Variação fenotípica e genotípica de isolados do complexo de espécies Cryptococcus neoformans/gattii: revisão de literatura

Variação Genotípica de Cryptococcus

Informações do documento

Autor

Karine Benitez Ramos

instructor Prof. Dr. Jairo Ivo dos Santos
Escola

Universidade Federal de Santa Catarina

Curso Ciências Biológicas
Tipo de documento Trabalho de Conclusão de Curso
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 1.05 MB

Resumo

I.Resumo do Estudo sobre Variações Fenotípicas e Genotípicas do Complexo Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii no Brasil

Este estudo aborda a pesquisa bibliográfica sobre as variações fenotípicas e genotípicas do complexo Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii no Brasil, analisando seus nichos ecológicos, virulência, e patogenicidade. A pesquisa focou na caracterização de C. neoformans e C. gattii, agentes etiológicos da criptococose, uma infecção fúngica oportunística, frequentemente observada em pacientes imunodeprimidos. Foram investigados fatores de virulência, como a produção de melanina pela enzima fenoloxidase (lacase) e a atividade de urease, além da importância da cápsula na patogênese. Diversas técnicas de genotipagem, incluindo AFLP, MLST, e RFLP, foram utilizadas para análise molecular. Estudos em diferentes regiões do Brasil, incluindo Rio de Janeiro, Piauí, Paraná, Bahia e Pará, revelaram a associação de C. neoformans com madeira em decomposição em cavidades de árvores, e excretas de aves, enquanto C. gattii, apesar de predominar em regiões tropicais e subtropicais, também foi encontrado em áreas de clima temperado.

1. Introdução ao Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii

Esta seção introduz o estudo sobre as variações fenotípicas e genotípicas de Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii no Brasil. A pesquisa se concentra em analisar estudos publicados sobre essas variações, seus nichos ecológicos e as características relacionadas à virulência e patogenicidade dos isolados. O gênero Cryptococcus inclui espécies saprofíticas e patogênicas, sendo a criptococose a infecção causada pelas espécies patogênicas. C. neoformans, uma espécie cosmopolita, é frequentemente encontrada em substratos orgânicos, especialmente em excrementos de aves ricos em nitrogênio (uréia e creatinina). Já C. gattii, embora mais comum em regiões tropicais e subtropicais, também é encontrado em áreas temperadas e frias. O habitat natural de C. gattii foi inicialmente descrito na Austrália, associado à decomposição de árvores de Eucalyptus camaldulensis, mas estudos posteriores mostraram que outras árvores também podem servir como hospedeiros. A pesquisa ressalta a importância de entender as características desses fungos para melhor compreensão e combate à criptococose.

2. Ciclo de Vida e Fatores de Virulência

A seção discute o ciclo de vida do Cryptococcus, destacando que a maioria das espécies não sobrevive em tecidos de animais endotérmicos devido às altas temperaturas e ao sistema imunológico. C. neoformans e C. gattii são as únicas espécies que causam doença em humanos devido à sua capacidade de crescer a 37°C. A reprodução sexuada em Cryptococcus é influenciada pela limitação de nutrientes, levando à produção de feromônios e à formação de hifas dicarióticas, basídios e basidiósporos. Em relação aos fatores de virulência, a produção de melanina pela enzima lacase (fenoloxidase) é um ponto crucial. A melanina protege o fungo de reações oxidativas, radiação UV e do sistema imunológico do hospedeiro. A atividade de urease também é mencionada como fator de virulência, convertendo ureia em amônia e alcalinizando o meio. A cápsula de polissacarídeo glucuronoxilomanana é outro fator de virulência, protegendo o fungo da fagocitose e da dessecação, além de ser essencial para a formação de biofilmes. A pesquisa destaca ainda a influência de fatores ambientais e genéticos no tamanho da cápsula, incluindo a identificação de genes capsulares (CAP64, CAP60, CAP59 e CAP10).

