
Trypanosoma vivax: Diagnóstico e Controle
Informações do documento
Autor | Hélio Domingos Pereira |
instructor | Profª. Dra. Sara Vilar Dantas Simões |
Escola | Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias |
Curso | Ciência Animal |
Tipo de documento | Dissertação |
Local | Não especificado no documento |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 481.45 KB |
Resumo
I.Resumo do Estudo Surto de Trypanosoma vivax no Maranhão
Este estudo investigou um surto de tripanossomíase bovina, causada pelo parasita Trypanosoma vivax, em uma propriedade leiteira em Timon, Maranhão, Brasil. O proprietário relatou abortos, nascimento de bezerros fracos e mortalidade de animais adultos com perda de peso progressiva. Foram utilizados diversos métodos de diagnóstico, incluindo o teste de Woo, hemogramas, testes sorológicos para tripanossomíase, leptospirose e neosporose, e PCR para diagnóstico molecular de T. vivax. A principal alteração hematológica foi a anemia, com baixos valores de hematócrito em vários animais. Dois animais testaram positivo para T. vivax pelo teste de Woo e PCR, confirmando a presença do parasita. A alta prevalência sorológica (82,51% dos animais testados) sugere contato amplo com o agente. O surto foi controlado com o uso de drogas tripanocidas. Este é o primeiro surto de Trypanosoma vivax registrado no estado do Maranhão, destacando a importância de um diagnóstico precoce e medidas de controle adequadas para minimizar perdas econômicas na bovinocultura.
1. Introdução ao Surto e Objetivo do Estudo
O estudo teve como objetivo principal investigar a ocorrência de tripanossomíase em uma propriedade leiteira localizada no município de Timon, estado do Maranhão. O proprietário dessa propriedade relatou um histórico preocupante de problemas de saúde em seu rebanho bovino, incluindo abortos, nascimento de bezerros com fraqueza e mortalidade de animais adultos com perda progressiva de peso. Esses sinais clínicos sugeriam a possível presença da tripanossomíase, doença causada pelo protozoário Trypanosoma vivax. A crescente expansão da bovinocultura no Maranhão, e a importância econômica desta atividade na região, tornam este estudo relevante para avaliar o impacto dessa enfermidade. A localização geográfica específica do surto, em uma propriedade leiteira de Timon, Maranhão, é crucial para o contexto do estudo e para direcionar futuras ações de prevenção e controle da doença.
2. Metodologia de Diagnóstico e Resultados
Para investigar a ocorrência de tripanossomíase, foram realizadas visitas à propriedade para coleta de dados e amostras. Foram utilizados diversos métodos diagnósticos, incluindo a técnica de Woo para observação microscópica direta de tripanossomas no sangue, hemogramas para avaliação da saúde geral dos animais, testes sorológicos para detectar anticorpos contra Trypanosoma vivax, leptospirose e neosporose, e PCR para confirmar molecularmente a presença do T. vivax. Os resultados demonstraram que a principal alteração hematológica identificada no rebanho foi a redução do hematócrito em vários animais, indicando anemia. Dois animais apresentaram resultado positivo no teste de Woo e este resultado foi confirmado por meio de diagnóstico molecular (PCR), confirmando a presença do Trypanosoma vivax. De forma significativa, 95,23% (40/42) dos animais com baixo hematócrito apresentaram sorologia positiva para T. vivax. Uma alta porcentagem (82,51% ou 151/183) dos animais testados apresentaram sorologia positiva para T. vivax, demonstrando uma alta prevalência de contato com o agente na propriedade.
