
Agroflorestas: Recuperação de Áreas Degradadas
Informações do documento
Autor | Elder Antonio Tomassevski |
instructor | Manuela Franco De C. Da S. Pereira |
Escola | Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) |
Curso | Agronomia |
Tipo de documento | Trabalho de Conclusão de Curso |
Local | Laranjeiras do Sul, PR |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 0.99 MB |
Resumo
I.Sistemas Agroflorestais para Recuperação de Áreas Degradadas em Agricultura Familiar
Esta pesquisa qualitativa e participativa, realizada com a família Rauber em Cantagalo - PR, propõe um Sistema Agroflorestal (SAF) como solução para recuperar uma área degradada em uma unidade de agricultura familiar. O estudo focou na construção de um SAF utilizando o conhecimento tradicional da família e princípios de conservação do solo e biodiversidade. A metodologia incluiu oficinas participativas sobre SAFs e etnobotânica, resultando em um projeto que integra espécies como Ilex paraguaiensis (erva-mate), Araucaria angustifolia (Araucária), e Musa sp. (bananeira), buscando benefícios ambientais e econômicos. O SAF visa melhorar atributos físicos e biológicos do solo na Floresta Atlântica, contribuindo para a recuperação de áreas degradadas e a segurança alimentar da família. A pesquisa considerou também a legislação ambiental, especialmente a Lei 11.326 (que trata da Floresta Atlântica), para garantir a sustentabilidade da proposta.
1. Introdução Objetivo e Metodologia da Pesquisa
A pesquisa teve como objetivo principal propor um Sistema Agroflorestal (SAF) como método para recuperar uma área degradada em uma unidade de agricultura familiar. Utilizando uma abordagem qualitativa e participativa, a pesquisa se desenvolveu em parceria com a família Rauber, agricultores do município de Cantagalo - PR. A metodologia incluiu oficinas com temas relevantes, como 'O que são Sistemas Agroflorestais', 'Etnobotânica', e 'Arranjos e evolução dos Sistemas Agroflorestais'. O foco foi construir uma proposta técnica de SAF com propósito recuperador de área degradada e potencial econômico, considerando o conhecimento da família sobre as espécies, a evolução do sistema e a função de cada espécie dentro do SAF. A pesquisa reconhece a alta eficiência e eficácia dos SAFs na regeneração da biodiversidade, captura de dióxido de carbono, transformação em biomassa e recuperação das condições químico-físicas do solo através da matéria orgânica, reduzindo as perdas do agroecossistema. A escolha das espécies para o SAF considerou as funções ecológicas, a importância e o uso dado pela família àquelas espécies, integrando, portanto, o conhecimento local na proposta do SAF.
2. Justificativa Importância dos SAFs para Agricultura Familiar e Meio Ambiente
A justificativa para a pesquisa se baseia na importância da agricultura como geradora de riquezas e na crescente preocupação com a relação ser humano-natureza, devido ao uso excessivo de agrotóxicos, consumo de água potável e outras contaminações ambientais. Os Sistemas Agroflorestais são apresentados como uma alternativa sustentável, especialmente para a agricultura familiar, que possui uma relação mais próxima com o meio ambiente e busca o equilíbrio entre retorno econômico e bem-estar. A pesquisa destaca a importância não só de conservar as florestas, mas também de reflorestar áreas com SAFs, potencializando a captação de CO2, aumentando a biodiversidade e alavancando sistemas agroalimentares alternativos, contribuindo para a soberania alimentar e nutricional. A pesquisa cita a definição de King e Chandler (1978) sobre agrossilvicultura como um sistema de uso racional da terra, cultivando espécies florestais com culturas agrícolas e/ou animais de forma simultânea. Essa definição reforça a importância da exploração desse sistema pela agricultura familiar, especialmente em biomas como a Floresta Ombrófila Mista (Floresta Atlântica com Araucária), onde a pesquisa foi realizada e onde muitos agricultores já utilizam SAFs, mas carecem de maior socialização do conhecimento sobre a importância destes cultivos.
