
Estágio em Romantismo: Poesia e Ensino
Informações do documento
Autor | Letícia Cortellete Melo |
instructor | Isabel Monguilhott |
Escola | Universidade Federal de Santa Catarina |
Curso | Letras – Língua Portuguesa e Literatura Vernáculas |
Tipo de documento | Relatório Final do Estágio de Docência |
Local | Florianópolis |
Idioma | Portuguese |
Formato | | DOCX |
Tamanho | 24.57 MB |
Resumo
I.Projeto de Docência Romantismo Brasileiro no Ensino Médio
Este projeto de docência, realizado no Colégio de Aplicação da UFSC em Florianópolis, focou no Romantismo Brasileiro, especificamente na poesia romântica. Utilizando uma abordagem sociointeracionista (Bakhtin), o projeto utilizou obras de autores como Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, e Castro Alves para desenvolver as habilidades de leitura e escrita dos alunos do 2º ano do Ensino Médio. Apesar do planejamento ter sido seguido, o engajamento da turma ficou aquém do esperado. O professor regente, George França (Mestrado e Doutorado em Literatura pela UFSC), colaborou ativamente no projeto.
1. Contextualização do Projeto e Objetivo
O projeto de docência "Romantismo: poesia, amor e crítica social" foi desenvolvido no Colégio de Aplicação da UFSC, localizado no bairro Trindade em Florianópolis, entre março e julho de 2015. A iniciativa partiu de um pedido do professor regente, George França, para dar continuidade ao seu planejamento de ensino de poesia romântica brasileira para uma turma de 2º ano do Ensino Médio. A orientação pedagógica foi conduzida pela Professora Dra. Isabel Monguilhott. A metodologia utilizada baseou-se em uma concepção sociointeracionista da linguagem (Bakhtin), visando reconhecer o aluno como agente ativo na construção do conhecimento. O projeto selecionou obras e autores representativos do Romantismo brasileiro, incluindo Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu e Castro Alves, com o objetivo de potencializar as práticas linguísticas dos alunos nas modalidades de fala/escuta e leitura/escrita, utilizando a poesia como gênero discursivo principal. Apesar do cumprimento do planejamento, a participação e o engajamento da turma ficaram abaixo do esperado.
2. Metodologia e Recursos Didáticos
A abordagem metodológica do projeto se fundamentou na teoria sociointeracionista de Bakhtin, promovendo a participação ativa dos alunos. Para alcançar os objetivos, foram selecionados poemas de autores clássicos do Romantismo brasileiro, buscando analisar suas características principais e o contexto histórico. Além disso, o projeto utilizou recursos multimidiáticos para atualizar o tema, incorporando filmes, músicas e outras formas de expressão artística contemporânea com afinidades ao movimento romântico. A intenção era transcender a simples análise textual, conectando a poesia romântica à realidade dos alunos. A utilização de recursos como slides e a constante interação com a turma, representada pela pergunta “o que vocês acham?”, demonstra a busca por uma interpretação plural e contextualizada dos textos, diferentemente de uma abordagem que simplesmente apresenta leituras prontas, como critica Martins (2006). A produção textual foi fortemente incentivada, seguindo as etapas de planejamento, operação e revisão propostas por Irandé Antunes (2003), com a produção de resenhas e a participação em discussões em sala de aula como etapas preparatórias.
3. Avaliação e Resultados
A avaliação da aprendizagem considerou a capacidade de leitura e interpretação de poemas, bem como a produção escrita dos alunos. A metodologia de avaliação incluiu atividades como a elaboração de resenhas sobre diferentes versões cinematográficas de romances românticos e relatos críticos sobre eventos assistidos, sempre com a possibilidade de reescrita, seguindo os princípios de Geraldi (1999). O projeto culminou em um sarau de poesias, onde os alunos apresentariam suas produções de forma criativa, utilizando recursos audiovisuais e outras linguagens artísticas. No entanto, a participação dos alunos nesse momento ficou aquém do esperado, limitando-se a leituras em voz alta, sem o engajamento e criatividade esperados. Apesar do planejamento e execução das aulas terem sido seguidos conforme proposto, o baixo nível de envolvimento da turma demonstra a necessidade de reflexões sobre o engajamento dos alunos, apontando para o desafio constante de se obter a participação ativa em sala de aula.
II.Prática Pedagógica do Professor George França
A observação da prática pedagógica do professor George França revelou o uso de metodologias diversificadas para o ensino de Língua Portuguesa, incluindo o filme O Morro dos Ventos Uivantes para introduzir conceitos do Romantismo. A ênfase estava na oralidade e escrita, com atividades como resenhas e relatos críticos, alinhadas aos PCNs (1998). A utilização de novas tecnologias, como datashow e computadores, e a flexibilidade do planejamento demonstram uma abordagem moderna e dinâmica. O Colégio de Aplicação, com sua excelente infraestrutura, incluindo biblioteca, laboratórios e salas de projeto, forneceu um ambiente propício para essa prática.