3. Fatores de Risco Co infecções e Controle do Surto
Condições na propriedade contribuíram para o surto, incluindo a presença de um ambiente favorável aos vetores mecânicos da doença (insetos), a presença de animais silvestres (capivaras) que podem atuar como reservatórios, e a introdução de animais de outras regiões onde já havia registros de surtos de tripanossomíase. A ocorrência de abortos, sem outros sinais clínicos evidentes da tripanossomíase, sugere uma possível co-infecção com leptospirose, reforçada pela detecção de altos títulos de anticorpos contra esta bactéria nos animais testados. Apesar da alta prevalência de sorologia positiva, o bom estado nutricional e as medidas sanitárias adotadas na propriedade parecem ter contribuído para uma resposta imune eficiente, evitando maiores taxas de morbidade e mortalidade. A rápida implementação de medidas de controle, incluindo a administração de drogas tripanocidas, foi crucial para controlar o surto, cessando os óbitos e melhorando significativamente o estado de saúde dos animais sintomáticos. Apesar disso, as perdas econômicas geradas pela doença foram significativas.
4. Conclusões e Implicações do Surto
Este estudo confirmou a ocorrência do primeiro surto de Trypanosoma vivax no estado do Maranhão, Brasil. A combinação de fatores, como a introdução de animais infectados, condições ambientais propícias e intensificação da criação de gado, favoreceram a ocorrência e disseminação da tripanossomíase, causando graves perdas produtivas. A leptospirose foi identificada como uma co-infecção, contribuindo para os abortos observados. A semelhança dos sinais clínicos da tripanossomíase com outras doenças, e a possibilidade de infecções mistas, dificultaram o diagnóstico clínico. O estudo destaca a importância de medidas diagnósticas adequadas para um controle efetivo da doença e a minimização das perdas econômicas para os produtores. A identificação desse primeiro surto no Maranhão serve como alerta para a necessidade de vigilância e medidas preventivas em todo o estado, considerando a importância da bovinocultura para a economia regional.
II.Diagnóstico da Tripanossomíase Bovina
O diagnóstico da tripanossomíase se mostrou desafiador devido à semelhança dos sinais clínicos com outras doenças, como anaplasmose e babesiose. Os métodos utilizados incluíram exames parasitológicos (teste de Woo, esfregaços sanguíneos), sorológicos (detectando anticorpos contra T. vivax) e moleculares (PCR para detecção do DNA do parasita). A PCR provou ser essencial para a confirmação diagnóstica, oferecendo alta especificidade. A baixa sensibilidade dos métodos parasitológicos destaca a importância da combinação de técnicas para um diagnóstico completo e preciso.
1. Métodos Parasitológicos para Diagnóstico
O diagnóstico da tripanossomíase bovina envolveu a utilização de métodos parasitológicos, como o exame de esfregaços sanguíneos corados e a técnica de concentração em tubos de microhematócrito (teste de Woo). Esta última técnica, desenvolvida por Woo em 1970, permite a observação direta de formas sanguíneas do parasita em preparações coradas, examinadas sob microscopia óptica. Outras técnicas citadas incluem o aspirado de linfonodo e a centrifugação em colunas de troca iônica. Entretanto, é importante notar que os métodos parasitológicos apresentam baixa sensibilidade, variando de acordo com a parasitemia (quantidade de parasitas no sangue). Esta baixa sensibilidade limita a eficácia destes métodos como único diagnóstico, necessitando de métodos complementares para confirmação.
2. Métodos Sorológicos para Detecção de Anticorpos
Métodos sorológicos foram empregados para detectar a presença de anticorpos contra o Trypanosoma vivax, indicando contato prévio com o parasita. As técnicas sorológicas utilizadas incluíram a reação de imunofluorescência indireta (RIFI), o ensaio de imunoadsorção enzimático (ELISA) e o teste de aglutinação em cartão. Embora os métodos sorológicos apresentem maior sensibilidade que os parasitológicos, é importante ressaltar que a positividade indica apenas contato com o parasita, não confirmando necessariamente uma infecção ativa. A detecção de anticorpos pode representar uma infecção passada ou presente, exigindo métodos complementares para definir o estado atual da infecção.