3. Métodos de Genótipo e Fenótipo

Esta parte detalha os métodos utilizados para a tipagem e identificação de Cryptococcus. As técnicas de genotipagem incluíram AFLP (Polimorfismo de Comprimento de Fragmento Amplificado) e MLST (Tipagem de Sequência Multilocular), ambas permitindo a identificação de perfis genéticos únicos. O método AFLP envolve a digestão do DNA com enzimas de restrição e amplificação com primers específicos, enquanto o MLST analisa a sequência de um conjunto de loci polimórficos. RFLP (Polimorfismo de Comprimento de Fragmento de Restrição) também foi empregado, gerando fragmentos de DNA para análise. Em relação à fenotipagem, o meio Canavanina-glicina-azul de bromotimol (CBG) foi usado para diferenciação rápida das espécies. A microscopia de campo claro, com coloração pela tinta da China, permitiu a visualização da cápsula. Métodos específicos de cultura, usando extratos vegetais ou sementes em meios de cultivo, foram usados para avaliar a produção de fenoloxidase e melanina. A pesquisa destaca a importância da combinação de métodos fenotípicos e genotípicos para uma identificação precisa dos Cryptococcus.

4. Epidemiologia e Distribuição Geográfica no Brasil

Esta seção foca na epidemiologia da criptococose no Brasil, considerando as diferentes espécies e seus genótipos. C. neoformans, especialmente o genótipo VNI, está fortemente associado à ocorrência de AIDS, com maior incidência no Sul e Sudeste. C. gattii, por outro lado, é endêmico e prevalente nas regiões Norte e Nordeste. Estudos em diferentes localidades brasileiras, como Teresina (Piauí), Bahia, e Pará, fornecem dados sobre a distribuição geográfica e os tipos moleculares predominantes. Em Teresina, um estudo analisou 63 isolados de pacientes com meningite, encontrando uma alta prevalência de genótipos VNI (C. neoformans) em pacientes com HIV e genótipos VGII (C. gattii) em pacientes HIV-negativos. Em Salvador (Bahia), um estudo analisou a susceptibilidade antifúngica de isolados clínicos, revelando resistência a alguns antifúngicos. No Pará, um estudo em Belém observou um aumento na incidência de criptococose em crianças, possivelmente ligado à migração rural-urbana e desmatamento. A pesquisa enfatiza a necessidade de estudos mais aprofundados para monitorar a dispersão e a epidemiologia molecular da criptococose no Brasil.

II.Distribuição Geográfica e Nichos Ecológicos

A pesquisa demonstra a distribuição geográfica de C. neoformans e C. gattii no Brasil. C. neoformans, principalmente o genótipo VNI, mostrou maior incidência nas regiões Sul e Sudeste, associado a áreas urbanas. C. gattii, particularmente o genótipo VGII, apresentou maior prevalência nas regiões Norte e Nordeste, com destaque para a cidade de Teresina (PI), onde foram analisados 63 isolados de pacientes com meningite entre 2008 e 2010. O estudo também destaca a associação de C. neoformans com madeira em decomposição em cavidades de árvores (ex: Eucalyptus camaldulensis, Syzygium jambolana, Cassia grandis, Senna multijuga, Ficus microcarpa ), excretas de aves (Passeriformes e Psittaciformes), e poeira doméstica, enquanto C. gattii foi associado a árvores em decomposição, principalmente eucaliptos. Em um estudo no Rio de Janeiro, C. neoformans var. neoformans foi isolado de 8 em 31 árvores em áreas urbanas. O trabalho de Lazéra (2000) em Teresina, PI, identificou 123 colônias de C. neoformans em ágar Niger a partir de amostras de 32 árvores. Lugarini (Paraná) analisou 141 amostras ambientais de aves, isolando C. neoformans de 34 amostras de aves Passeriformes e 2 de Psittaciformes.

1. Distribuição Geográfica de Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii no Brasil

A distribuição geográfica de Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii no Brasil varia significativamente. C. neoformans, particularmente o genótipo VNI, apresenta maior prevalência nas regiões Sul e Sudeste, correlacionando-se com a maior densidade populacional e atividades antrópicas nesses estados. Estudos citados demonstram a forte associação do genótipo VNI com casos de AIDS nessas regiões. Em contraponto, C. gattii, principalmente o genótipo VGII, mostra-se endêmico e prevalente nas regiões Norte e Nordeste, onde os climas tropical e subtropical são predominantes. Um estudo realizado na cidade de Teresina, Piauí, entre 2008 e 2010, analisou 63 isolados de pacientes com meningite, evidenciando a presença de ambos os fungos, com maior proporção de C. gattii VGII em pacientes sem HIV. Outros estudos em Belém (Pará) e Salvador (Bahia) também contribuem para o entendimento da distribuição regional, mostrando variações na prevalência e genótipos de acordo com as regiões do país. A pesquisa sugere uma correlação entre a distribuição geográfica e fatores ambientais e socioeconômicos.

