Qualidade do leite de vacas submetidas a tratamento homeopático para mastite

Qualidade do Leite e Homeopatia

Informações do documento

Autor

Caroline Massignani

instructor Prof.ª Dr.ª Daniele Cristina da Silva Kazama (Orientadora)
Escola

Universidade Federal de Santa Catarina

Curso Zootecnia
Tipo de documento Trabalho de Conclusão de Curso
Local Florianópolis
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 784.04 KB

Resumo

I. A Mastite Um Problema na Produção Leiteira de Santa Catarina

A mastite, um processo inflamatório infeccioso da glândula mamária bovina, é uma das principais doenças que afetam a produção de leite em Santa Catarina. Ela pode se apresentar como mastite clínica (com sintomas visíveis) ou subclínica (sem sinais aparentes, mas com redução na produção e alteração na qualidade do leite). O diagnóstico é feito por meio de testes como o California Mastite Teste (CMT). O tratamento convencional utiliza antibióticos, mas o uso indiscriminado leva à seleção de cepas resistentes e resíduos no leite, impactando a qualidade do leite cru e a saúde pública. A alta contagem de células somáticas (CCS) no leite indica a presença de mastite, afetando o rendimento industrial e podendo gerar penalizações financeiras para os produtores. Em Santa Catarina, a bovinocultura de leite é uma atividade relevante, e a mastite representa significativas perdas econômicas para os produtores, especialmente em pequenas propriedades familiares que predominam na região sul do estado.

1. Definição e Classificação da Mastite

A seção inicia definindo mastite como um processo inflamatório da glândula mamária, podendo ser de origem infecciosa, traumática, metabólica, fisiológica, alérgica ou até psicológica. A classificação se dá em mastite clínica e subclínica. A mastite clínica se caracteriza por alterações visíveis na glândula mamária, no leite ou em ambos, frequentemente necessitando de tratamento com antibióticos. A mastite subclínica, por sua vez, apresenta diminuição na produção leiteira e alteração na composição do leite, sem sinais clínicos evidentes. Para o diagnóstico da mastite subclínica, o California Mastite Teste (CMT) é fundamental, sendo um método qualitativo e quantitativo que avalia a gelatinização do leite após mistura com reagente; quanto maior a densidade do gel, maior a quantidade de células somáticas presentes, indicando uma infecção mais intensa na glândula mamária. A detecção precoce é crucial para minimizar perdas econômicas.

2. Impacto Econômico e Agentes Causadores da Mastite

A mastite impacta significativamente a produção leiteira, gerando perdas econômicas elevadas devido a gastos com veterinários, medicamentos, descarte de animais, desperdício de leite e redução da qualidade do leite. Diversos microrganismos podem causar a mastite, incluindo bactérias como Streptococcus agalactiae, Staphylococcus aureus e outros estafilococos, Streptococcus uberis e Escherichia coli, além de micoplasmas, fungos e microalgas. No entanto, o Staphylococcus aureus é o microrganismo mais frequentemente isolado em amostras de leite cru. O uso inadequado e indiscriminado de antibióticos no tratamento convencional da mastite contribui para a seleção de cepas resistentes, aumentando custos e a dependência de novos produtos químicos, além do risco de resíduos no leite. Este cenário torna a busca por métodos alternativos de tratamento e prevenção extremamente relevante.

3. Métodos Alternativos de Controle e Prevenção da Mastite A Homeopatia

Diante dos problemas causados pelo uso indiscriminado de antibióticos no tratamento da mastite, métodos alternativos de controle e prevenção ganham importância. A homeopatia é apresentada como uma dessas alternativas, sendo um tratamento de menor custo, fácil aplicabilidade e que não deixa resíduos, minimizando riscos à saúde humana e ao meio ambiente. A homeopatia busca reduzir ou eliminar o uso indiscriminado de antibióticos, contrapondo o modelo convencional de criação de animais com terapêuticas menos agressivas, visando uma produção animal mais sustentável. Embora estudos com resultados promissores sejam citados, a necessidade de mais pesquisas para confirmar a eficácia da homeopatia no controle da mastite é ressaltada.

