
Ensino de Biologia a Distância
Informações do documento
Autor | Sabrina Maria Rinaldi |
instructor | Paloma Dias Silveira |
Escola | Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) |
Curso | Mídias na Educação |
Tipo de documento | Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização |
Local | Porto Alegre |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 780.18 KB |
Resumo
I.A História da Educação a Distância EAD no Brasil
Este trabalho investiga a evolução da Educação a Distância (EAD) no Brasil, desde os primórdios do ensino por correspondência até a era digital. Menciona o surgimento da primeira rede de televisão educativa no Rio Grande do Sul em 1966 (Canais 5 e 12, com o programa "Positivo e Negativo"), o Telecurso 2000 (Fundação Roberto Marinho), e a criação da Secretaria de Educação a Distância em 1995 e o projeto "TV Escola". A pesquisa analisa a transição da EAD televisiva para a modalidade online, destacando os desafios e avanços tecnológicos que impulsionaram a aprendizagem online.
1. Ensino à Distância por Correspondência Os Primórdios
A trajetória da educação a distância no Brasil é retratada, iniciando com o ensino por correspondência. O texto cita Alves (2011), que aponta para meados de 1850, quando pecuaristas e agricultores europeus utilizavam este método para aprender técnicas de cultivo e criação de gado. Apesar de seu surgimento precoce, a modalidade enfrentou obstáculos significativos devido à baixa priorização por parte das autoridades e as dificuldades logísticas e financeiras dos serviços postais da época, limitando seu alcance e desenvolvimento.
2. A Era da Televisão Educativa Telecurso e TV Escola
A evolução da educação à distância no Brasil é marcada pela introdução da televisão como ferramenta educacional. O Rio Grande do Sul liderou o caminho com a criação, em 1966, da primeira rede de televisão educativa do país, os canais 5 e 12, que exibiam o programa "Positivo e Negativo", apresentado por Nelson Marchesan e Ziláh Totta. Posteriormente, o Programa Aprenda pela TV ofereceu cursos de qualificação profissional. Um marco importante foi o surgimento do Telecurso 2000 (1978), em parceria com a Fundação Roberto Marinho e a Rede Globo, que preparava alunos para o segundo grau por meio de programas televisivos e fascículos. Em 1995, a criação da Secretaria de Educação a Distância e o lançamento do projeto "TV Escola", com o objetivo de oferecer formação continuada a professores da educação básica, representou um esforço governamental significativo para expandir o acesso à educação à distância. Embora a TV Escola representasse um avanço, as aulas pouco interativas e a rigidez dos horários limitaram seu sucesso, contrastando com as possibilidades da EAD online.
3. A Era Digital e a Expansão do Ensino Superior a Distância
A partir de 1995, o cenário da educação a distância sofreu uma transformação radical com a expansão da internet. As instituições de ensino superior reconheceram o potencial da EAD como um novo mercado, impulsionando seu crescimento. A Lei nº 9.394/96, marco legal da reforma educacional brasileira, oficializou a EAD em todos os níveis de ensino, conferindo-lhe status formal na legislação pela primeira vez. O texto destaca que o sucesso da EAD no Brasil não se deve apenas à necessidade, mas também à vontade da população por uma educação moderna e de qualidade. A EAD superou barreiras geográficas e de tempo, democratizando o acesso ao conhecimento, especialmente em regiões de difícil acesso aos grandes centros urbanos. A modalidade, portanto, quebrou paradigmas e se consolidou como alternativa relevante ao ensino tradicional.
II.O Aluno e o Professor no Ambiente Virtual de Aprendizagem AVA
A pesquisa explora as características do aluno virtual e do professor virtual em diferentes modalidades de ensino. Analisa a importância da aprendizagem colaborativa em comunidades virtuais, contrastando-a com a experiência presencial. Discute as dificuldades e benefícios da autonomia no aprendizado online, considerando estilos de aprendizagem, necessidades individuais, e o uso de recursos digitais. A questão da transposição didática, adaptando o conteúdo para o ambiente virtual, é também abordada.
1. O Perfil do Aluno Virtual e a Autonomia na Aprendizagem Online
A seção analisa o perfil do aluno em ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), destacando a importância da autonomia e da capacidade de autogestão no processo de aprendizagem online. Embora o aluno de sucesso em EAD seja frequentemente descrito como aquele que aprende de forma independente, com pouca necessidade de intervenção do professor, a realidade é mais complexa. O texto argumenta que alguns alunos com alto desempenho acadêmico em ambientes presenciais podem necessitar de mais suporte em um AVA, uma vez que a falta de interação não verbal, como sorrisos ou expressões faciais do professor, pode gerar ansiedade. A individualidade dos alunos, considerando seus estilos de aprendizagem, gêneros, culturas e eventuais deficiências, deve ser considerada, pois a simples inserção de recursos digitais não garante a aprendizagem. A tecnologia, por sua vez, pode ser fonte de frustração se o acesso ou funcionamento dos equipamentos for um obstáculo, levando ao abandono do curso. A interatividade, portanto, depende mais de uma mudança de postura do professor e aluno do que da tecnologia em si, requerendo um ambiente facilitador e cooperativo.