2. Nichos Ecológicos de Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii

A identificação dos nichos ecológicos de C. neoformans e C. gattii é fundamental para a compreensão de sua epidemiologia. C. neoformans demonstra uma forte associação com madeira em decomposição em cavidades de árvores, tanto em áreas urbanas quanto silvestres. Várias espécies arbóreas são citadas, incluindo Eucalyptus camaldulensis, Syzygium jambolana, Cassia grandis, Senna multijuga, e Ficus microcarpa, indicando uma ampla adaptação. Além disso, excrementos de aves, particularmente de pombos e outras aves (Passeriformes e Psittaciformes), servem como um nicho ecológico importante, devido ao alto conteúdo de nitrogênio. Um estudo no Rio de Janeiro isolou o fungo de cavidades de árvores em áreas urbanas, enquanto outro no Paraná investigou a presença de C. neoformans em amostras de excrementos de aves em cativeiro e animais silvestres, encontrando maior prevalência em excrementos secos de aves Passeriformes. Em contraste, C. gattii também está associado à madeira em decomposição, embora não seja especificamente ligado a uma única espécie de árvore. A pesquisa enfatiza a diversidade de nichos ecológicos ocupados por essas espécies e a importância da biodegradação da madeira na sua proliferação, além da influência de fatores ambientais na sua distribuição.

III.Fatores de Virulência e Diagnóstico

A produção de melanina, mediada pela fenoloxidase, e a atividade de urease são fatores de virulência importantes em C. neoformans e C. gattii. A presença da cápsula também é crucial para a sobrevivência e patogenicidade. O estudo destaca a utilização de diferentes métodos de diagnóstico, incluindo cultura em meios como ágar-Sabouraud e ágar niger, com observação de colônias mucóides e creme. A microscopia com tinta da China é essencial para visualizar a cápsula. Testes como CBG (Canavanina-glicina-azul de bromotimol) auxiliam na diferenciação das espécies. Métodos moleculares, como PCR, AFLP, MLST, e RFLP, permitem uma identificação mais precisa dos genótipos, como VNI e VNII para C. neoformans e VGII e VGIII para C. gattii. Um estudo na Bahia analisou a susceptibilidade antifúngica de 62 isolados clínicos, revelando resistência ao fluconazol (4,8%), 5-flucitosina (1,6%) e anfotericina B (3,2%).

1. Principais Fatores de Virulência de Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii

A virulência de Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii é multifatorial. A produção de melanina, catalisada pela enzima lacase (fenoloxidase), é um fator de virulência chave, conferindo proteção contra estresse oxidativo, radiação UV e a ação do sistema imunológico do hospedeiro. A melanina é produzida a partir de compostos difenólicos e fica aprisionada na parede celular do fungo. A atividade de urease também contribui para a virulência, permitindo a conversão de ureia em amônia, uma fonte de nitrogênio utilizável, e alcalinizando o meio. A cápsula polissacarídica é outro importante fator de virulência, protegendo o fungo da fagocitose por células de defesa do hospedeiro, além de fornecer proteção contra dessecação e ser essencial para a formação de biofilmes. O tamanho da cápsula é influenciado por fatores ambientais e genéticos, e a pesquisa menciona a identificação de genes capsulares (CAP64, CAP60, CAP59 e CAP10). Finalmente, as cepas MATα e MATa, embora não apresentem diferenças significativas em virulência em tecidos periféricos, mostram que as células α tem predileção pelo Sistema Nervoso Central (SNC), explicando a prevalência de MATα em isolados clínicos.

