A política econômica dos ex-presidentes FHC e Lula nas charges do jornal O Globo (1995-2010)

Charges, FHC e Lula: Política Econômica

Informações do documento

Autor

Ligia Carla Gabrielli Berto

instructor Marilda Lopes Pinheiro Queluz (Orientadora)
Escola

Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Curso Tecnologia e Sociedade
Tipo de documento Dissertação
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 5.10 MB

Resumo

I.Análise de Charges Políticas Brasileiras 1995 2010 Uma Abordagem Discursiva

Esta dissertação analisa a representação metafórica dos ex-presidentes brasileiros Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Luiz Inácio Lula da Silva (Lula) em charges publicadas no jornal O Globo entre 1995 e 2010. Utilizando a teoria de Mikhail Bakhtin, especificamente os conceitos de dialogismo, heteroglossia, e intertextualidade, a pesquisa investiga as estratégias de crítica política empregadas através da ironia, paródia, e metáfora nas charges. A metodologia envolve a análise comparativa de charges classificadas pela política econômica dos dois governos, considerando temas recorrentes como artes, cinema, natureza e referências específicas, como a reprodução de fotos. A pesquisa busca compreender como as charges, enquanto enunciados, constroem significado e refletem influências ideológicas do autor e do veículo de comunicação (O Globo). Palavras-chave:Análise de charges, Charges políticas brasileiras, FHC, Lula, Discurso político, Bakhtin, Metodologia de análise de imagens, Política econômica brasileira, O Globo, Metáfora, Irônia, Paródia, Discurso midiático.

1. Metodologia e Enquadramento Teórico

A dissertação utiliza uma metodologia de análise comparativa de charges de Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Luiz Inácio Lula da Silva (Lula) publicadas no jornal O Globo entre 1995 e 2010. O foco é a análise de mensagens metafóricas presentes nessas charges, buscando identificar estratégias de crítica política como ironia, paródia e metáfora. A pesquisa se ampara na teoria de Mikhail Bakhtin, utilizando conceitos como dialogismo, heteroglossia e intertextualidade para interpretar as múltiplas camadas de significado presentes nas charges. A análise considera a influência do contexto histórico, das ideologias pessoais e profissionais do autor da charge e da linha editorial do jornal O Globo na construção do significado. A pluralidade temática das charges – que exploram artes, cinema, natureza, animais, esportes e outras referências – contribui para uma narrativa histórica dos fatos, sendo que a abordagem não se limita a um entendimento superficial do humor, mas busca a crítica social presente nas imagens.

2. Tipos de Desenho Humorístico e a Charge como Enunciado

A pesquisa discute diferentes modos de entender o desenho de humor, definindo o humor gráfico como linguagem para leitura crítica, principalmente da política brasileira. A caricatura é apontada como principal mecanismo do humor gráfico (Fonseca, 1999), abrangendo charges, cartuns e quadrinhos. Autores como Renato Lemos (2001), Rodrigo Patto Sá Motta (2006), e Herman Lima (1963) são citados como referências nos estudos da caricatura no Brasil. A pesquisa diferencia charges, caricaturas, cartuns e histórias em quadrinhos, com base em definições apresentadas pelo Salão Universitário de Humor UNIMEP e a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. A charge é considerada um enunciado, 'a real unidade da comunicação discursiva' (Bakhtin, 2003), que depende do momento histórico e se transforma a cada leitura. O conceito de heteroglossia de Bakhtin é crucial para a análise das diferentes vozes sociais presentes no enunciado da charge, bem como a influência de valores e relações de poder na construção do significado.

3. A Charge como Instrumento de Crítica Política e Posicionamento Ideológico

O estudo destaca a charge como aliada do discurso editorial, funcionando como crônica política que traduz opiniões de forma acessível (Motta, 2006). A pesquisa observa a recorrência de temas políticos nas charges de O Globo, principalmente na capa e na seção editorial do jornal. A análise identifica as diversas leituras possíveis de uma charge, considerando a influência dos interesses do jornal, da ideologia do autor e do contexto histórico. A ambiguidade da relação entre charges e poderosos é abordada, com a possibilidade de provocar revolta ou, através do riso, promover reflexão e acalmar ânimos (Motta, 2006). O exemplo da cobertura das Jornadas de Junho de 2013 por O Globo ilustra como a mídia pode manipular narrativas, inicialmente retratando os protestos como 'tumulto' e 'vandalismo', posteriormente alterando sua abordagem após críticas nas redes sociais. A análise considera a resposta das Organizações Globo às críticas, mostrando como a instituição se posiciona frente a movimentos sociais e questionamentos públicos.