3. Levantamento Etnobotânico e Escolha das Espécies
O levantamento etnobotânico teve como objetivo principal analisar o conhecimento e o uso que a família Rauber tem das espécies arbóreas existentes em sua propriedade. A pesquisa utilizou métodos participativos, como questionários (com questões objetivas e abertas), listagem livre e uma 'turnê guiada' pela unidade de produção. A 'turnê guiada' complementou a listagem livre, permitindo a identificação de espécies que a família não havia mencionado inicialmente. Esse processo resultou na identificação de cinquenta e cinco espécies, pertencentes a 31 famílias botânicas, com Myrtaceae, Fabaceae e Rosaceae como as famílias mais representativas. A escolha das espécies para compor o SAF considerou suas funções ecológicas, sua importância para a família e seu potencial econômico. As espécies selecionadas foram Ilex paraguaiensis (erva-mate), Araucaria angustifolia (Araucária), Musa sp. (bananeira), Senegalia polyphila (monjoleiro), Luehea divaricata (açoita-cavalo) e Ocotea puberula (canela-guaicá). Além do componente arbóreo, Pennicetum purpureum (capim elefante) foi selecionado para produção de biomassa nos estágios iniciais do sistema. A propagação das mudas se dará de forma vegetativa, utilizando mudas de viveiros do IAP (Instituto Ambiental do Paraná) em Cascavel - PR, ou da EMATER.
4. Implantação Manejo e Estimativa de Produção do SAF
O projeto de SAF para a família Rauber prevê o plantio de 408 mudas em uma área de aproximadamente 0,35 hectares, com uma distribuição específica de cada espécie (Araucária, bananeira, erva-mate, monjoleiro, canela-guaicá e açoita-cavalo), além do capim elefante que será propagado vegetativamente. O manejo do sistema ao longo do tempo foi planejado, considerando a evolução natural do SAF e as necessidades de cada espécie. O documento descreve a expectativa para o quinto ano, indicando a possível senescência das bananeiras devido ao sombreamento e a necessidade de controle de plantas espontâneas e do capim elefante. A estimativa de produção de erva-mate, baseada em estudos prévios, prevê até 15 kg por planta/ano a partir do quinto ano. A pesquisa considerou a legislação ambiental (Lei 11.326), permitindo o manejo da Reserva Legal e a recuperação de APPs (Áreas de Preservação Permanente) por meio de SAFs, contanto que sejam usadas espécies nativas. Apesar de dificuldades encontradas, como divergências na bibliografia sobre o desenvolvimento das espécies, a pesquisa se baseou nas funções ecológicas e no conhecimento da família para definir o arranjo do SAF, buscando garantir a proteção da área e o incremento na renda familiar através da produção da erva-mate sombreada.
II.Atributos do Solo e o Papel da Matéria Orgânica nos Sistemas Agroflorestais
A pesquisa destaca a importância do solo como base de um SAF, analisando seus atributos físicos e biológicos. A matéria orgânica, proveniente da serrapilheira, é fundamental para a retenção de nutrientes e melhoria da estrutura do solo. Estudos comparativos mostraram que os SAFs, mesmo em solos previamente degradados, apresentam melhor pH e teores de nutrientes em comparação com áreas de vegetação secundária. A presença de raízes profundas nos SAFs promove a mobilização de fósforo, melhorando a fertilidade do solo. Diversos fatores, incluindo clima, tipo de vegetação, e estágio de evolução do sistema, influenciam os atributos químicos do solo nos Sistemas Agroflorestais.
1. O Solo como Base dos Sistemas Agroflorestais
O texto destaca a importância fundamental do solo para o sucesso dos Sistemas Agroflorestais (SAFs). É apresentado como um organismo vivo e dinâmico, instável e repleto de organismos e elementos químicos que desempenham papéis cruciais. O conhecimento básico da sucessão ecológica é crucial para entender o funcionamento do solo dentro de um SAF. A pesquisa enfatiza a importância da matéria orgânica, derivada da serrapilheira, como elemento chave para a retenção de nutrientes e a melhoria das características físico-químicas do solo. A serrapilheira atua como fonte de energia para os organismos decompositores, influenciando diretamente na estrutura e fertilidade do solo. A pesquisa cita um estudo de Moço (2010) sobre a distribuição vertical da fauna em serrapilheira de diferentes SAFs, mostrando a influência do grau de decomposição e umidade na colonização de micro, meso e macrofauna. Em resumo, a saúde do solo é considerada um fator determinante para o êxito dos SAFs, e a matéria orgânica desempenha um papel essencial na manutenção de sua fertilidade e estrutura.
