ARTIGO ORIGINAL 1.INTRODUÇÃO

Incontinência Urinária: Neuromodulação x Biofeedback

Informações do documento

Autor

Edicler Alves Almeida

instructor Tatiane Martins
Escola

Centro Universitário UniAmérica

Curso Fisioterapia
Local Foz do Iguaçu/PR
Tipo de documento Artigo Original
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 1.94 MB

Resumo

I.Objetivo e Metodologia do Estudo

Este estudo experimental, realizado entre agosto e novembro de 2018 em uma clínica particular de fisioterapia em Foz do Iguaçu/PR, avaliou a eficácia da neuromodulação sacral e do biofeedback manométrico no tratamento da incontinência urinária feminina (IU). Foram recrutadas 10 mulheres inicialmente, mas apenas quatro concluíram o tratamento devido a desistências e exclusão por critérios de inclusão. O objetivo principal era comparar os resultados desses dois métodos de tratamento na melhora dos sintomas da IU, na força muscular do assoalho pélvico, e na qualidade de vida das pacientes.

1. Objetivo do Estudo

O objetivo principal deste estudo experimental, conduzido em uma clínica de fisioterapia particular em Foz do Iguaçu, Paraná, entre agosto e novembro de 2018, foi avaliar a eficácia de duas técnicas distintas no tratamento da incontinência urinária feminina. Especificamente, o estudo buscou comparar os resultados terapêuticos da neuromodulação sacral e do treinamento dos músculos do assoalho pélvico utilizando biofeedback manométrico. A intenção era verificar a influência de cada técnica na redução dos sintomas da incontinência urinária, na melhora da força muscular do assoalho pélvico, e consequentemente, na qualidade de vida das pacientes. O estudo focou na comparação direta desses dois métodos para determinar qual abordagem apresentava maior eficácia no tratamento desta condição médica comum entre mulheres.

2. Metodologia do Estudo Delineamento e Amostra

O estudo empregou um delineamento experimental do tipo série de casos, um método qualitativo que permite uma análise aprofundada de um pequeno grupo de participantes. Foi realizado em uma clínica privada de fisioterapia localizada na cidade de Foz do Iguaçu, estado do Paraná, dentro do período compreendido entre agosto e novembro de 2018. Inicialmente, dez mulheres foram recrutadas para participar do estudo. Entretanto, ao longo do processo, seis pacientes foram excluídas: duas por não atenderem aos critérios de inclusão pré-estabelecidos, uma por comparecer apenas à avaliação inicial, duas por desistência devido à indisponibilidade de comparecer às sessões de tratamento, e uma por motivos pessoais. Consequentemente, apenas quatro pacientes concluíram todas as etapas do tratamento, fornecendo os dados utilizados na análise final. Esse número reduzido de participantes deve ser considerado ao avaliar a generalização dos resultados obtidos.

3. Metodologia do Estudo Procedimentos e Avaliação

A metodologia incluiu uma avaliação completa das participantes antes e após o tratamento. Essa avaliação compreendeu vários instrumentos e métodos. Inicialmente, foi realizada uma ficha de avaliação fisioterapêutica. Uma avaliação ginecológica, conduzida pela pesquisadora responsável, incluiu a escala de força muscular de Oxford e um teste de força muscular do períneo utilizando um perineômetro. Além disso, um diário miccional, com registros de 24 horas, foi utilizado para monitorar padrões miccionais e episódios de perda urinária. Um Pad Test (teste do absorvente), também com duração de 24 horas, quantificou objetivamente o volume de vazamento urinário. Finalmente, a qualidade de vida relacionada à incontinência urinária foi avaliada por meio do King's Health Questionnaire (KHQ), traduzido para o português. Todas as avaliações foram repetidas após a conclusão do tratamento para comparar os resultados.

4. Metodologia do Estudo Grupos de Tratamento e Protocolos

As quatro pacientes que concluíram o estudo foram submetidas a dois tipos de tratamento fisioterapêutico para a incontinência urinária: neuromodulação sacral e biofeedback manométrico. Cada grupo recebeu um protocolo de tratamento específico. O Grupo 1 realizou a neuromodulação sacral (TENS) por meio de estimulação elétrica cutânea na região sacral (nível S2-S4), com parâmetros de frequência de 10 Hz e duração de pulso de 700 µs, durante 40-50 minutos, duas vezes por semana, totalizando 12 sessões. O Grupo 2 participou de um programa de treinamento dos músculos do assoalho pélvico, utilizando biofeedback manométrico com um dispositivo vaginal para monitoramento da atividade muscular. Essas sessões, também com duração de 40-50 minutos e frequência de duas vezes por semana, somaram 12 sessões no total. A avaliação dos resultados incluiu a reavaliação dos itens mencionados anteriormente: diário miccional, Pad Test e KHQ.