4. Análise dos Chartistas Erthal e Caruso

A pesquisa analisa o trabalho de dois chargistas de O Globo: Júlio Erthal e Chico Caruso. Erthal, conhecido por sua habilidade técnica e por publicar charges principalmente na seção editorial, é analisado por sua obra publicada durante o governo FHC, refletida em seu livro 'Fatores de Risco' (1998). A análise do trabalho de Chico Caruso, que publicou charges em O Globo de 1984 a 2018, se concentra na sua representação de FHC e Lula. A pesquisa discute a intertextualidade na produção de Caruso, sua preferência por closes e o uso de caricaturas para enfatizar traços marcantes. A análise de entrevistas de Caruso no YouTube (2009) revela seu processo criativo e a consideração das principais manchetes dos jornais. A pesquisa aponta para a influência da ideologia pessoal e do posicionamento do jornal na representação dos presidentes nas charges.

5. Comparação da Representação de FHC e Lula Um Tratamento Desigual

A dissertação conclui com uma comparação do tratamento dado aos presidentes FHC e Lula nas charges analisadas, especialmente as de Chico Caruso. FHC é frequentemente representado de forma mais formal e intelectual, enquanto Lula é retratado como um homem simples, deslocado do seu papel presidencial. A pesquisa argumenta que as charges de Lula reforçam a ideia de sua incapacidade de resolver os problemas do país, influenciada pela ideologia do chargista e pelo posicionamento do jornal O Globo, frequentemente alinhado a uma visão mais conservadora e favorável ao poder estabelecido. A análise enfatiza como a escolha visual, as metáforas, e a linguagem utilizada constroem significados e reforçam preconceitos.

II.A Representação de FHC em Charges do O Globo

A análise das charges de FHC revela a utilização de metáforas e recursos visuais para criticar suas políticas econômicas neoliberais, frequentemente associadas à influência dos Estados Unidos. Figuras como Pedro Malan (Ministro da Fazenda) e José Serra são personagens recorrentes, representando a equipe econômica do governo. A abordagem da pesquisa destaca a representação de FHC como um intelectual elitista, contrastando com a imagem de Lula. Charges como a que compara FHC a 'Zé do Caixão', ironizando sua busca pela reeleição, e a que o retrata como um 'pavão', criticando suas viagens internacionais dispendiosas, exemplificam a estratégia de crítica visual. Palavras-chave:Fernando Henrique Cardoso (FHC), Charges de FHC, Neoliberalismo no Brasil, Política econômica FHC, Pedro Malan, José Serra, Análise de imagens, Metáfora visual.

1. FHC e a Questão da Reeleição A Metáfora de Zé do Caixão

A análise das charges de FHC inicia com a caricatura de Aroeira intitulada 'Zé Mojica Cardoso, o Zé da Reeleição', criada durante o primeiro ano do primeiro mandato de FHC, quando a proposta de reeleição presidencial estava em debate. A charge utiliza a imagem de 'Zé do Caixão', personagem conhecido do público brasileiro, para representar FHC, enfatizando traços faciais exagerados e elementos característicos do personagem. Os cinco dedos levantados de FHC, com longas unhas, representam as cinco propostas da campanha de reeleição, enquanto a frase 'emprego todo mundo procurando' ironiza a situação econômica do país. A escolha de 'Zé do Caixão', associado à morte e à violência, simboliza uma crítica à possível continuidade de um governo visto como ineficaz. A charge explora o impacto da proposta de reeleição na imagem pública de FHC, utilizando o medo e a incerteza como elementos centrais da crítica. O impacto negativo dessa proposta nas intenções de votos de FHC é discutido no contexto político e econômico do período.