II. A Homeopatia como Alternativa Terapêutica para Mastite Bovina

A homeopatia veterinária surge como alternativa ao tratamento convencional da mastite, oferecendo um método de tratamento que não deixa resíduos e tem menor custo. Baseia-se no princípio de utilizar substâncias diluídas para estimular a resposta imunológica do animal, sem causar os efeitos colaterais dos antibióticos em bovinos. A homeopatia unicista, por exemplo, foca no tratamento individualizado ou mesmo em um rebanho como um único organismo através do método 'Gênio Epidêmico'. Estudos demonstram resultados promissores, mas mais pesquisas são necessárias para confirmar sua eficácia.

1. Princípios Básicos da Homeopatia e sua Aplicação em Medicina Veterinária

A seção descreve a homeopatia como uma ciência desenvolvida por Samuel Hahnemann, baseada na utilização de medicamentos preparados a partir de substâncias animais, minerais, vegetais ou de tecidos doentes, diluídos em álcool ou açúcar. O princípio básico é a utilização de substâncias inócuas em termos químicos, que, apesar da diluição, mantém a capacidade de estimular a resposta imunológica do organismo. A aplicação da homeopatia na medicina veterinária é apresentada como uma alternativa menos agressiva ao tratamento convencional, especialmente no contexto da mastite bovina, onde o uso indiscriminado de antibióticos tem gerado problemas como a seleção de cepas resistentes e a presença de resíduos no leite. A homeopatia é proposta como uma abordagem terapêutica de menor custo, fácil aplicabilidade e sem resíduos, contribuindo para uma produção mais sustentável e segura para o consumidor.

2. Estudos de Caso e Evidências da Eficácia da Homeopatia no Tratamento da Mastite

O texto apresenta diferentes estudos que investigaram a eficácia da homeopatia no tratamento da mastite. Um estudo de Mangiéri (2005) comparou o tratamento homeopático com placebo em vacas com mastite subclínica, observando aumento na produção láctea no grupo tratado com homeopatia, sem diferenças significativas na contagem de células somáticas (CCS). Outro estudo mencionado, de Mello-Peixoto et al. (2009), comparou animais homeopatizados com animais de sistema de produção tradicional, observando menor incidência de mastite nos animais tratados com homeopatia. O estudo principal, descrito no documento, também aponta para a eficácia do tratamento homeopático na redução da incidência de mastite, com uma queda de 66% após 105 dias de avaliação. Embora os resultados sejam promissores, a necessidade de mais estudos é ressaltada para uma validação mais robusta da eficácia da homeopatia no tratamento da mastite bovina.

3. Homeopatia Unicista e o Método Gênio Epidêmico

A seção menciona a homeopatia unicista, que se baseia no tratamento individualizado com um único medicamento homeopático (Simillimum), considerando sintomas gerais, mentais e físicos. No caso de rebanhos que apresentam comportamento e enfermidades semelhantes, o método 'Gênio Epidêmico' permite o tratamento como um único indivíduo. Os medicamentos homeopáticos são preparados por diluição em soluções hidroalcoólicas, em diferentes concentrações (CH - Centesimal Hahnemaniana). Essa abordagem destaca a individualidade ou a homogeneidade do rebanho como fator importante na escolha do tratamento homeopático. A utilização destes métodos é descrita como parte da metodologia empregada no estudo principal apresentado no documento, onde o tratamento homeopático foi individualizado ou aplicado ao rebanho como um todo.