II.Avaliação da Incontinência Urinária

A avaliação pré e pós-tratamento incluiu: diário miccional para monitorar a frequência e volume da micção e episódios de perda urinária; Pad Test (teste do absorvente) para quantificar o volume de urina perdido; escala de Oxford e perineômetro para medir a força muscular do assoalho pélvico; e o King's Health Questionnaire (KHQ) para avaliar a qualidade de vida relacionada à incontinência urinária. A escala visual analógica (EVA) também foi utilizada para avaliar a percepção das pacientes sobre os sintomas.

1. Avaliação da Força Muscular do Assoalho Pélvico

A avaliação da força muscular do assoalho pélvico foi um componente crucial na metodologia do estudo. Para mensurar essa força, dois métodos foram empregados: a escala de força muscular de Oxford e o perineômetro. A escala de Oxford forneceu uma classificação qualitativa da força muscular, enquanto o perineômetro ofereceu uma medida quantitativa da pressão gerada pela contração muscular. O uso combinado dessas duas ferramentas permitiu uma avaliação mais completa e precisa da capacidade funcional dos músculos do assoalho pélvico, fornecendo dados tanto objetivos quanto subjetivos sobre a condição muscular das pacientes. Essas medidas foram essenciais para acompanhar a evolução do tratamento e a eficácia das intervenções terapêuticas propostas.

2. Avaliação dos Hábitos Miccionais e Perda Urinária

Para uma compreensão detalhada dos hábitos miccionais e da gravidade da incontinência urinária, o estudo utilizou duas ferramentas complementares: o diário miccional e o Pad Test (teste do absorvente). O diário miccional coletou informações sobre a frequência e o volume da micção, a presença de urgência urinária, e os eventos de perda urinária involuntária, anotando ainda as atividades que desencadearam esses episódios. Já o Pad Test quantificou objetivamente o volume de urina perdido ao longo de um período de 24 horas, pesando o absorvente antes e depois do uso. A combinação dessas avaliações permitiu uma análise abrangente, incorporando dados subjetivos (diário miccional) sobre a percepção da paciente com dados objetivos (Pad Test) sobre a quantidade real de perda urinária, oferecendo assim uma visão completa do quadro clínico.

3. Avaliação da Qualidade de Vida

A avaliação da qualidade de vida das pacientes foi realizada utilizando o King's Health Questionnaire (KHQ), adaptado para a língua portuguesa. Este questionário abrangente, composto por trinta perguntas distribuídas em nove domínios, permitiu uma avaliação detalhada do impacto da incontinência urinária na vida diária das participantes. Os escores obtidos foram analisados por domínio, fornecendo uma visão granular do impacto da condição em diversos aspectos da vida, como a limitação física e social, a percepção geral da saúde, e o impacto da incontinência nas atividades cotidianas. O questionário KHQ forneceu um instrumento quantitativo para medir a qualidade de vida e sua correlação com a eficácia dos tratamentos aplicados.

4. Avaliação da Percepção Subjetiva dos Sintomas

Além das avaliações objetivas, o estudo também considerou a percepção subjetiva das pacientes sobre seus sintomas. Para isso, foi utilizada a escala visual analógica (EVA). A EVA permitiu que as pacientes expressassem a intensidade de seus sintomas, como a sensação de desconforto social e a sensação de umidade, numa escala numérica que varia de 0 a 10. Essa medida subjetiva complementou as avaliações objetivas, proporcionando uma visão mais completa da experiência da paciente com a incontinência urinária. Ao incluir a perspectiva individual das participantes, a EVA forneceu informações valiosas que enriqueceram a análise dos resultados e a compreensão do impacto do tratamento na vida das mulheres.

III.Tratamento Neuromodulação Sacral e Biofeedback Manométrico

As participantes foram divididas em dois grupos: um recebeu neuromodulação sacral (TENS) e o outro treinamento do assoalho pélvico com biofeedback manométrico. Ambos os tratamentos envolveram 12 sessões, duas vezes por semana, com duração de 40-50 minutos. O biofeedback manométrico utilizou uma sonda vaginal para fornecer feedback visual e ajudar as pacientes a fortalecer os músculos do assoalho pélvico. A neuromodulação sacral utilizou estimulação elétrica na região sacral (S2-S4).