2. As Políticas Econômicas de FHC Neoliberalismo e Influência Americana

A análise se estende às charges que abordam as políticas econômicas neoliberais de FHC, frequentemente associadas à influência dos Estados Unidos. Uma charge de Chico Caruso (21/05/2000) retrata Pedro Malan, Ministro da Fazenda, influenciado por políticas americanas simbolizadas por uma águia com as cores da bandeira norte-americana, ao lado de Antônio Carlos Magalhães (ACM), FHC e Eduardo Suplicy, vestidos como padres franciscanos. O título da charge, 'Neofranciscanismo', ironiza a versão brasileira do neoliberalismo. As aves presentes na charge (águia, corvo, tucano e papagaio) representam diferentes personagens e ideologias políticas, demonstrando a pluralidade de interpretações. A charge de Chico Caruso explora a Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada por FHC a pedido do FMI, mostrando a possível influência americana nas decisões econômicas brasileiras, lembrando a influência do padre Patrick Peyton no golpe militar de 64. A escolha iconográfica e a composição visual da charge servem para criticar o alinhamento do governo FHC com as políticas e interesses norte-americanos, sugerindo uma falta de autonomia política do Brasil.

3. O Plano Real e suas Contradições Crise Financeira e Privatizações

A pesquisa examina a representação do Plano Real e suas contradições nas charges. Uma charge de Aroeira satiriza uma situação de blefe político na qual FHC, pretendendo privatizar bancos estaduais, encontra resistência do governo da Bahia. O uso da metáfora do jogo de cartas reforça a ideia de manipulação e falta de transparência. Outra charge analisa o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (PROER), um programa de socorro aos bancos que resultou em gastos de R$ 37,76 bilhões. A charge destaca a consternação de FHC com a situação dos bancos, contrastando com a imagem de um governante que oferece 'corações' aos bancos em dificuldades. A visualização da crise financeira e as medidas de auxílio aos bancos através do PROER, privatizações de bancos estaduais e entrada de bancos estrangeiros (Giambiagi, 2011) são temas recorrentes, mostrando a imagem de um governo que prioriza a estabilidade financeira, mesmo com custos sociais.

4. FHC e a Privatização da Vale do Rio Doce Um Olhar Crítico

A análise inclui charges que abordam a privatização da Vale do Rio Doce, tema pouco explorado em O Globo durante os mandatos de FHC. Uma charge representa FHC como um capitão pirata, com Pérsio Arida, ex-presidente do Banco Central, como um tucano em seu ombro, simbolizando o neoliberalismo e as privatizações. A charge sugere um posicionamento político à direita, defendendo o Estado mínimo e a iniciativa privada. O uso da metáfora dos piratas aponta para a crítica à gestão de FHC, associando-a à ideia de roubo e exploração dos recursos nacionais, com acesso facilitado a crédito do BNDES por empresas estrangeiras na aquisição da Vale. A discreta menção à privatização da Vale nas charges de O Globo, contrastando com a relevância do tema, sugere um posicionamento favorável do jornal às privatizações e ao governo FHC, alinhado a uma ideologia de direita.

5. O Fim do Oportunismo Neoliberal e a Perda da Alavanca do Real

O último tópico examina como as charges retratam o fim do primeiro mandato de FHC, mostrando o esgotamento político do discurso de ‘pai do Real’. Uma charge de Chico Caruso (16/10/2002) utiliza a metáfora do colchão para simbolizar a perda da estabilidade econômica e política do Real, já que este não era mais fonte de conforto para o presidente. FHC é representado usando pijama, indicando o fim do seu mandato. A intertextualidade da charge aborda a alta dos juros no contexto do final do governo FHC, apontando para os impactos negativos das políticas econômicas neoliberais, e seu legado de alta dívida pública e desigualdade social (Nobre, 2013). A imagem de FHC usando pijama representa, de forma estereotipada, uma pessoa aposentada e o fim de sua era política, mostrando o desgaste político do Real como principal argumento de sua gestão.

III.A Representação de Lula em Charges do O Globo

As charges de Lula, principalmente as de Chico Caruso, frequentemente o retratam de forma menos formal e mais próxima do povo, contrastando com a representação de FHC. A pesquisa destaca o uso de estereótipos e a crítica às políticas econômicas do governo Lula, muitas vezes mostrando-o como alguém incapaz de resolver os problemas do país ('descascar o abacaxi'). A Carta ao Povo Brasileiro, assinada por Lula em 2002, é analisada como um ato político com impactos na representação midiática do presidente. A análise demonstra uma possível tendência do O Globo a representar Lula de forma mais negativa do que FHC. Palavras-chave:Luiz Inácio Lula da Silva (Lula), Charges de Lula, Neodesenvolvimentismo, Política econômica Lula, Carta ao Povo Brasileiro, Análise de imagens, Representação midiática, Preconceito na mídia.

