A gestão das agroindústrias de melado da região Noroeste Missões/RS, sob a percepção dos seus gestores

Gestão de Agroindústrias de Melado

Informações do documento

Autor

Gabriel Thomas

Escola

Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)

Curso Administração
Tipo de documento Trabalho de Conclusão de Curso
Local Cerro Largo
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 2.53 MB

Resumo

I.Gestão em Agroindústrias Familiares de Melado na Região Noroeste Missões RS

Esta pesquisa investiga a gestão de agroindústrias familiares de melado e outros derivados da cana-de-açúcar (açúcar mascavo, rapadura) na Região Noroeste Missões/RS. O estudo se concentra na análise das ferramentas de gestão utilizadas pelos gestores, revelando predominância de métodos informais em detrimento de ferramentas formais como planilhas e cronogramas. Apesar da baixa escolaridade dos gestores (Gráfico 3), observa-se um amplo conhecimento prático do processo produtivo. A pesquisa abrangeu sete agroindústrias, representando 87,5% da amostra inicial (incluindo duas agroindústrias de Porto Xavier/RS). As agroindústrias F e G se destacam na produção, com 29% e 25% respectivamente do total de produtos. A pesquisa destaca o impacto do selo orgânico na abertura de novos mercados, superando o impacto do selo Sabor Gaúcho. O estudo também analisa a influência de programas governamentais como o PRONAF e o PEAF no desenvolvimento do setor.

1. Metodologia e Objetivo da Pesquisa

O estudo analisou a gestão de agroindústrias familiares de melado e derivados de cana-de-açúcar na Região Noroeste Missões/RS, focando na percepção dos gestores sobre as ferramentas de gestão utilizadas. A pesquisa constatou a predominância de métodos informais de gestão, em contraponto à ausência de ferramentas formais como cronogramas e planilhas para controle financeiro e divisão de trabalho. Apesar disso, os gestores demonstram amplo conhecimento prático do processo produtivo. A amostra da pesquisa incluiu sete agroindústrias, representando 87,5% da amostra inicial, com a inclusão de duas agroindústrias do interior de Porto Xavier/RS para a realização de um censo, aproximando a pesquisa da realidade do setor. O objetivo principal era compreender quais ferramentas de gestão são empregadas pelos agricultores familiares/gestores nas agroindústrias de melado da região estudada, contribuindo para o desenvolvimento do setor, geração de emprego e renda, e manutenção dos jovens no campo.

2. Produção Comercialização e Produtos

O açúcar mascavo e o melado são os produtos mais representativos na região, com índices de 51,8% e 41,6%, respectivamente. As agroindústrias F e G se destacam na produção e comercialização, respondendo por 29% e 25% do total produzido. O selo orgânico mostrou-se mais eficaz que o selo Sabor Gaúcho para a abertura de mercados internos e externos, com duas das sete agroindústrias da amostra detendo a autorização para seu uso. A pesquisa aponta para a necessidade de futuras investigações que incluam as agroindústrias que atuam na informalidade, expandindo a análise do sistema artesanal de produção de derivados de cana-de-açúcar. A produção anual de açúcar mascavo e melado chega a 107.800 kg, representando 93,45% do total produzido e comercializado. Os demais produtos (melaço, rapadura e schmier) correspondem a apenas 6,55%.

3. Impacto da Legalização e Desafios

A pesquisa identificou vantagens e desvantagens associadas à criação e legalização das agroindústrias. Entre as vantagens, destacam-se o aumento do emprego, a ampliação do mix de produtos e dos volumes de produção para comercialização, além do incremento nas vendas e rentabilidade, e a abertura de novos mercados. As desvantagens mencionadas incluem o aumento de impostos, o tempo prolongado para retorno do investimento inicial e diversos custos adicionais. Um gestor relatou que a concorrência com agroindústrias informais, sem os mesmos custos de legalização e estrutura, configura uma concorrência desleal, principalmente em relação a custos de produção (rótulos e embalagens). A pesquisa destaca o impacto positivo da formalização em termos de geração de emprego e renda no campo, alinhada com o objetivo de investimentos governamentais no setor.