1. Neuromodulação Sacral TENS

Um dos tratamentos empregados neste estudo foi a neuromodulação sacral, utilizando a técnica de estimulação elétrica transcutânea nervosa (TENS). As pacientes submetidas a este tratamento receberam estimulação elétrica através de eletrodos colocados na região sacral, especificamente nos níveis S2-S4. O equipamento utilizado foi um aparelho TENS da marca Quark. Os parâmetros da estimulação foram: frequência de 10 Hz e duração do pulso de 700 µs, ajustados de acordo com o nível sensorial de cada paciente. Cada sessão de neuromodulação sacral durou entre 40 e 50 minutos, sendo realizadas duas vezes por semana, totalizando 12 sessões ao longo do período do estudo. Antes e depois do tratamento, as pacientes foram reavaliadas utilizando o Pad Test, o diário miccional e o questionário de qualidade de vida, para avaliar a eficácia da neuromodulação sacral na redução dos sintomas da incontinência urinária.

2. Biofeedback Manométrico

O segundo tratamento investigado neste estudo foi o treinamento dos músculos do assoalho pélvico com biofeedback manométrico. Este método utilizou um equipamento de biofeedback da marca Quark, modelo Perina, que, por meio de uma sonda vaginal, monitorava a atividade elétrica e a pressão da contração muscular. As pacientes receberam instruções para realizar exercícios de contração muscular do assoalho pélvico, observando simultaneamente uma escala luminosa no equipamento, como forma de visualização da eficácia da contração muscular. As sessões de biofeedback, com duração entre 40 e 50 minutos, foram realizadas duas vezes por semana, completando um total de 12 sessões. O biofeedback manométrico visou melhorar a consciência corporal e o controle voluntário dos músculos do assoalho pélvico, auxiliando no fortalecimento muscular e consequente redução dos sintomas de incontinência urinária. Similarmente à neuromodulação sacral, a eficácia do biofeedback foi avaliada antes e após o tratamento.

3. Procedimentos Adicionais em Ambos os Grupos

Além dos tratamentos específicos (neuromodulação sacral e biofeedback manométrico), ambos os grupos de pacientes receberam orientações sobre a musculatura do assoalho pélvico e suas funções relacionadas ao controle miccional. Durante as sessões de tratamento, foram incluídos períodos de descanso com exercícios de respiração diafragmática, visando o relaxamento e a melhora da consciência respiratória. A partir da sétima sessão, os exercícios incluíam a prática em posição sentada sobre uma bola suíça, que pode auxiliar no fortalecimento do assoalho pélvico. Essas práticas complementares foram incluídas com o objetivo de potencializar os efeitos dos tratamentos principais e promover uma melhor conscientização e controle da musculatura pélvica, contribuindo para uma recuperação mais completa e duradoura.

IV.Resultados do Tratamento para Incontinência Urinária

Os resultados mostraram melhora significativa em ambos os grupos, com redução do número de perdas urinárias e melhora na qualidade de vida, conforme avaliado pelo KHQ e EVA. Houve também ganho de força e propriocepção muscular do assoalho pélvico, medido pela escala de Oxford e perineômetro. Os dados sugerem que tanto a neuromodulação sacral quanto o biofeedback manométrico são eficazes no tratamento da incontinência urinária de esforço e mista, melhorando a força muscular do assoalho pélvico e a qualidade de vida das pacientes.

1. Resultados Gerais Melhora em Ambos os Grupos

O estudo demonstrou resultados positivos em ambos os grupos de tratamento para incontinência urinária. Tanto o grupo que recebeu neuromodulação sacral quanto o grupo submetido ao biofeedback manométrico apresentaram redução significativa dos sintomas da incontinência urinária. Essa melhora se refletiu na diminuição das perdas urinárias, observada através do diário miccional e do Pad Test, e numa melhora significativa na qualidade de vida das participantes, conforme avaliado pelo King's Health Questionnaire (KHQ). A escala visual analógica (EVA) também indicou uma redução na percepção de desconforto e na sensação de umidade. Em suma, os resultados sugerem a eficácia de ambas as técnicas no tratamento da incontinência urinária, independentemente do tipo de incontinência (esforço ou mista).

2. Resultados Específicos Força Muscular e Propriocepção

Além da redução dos sintomas de incontinência urinária, o estudo observou um ganho significativo de força e propriocepção muscular em ambos os grupos de tratamento. A avaliação da força muscular, realizada com a escala de Oxford e o perineômetro, mostrou um aumento na capacidade de contração dos músculos do assoalho pélvico após as 12 sessões de tratamento. Isso indica que as intervenções terapêuticas foram eficazes em fortalecer a musculatura pélvica, contribuindo diretamente para a melhora da continência urinária. A melhora da propriocepção, ou seja, a capacidade de perceber a posição e o movimento dos músculos, também foi observada, indicando uma maior consciência corporal e controle muscular por parte das pacientes. Este achado é particularmente relevante, uma vez que a propriocepção desempenha um papel fundamental no controle da continência.

