
Educação Financeira Infantil
Informações do documento
Autor | Adriana Das Dores Paço Araújo |
instructor | Professora Doutora Lina Fonseca |
Escola | Mestrado em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º Ciclo do Ensino Básico |
Curso | Educação Pré-Escolar e Ensino do 1º Ciclo do Ensino Básico |
Tipo de documento | Relatório Final De Prática De Ensino Supervisionada |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 3.92 MB |
Resumo
I.Metodologia de Investigação Qualitativa em Educação Financeira
Este estudo utilizou uma metodologia de investigação qualitativa, com um design exploratório, para investigar a educação financeira em alunos do 1º ano do Ensino Básico. A recolha de dados envolveu observação participante, notas de campo, entrevistas e análise de documentos dos alunos. A análise focou-se no envolvimento, na comunicação e no raciocínio dos alunos, utilizando categorias e indicadores específicos. A literacia financeira foi o foco central da investigação, explorando-se aspetos como a gestão de dinheiro, poupança, gastos e doações.
1. Enquadramento da Metodologia e Objetivos
O estudo optou por uma metodologia de investigação qualitativa com um delineamento exploratório, justificado pelos objetivos da pesquisa e pela natureza da temática. A escolha desta abordagem justifica-se pela necessidade de explorar em profundidade os conceitos de educação financeira em alunos do 1º ano, um tema teoricamente pouco conhecido em contexto escolar. O estudo seguiu etapas estruturadas: (a) elaboração de uma proposta didática baseada no Programa de Matemática do Ensino Básico (MEC, 2013a), no Referencial de Educação Financeira (MEC, 2013b) e em recomendações de autores; (b) implementação da proposta didática em sala de aula; (c) análise dos dados recolhidos; e (d) reflexão crítica sobre a proposta, com sugestões de melhoria. A definição clara dos objetivos e a seleção criteriosa da metodologia foram cruciais para o sucesso da investigação, permitindo uma análise profunda da temática da literacia financeira em jovens alunos.
2. Recolha e Análise de Dados em Educação Financeira
A recolha de dados utilizou uma abordagem diversificada, combinando observação participante, notas de campo, entrevistas, meios audiovisuais e documentos dos alunos. Esta estratégia permitiu recolher informações ricas e contextualizadas sobre a aprendizagem dos alunos em educação financeira. A observação participante permitiu uma imersão na realidade da sala de aula, enquanto as entrevistas e notas de campo ofereceram perspetivas complementares sobre as percepções e raciocínios dos alunos. A análise dos dados focou-se em categorias e indicadores pré-definidos, visando avaliar o envolvimento, a comunicação e o raciocínio dos alunos em relação aos conceitos financeiros. A combinação destas técnicas de recolha e análise de dados contribuiu para uma compreensão abrangente e contextualizada do processo de aprendizagem em educação financeira.
3. Abordagem Qualitativa Método Descritivo e Interpretativo
A investigação adotou uma abordagem qualitativa, utilizando o método descritivo e interpretativo com objetivo exploratório. Esta escolha metodológica justifica-se pela necessidade de compreender em profundidade os fenómenos relacionados com a educação financeira em alunos do 1º ano, uma área relativamente pouco estudada. Os estudos exploratórios qualitativos permitem examinar fenómenos ainda não investigados previamente, contribuindo para a geração de novas hipóteses e teorias. A proposta didática, elaborada pelo investigador com base no Referencial de Educação Financeira (MEC, 2013b), foi aplicada como instrumento de intervenção e análise. A análise interpretativa dos dados recolhidos permitiu compreender o significado dos fenómenos observados para os alunos, dando ênfase às suas experiências e perspectivas.
II.Caracterização da Instituição e da Sala de Aula
O estudo decorreu numa escola pública do 1º ciclo do Ensino Básico, com infraestruturas que incluem sala multimédia, biblioteca e materiais didáticos diversos (ábacos, sólidos geométricos, material Cuisenaire, etc.). A sala de aula era espaçosa, bem iluminada e possuía recursos como computadores e projetores, facilitando o ensino e a aprendizagem. A metodologia incluiu a observação de 15 semanas, com fases de observação, interação e regências, focando a educação financeira numa perspetiva prática.