4. Fatores de Sucesso e Fracasso na Gestão

A pesquisa destaca a importância da qualificação dos gestores, considerando que a taxa de sobrevivência de agroindústrias de pequeno e médio porte no primeiro ano era apenas de 4%, segundo Vieira (1998). A falta de capacitação gerencial e problemas de comercialização são apontados como fatores contribuintes para esse baixo índice. O estudo revela o quase total desconhecimento de técnicas de controle de custos, planejamento financeiro e orçamentário, e o uso de planilhas eletrônicas para controle de estoques e fluxo de caixa. Muitas vezes, as receitas e despesas da agroindústria se confundem com outras atividades da propriedade. Apesar dessas limitações, os gestores demonstram um controle informal eficiente das atividades, evidenciado pela organização do trabalho e rodízios entre os membros da família, mesmo sem cronogramas formais. A especialização no trabalho garante domínio técnico em todas as etapas da produção.

II.Vantagens e Desvantagens da Formalização

A legalização das agroindústrias trouxe vantagens como aumento no emprego (de 18 para 37 empregados), diversificação do mix de produtos (melado, açúcar mascavo, rapadura, schmier), aumento das vendas e abertura de novos mercados. No entanto, também foram relatadas desvantagens como aumento de impostos, demora no retorno do investimento e custos adicionais. A concorrência com agroindústrias informais, com custos de produção menores, representa um desafio para as agroindústrias formalizadas.

1. Vantagens da Formalização de Agroindústrias de Melado

A pesquisa identificou diversas vantagens na formalização das agroindústrias de melado. O aumento significativo no número de empregos foi um fator destacado, passando de 18 para 37 pessoas empregadas, representando um crescimento superior a 100%. A diversificação do mix de produtos também foi uma consequência positiva, com a produção de melado, açúcar mascavo, melaço, rapadura e schimier em algumas agroindústrias, ampliando as opções de comercialização. Além disso, a formalização resultou em um aumento considerável nos volumes de produção, impulsionando as vendas e consequentemente a rentabilidade. A abertura de novos mercados, tanto internos quanto externos, foi outra vantagem crucial, permitindo que as agroindústrias alcançassem um público maior e diversificassem seus canais de distribuição. A pesquisa salienta que esses benefícios superam as potenciais desvantagens, comprovando a viabilidade da formalização para o crescimento sustentável do negócio.

2. Desvantagens e Desafios da Formalização

Apesar das vantagens significativas, a formalização das agroindústrias também apresentou alguns desafios e desvantagens. Um dos principais pontos negativos foi o aumento dos impostos, impactando diretamente na lucratividade. A demora no retorno sobre o investimento inicial também foi citada como um obstáculo, exigindo planejamento financeiro cuidadoso e capacidade de lidar com a pressão por resultados financeiros a curto prazo. Além disso, surgiram custos adicionais variados, relacionados à adequação às normas sanitárias, fiscais e tributárias. Um aspecto relevante foi a questão da concorrência desleal com agroindústrias que permanecem na informalidade, sem os mesmos custos de investimento em estrutura física, equipamentos e processos. A qualidade inferior de rótulos e embalagens em alguns casos de concorrência informal também foi mencionada como uma desvantagem significativa para as agroindústrias formalizadas.

3. Impacto do Preço da Matéria Prima na Produtividade

A pesquisa destacou a influência significativa da variação de preços das matérias-primas na produção e rentabilidade das agroindústrias. O aumento expressivo no preço do amendoim (mais de 100%), matéria-prima fundamental na produção de rapadura, causou uma redução substancial no volume de produção desse produto em algumas agroindústrias. Gestores relataram a dificuldade em repassar integralmente o aumento de custos para os preços finais, devido à resistência do consumidor a preços mais altos. Essa situação demonstra a vulnerabilidade das agroindústrias a flutuações de mercado e a importância de estratégias de gestão que considerem a volatilidade dos preços das matérias-primas. O caso da rapadura ilustra a necessidade de diversificação de produção e busca por alternativas para mitigar os riscos relacionados à dependência de uma única matéria-prima de alto custo e oferta irregular.

