Batata-Doce Orgânica: Produção e Qualidade

O estudo parte da constatação de que, apesar da grande diversidade genética e do número de cultivares de batata-doce registradas no Brasil, o plantio de variedades não registradas ainda é predominante, especialmente em sistemas de produção de subsistência. Na região Sul, a época de plantio ideal se concentra entre outubro e dezembro. No entanto, o cultivo em outras épocas, como o outono, apresenta vantagens, uma vez que permite a comercialização da batata-doce em períodos de menor oferta, resultando em preços mais elevados e maior retorno para o produtor. A batata-doce, por sua rusticidade, baixo custo de produção e facilidade de cultivo, se mostra uma ótima alternativa para pequenos produtores rurais, especialmente em sistemas de cultivo orgânico. A escassez de pesquisas sobre o comportamento da cultura em diferentes épocas de plantio na região Sul, sob sistemas de cultivo orgânico, justifica a realização deste estudo. A cultura, embora economicamente importante, nutricional e socialmente relevante, ainda é, em grande parte, realizada de forma empírica, sem a devida orientação profissional e pesquisa específica para cada região.

O estudo se concentra na avaliação de duas cultivares de batata-doce: BRS Amélia e BRS Rubissol. A escolha dessas cultivares é estratégica, uma vez que são variedades registradas pela Embrapa, permitindo uma comparação mais precisa entre seus desempenhos. A pesquisa foi conduzida em Laranjeiras do Sul, no Paraná, região caracterizada por um outono/inverno ameno (150 a 200 horas de frio abaixo de 7,2°C), oferecendo condições climáticas particulares para o estudo. A escolha dessa localização geográfica é fundamental para entender como as cultivares se comportam em um ambiente específico, com características edafoclimáticas particulares, permitindo extrapolar os resultados para outras regiões com características semelhantes. A realização do estudo na área experimental da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) - Laranjeiras do Sul - PR, garante condições controladas e a possibilidade de monitoramento preciso das variáveis estudadas.

O objetivo principal do estudo é verificar a produção, a produtividade e as características físico-químicas das duas cultivares de batata-doce em sistema de cultivo orgânico. A produção por planta e a produtividade (t/ha) são as principais variáveis de interesse, representando a eficiência da produção. Além disso, o número de raízes tuberosas, massa unitária, diâmetro e comprimento das raízes serão avaliados para fornecer uma visão completa das características físicas da planta. A análise das características físico-químicas inclui parâmetros como pH, acidez titulável, umidade, matéria seca, cinzas e proteínas, permitindo uma avaliação mais ampla da qualidade do produto. A análise completa dessas variáveis permite uma comparação detalhada do desempenho das cultivares, considerando as características de produção e qualidade da batata doce. As informações são importantes para aconselhamento e tomadas de decisão por parte dos produtores rurais.

O estudo utilizou um delineamento experimental em blocos inteiramente casualizados, um método estatístico que permite controlar a variabilidade entre diferentes áreas do experimento. Foram utilizadas duas cultivares de batata-doce, BRS Amélia e BRS Rubissol, como tratamentos principais. Para cada cultivar, foram estabelecidas quatro repetições, sendo cada repetição composta por oito plantas, totalizando 32 plantas por cultivar e 64 plantas no experimento como um todo. Este desenho experimental robusto assegura a confiabilidade dos resultados, minimizando o impacto de fatores externos e permitindo a comparação estatística eficaz entre os tratamentos. A escolha do delineamento e do número de repetições e plantas por repetição foi cuidadosamente calculada para garantir a potência estatística do estudo, minimizando erros e permitindo conclusões mais precisas sobre as diferenças entre as cultivares.

O preparo do solo envolveu o uso de arado subsolador e encanteirador para definir as posições das leiras. As leiras foram preparadas manualmente com dimensões de 17,00 m de comprimento, 0,90 m de largura e 0,40 m de altura, com espaçamento de 0,90 m entre elas. A adubação consistiu na incorporação de 0,250 kg de esterco de galinha curtido por metro quadrado, refletindo as práticas do cultivo orgânico. Para o controle de doenças e insetos, foram utilizadas aplicações semanais de extratos naturais, uma estratégia em linha com a abordagem de cultivo orgânico. Antes do transplantio, as mudas foram caracterizadas em relação à altura e ao número de folhas. O transplantio ocorreu no equinócio do outono (20 de março de 2018), com espaçamento de 0,25 m entre plantas e profundidade de 0,10 m. A colheita foi realizada 221 dias após o plantio, período considerado adequado para a maturação das raízes tuberosas.