2. Atributos Físicos e Biológicos do Solo em SAFs
Os SAFs contribuem para a melhoria dos atributos físicos e biológicos do solo. A deposição de serrapilheira, característica dos SAFs, promove a sobrevivência de organismos fragmentadores e decompositores, reduzindo a perda de água e mantendo variações de temperatura ideais para a vida no solo. O texto menciona que solos em SAFs apresentam menor resistência à penetração, maior porosidade, menor densidade e melhor estabilização dos agregados. A matéria orgânica, com sua alta capacidade de troca catiônica (CTC), desempenha um papel vital na retenção de nutrientes no solo. Uma pesquisa de Penereiro (1999) comparou a evolução do sistema edáfico em uma área de vegetação secundária e uma agrofloresta, ambas em solos da mesma classe, mas com histórico de uso diferente. Apesar da quantidade de matéria orgânica semelhante nas duas áreas, os teores de nutrientes e a acidez do solo diferiram significativamente, com o SAF mostrando pH superior e teores de nutrientes até quatro vezes maiores em certas profundidades. Essa diferença é atribuída à simbiose entre raízes e organismos que imobilizam fósforo com mais eficiência nos SAFs, explorando reservas de fósforo orgânico em regiões mais profundas do solo.
III.Implantação e Evolução do Sistema Agroflorestal
O projeto SAF proposto para a família Rauber em Cantagalo, PR, envolve o plantio de 408 mudas de diversas espécies, incluindo erva-mate, araucária, bananeira, e outras, em uma área de aproximadamente 0,35 ha. A propagação será vegetativa, utilizando mudas do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e/ou da EMATER. O Pennicetum purpureum (capim elefante) será utilizado inicialmente para produção de biomassa. A evolução do sistema ao longo dos anos, incluindo a produção de erva-mate e o manejo do capim, é projetada, considerando o sombreamento e a necessidade de luz das diferentes espécies. A pesquisa estima uma produção de até 15 kg de erva-mate por planta/ano a partir do quinto ano, baseada em estudos prévios de ervais sombreados. A pesquisa aborda as potencialidades dos Sistemas Agroflorestais como alternativa sustentável e lucrativa, gerando uma 'poupança verde' para a família.
1. Implantação do Sistema Agroflorestal Espécies e Propagação
A implantação do Sistema Agroflorestal (SAF) na propriedade da família Rauber, em Cantagalo-PR, envolve o plantio de um total de 408 mudas em uma área de aproximadamente 0,35 hectares. A escolha das espécies foi baseada em critérios ecológicos, econômicos e no conhecimento da própria família, resultando na seleção de Ilex paraguaiensis (erva-mate), Araucaria angustifolia (Araucária), Musa sp. (bananeira), Senegalia polyphila (monjoleiro), Luehea divaricata (açoita-cavalo), e Ocotea puberula (canela-guaicá). A espécie Pennicetum purpureum (capim elefante) foi incluída para a produção de biomassa nos estágios iniciais. O método de propagação escolhido foi a propagação vegetativa, utilizando mudas obtidas em viveiros do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) em Cascavel – PR, ou através da EMATER. A figura 2 demonstra o arranjo espacial das espécies no SAF, mostrando uma distribuição estratégica para otimizar o uso do espaço e aproveitar as características de cada espécie. A escolha do IAP e EMATER ressalta a importância da articulação com instituições locais no processo de implantação do SAF.