1. Lula e a Promessa de Mudança A Metáfora do Abacaxi

A análise da representação de Lula em charges de O Globo inicia com a discussão da metáfora do abacaxi, usada para simbolizar os complexos problemas do país. Uma charge apresenta Lula como o 'Pensador' de Rodin, contemplando um abacaxi, representando os desafios de seu governo. O abacaxi, simbolizando problemas de difícil solução, reflete as contradições políticas do primeiro ano de governo de Lula, marcado pela união com setores conservadores do PSDB após afastar aliados antigos do PT. A escolha dessa metáfora evidencia a complexidade da situação enfrentada por Lula e a dificuldade em implementar mudanças radicais. A charge demonstra a percepção de um governo com contradições internas e a dificuldade em concretizar as promessas de campanha.

2. A Vitória Eleitoral de 2002 e a Carta ao Povo Brasileiro

A pesquisa analisa a representação de Lula após a vitória eleitoral de 2002, focando no impacto da 'Carta ao Povo Brasileiro' (22 de junho de 2002). Essa carta, vista como uma renúncia a mudanças radicais no neoliberalismo iniciado por FHC, é interpretada como uma estratégia para obter credibilidade no mercado financeiro internacional. As charges publicadas em O Globo em 2002 refletem essa preocupação, demonstrando um esforço de Lula em garantir a confiança dos investidores. A 'Carta ao Povo Brasileiro' é analisada como um elemento crucial na construção da imagem de Lula pela mídia, representando um compromisso com a manutenção das políticas econômicas da gestão anterior, e a consequente necessidade de conciliação e negociação para o sucesso de sua candidatura.

3. A Imagem de Lula como Homem do Povo e suas Contradições

A análise das charges revela a representação de Lula como um 'homem do povo', contrastando com a imagem de intelectual atribuída a FHC. No entanto, essa imagem positiva é frequentemente confrontada com críticas sobre suas ações e posicionamentos. Uma charge retrata Lula após um jantar em Ipanema, onde recebeu um presente de vinho caro, contradizendo seu discurso de campanha contra as benesses aos ricos. A charge, além de criticar a contradição entre seu discurso e suas ações, também explora estereótipos sobre seus hábitos pessoais, como o apreço por bebidas, ridicularizando a imagem do presidente. A representação de Lula como alguém que aprecia bebidas alcoólicas e que não se distancia de seu passado popular, contribui para uma narrativa que questiona sua capacidade de liderança e gestão.

4. Lula e a Política Econômica Continuidade e Ajustes

A pesquisa investiga como as charges retratam a política econômica do governo Lula. Os primeiros anos de governo, sob a liderança de Antônio Palocci, são caracterizados pela continuidade de projetos neoliberais iniciados por FHC. A frase de Lula, 'não podemos dar um cavalo-de-pau em um transatlântico em movimento', é analisada no contexto das charges, mostrando a dificuldade de mudanças abruptas na economia. A análise considera a herança da gestão FHC, especialmente a alta taxa de juros e o grande endividamento público (Giambiagi, 2011). A continuidade de políticas econômicas conservadoras, mesmo com a promessa de mudanças significativas durante a campanha eleitoral, é criticada através de metáforas visuais nas charges de O Globo.

5. A Representação de Lula por Chico Caruso Um Olhar Crítico

A análise se concentra na representação de Lula feita pelo chargista Chico Caruso, que demonstra uma postura crítica em relação ao governo do PT. Caruso frequentemente retrata Lula como um homem comum, deslocado do seu papel presidencial, com feições indecisas e confusas. A charge 'Aula magma', que retrata Lula como professor dando aula sobre o pré-sal, ironiza o governo por gastar recursos antes mesmo de arrecadá-los. Lula é associado a situações populares como futebol e uso de linguagem coloquial, reforçando a ideia de um presidente sem o conhecimento necessário para o cargo. A análise das charges de Caruso mostra uma crítica contundente ao governo Lula, focando em suas contradições, e na sua dificuldade de resolver os problemas do país ('descascar o abacaxi'), refletindo uma possível preferência do chargista e do jornal por outro político no poder.