3. Diagnóstico Molecular via PCR Confirmação da Infecção
Métodos moleculares, especificamente a reação em cadeia da polimerase (PCR), foram utilizados para detecção do DNA de T. vivax no sangue. A PCR convencional e a PCR em tempo real são ótimas ferramentas para detectar a presença do parasita, mesmo em pequenas quantidades, permitindo um diagnóstico precoce e específico. Apesar de não fornecer informações sobre a gravidade da infecção, prognóstico ou a fase da infecção, a PCR apresenta alta especificidade, tornando-se um teste confirmatório crucial. A capacidade da PCR em identificar o parasita mesmo com baixa parasitemia torna-se particularmente útil, superando as limitações de sensibilidade dos métodos parasitológicos. Além do diagnóstico definitivo, a PCR permite a caracterização genética das cepas, fornecendo informações valiosas para estudos epidemiológicos.
4. Desafios no Diagnóstico da Tripanossomíase Bovina
O diagnóstico diferencial da tripanossomíase bovina se mostrou complexo devido à semelhança dos sinais clínicos com outras enfermidades, como anaplasmose e babesiose. A similaridade sintomatológica dificulta o diagnóstico clínico, agravado pelo fato de alguns medicamentos utilizados no tratamento de anaplasmose e babesiose também apresentarem alguma eficácia contra tripanossomas. Esta sobreposição terapêutica pode levar à recuperação parcial do animal, mascarando a verdadeira enfermidade e gerando equívocos no diagnóstico. A possibilidade de infecções mistas, com dois ou mais agentes patológicos no mesmo animal, também complica o diagnóstico. A necessidade de um conjunto de métodos diagnósticos (parasitológicos, sorológicos e moleculares) reforça a importância de uma abordagem integrada e precisa para garantir um diagnóstico preciso e eficaz.
III.Aspectos Clínico epidemiológicos e Controle do Surto
Sinais clínicos observados incluíram abortos, fraqueza, perda de peso, anemia, lacrimejamento, e em alguns casos, sintomas neurológicos. A presença de vetores mecânicos (moscas e mutucas) na propriedade, animais silvestres (capivaras) e a introdução de animais de outras regiões com histórico de tripanossomíase contribuíram para a disseminação da doença. A leptospirose foi identificada como uma possível doença co-infecciosa, contribuindo para os casos de aborto. O bom estado nutricional dos animais e a implementação rápida de medidas de controle, incluindo o uso de drogas tripanocidas, contribuíram para o controle do surto e redução da mortalidade.
1. Sinais Clínicos e Curso da Doença
Os sinais clínicos observados nos animais infectados incluíam abortos, fraqueza em bezerros, mortalidade em adultos com perda de peso progressiva, além de outros sintomas como queda na produção de leite, inflamação das pálpebras e lacrimejamento. Em alguns casos, foram observados sintomas neurológicos, como andar em círculos, cegueira e incoordenação motora. A doença apresentou um curso clínico variável, indo de casos agudos com morte em menos de 48 horas a formas crônicas. A ausência de sintomas patognomônicos dificulta o diagnóstico clínico, que pode ser confundido com outras enfermidades como anaplasmose e babesiose. A semelhança dos sintomas com outras doenças reforça a necessidade de exames laboratoriais para confirmação diagnóstica. A ocorrência de abortos sem outros sinais clínicos sugeriu a possibilidade de co-infecções, como leptospirose, destacando a complexidade do quadro clínico.
2. Fatores de Risco e Epidemiologia do Surto
Diversos fatores contribuíram para o surto de tripanossomíase na propriedade. O ambiente propício à proliferação de vetores mecânicos (moscas e mutucas), a presença de animais silvestres (capivaras), e a introdução de animais de outras regiões com histórico de surtos de tripanossomíase foram apontados como fatores de risco importantes. A alta infestação por carrapatos e o desconforto causado por moscas e mutucas podem ter levado ao estresse dos animais, reduzindo suas defesas imunológicas e predispondo-os à doença. Embora o uso inadequado de agulhas tenha sido mencionado como fator de risco em outros surtos de tripanossomíase em rebanhos leiteiros, essa prática não foi observada na propriedade estudada, sugerindo que a transmissão mecânica por insetos foi o principal meio de disseminação. A alta porcentagem de animais soropositivos (82,51%) demonstra um amplo contato com o agente infeccioso no rebanho.