As variáveis avaliadas incluíram a produção por planta (kg) e a produtividade (t ha⁻¹), métricas-chave para a avaliação do desempenho das cultivares. Além disso, foram coletados dados sobre o número de raízes tuberosas por planta, massa unitária (kg), diâmetro (mm) e comprimento (mm) das raízes, utilizando-se balança digital e paquímetro digital. Para as análises químicas, foram seguidas as metodologias preconizadas pelo Instituto Adolfo Lutz (1985). Foram avaliados o pH, acidez titulável (% ácido cítrico), umidade (%), matéria seca (%), cinzas (%) e proteína (%), seguindo as recomendações específicas para cada análise. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e as diferenças entre as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Essa rigorosa análise estatística permite uma avaliação objetiva e precisa das diferenças entre os tratamentos, minimizando a influência de fatores aleatórios.

Embora a análise de variância (ANOVA) não tenha demonstrado diferenças estatisticamente significativas (p>0,05) na produção por planta e na produtividade entre as cultivares BRS Amélia e BRS Rubissol, observações indicam que a cultivar BRS Amélia apresentou resultados superiores nesses aspectos. Este dado, embora não confirmando estatisticamente uma superioridade definitiva, sugere uma tendência positiva para a cultivar BRS Amélia em termos de rendimento. O comprimento da raiz também seguiu essa tendência, com a BRS Amélia apresentando maiores valores, sem, contudo, alcançar significância estatística. A análise estatística utilizou o teste de Tukey a 5% de significância, um método rigoroso para comparar médias em delineamentos experimentais. A falta de significância estatística em algumas variáveis pode ser atribuída à variação natural dos dados e à influência de fatores externos, conforme discutido em seções posteriores. A análise completa considera a influência do ambiente e das condições edafoclimáticas, não se limitando apenas aos resultados brutos da produção.

A análise das características físicas das raízes de batata-doce revelou diferenças estatisticamente significativas (p<0,05) entre as cultivares para massa unitária, diâmetro e número de raízes, com a cultivar BRS Amélia mostrando maior comprimento de raiz, embora sem significância estatística. A análise da massa unitária, diâmetro e número de raízes, obtidas com balança digital e paquímetro, permitiram comparações objetivas das características físicas das raízes. A observação de raízes longas e finas (“chicote”) na cultivar BRS Rubissol sugere uma possível influência do excesso de umidade no solo, enquanto a cultivar BRS Amélia parece apresentar maior rusticidade a essas condições. A análise dessas características é fundamental para a compreensão do comportamento das cultivares em diferentes condições e para a seleção de variedades adequadas às condições de cultivo da região.

As análises físico-químicas mostraram diferenças significativas (p<0,05) entre as cultivares para pH, cinzas, umidade e matéria seca. A cultivar BRS Rubissol apresentou valores mais elevados de pH, acidez titulável, matéria seca e cinzas. Em contrapartida, a cultivar BRS Amélia apresentou teores superiores de proteína e umidade. A variável acidez titulável, apesar de apresentar valores diferentes entre as cultivares, não mostrou diferença estatisticamente significativa. As análises seguiram a metodologia do Instituto Adolfo Lutz (1985), garantindo a padronização e a confiabilidade dos resultados. A análise do pH, um importante indicador da qualidade e conservação dos alimentos, revelou diferença significativa entre as cultivares. A comparação com resultados de outros estudos, embora indicando proximidade em alguns casos, destaca a singularidade dos resultados obtidos em função das condições específicas do experimento.

O estudo conclui que, nas condições edafoclimáticas de Laranjeiras do Sul - PR, e considerando o plantio no outono, a cultivar BRS Amélia se apresenta como a melhor opção para os produtores rurais, quando comparada à cultivar BRS Rubissol. Embora as diferenças em algumas variáveis de produção (produção por planta e produtividade) não tenham alcançado significância estatística (p>0,05), a cultivar BRS Amélia apresentou valores superiores. Essa superioridade, embora não confirmada estatisticamente para essas variáveis específicas, indica uma tendência positiva para a BRS Amélia em termos de rendimento. A análise conjunta dos dados sugere que a BRS Amélia apresenta um desempenho mais robusto nas condições de cultivo avaliadas. A maior umidade e o maior teor de proteína na BRS Amélia, em comparação com a BRS Rubissol, também contribuem para a conclusão, pois esses parâmetros são importantes para a qualidade do produto.