III. MATERIAL E MÉTODOS Avaliação da Eficácia da Homeopatia no Tratamento da Mastite em Propriedades Leiteiras de Santa Catarina

Este estudo, realizado entre maio e outubro de 2015, avaliou a eficácia da homeopatia no tratamento da mastite bovina em duas propriedades leiteiras em Santa Catarina: uma em Forquilhinha (30 animais) e outra em Nova Veneza (32 animais), ambas com rebanhos da raça Jersey. A pesquisa analisou a qualidade do leite, incluindo CCS, contagem bacteriana total (CBT), teores de gordura, proteína, lactose e sólidos totais, antes, durante e após o tratamento homeopático. Foram realizados testes de CMT e caneca de fundo preto para detectar a mastite, e as práticas de higiene, como pré e pós-dipping, foram consideradas. O tratamento homeopático foi determinado após anamnese do rebanho através do método 'Gênio Epidêmico'.

1. Descrição das Propriedades e Localização

O estudo foi conduzido entre maio e outubro de 2015 em duas propriedades leiteiras localizadas no sul de Santa Catarina: uma em Forquilhinha (28°44’05”S, 49°28’20”W, altitude média de 42 metros, clima Cfa de Köeppen) e outra em Nova Veneza (28°38’13”S, 49°29’52”W, altitude média de 70 metros, clima Cfa de Köeppen). Ambas as propriedades utilizavam rebanhos da raça Jersey e sistema de ordenha tipo espinha de peixe, com duas ordenhas diárias. Em Forquilhinha, o sistema de pastoreio era rotacionado, com pastagem predominantemente composta por um híbrido de Brachiaria ruziziensi x B. decumbes e capim Mombaça (Panicum maximum cv. Mombaça), em área plana. A alimentação consistia em uma mistura de milho, farelo de soja, farelo de arroz, sal mineral e, ocasionalmente, cevada. Já em Nova Veneza, além do sistema de pastoreio rotacionado com híbrido de Brachiaria ruziziensi x B. decumbes e aveia preta (Avena sativa L.), os animais recebiam silagem de milho (aproximadamente 10 kg/animal/dia) e concentrado (aproximadamente 3 kg/animal/dia) composto por milho quirera, torta de soja e sal mineral. As diferenças na topografia e na alimentação entre as propriedades foram consideradas.

2. Caracterização do Rebanho e Coleta de Dados

Foram avaliados 62 animais, 30 em Forquilhinha e 32 em Nova Veneza. Inicialmente, foi realizada uma coleta de leite para análise de gordura, proteína, sólidos totais, lactose e contagem de células somáticas (CCS). O acompanhamento dos animais ocorreu em intervalos que variavam, devido à disponibilidade do veterinário, mas a coleta de leite para análise de qualidade era prevista para duas vezes ao mês. Em cada visita, todos os animais eram submetidos ao teste do CMT, e aqueles com reação positiva iniciavam ou continuavam o tratamento homeopático. O tratamento homeopático foi determinado após anamnese do rebanho utilizando o método Gênio Epidêmico. Foram realizadas nove avaliações ao longo do tempo para monitorar CCS, contagem bacteriana total (CBT), proteína, gordura, lactose e sólidos totais do leite.

3. Procedimentos de Coleta e Análises de Leite

Antes da coleta, os tetos eram lavados com água corrente em Forquilhinha e com pré-dipping de ácido lático em Nova Veneza. Após a secagem, o teste da mastite era realizado, descartando os três primeiros jatos de leite. O CMT era utilizado para verificar mastite subclínica. O leite era homogeneizado e transferido para recipientes com conservante. As amostras para análise de componentes e CCS eram enviadas em caixas não refrigeradas, enquanto as amostras para CBT eram acondicionadas em temperatura próxima a 7°C com gelo reciclável, segundo metodologia descrita por Horst (2012). Após a ordenha, o pós-dipping era realizado com solução de iodo em Forquilhinha e com solução de ácido lático em Nova Veneza. Os dados foram agrupados em dias em tratamento e dias após o tratamento, permitindo analisar a evolução dos parâmetros avaliados.

IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO Redução da Incidência de Mastite com Homeopatia

Os resultados mostraram uma redução de 66,0% na proporção de animais com sintomas de mastite após 105 dias de avaliação. A contagem de células somáticas (CCS), um importante indicador de mastite subclínica, apresentou uma redução significativa ao longo do período, embora tenha havido uma elevação inicial, possivelmente devido à resposta imunológica. Os teores de proteína e gordura no leite sofreram variações, possivelmente devido a fatores como nutrição e número reduzido de animais no pós-tratamento. A contagem bacteriana total (CBT) permaneceu dentro dos padrões estabelecidos pela legislação. O estudo sugere que a homeopatia pode ser uma alternativa eficaz no controle da mastite, principalmente para produtores orgânicos, sem os riscos associados ao uso indiscriminado de antibióticos e sem deixar resíduos no leite.

1. Análise dos Componentes do Leite

A lactose apresentou as menores variações em seus teores ao longo do tratamento homeopático, devido à sua estreita relação com a síntese de leite e a quantidade de água. A proteína apresentou uma queda após a interrupção do tratamento, possivelmente devido à diluição ou variações genéticas entre os animais analisados, influenciadas por fatores como ingestão de energia, consumo de matéria seca e estresse térmico. A gordura, por sua vez, sofreu as maiores variações, com uma queda brusca após o tratamento, ficando abaixo do mínimo estabelecido pela Instrução Normativa 62 em alguns momentos. Essa variação se deve à influência de fatores como dieta, raça (Jersey), estágio de lactação, estação do ano e sanidade do rebanho. Os sólidos totais apresentaram uma queda em julho, possivelmente devido ao aumento na contagem de células somáticas (CCS) e à baixa disponibilidade de pastagem, afetando os teores de gordura.

2. Avaliação da Contagem de Células Somáticas CCS

A contagem de células somáticas (CCS) foi o parâmetro mais sensível ao tratamento homeopático. Em Forquilhinha, houve um aumento de aproximadamente 58% na CCS em agosto, enquanto em Nova Veneza ocorreu uma queda. CCS elevada indica mastite, especialmente a subclínica, e está relacionada a perdas na produção de leite. Altos valores de CCS (acima de 300.000 cél/mL) prejudicam o rendimento industrial e geram penalidades financeiras aos produtores, segundo a Instrução Normativa nº 62. No estudo, a CCS média apresentou valores menores ao final das coletas em comparação ao início do tratamento, demonstrando eficácia da homeopatia na redução da CCS. Um aumento inicial da CCS foi observado, possivelmente devido à resposta imunológica induzida pelo tratamento homeopático, diminuindo gradativamente para manter a integridade do organismo. Animais com CCS constantemente alta devem ser retirados do rebanho.

3. Incidência de Mastite e Contagem Bacteriana Total CBT

A proporção de animais com sintomas de mastite foi reduzida em 66% após 105 dias de avaliação, caindo para aproximadamente 2%. Este dado corrobora com outros estudos que demonstraram redução da mastite subclínica com o uso de homeopatia. A contagem bacteriana total (CBT) ficou dentro dos limites da Instrução Normativa nº 62 (MAPA, 2011) em ambas as propriedades, indicando boas práticas de higiene na produção de leite. Os resultados demonstram a eficácia da homeopatia na redução da incidência de mastite e sugerem que o tratamento homeopático pode ser uma alternativa para produtores, principalmente os orgânicos, sem os prejuízos associados ao descarte do leite por resíduos de medicamentos alopáticos. Práticas de ordenha adequadas, como o uso da caneca de fundo preto, o California Mastite Teste (CMT), e pré e pós-dipping são essenciais para a detecção e prevenção da mastite.

Referência do documento

  • Mastite bovina e seu reflexo na qualidade do leite – revisão de literatura (JÚNIOR, Rineiro; BELOTI, Vanerli)