2. O Papel do Professor Tutor no Ambiente Virtual e os Temores do Professorado
O papel do professor ou tutor em um ambiente virtual de aprendizagem (AVA) é crucial para o sucesso da educação a distância. O texto contrapõe a ideia equivocada de que lecionar online envolve apenas uma mudança curricular; na verdade, a transformação principal reside na pedagogia. Cursos online de qualidade exigem mudanças de paradigma em relação ao material didático, roteiros e objetivos, que devem ser mais abertos e flexíveis. O professor em ambiente virtual tem a possibilidade de reconstruir o plano de ensino com auxílio da comunidade virtual, porém, demanda maior esforço de concepção e produção de material didático (Santos, 2003). O tutor precisa ter a mesma competência profissional de um conteudista para garantir um acompanhamento consistente do aluno. Existem temores por parte dos professores em relação ao ensino online, como a substituição pelo computador, redução salarial, exploração, perda de liberdade e controle excessivo pelo sistema. A transposição didática, a reinterpretação do conteúdo pelo tutor, também é discutida como um aspecto que requer atenção e cuidado.
3. A Importância da Interação e da Comunicação no AVA
A comunicação entre professor e aluno em um ambiente virtual de aprendizagem (AVA) requer atenção e cuidado. A interação eficaz depende de uma mudança de postura tanto do professor quanto do aluno. A utilização de ferramentas de apoio e várias formas de diálogo é essencial para auxiliar na resolução de dúvidas, que são mais frequentes em cursos complexos como o de Biologia. O texto enfatiza a necessidade de clareza quanto ao tempo exigido do aluno, o estímulo à participação ativa e o compartilhamento de informações desde o início. A utilização de fóruns de discussão para criar um contrato de aprendizagem e esclarecer dúvidas é recomendada. A questão do tamanho dos textos também é relevante, com a sugestão de textos curtos em telas e a possibilidade de impressão para textos maiores (Moran, 2005). Simuladores podem ser úteis, mas não substituem a prática em laboratório. A comunicação deve ser sempre profissional, ética e respeitosa, buscando empatia e bom senso. Não há uma receita única para um curso online de sucesso, mas sim uma reflexão sobre a experiência e a bibliografia da área.
III.Educação Híbrida Blended Learning e o Ensino de Biologia
O trabalho aprofunda a discussão sobre Educação Híbrida ou Blended Learning, enfatizando sua aplicação no ensino de Biologia a Distância. A pesquisa argumenta pela necessidade de combinar momentos presenciais com atividades online para uma formação completa, especialmente em disciplinas práticas como Biologia. A integração de recursos midiáticos e metodologias de ensino inovadoras para criar um ambiente de aprendizagem transformadora é central. São destacados exemplos de como o ensino de Biologia pode ser enriquecido com atividades práticas em laboratório, complementadas por um ambiente virtual de aprendizagem (AVA).
1. Conceito e Características do Blended Learning
A seção define e caracteriza o Blended Learning (ou Educação Híbrida), destacando-o como uma abordagem pedagógica que combina o ensino presencial com o ensino a distância, utilizando diversas ferramentas e métodos de aprendizagem. O Blended Learning integra métodos instrucionais variados (estudos de caso, demonstrações, jogos, trabalhos em grupo), métodos de apresentação (áudio, groupware, TV interativa, teleconferência, multimídia) e métodos de distribuição (TV a cabo, CD-ROM, e-mail, internet, intranet) em resposta a um planejamento instrucional prévio (Chaves Filho et al., 2006 apud Rodrigues, 2010). É uma estratégia que visa acelerar o aprendizado, garantir a colaboração entre os participantes e permitir a geração e troca de conhecimentos, buscando atender às necessidades do aluno e seu contexto. Uma vantagem apontada é o aumento da participação de alunos mais introvertidos e o desenvolvimento da responsabilidade na gestão do tempo dedicado às atividades à distância.