III.Perfil dos Gestores e Produção

Um aspecto relevante é o papel proeminente das mulheres na gestão das agroindústrias. A pesquisa destaca a importância do associativismo e cooperativismo, com aumento na participação dos gestores vinculados a essas entidades após a formalização. A produção anual de açúcar mascavo e melado totaliza 107.800 kg (93,45% do total), sendo o açúcar mascavo o produto com maior representatividade (51,8%). A rapadura, devido ao aumento do preço do amendoim, apresentou redução na produção em algumas agroindústrias. O melado, com um volume de 48.000 kg, foi o foco principal de análise.

1. Papel das Mulheres na Gestão

A pesquisa destaca o papel crucial das mulheres na gestão das agroindústrias familiares de melado, contrariando papéis tradicionais. Elas assumem posições de liderança na tomada de decisões e na gestão dos empreendimentos. Um depoimento de uma gestora ilustra a importância da agroindústria na busca por melhores condições socioeconômicas para a família, mostrando como a atividade se tornou fundamental para a segurança alimentar e financeira. Esse destaque na participação feminina reflete uma mudança significativa em relação a períodos históricos em que as mulheres eram limitadas a tarefas domésticas, e demonstra sua crescente inserção no mercado de trabalho, assumindo um papel fundamental na economia familiar e rural.

2. Nível de Escolaridade e Conhecimento Técnico

Apesar do baixo nível de escolaridade dos gestores entrevistados, a pesquisa revela um notável domínio técnico e conhecimento prático sobre a atividade agroindustrial, abrangendo toda a cadeia produtiva. Os gestores demonstram competência em todas as etapas, do corte da cana-de-açúcar à transformação, embalagem e venda dos produtos (melado, açúcar mascavo e rapadura). Todos os gestores participaram de cursos de capacitação profissional nas áreas de agroindústria familiar, agricultura familiar e técnicas de produção, evidenciando a busca por aperfeiçoamento, mesmo sem formação acadêmica formal. Apesar de confirmarem a falta de familiaridade com ferramentas modernas de gestão, conforme apontado por Batalha, Buainain e Souza Filho (2005), a pesquisa indica que sua experiência prática compensa essa deficiência, permitindo um nível aceitável de organização e controle das atividades.

3. Sistemas de Produção Artesanal e Agroindustrial

A pesquisa diferencia a produção artesanal da agroindustrial de melado e derivados. O sistema artesanal caracteriza-se pela ausência de máquinas semi-industriais ou industriais, com produção em pequena escala e uso de ferramentas rudimentares em locais como galpões ou cozinhas domésticas. Já a produção agroindustrial apresenta arranjos físicos adequados, instalações e máquinas modernas, permitindo uma maior escala de produção. A pesquisa observa que a produção agroindustrial de melado, açúcar mascavo e rapadura é recente na Região Noroeste Missões/RS, tendo evoluído do sistema artesanal. O estudo de Gazolla e Schneider (2014) sobre o impacto do Programa da Agricultura Familiar (PAF) no desenvolvimento das agroindústrias, especialmente durante o governo Olívio Dutra (1999-2002), contextualiza essa transição, mostrando incentivos governamentais que culminaram na legalização de várias agroindústrias, embora com posterior redução de investimentos (2003-2010).