3. Medidas de Controle e Resultados
O rápido estabelecimento de medidas de controle foi fundamental para conter a disseminação do surto. O uso de drogas tripanocidas foi crucial para interromper a progressão da doença, resultando na cessação dos óbitos e melhora significativa dos animais sintomáticos. O tratamento precoce, especialmente em áreas onde a transmissão é mecânica e a parasitemia é alta no início da doença, interrompe a transmissão vetorial. O bom estado nutricional dos animais e a adoção de medidas sanitárias adequadas na propriedade contribuíram para uma resposta imune eficiente, limitando a severidade da infecção e evitando complicações. Apesar do sucesso no controle do surto, as perdas econômicas decorrentes da doença foram consideráveis, incluindo custos com tratamento, redução da produção de leite e mortalidade de animais. A experiência destacada no estudo demonstra a importância de um diagnóstico e um manejo precoces e eficazes para minimizar os impactos da tripanossomíase bovina.
IV.Informações da Propriedade em Timon Maranhão
O estudo foi realizado em uma propriedade leiteira localizada no município de Timon, Maranhão, com aproximadamente 280 animais, principalmente da raça Girolando. A produção média de leite era de 750 litros/dia. A propriedade apresentava alta infestação de carrapatos e moscas, além da proximidade com o rio Parnaíba e a presença de animais silvestres (capivaras) em uma área de reserva legal de 55 hectares. Em 2015, foram registrados 15 abortos nos primeiros cinco meses do ano, além de seis óbitos de animais adultos.
1. Características da Propriedade e do Rebanho
O estudo foi conduzido em uma propriedade leiteira localizada em Timon, Maranhão, composta por cerca de 280 animais de diferentes categorias, predominantemente da raça Girolando (cruzamento de Gir e Holandesa). A produção diária de leite era em torno de 750 litros, obtidos em duas ordenhas, indicando um sistema de criação semi-intensivo. A propriedade possuía uma área de reserva legal de 55 hectares, próxima ao rio Parnaíba, com uma lagoa de aproximadamente 1 km de comprimento e 4 metros de profundidade, que se ampliava durante a época chuvosa. A presença de animais silvestres, como capivaras, com livre acesso à lagoa e aos pastos, foi observada, podendo contribuir para a disseminação da doença. Os animais eram alimentados com capim Massai e Andropogon, recebendo suplementação mineral e proteica, enquanto os bezerros eram criados em piquetes com capim Tifton, recebendo mineralização e concentrado. O manejo reprodutivo era baseado em monta controlada, com índices de natalidade considerados satisfatórios.
2. Histórico de Problemas Sanitários na Propriedade
A propriedade apresentava problemas sanitários recorrentes, incluindo alta infestação de carrapatos, causando debilidade nos animais, perda de peso e queda na produtividade. O controle da infestação era difícil devido às condições climáticas da região (alta temperatura e umidade). Além dos carrapatos, havia alta infestação de moscas dos estábulos e mutucas, especialmente intensa na estação chuvosa. O proprietário relatou um histórico de abortos esporádicos, com cinco casos registrados em 2014, que aumentaram significativamente em 2015, com 15 casos nos cinco primeiros meses do ano. Nesse mesmo período, foram observados outros sintomas em alguns animais, como queda na produção de leite, perda de peso progressiva, inflamação das pálpebras, lacrimejamento e problemas reprodutivos (repetição de cio e perda de libido em um reprodutor). Seis óbitos de animais adultos foram registrados. Diversos medicamentos, incluindo antimicrobianos, imidocarb, diaceturato de diminazene, corticoides, antitóxicos e cálcio, foram utilizados sem sucesso antes do diagnóstico da tripanossomíase.