A análise dos resultados considera a possível influência de fatores ambientais, especialmente temperatura, fotoperíodo e precipitação, no desenvolvimento das cultivares. Observa-se que a cultivar BRS Rubissol pode ser mais sensível a essas variações ambientais, especialmente as temperaturas mais baixas registradas durante o inverno, o que pode ter afetado negativamente sua produção e produtividade. A cultivar BRS Amélia, aparentemente, demonstrou maior resiliência a esses fatores. A observação de raízes com formato de “chicote” na BRS Rubissol, associada a períodos de encharcamento do solo, reforça a ideia de que condições ambientais adversas podem impactar significativamente o desenvolvimento dessa cultivar. A consideração desses fatores ambientais é crucial para a interpretação completa dos resultados e para a recomendação de cultivares adequadas a diferentes condições.

Considerando os resultados obtidos, recomenda-se a cultivar BRS Amélia para o cultivo de batata-doce em sistema orgânico na região de Laranjeiras do Sul, Paraná, especialmente durante o outono. A escolha da cultivar mais adequada para um ambiente específico é fundamental para maximizar a produção e a qualidade do produto. A BRS Amélia se destacou pela sua maior produção, melhor desenvolvimento e qualidade dos tubérculos nas condições analisadas. A pesquisa contribui para preencher a lacuna de informações sobre o cultivo de batata-doce em sistemas orgânicos na região, oferecendo subsídios importantes para a tomada de decisões pelos produtores rurais. Essa recomendação contribui para o aumento da produtividade e da rentabilidade da atividade agrícola, promovendo o desenvolvimento sustentável da região.

A pesquisa foi realizada na área experimental da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), campus Laranjeiras do Sul, no Paraná. A escolha deste local é relevante devido às características edafoclimáticas da região, que apresentam um outono/inverno ameno (150 a 200 horas de frio abaixo ou igual a 7,2°C). Estas condições climáticas específicas influenciam o desenvolvimento da cultura da batata-doce e justificam a escolha do local para a pesquisa. A UFFS, como instituição de ensino superior, oferece infraestrutura e recursos para a realização de experimentos científicos controlados, garantindo a confiabilidade dos resultados. A localização geográfica no centro-sul do Paraná também permite uma extrapolação dos resultados para outras áreas com condições climáticas semelhantes, ampliando a relevância da pesquisa para a região.

O estudo se concentrou em duas cultivares de batata-doce: BRS Amélia e BRS Rubissol. Ambas são cultivares registradas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o que garante a qualidade e a padronização do material genético utilizado. A Embrapa apresenta registros de seis cultivares de batata-doce, incluindo as utilizadas neste estudo. A cultivar BRS Amélia, selecionada a partir de plantas da região de São Lourenço do Sul (RS), apresenta formato elíptico longo, casca rosa claro com pigmentações rosadas e polpa alaranjada. Seu ciclo de colheita varia entre 120 a 140 dias após o plantio, com produtividade média em torno de 32 t ha⁻¹. A BRS Amélia é bastante apreciada pelos consumidores devido à sua textura úmida e adocicada, maciez e doçura, e por apresentar casca que se solta facilmente da polpa. A escolha dessas cultivares permite uma comparação mais precisa do desempenho em condições específicas de cultivo orgânico.

O cultivo da batata-doce apresenta importância econômica, nutricional e social, sendo uma cultura relevante para a agricultura familiar no Brasil. Apesar de seu potencial, ela ainda é considerada uma cultura de subsistência, com a maior parte da produção nacional originada na agricultura familiar. A grande parte do cultivo ainda é realizada de forma empírica, sem a identificação de cultivares adequadas para cada região e sem o manejo apropriado. A pesquisa destaca a carência de orientação profissional e de estudos científicos que abordam o assunto, justificando a importância do trabalho. O cultivo de batata-doce em épocas fora do período tradicional pode gerar um incremento na renda do produtor devido à redução da oferta no mercado, permitindo a comercialização a preços mais altos.