4. Volumes de Produção e Comercialização

A pesquisa aprofundou a análise dos volumes de produção e comercialização de melado, açúcar mascavo, melaço, rapadura e schimier. O açúcar mascavo superou o melado em representatividade, apesar deste último ter sido o foco principal do estudo. O açúcar mascavo e o melado juntos são responsáveis por 93,45% do volume total produzido e comercializado (107.800 kg), sendo o melado responsável por 48.000 kg. A produção de rapadura diminuiu em algumas agroindústrias devido ao aumento expressivo no preço do amendoim. Apesar de limitações como baixo nível de escolaridade, os gestores demonstram controle e conhecimento dos seus negócios por meio de anotações em cadernos e controle mental informal. A pesquisa mostra que, mesmo sem ferramentas de gestão formais, existe uma organização eficiente das atividades e rodízios entre os membros, impulsionada por forte comunicação e especialização no trabalho. Essa realidade se difere de estudos como o de Perondi e Kiyota (2002), que analisaram associações com dinâmica diferente.

IV.Necessidade de Melhorias na Gestão

A pesquisa evidencia a necessidade de aprimoramento das ferramentas de gestão nas agroindústrias de melado. A falta de conhecimento em planejamento financeiro, controle de custos e uso de planilhas eletrônicas impacta a rentabilidade. Apesar do controle informal eficiente demonstrado pelos gestores, a adoção de ferramentas modernas de gestão, incluindo capacitação, é crucial para a maximização dos resultados e para a permanência dos pequenos agricultores no meio rural, conforme aponta Prezotto (2002).

1. Necessidade de Ferramentas de Gestão Modernas

A pesquisa aponta para uma significativa necessidade de aprimoramento na gestão das agroindústrias familiares de melado. Apesar do conhecimento prático e do controle informal eficiente das atividades demonstrado pelos gestores, a falta de ferramentas de gestão modernas representa uma barreira para a otimização dos resultados. A pesquisa evidencia a quase total ausência de técnicas formais de controle de custos, planejamento financeiro e orçamentário, assim como o uso de planilhas eletrônicas para o controle de estoques e fluxo de caixa. Frequentemente, as receitas e despesas da agroindústria são misturadas com outras atividades, dificultando a análise da rentabilidade específica da produção de melado. A adoção de um cronograma formal para as atividades, com definição de rodízios entre os funcionários, e o uso de softwares para controle financeiro e gestão de custos são apontados como medidas cruciais para o aprimoramento da gestão.

2. Limitações e Potencial de Melhoria

A pesquisa destaca a influência do baixo nível de escolaridade dos gestores na adoção de ferramentas de gestão mais sofisticadas. Embora existam anotações em cadernos e um controle mental informal das atividades, a falta de familiaridade com computadores e softwares específicos dificulta a implementação de métodos mais eficazes de controle financeiro e planejamento. Apesar disso, o estudo ressalta que os gestores reconhecem a importância de se aperfeiçoar para melhorar a gestão das suas agroindústrias, porém demonstram dificuldades em assimilar conhecimentos mais técnicos, como relatado por um gestor que já participou de treinamentos sobre controle financeiro oferecidos por universidades e pela Emater/RS. O estudo reforça a necessidade de ações de capacitação e treinamento adaptadas às necessidades e ao nível de conhecimento dos gestores, para que possam utilizar plenamente as ferramentas de gestão disponíveis e maximizar a eficiência e a rentabilidade de seus negócios.

3. Associativismo e Melhoria da Gestão

Como estratégia para superar as barreiras de escala e impulsionar o crescimento do setor, a pesquisa sugere a busca por formas de associativismo e cooperativismo pelos produtores e gestores. O associativismo traria vantagens na superação das restrições de escala, no estabelecimento de mecanismos organizados de certificação, rastreabilidade e monitoramento, além de aumentar o poder de barganha e facilitar o acesso a novos mercados. A pesquisa observa que, após a legalização das agroindústrias, a participação em associações e cooperativas aumentou significativamente. Entretanto, um caso específico ilustra os desafios na manutenção das parcerias, com um gestor relatando o rompimento com uma cooperativa devido a desentendimentos. Apesar do aumento do associativismo após a legalização, a pesquisa evidencia a necessidade de fortalecer as estratégias de organização coletiva para impulsionar a eficiência e a competitividade do setor.

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