1. Caracterização da Instituição Escolar
A instituição escolar onde se desenvolveu a Prática de Ensino Supervisionada II (PES II) fazia parte de um agrupamento de escolas, integrando diferentes níveis de ensino, desde o Jardim de Infância ao 1º Ciclo do Ensino Básico (1º CEB). A infraestrutura incluía um espaço polivalente para Educação Física e eventos escolares, sala de pré-escolar, Unidade de Apoio à Multideficiência (UAEM), sala de apoio socioeducativo, cantina, refeitório, sala de professores, casa de banho para docentes e auxiliares, sala multimédia e biblioteca. No primeiro andar, localizavam-se as salas de aula do 1º, 2º e 3º anos, e do 3º e 4º anos, com casas de banho separadas para rapazes e raparigas. A escola, do tipo P3, estava em bom estado de conservação, tendo sido recentemente reestruturada e possuindo aquecimento central. A escola dispunha de um vasto conjunto de materiais didáticos, incluindo ábacos, sólidos geométricos, material Cuisenaire, tangrams, utensílios de medição, geoplano, mapas, globos, moedas e notas de euro, jogos e recursos audiovisuais (televisões, leitor de DVD, projetor multimédia), tornando as aulas mais atrativas e desafiantes. Dois armários guardavam fichas de trabalho, manuais e os trabalhos dos alunos.
2. Descrição da Sala de Aula
A sala de aula onde decorreu a PES II era descrita como acolhedora e propícia à aprendizagem colaborativa. A sua organização permitia a visibilidade do quadro por todos os alunos, elemento fundamental para a tomada de apontamentos. A iluminação era ótima, graças às janelas que cobriam a maior parte da parede lateral, e a sala dispunha de dois quadros brancos e um quadro pautado. O professor tinha ao seu dispor um computador e um projetor, e duas placas de corticite serviam para a afixação de cartazes e trabalhos. O mobiliário era composto por 14 mesas, 11 com suporte para guardar materiais, uma mesa menor com livros e dicionários, e uma mesa redonda para reuniões. A secretária do professor situava-se no fundo da sala, permitindo uma visão abrangente da turma. A disposição das mesas não era fixa, adaptando-se às necessidades pedagógicas.
3. Duração e Etapas da Prática de Ensino Supervisionada II
A PES II teve a duração de 15 semanas, iniciando a 5 de outubro de 2015 e terminando a 20 de janeiro de 2016. As três primeiras semanas foram dedicadas à observação das aulas do professor titular e à interação inicial com os alunos. As semanas seguintes foram dedicadas às regências, alternadas com trabalho conjunto em pares pedagógicos. Cada estagiário assumiu a regência individualmente durante cinco semanas, com uma semana de trabalho conjunto em sala de aula. A observação das aulas do professor titular permitiu aos estagiários conhecer os alunos, as suas dinâmicas e a metodologia do professor, proporcionando uma base sólida para as suas próprias regências. O formato de regências alternadas, individual e em pares, permitiu uma maior compreensão da dinâmica semanal e das responsabilidades inerentes ao trabalho docente.
III.Conteúdos Abordados e Desenvolvimento das Atividades
O programa de educação financeira para alunos do 1º ano focou-se em conceitos como a história do dinheiro, o sistema monetário (moedas e notas de euro), e a distinção entre gastar, poupar e doar, usando jogos e atividades lúdicas. Utilizaram-se recursos como um mealheiro dividido em secções (gastar, dar, poupar, guardar) e um jogo do euro em PowerPoint. A análise das atividades realizadas permitiu avaliar a compreensão dos alunos sobre conceitos financeiros básicos e identificar as suas dificuldades.