2. Métodos de Diagnóstico da Criptococose

O diagnóstico da criptococose se baseia em métodos culturais e moleculares. A cultura em meios como ágar-Sabouraud e ágar-sangue, em temperaturas entre 28-32°C, é considerada a técnica de ouro para identificação, revelando colônias mucóides e creme após 48-72 horas de incubação. O ágar de infusão de cérebro-coração (BHI) também pode ser usado. A microscopia de campo claro com tinta da China é fundamental para a visualização da cápsula, que aparece como um halo branco ao redor da célula. Métodos como o uso do meio Canavanina-glicina-azul de bromotimol (CBG) permitem uma identificação rápida e eficaz da espécie, enquanto meios específicos para o crescimento de C. neoformans, usando extratos vegetais ou sementes, auxiliam na detecção da atividade da fenoloxidase. A genotipagem por meio de técnicas moleculares, incluindo PCR fingerprinting, AFLP (Polimorfismo de Comprimento de Fragmento Amplificado), MLST (Tipagem de Sequência Multilocular), e RFLP (Polimorfismo de Comprimento de Fragmento de Restrição) permite a identificação precisa dos genótipos e a avaliação da resistência a antifúngicos, como demonstrado por um estudo na Bahia que identificou resistência a fluconazol (4,8%), 5-flucitosina (1,6%) e anfotericina B (3,2%).

IV.Epidemiologia da Criptococose no Brasil

A pesquisa evidencia a prevalência de C. neoformans como principal agente da criptococose no Brasil, com C. gattii sendo endêmico e mais prevalente nas regiões Norte e Nordeste. Um estudo em Salvador (1972-1996) descreveu características clínicas de 104 casos de meningoencefalite criptocócica, com cefaleia (92,1%), febre (84,4%) e rigidez de nuca (83,2%) como sintomas comuns. Outro estudo no Piauí (2008-2010) analisou 63 isolados de pacientes com meningite, mostrando que 58,7% eram HIV-positivos e 38,1% eram C. neoformans (predominantemente VNI), enquanto 38,1% eram C. gattii (principalmente VGII). Um estudo no Pará (Corrêa, 1999) observou um aumento de casos em crianças, possivelmente relacionado à migração rural-urbana e desmatamento. A pesquisa destaca a importância da compreensão da epidemiologia molecular de C. neoformans e C. gattii para o desenvolvimento de estratégias de controle e tratamento da criptococose no Brasil.

1. Prevalência de Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii no Brasil

A criptococose, causada por Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii, apresenta padrões epidemiológicos distintos no Brasil. C. neoformans é a causa mais comum de criptococose em todo o país, sendo o genótipo VNI predominante, especialmente em pacientes com AIDS, com maior incidência nas regiões Sul e Sudeste, provavelmente devido à maior concentração populacional e atividades antrópicas. Já C. gattii é endêmico e prevalente nas regiões Norte e Nordeste, com genótipos VGII e VGIII predominantes. Um estudo em Teresina (Piauí) analisou 63 isolados de pacientes com meningite entre 2008 e 2010, encontrando 58,7% de pacientes HIV-positivos e uma prevalência significativa de C. neoformans VNI (58,7%) em pacientes com HIV, e C. gattii VGII (38,1%) em pacientes sem HIV, com letalidade similar em ambos os grupos (48,6% e 50%, respectivamente). A presença de C. gattii VGII em crianças e jovens aparentemente saudáveis reforça seu caráter endêmico na região. Estudo realizado no Rio Grande do Sul (1980-1990) mostrou que 87% (44/52) dos casos de criptococose foram causados por C. neoformans.

2. Características Clínicas e Epidemiologia Molecular

A manifestação clínica mais comum da criptococose é a meningoencefalite, afetando mais de 80% dos casos, podendo ocorrer isoladamente ou associada a comprometimento pulmonar. Em pacientes imunocomprometidos, lesões focais podem simular neoplasias. Um estudo em Salvador (Bahia), entre 1972 e 1996, analisou 104 casos de meningoencefalite criptocócica, com cefaleia (92,1%), febre (84,4%) e rigidez de nuca (83,2%) como sintomas mais frequentes, e letalidade de 42,7%. Em outro estudo, na cidade de Belém (Pará), um aumento na incidência da criptococose em crianças foi observado, possivelmente associado à migração rural-urbana e desmatamento na Amazônia, onde C. gattii é predominante, agravado por desnutrição ou imunodeficiência. A análise de tipos moleculares em Teresina confirmou a prevalência de C. neoformans VNI em indivíduos HIV-positivos e C. gattii VGII em HIV-negativos, fornecendo novas informações sobre a epidemiologia molecular de C. gattii e sua associação com casos em crianças e adultos jovens. Um estudo na Bahia, analisando a susceptibilidade antifúngica de 62 isolados clínicos de meningite (2006-2010), revelou resistência em alguns isolados, destacando a importância da investigação da epidemiologia molecular para o tratamento da criptococose.