1. Perfil do Professor George França
O professor George França é formado em Letras - Português pela UFSC, com mestrado e doutorado na mesma instituição. Iniciou suas atividades no Colégio de Aplicação em 2011, ainda durante seu doutorado. Atualmente, leciona para duas turmas de 2ª série do Ensino Médio e também ocupa o cargo de Coordenador de Comunicação, Divulgação e Eventos da escola, totalizando 40 horas semanais de trabalho em regime de Dedicação Exclusiva. Sua dedicação é dividida entre 20 horas para atividades de ensino e pesquisa, e 20 horas para as funções de coordenação. Essa informação contextualiza sua experiência e a dedicação ao trabalho na escola, que influencia diretamente sua prática pedagógica.
2. Abordagem Pedagógica no Ensino do Romantismo
Durante o período de observação de 10 aulas, o professor George abordou o Romantismo utilizando o filme "O Morro dos Ventos Uivantes" como ponto de partida. Essa escolha possibilitou uma abordagem dinâmica e dialogal, instigando discussões entre o professor e os alunos, que foram estimulados a construir suas próprias interpretações. A metodologia se alinha com a visão de Martins (2006), que defende a colaboração do professor na construção de interpretações, em detrimento de apresentações de leituras prontas. A pergunta recorrente “o que vocês acham?” demonstra a valorização da perspectiva do aluno e a busca por uma compreensão plural do texto literário. O trabalho envolveu os quatro eixos dos PCNs (1998) para o ensino de Língua Portuguesa – escrita, leitura, oralidade e análise linguística – com ênfase na produção textual, incluindo a escrita de resenhas e a participação em debates como etapas de planejamento textual. A inclusão de uma visita à conferência da Comissão da Verdade da UFSC demonstra a flexibilidade do planejamento para proporcionar momentos diferenciados de aprendizagem, extrapolando os limites da disciplina e integrando aspectos políticos, históricos e sociais à aula de Língua Portuguesa.
3. Recursos e Estratégias de Ensino
A didática do professor se caracteriza por sua diversidade e dinamismo, buscando evitar a monotonia das aulas. Ele utiliza recursos como apresentações de slides, trechos de filmes, músicas e pinturas, buscando despertar o interesse dos alunos, especialmente considerando o período matutino e a tendência ao sono de adolescentes. A avaliação também é diferenciada, utilizando atividades como resenhas e relatos críticos, sempre com a possibilidade de reescrita, incentivando o domínio da escrita e a aprendizagem do gênero em estudo, seguindo as diretrizes de Geraldi (1999). O uso de tecnologias digitais é integrado ao processo de ensino-aprendizagem para aproximar os conteúdos da realidade dos alunos e promover a interação com diferentes formas de letramento. A preparação prévia das aulas garante segurança em relação ao tempo e ao conteúdo, o que é facilitado pelas condições de trabalho do Colégio de Aplicação, que valoriza a prática pedagógica e o tempo de preparação dos professores. A escola também fomenta o debate e a discussão pedagógica entre os docentes, com reuniões para discutir temas como avaliação, buscando a melhoria contínua do processo de ensino-aprendizagem e a autoavaliação da prática profissional.
III.Projeto Extraclasse Teatro e a Peça O Santo e a Porca
O projeto extraclasse, inicialmente planejado para 12 horas, teve de ser adaptado devido a imprevistos. A peça escolhida, O Santo e a Porca, de Ariano Suassuna, foi estudada no Projeto Ação Social Coloninha da Prefeitura Municipal de Florianópolis. Devido a mudanças no público-alvo e limitações de tempo, as atividades foram reduzidas à leitura e estudo da peça, focando em dinâmicas teatrais. Apesar dos desafios, a experiência foi avaliada positivamente devido ao engajamento dos alunos do projeto social.
1. Conceito e Objetivo Inicial do Projeto Extraclasse
O projeto extraclasse, intitulado "Do papel ao corpo: movimentos teatrais na escola", tinha como objetivo inicial a realização de 12 horas de atividades teatrais com alunos. A escolha do teatro justificou-se pelo seu caráter dinâmico, considerado atrativo para os alunos. A peça selecionada para o trabalho foi "O Santo e a Porca", de Ariano Suassuna, uma obra presente na lista de leituras do vestibular da UFSC, o que poderia motivar a participação dos alunos, especialmente aqueles do terceiro ano. A intenção era ir além da simples leitura, buscando a encenação e apresentação da peça, integrando elementos do gênero discursivo peça teatral e dinâmicas de grupo. O projeto visava agregar conhecimentos e contribuir para o desenvolvimento dos alunos, desde a compreensão do texto até a experiência prática da representação teatral.