IV.O Papel do Jornal O Globo na Construção do Discurso

A dissertação analisa o papel do jornal O Globo na construção do discurso político através das charges, identificando uma possível tendência ideológica conservadora e pró-FHC. A cobertura das Jornadas de Junho de 2013 é usada como exemplo da postura crítica do jornal em relação aos movimentos sociais. A pesquisa considera a influência da linha editorial do jornal e a relação entre as charges e as manchetes diárias. A análise dos chargistas, como Chico Caruso e Aroeira, e suas técnicas de representação visual é fundamental para a compreensão do discurso veiculado. Palavras-chave:O Globo, Mídia brasileira, Discurso midiático, Análise crítica da mídia, Ideologia na mídia, Jornadas de Junho de 2013, Chico Caruso, Aroeira, Influência da mídia na política brasileira.

1. O Globo e a Construção do Discurso Político Através das Charges

A pesquisa analisa o jornal O Globo como um agente ativo na construção do discurso político, utilizando as charges como ferramenta de expressão editorial e crítica política. A maioria das charges analisadas aparecia na capa do jornal ou na seção editorial, geralmente relacionada a manchetes do noticiário político. A análise considera a seção editorial como um espaço para a expressão da opinião do jornal, influenciando a percepção pública dos eventos. A pesquisa destaca a capacidade da charge em traduzir direta ou indiretamente uma opinião, tornando-a acessível aos leitores (Motta, 2006), e como isso afeta a formação de opinião. A análise das charges considera não apenas o conteúdo visual, mas também o contexto de publicação, a ideologia do autor e a influência da linha editorial do jornal, ressaltando como esses fatores podem moldar a interpretação das imagens.

2. O Globo e as Jornadas de Junho de 2013 Uma Análise de Caso

O estudo utiliza a cobertura das Jornadas de Junho de 2013 pelo jornal O Globo como um caso exemplar para analisar o posicionamento da mídia em relação aos movimentos sociais. O Globo, inicialmente, criticou os protestos, usando termos como 'tumulto', 'vandalismo' e 'marcha da insensatez', apenas alterando sua abordagem após fortes críticas dos participantes e ampla exposição nas redes sociais. Essa mudança de postura demonstra como as redes sociais podem pressionar os grandes veículos de comunicação a rever sua linha editorial. A análise destaca a postura inicial do jornal, que minimizava a importância do Movimento Passe Livre (MPL) e atribuía aos organizadores a responsabilidade pelos atos de vandalismo, mesmo após a negação de controle sobre a situação (Alves, 2016). A pesquisa evidencia como O Globo, inicialmente, demonstrou uma postura alinhada com a visão da 'direita', buscando manipular midiaticamente a narrativa dos acontecimentos.

3. Análise dos Chartistas de O Globo Júlio Erthal e Chico Caruso

A pesquisa analisa o trabalho dos chargistas Júlio Erthal e Chico Caruso em O Globo, considerando a influência de suas técnicas e estilos na construção do discurso jornalístico. Júlio Erthal, que trabalhou para O Globo até o final da década de 90 e publicou principalmente na seção editorial, é apresentado como um chargista que utilizava recursos diversos de produção, sendo um dos pioneiros nas técnicas digitais. Sua obra é exemplificada pelo livro 'Fatores de Risco', com caricaturas e charges produzidas durante o governo FHC. A análise do trabalho de Chico Caruso, que começou a publicar em O Globo em 1984, destaca sua longevidade na publicação e seu prestígio no jornal. O texto destaca sua habilidade de extrair o potencial de informação e crítica do humor, criando um estilo próprio que se tornou tradicional na história de O Globo. A pesquisa também analisa o uso de intertextualidade em seu trabalho e como ele recorta imagens e charges anteriores para criar novas cenas.

4. Posicionamento Ideológico de O Globo Direita vs. Esquerda

A análise do papel do jornal O Globo na construção do discurso político inclui uma discussão sobre seu posicionamento ideológico. A dissertação define as diferenças entre direita e esquerda na política brasileira (Bresser-Pereira, 2006): a direita busca garantir a ordem, enquanto a esquerda está disposta a arriscá-la em nome da justiça e da proteção ambiental. A direita também defende um papel mínimo do Estado, dando prioridade ao mercado, enquanto a esquerda atribui ao Estado um papel ativo na redução da desigualdade. Essa definição contextualiza a análise do posicionamento ideológico de O Globo, que demonstra uma inclinação para a direita, frequentemente defendendo as privatizações e o modelo neoliberal. A pesquisa demonstra como essa inclinação ideológica pode influenciar a construção da narrativa política através das charges publicadas no jornal.

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