2. Evolução do SAF ao Longo do Tempo Projeções e Manejo
A pesquisa apresenta projeções para a evolução do SAF ao longo dos anos, com foco especial no quinto ano. Nesse período, espera-se que o capim elefante (Pennicetum purpureum) diminua sua presença devido ao sombreamento crescente das árvores. A produtividade das bananeiras também deve reduzir em função da menor insolação, considerando que necessitam de, pelo menos, mil horas de luz por ano para a fase reprodutiva. O manejo previsto inclui o controle mecânico de plantas espontâneas que possam competir com as espécies de interesse econômico. O capim elefante, nesse estágio, será manejado com o objetivo duplo de produzir biomassa para incorporação ao solo e reduzir a competição com outras espécies. A Araucária, de crescimento mais lento, ainda estará em fase jovem no quinto ano, sem ocupar completamente o estrato superior. A expectativa é de que os teores de matéria orgânica no sistema estejam elevados, contribuindo para a melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo. A estimativa de produção de erva-mate para o quinto ano é baseada no trabalho de Vieira (2012), que indica uma produção de até 15 kg/planta/ano em ervais sombreados e adensados, demonstrando o potencial econômico do sistema a longo prazo.
IV.Legislação Ambiental e Pesquisa Participativa
A pesquisa considerou a legislação ambiental, particularmente a Lei 11.326, que regulamenta ações na Floresta Atlântica. O estudo destaca a possibilidade de utilizar Sistemas Agroflorestais para recuperar Áreas de Preservação Permanente (APPs) e manejar Reservas Legais em pequenas propriedades rurais, respeitando a legislação e promovendo a biodiversidade. A pesquisa utilizou uma abordagem metodológica participativa, combinando conhecimento científico com o saber tradicional da família Rauber. Essa abordagem, baseada em questionários, listagem livre, e 'turnê guiada', permitiu um melhor entendimento das necessidades e conhecimentos da família, otimizando o design e a implantação do SAF.
1. Legislação Ambiental e Sistemas Agroflorestais na Floresta Atlântica
A pesquisa considerou a legislação ambiental vigente, especialmente a Lei 11.326, que trata da proteção da Floresta Atlântica. O documento destaca que, em áreas de Preservação Permanente (APP), o desmatamento é proibido. Entretanto, ações que promovam o desenvolvimento e o incremento da biodiversidade em pequenas unidades de produção são permitidas, incluindo a recuperação de áreas degradadas com Sistemas Agroflorestais (SAFs), desde que contenham espécies nativas. A pesquisa menciona a definição de Reserva Legal, delimitada para assegurar os recursos ambientais do imóvel rural, permitindo a exploração sustentável e econômica dos recursos naturais. O artigo 12 da Lei 11.326 apresenta diferenciações regionais quanto à quantidade de área que cada unidade de produção deve destinar à Reserva Legal. O texto cita que, para pequenos agricultores, comunidades ribeirinhas e indígenas, o manejo da Reserva Legal e a reconstituição de APPs por meio de SAFs são permitidas para assegurar os recursos genéticos e a biodiversidade local.
2. Pesquisa Participativa Integração de Saberes e Metodologia
A pesquisa empregou uma metodologia participativa, buscando integrar o conhecimento científico com os saberes tradicionais da família Rauber. Essa abordagem, inspirada nos preceitos de Gomes (2001), contrapõe-se a modelos que priorizam apenas o produtivismo e o uso de tecnologias externas, sem a participação efetiva dos agricultores. A pesquisa participativa é apresentada como uma forma de produzir conhecimento aplicável à realidade dos agricultores, criando uma 'ponte' entre os diferentes tipos de saberes. O texto destaca que as ferramentas metodológicas utilizadas, como questionários, listagem livre e 'turnê guiada', não são convencionais, mas são tão complexas quanto as ferramentas de pesquisa tradicionais, permitindo um melhor entendimento das funções socioecológicas de cada espécie. A pesquisa considera diferentes níveis de interação na pesquisa participativa, desde as unilaterais (coercitiva, passiva e contratual) até as bidirecionais (consultiva, colaborativa, colegiada e autogerenciada), promovendo um processo de construção mais horizontalizado. A escolha das espécies para o SAF resultou de um processo participativo que melhorou o entendimento das funções socioecológicas de cada espécie, permitindo uma escolha mais adequada e apropriada para a realidade da família.