2. Adaptação do Projeto e Imprevistos
Devido a uma série de imprevistos, o projeto extraclasse não pôde ser realizado conforme o planejado. As 12 horas inicialmente previstas foram reduzidas para 6 horas, realizadas no Projeto Ação Social Coloninha, da Prefeitura Municipal de Florianópolis. Este projeto atende alunos de escolas municipais e estaduais da comunidade no contraturno escolar. A mudança de público e as dificuldades logísticas levaram à adaptação das atividades. Em vez da encenação completa de "O Santo e a Porca", as atividades se concentraram na leitura e no estudo do texto, focando em dinâmicas que exploravam diferentes aspectos da peça, como a interação entre os personagens, a exploração dos aspectos corporais e vocais da interpretação e o trabalho com cenários e figurinos. Apesar dos imprevistos e da redução do tempo, o projeto se adaptou para atender às necessidades da nova situação.
3. Avaliação e Reflexões sobre a Experiência
Apesar das dificuldades encontradas, a avaliação do projeto extraclasse foi positiva. No Projeto Ação Social Coloninha, os alunos se mostraram receptivos, participativos e interessados, colaborando ativamente nas atividades propostas. Essa experiência demonstra como a receptividade do público-alvo e seu contexto influenciam diretamente no desenvolvimento de um projeto. A comparação com a experiência do projeto de docência em sala de aula, onde o engajamento da turma foi menor, destaca a importância de se considerar as características e contextos específicos de cada grupo. A conclusão ressalta que a frustração faz parte da prática docente e que a realização plena de um projeto depende, fundamentalmente, da participação ativa do outro - o aluno. A experiência, mesmo com as mudanças e imprevistos, teve um resultado positivo graças a adaptação e o engajamento do público-alvo. A sugestão de inserir o projeto nas aulas de recuperação, mesmo com a limitação de tempo, demonstra uma tentativa de cumprir com a proposta inicial mesmo diante dos desafios.
IV.Desafios e Reflexões sobre a Prática Docente
O relatório final reflete sobre os desafios da prática docente, enfatizando a importância da participação ativa dos alunos no processo de aprendizagem. A experiência destacou a necessidade de flexibilidade no planejamento de aulas e a busca constante por novas estratégias de ensino para manter o engajamento dos alunos. A comparação entre as experiências do Estágio I e II ilustra a variedade de contextos e desafios encontrados na educação pública brasileira, mostrando a influência do público-alvo no desenvolvimento do projeto. A importância de uma formação que inclua o assessoramento direto a professores experientes é apontada como um ponto crucial para a formação docente.
1. A Importância da Participação do Aluno
O relatório enfatiza a importância crucial da participação ativa dos alunos para o sucesso da prática docente. A frase "a aula só pode acontecer mediante a participação do outro – o educando" resume essa ideia central. A experiência relatada nos projetos de docência e extraclasse demonstra como o engajamento do aluno é determinante para a efetividade das atividades propostas. Nos dois projetos, observa-se uma diferença significativa no nível de participação dos alunos, influenciando diretamente os resultados. Essa diferença é analisada, refletindo sobre os diferentes contextos e características dos grupos envolvidos. A reflexão aponta para a necessidade de adaptação das estratégias de ensino para promover um maior engajamento e a importância da participação ativa no processo de ensino-aprendizagem. A experiência reforça a complexidade da prática docente e a necessidade de constante adaptação às diferentes realidades e expectativas dos alunos.
2. Flexibilidade no Planejamento e Estratégias de Ensino
A experiência relatada destaca a importância da flexibilidade no planejamento de aulas. Os imprevistos enfrentados no projeto extraclasse, que levou à redução das horas e à mudança do público-alvo, demonstram a necessidade de adaptação constante. A autora observa que nem todos os momentos podem ser previstos e cronometrados, enfatizando a influência do dia, da turma, do humor e da motivação no desenvolvimento das atividades. A busca por novas estratégias de ensino é apresentada como fundamental para manter o engajamento dos alunos e alcançar os objetivos de aprendizagem, especialmente diante de um público que, como os alunos do projeto extraclasse em uma escola pública, podem não estar tão acostumados com determinadas metodologias. A reflexão sobre a própria prática pedagógica e a busca constante por novas abordagens são apresentadas como essenciais para o sucesso na docência, citando Paulo Freire: “Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”.
3. A Influência do Público Alvo e a Formação Docente
A experiência nos dois estágios – um em uma escola pública e outro em uma escola pública de referência – permitiu uma comparação entre diferentes contextos e públicos-alvo, mostrando como a receptividade dos alunos e suas características influenciam diretamente o desenvolvimento de um projeto. O sucesso do projeto extraclasse com alunos de uma comunidade carente, apesar das dificuldades e adaptações necessárias, contrasta com a menor participação dos alunos do Colégio de Aplicação. Essa comparação leva a autora a refletir sobre a importância de se considerar as especificidades de cada grupo de alunos. Em relação à formação docente, a autora sugere uma reformulação do modelo de estágio, propondo um maior acompanhamento do professor em sala de aula, incluindo a preparação de aulas e correção de trabalhos. Isso possibilitaria uma orientação mais efetiva e o desenvolvimento de uma prática pedagógica mais enriquecida, com sugestões e críticas construtivas por parte do professor supervisor. A experiência também demonstra a importância do autoconhecimento e a superação da insegurança inicial como professora.