2. Blended Learning no Ensino de Biologia Vantagens e Necessidades
O texto discute a aplicação do Blended Learning no ensino de Biologia, enfatizando suas vantagens e as necessidades específicas da área. Com base em artigos do VII Congresso Iberoamericano de Informática Educativa de Coimbra (Barros, Verdejo, Smith), são apresentadas vantagens como maior proximidade com o professor, mesmo à distância, e maior motivação dos alunos pela possibilidade de acompanhamento do próprio trabalho e do trabalho dos colegas, permitindo correções e buscando apoio do professor. O Blended Learning, no contexto do ensino de Biologia, é apresentado como uma estratégia que considera a interação entre as modalidades presencial e não presencial, abordagens pedagógicas e recursos midiáticos. Para que a aprendizagem seja efetiva, é essencial a interação entre conhecimentos do cotidiano e o conhecimento acadêmico, científico e tecnológico, tornando o aluno o sujeito construtor do próprio conhecimento. A evolução tecnológica na sociedade híbrida potencializa a aprendizagem colaborativa e a autonomia na construção do conhecimento.
3. A Relação Teoria e Prática no Ensino de Biologia em Modalidade Híbrida
A seção aprofunda a discussão sobre a importância da relação entre teoria e prática no ensino de Biologia, especialmente em um contexto de Blended Learning. A necessidade de aulas práticas em laboratórios reais, além das virtuais, é destacada como fundamental para a formação de um profissional qualificado, capaz de aplicar na prática o conhecimento teórico. A complexidade do curso de Biologia gera muitas dúvidas, e a relação com o professor é crucial para sua resolução. O trabalho defende a necessidade de se trabalhar as dúvidas virtualmente, utilizando ferramentas de apoio e diversas formas de diálogo. A experiência prática em laboratórios é vista como indispensável para a compreensão dos processos biológicos, permitindo verificar na prática o que a bibliografia teórica apresenta. A autora também ressalta a importância da comunicação entre professor e aluno, que precisa ser cuidadosa, clara, e estruturada, com empatia e profissionalismo. Moran (2000) é citado sobre a importância de bibliotecas, laboratórios e recursos em polos descentralizados para o sucesso da EAD, sempre que possível com encontros presenciais.
IV.Comunidades Virtuais e Aprendizagem Colaborativa
A pesquisa destaca o papel das comunidades virtuais na aprendizagem colaborativa, explorando as teorias de Lévy e Castells sobre novas relações sociais na sociedade da informação. A construção do conhecimento através do diálogo, da troca de ideias e da resolução de problemas em grupo é analisada, enfatizando como as ferramentas de um AVA suportam a construção de redes de aprendizagem. A experiência da autora em diferentes comunidades virtuais ilustra a eficácia deste modelo de aprendizagem online.
1. Conceito e Formação de Comunidades Virtuais na Educação
A seção discute o conceito de comunidades virtuais no contexto da educação, destacando-as como espaços de interação e colaboração que transcendem as limitações geográficas e institucionais. As comunidades virtuais se formam a partir de afinidades de interesses e conhecimentos, criando um ambiente de cooperação e troca de informações (Lévy, 1999). Para Castells (1999), elas geram novas relações sociais, sem excluir as existentes, mas permitindo sua coexistência. A aprendizagem colaborativa, que se baseia na reflexão e interpretação de experiências, é apresentada como um processo inerente a essas comunidades virtuais, onde o diálogo e a mediação do professor impulsionam o processo de ensino-aprendizagem. A autora destaca a sua experiência em comunidades virtuais, observando que o processo colaborativo vai além da mera interação com o professor, envolvendo diálogos entre os alunos, levando a uma construção compartilhada do conhecimento, onde não há respostas certas ou erradas, apenas reflexões que contribuem para a aprendizagem individual.
2. Aprendizagem Colaborativa e o Ambiente Virtual de Aprendizagem AVA
A aprendizagem colaborativa em comunidades virtuais é analisada em relação ao seu suporte no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). O texto descreve o processo de aprendizagem transformadora que ocorre nessas comunidades como aquele onde o aluno realiza práticas e reflexões, construindo seu conhecimento coletivamente. A contribuição dos alunos, o debate de ideias e o reconhecimento da validade de diferentes perspectivas contribuem para a formação de uma rede de aprendizagem virtual. As discussões, muitas vezes originadas de situações problematizadoras, confrontos de ideias e até conflitos, impulsionam a construção do conhecimento. O AVA facilita esse processo, criando um ambiente de construção de conceitos e relações entre os participantes. A aprendizagem colaborativa, portanto, depende fortemente de um AVA funcional, que possibilita a construção coletiva do conhecimento através do diálogo, questionamentos e troca de perspectivas. Moran (2000) é citado, enfatizando a importância da seleção do que aprender, e que essa seleção é beneficiada pela interação entre meios físicos e sociais, que geram os projetos de aprendizagem.