3. Comparação com a Literatura Discrepâncias e Similaridades

Os resultados deste estudo contrastam com alguns achados da literatura, especialmente em relação ao aumento da amplitude de contração muscular com exercícios do assoalho pélvico, com ou sem biofeedback e eletroestimulação, como observado em um estudo de Gilly et al. (2012). Por outro lado, a idade média das participantes deste estudo (38,25 anos) mostrou-se similar à encontrada em outras pesquisas sobre incontinência urinária feminina, como o estudo realizado por Nobrega (2015) em Uberaba/MG, que reportou uma idade média de 36,17 anos. Outros estudos (Santos et al., 2009; Bernardes et al., 2000; Fitz et al., 2012) demonstraram resultados similares em relação à melhora na qualidade de vida e redução de perdas urinárias com eletroestimulação e biofeedback, corroborando os achados desta pesquisa. No entanto, um estudo de Oliveira et al. (2014) não detectou mudanças no escore do KHQ, divergindo dos resultados presentes.

V.Discussão e Conclusão

Os achados deste estudo, apesar de realizado com amostra pequena, contrastam com alguns estudos na literatura, que não demonstraram melhora na amplitude da contração muscular com exercícios do assoalho pélvico. A idade média das participantes (38,25 anos) é similar à encontrada em outros estudos sobre incontinência urinária em mulheres. A pesquisa conclui que tanto a neuromodulação sacral quanto o biofeedback manométrico são métodos eficazes para o tratamento da incontinência urinária feminina, resultando em redução dos sintomas, melhora da força muscular do assoalho pélvico e aumento da qualidade de vida das pacientes. Futuras pesquisas com amostras maiores são recomendadas para confirmar esses resultados.

1. Discussão dos Resultados Comparação com Estudos Anteriores

A discussão dos resultados destaca a necessidade de comparar os achados deste estudo com a literatura existente sobre o tratamento da incontinência urinária. Embora o estudo tenha demonstrado resultados positivos com ambos os métodos (neuromodulação sacral e biofeedback manométrico), alguns resultados divergem de pesquisas anteriores. Por exemplo, enquanto este estudo observou um ganho significativo de força e propriocepção muscular, um estudo de Gilly et al. (2012) não reportou aumento na amplitude de contração com exercícios do assoalho pélvico, mesmo com a utilização de biofeedback e eletroestimulação. A idade média das participantes (38,25 anos) foi comparada com outros estudos, mostrando similaridade com a pesquisa de Nobrega (2015), mas contrastando com a ideia generalizada na literatura de que a incontinência urinária acomete principalmente mulheres mais idosas. A comparação com estudos como os de Santos et al. (2009), Bernardes et al. (2000), Fitz et al. (2012), e Oliveira et al. (2014) permitiu uma análise mais robusta dos resultados, identificando pontos de convergência e divergência.

2. Limitações do Estudo e Sugestões para Pesquisas Futuras

O estudo reconhece algumas limitações, principalmente o tamanho reduzido da amostra (apenas quatro pacientes concluíram o tratamento), o que pode afetar a generalização dos resultados para outras populações. A alta taxa de desistência também é um fator a ser considerado na interpretação dos resultados. A metodologia empregada, embora rigorosa, poderia ser ampliada em futuras pesquisas para incluir uma amostra maior e uma avaliação mais completa dos aspectos psicossociais da incontinência urinária. O uso de métodos urodinâmicos, por exemplo, poderia fornecer dados mais objetivos sobre a função do trato urinário inferior. Em resumo, apesar dos resultados positivos observados, o estudo enfatiza a necessidade de pesquisas futuras com amostras maiores e metodologias mais abrangentes para confirmar e expandir os achados, contribuindo para um melhor entendimento e tratamento da incontinência urinária feminina.

3. Conclusão Eficácia da Neuromodulação Sacral e Biofeedback Manométrico

Em conclusão, este estudo, apesar das limitações da pequena amostra, demonstra a eficácia da neuromodulação sacral e do biofeedback manométrico no tratamento da incontinência urinária feminina. Ambos os tratamentos mostraram resultados positivos na redução dos sintomas, melhora da força muscular do assoalho pélvico e aumento da qualidade de vida das participantes. Os resultados sugerem que essas técnicas podem ser consideradas opções terapêuticas viáveis para o tratamento da incontinência urinária, tanto do tipo de esforço quanto mista. No entanto, estudos futuros com amostras maiores e metodologias mais robustas são necessários para confirmar esses achados e estabelecer diretrizes mais precisas para a aplicação dessas técnicas na prática clínica. A pesquisa destaca a importância de se considerar tanto a abordagem fisioterapêutica (biofeedback) quanto a abordagem eletroterapêutica (neuromodulação sacral) no manejo da incontinência urinária feminina.