois mentores cruciais na formação da autora. Um deles, um trabalhador rural, descreve condições de trabalho precárias em uma fazenda de café, revelando a influência de um ambiente marcado pela desigualdade social e a experiência de trabalho escravo. A outra, sua mãe, apesar de analfabeta, demonstra sabedoria e inteligência, exercendo forte influência na formação da autora, principalmente na construção de sua identidade masculina. A análise compara as histórias destes mentores com a narrativa de Alice, buscando conexões entre suas experiências e a construção da identidade da autora. Estas histórias ilustram a complexidade da relação mestre-aprendiz e a influência das experiências de vida na autoformação.
IV. A Escola e a Construção da Identidade Experiências de Exclusão e Inclusão
A pesquisa aborda as experiências da autora e de outros indivíduos (como Mestre Alcides e Matheus) com a instituição escolar. Mestre Alcides relata experiências de racismo e exclusão na escola pública, destacando a discriminação racial e a falta de inclusão social. Matheus, por sua vez, descreve uma experiência escolar positiva, que contribuiu para sua formação intelectual e sua paixão pela educação ambiental. A autora contrasta suas experiências na escola pública com a de Matheus, revelando diferentes níveis de inclusão e de acesso à educação de qualidade. A pesquisa analisa o papel da escola na construção da identidade, tanto em contextos de exclusão quanto de acolhimento.
V. Arquétipos Símbolos e o Inconsciente
A análise da ficção autobiográfica recorre a conceitos junguianos de arquétipos, como a fada e o dragão, para interpretar o inconsciente da autora e suas relações familiares. A figura do dragão, inicialmente associada à relação materna, revela-se como um símbolo de desafios internos a serem superados. A análise recorre também a outros autores da psicologia e da mitologia, incluindo referências a Jung, Bachelard e Chevalier, para aprofundar a compreensão do simbolismo utilizado na obra. A integração de elementos da mitologia, fantasia e experiências pessoais reforça a abordagem mitohermenêutica da pesquisa. A relação entre o inconsciente, os arquétipos, e a construção da identidade é um dos pontos centrais da análise.
VI. Conclusão A Jornada de Alice como Metáfora da Autoformação
A ficção autobiográfica de Alice serve como uma metáfora para o processo de autoformação da autora. A jornada da personagem, repleta de desafios e transformações, espelha a trajetória da autora em busca de autoconhecimento e realização pessoal. A pesquisa conclui que a autoformação é um processo contínuo e complexo, influenciado por múltiplos fatores, incluindo as experiências pessoais, as relações sociais, e a capacidade de reinterpretar simbolicamente as experiências vividas. A mitohermenêutica, a análise fenomenológica, e a antropologia simbólica se mostram como metodologias valiosas para compreender esse processo.