3. Virtualidade e a Construção do Conhecimento
A seção conclui com uma reflexão sobre a virtualidade e sua capacidade de potencializar o aprendizado. A virtualidade, relacionada às tecnologias digitais, é vista como uma ferramenta que facilita o dia a dia e permite ultrapassar as limitações do espaço físico, ampliando as possibilidades de aprendizagem. A autora expressa fascínio pelo virtual, enfatizando a imprevisibilidade inerente ao lidar com seres humanos, mesmo em um ambiente virtual. O trabalho destaca a evolução da ciência através de respostas provisórias, cada vez mais complexas e aprofundadas, sendo um processo também presente no ambiente virtual de aprendizagem. A capacidade de aprender a aprender, filtrar informações e buscar, selecionar e aplicar o conhecimento de forma eficiente se torna uma competência essencial na era da informação.
V.Proposta de Ensino de Biologia em Modalidade EAD Blended Learning
Finalmente, o trabalho apresenta uma proposta para o ensino de Biologia em EAD e Blended Learning, combinando teoria e prática. Esta proposta enfatiza a importância de aulas presenciais em laboratórios, a utilização de diversos recursos digitais, e a comunicação cuidadosa entre professor e aluno no ambiente virtual. Recomenda-se a utilização de textos curtos e objetivos, a clareza nos objetivos e critérios de avaliação, e o uso de simuladores como recursos complementares, mas não substitutos da experiência prática. A pesquisa conclui que a adaptação do conteúdo e da metodologia é fundamental para o sucesso do ensino de Biologia a Distância.
1. Necessidade de Momentos Presenciais no Ensino de Biologia a Distância
A proposta de ensino de Biologia a distância enfatiza a importância de combinar o ensino remoto com atividades presenciais, especialmente em disciplinas práticas. O texto argumenta que, para a formação de um profissional qualificado em Biologia, é fundamental a experiência em laboratórios reais, complementando a aprendizagem teórica em ambientes virtuais. A autora destaca a necessidade de se superar a ideia de que a aprendizagem pode ser garantida apenas com a inserção de recursos digitais, enfatizando que uma nova postura do professor/tutor, da equipe e do próprio aluno é essencial para criar um ambiente de aprendizagem mais eficaz e cooperativo. A experiência prática, no caso da disciplina de Invertebrados e a identificação de protozoários (mencionando a malária causada pelo Plasmodium malariae como exemplo), é usada para exemplificar a importância da prática em laboratório para o aprendizado do aluno. Muitas universidades já utilizam uma abordagem semi-presencial como forma de motivar os estudantes e atender às necessidades práticas da formação em Biologia.
2. Recursos e Metodologias para o Ensino de Biologia em EAD Blended Learning
A proposta para o ensino de Biologia em EAD e Blended Learning detalha a utilização de recursos e metodologias para otimizar a aprendizagem. Considerando a impossibilidade de acesso constante a laboratórios de pesquisa em ambientes virtuais, sugere-se a utilização de numerosos exemplos ilustrativos, diversas ferramentas para explicar conceitos complexos e abstratos, links explicativos para conceitos novos e vocabulário complexo, buscando atender à diversidade de estilos de aprendizagem dos alunos. A boa descrição da relação teoria-prática é crucial, sendo imprescindível a visita a laboratórios de pesquisa e a realização de atividades práticas com orientação dos professores. A autora ressalta a importância de trabalhar as dúvidas dos alunos virtualmente, utilizando as ferramentas do ambiente virtual para esse fim. A comunicação entre professor e aluno deve ser bem estruturada, com bom senso, empatia e profissionalismo, lembrando que não existe uma receita pronta, mas sim reflexões baseadas em experiências e bibliografia da área. O uso de simuladores é considerado útil, mas jamais como substituto de experimentos em laboratórios reais (Moran, 2005).
3. Tipos de Cursos de Biologia em EAD e Recomendações Finais
A autora apresenta dois modelos de cursos de Biologia em EAD: um totalmente à distância com encontros presenciais apenas para avaliações, e outro majoritariamente presencial com algumas disciplinas em EAD. A autora destaca a importância das aulas práticas e pesquisas de campo, frequentemente negligenciadas em cursos de Biologia a distância. A necessidade de clareza por parte do professor e tutor sobre o tempo exigido do aluno e sobre a importância de sua proatividade é enfática. Estimular o compartilhamento de informações e a participação ativa nos grupos desde o início do curso é crucial. O uso de fóruns de discussão para declarar a compreensão do plano de ensino e critérios de avaliação, visando criar um contrato de aprendizagem, também é sugerido. Conclui-se que, apesar das vantagens da educação a distância, a formação em Biologia necessita de momentos presenciais para garantir a aprendizagem completa e a formação de profissionais seguros e competentes.