1. Introdução aos Conceitos de Educação Financeira
As atividades práticas focaram-se na introdução de conceitos essenciais de educação financeira para alunos do 1º ano. A abordagem pedagógica privilegiou a utilização de recursos lúdicos e atividades interativas, adaptadas ao nível de desenvolvimento dos alunos. Inicialmente, um diálogo adaptado da história “Dinheiro Custa Dinheiro – Sabendo usar não vai faltar”, do Programa de Educação Financeira do Banco Central do Brasil, serviu para explorar as ideias prévias dos alunos sobre dinheiro, moedas, e a noção de semanada. Em seguida, a adaptação do conto “Viagem à História da Moeda”, da Universidade de Aveiro em parceria com a Caixa Geral de Depósitos (no âmbito do projeto EDUCAÇÃO +), foi utilizada para expandir o conhecimento dos alunos sobre a origem e evolução do dinheiro, confrontando-os com as suas conceções iniciais. O objetivo principal desta etapa foi familiarizar os alunos com o conceito de dinheiro e os diferentes instrumentos de transação financeira.
2. Atividades Práticas Jogo do Mealheiro e Jogo do Euro
Para consolidar a compreensão dos conceitos de gastar, poupar e doar, foram criadas atividades práticas. Utilizaram-se caixas de madeira forradas com papel tecido autocolante em três cores distintas (vermelha para gastar, preta para poupar e com flores para doar), cada uma com seis compartimentos, contendo copos de plástico com a identificação de cada aluno. Os alunos depositavam o dinheiro da sua semanada nos copos, justificando as suas escolhas. Esta atividade visou a internalização prática dos conceitos e a justificação das decisões financeiras. Outro recurso importante foi o “Jogo do Euro”, desenvolvido em PowerPoint, que incluía um “Jogo da Memória” com as moedas de euro, direcionado para a memorização e reconhecimento das moedas. A abordagem lúdica procurou tornar a aprendizagem mais atrativa e eficaz.
3. Análise das Dificuldades e Sucessos dos Alunos
As atividades permitiram identificar as dificuldades e sucessos dos alunos na compreensão e aplicação dos conceitos de educação financeira. Em algumas tarefas, como a identificação e ordenação das moedas de euro, alguns alunos apresentaram dificuldades, como observado nas atividades escritas e na ordem apresentada para as moedas (ex: aluno 10). Apesar das dificuldades, muitos alunos demonstraram capacidade de realizar equivalências entre moedas e notas, e compreender os conceitos de gastar, poupar e doar. A análise da performance individual dos alunos, complementada com diálogo e observação, permitiu identificar as áreas onde era necessário reforçar o ensino e adaptar a metodologia. O objetivo era criar um processo de aprendizagem significativo e adaptado às necessidades dos alunos do 1º ano.
IV.Resultados e Conclusões da Pesquisa em Educação Financeira
Os resultados revelaram que a maioria dos alunos demonstraram interesse pelas atividades lúdicas e conseguiram assimilar alguns conceitos básicos de educação financeira. Foram identificadas dificuldades específicas em algumas tarefas, principalmente na compreensão de valores monetários e na ordenação de moedas. A proposta didática, embora eficaz em alguns aspetos, necessita de ajustes para melhor se adequar à faixa etária e ao nível de desenvolvimento dos alunos. O estudo destaca a importância da educação financeira desde os primeiros anos escolares para o desenvolvimento de comportamentos financeiros adequados.
1. Resultados da Implementação da Proposta Didática
A implementação da proposta didática em educação financeira, direcionada para alunos do 1º ano, revelou resultados positivos em termos de familiarização com conceitos básicos. A maioria dos alunos mostrou-se receptiva às atividades lúdicas propostas, demonstrando interesse em lidar com dinheiro e em compreender a distinção entre gastar, poupar e doar. No entanto, observaram-se dificuldades específicas em algumas tarefas, particularmente na identificação precisa de valores monetários (cêntimos versus euros) e na ordenação de moedas por ordem crescente de valor. A tarefa do jogo do Bingo, apesar de não inicialmente planeada para a educação financeira, forneceu dados interessantes sobre a percepção de probabilidade e tomada de decisão em contexto de compra, revelando que muitos alunos ainda não dominavam esse conceito. A análise dos resultados indica que a proposta didática, embora promissora, necessita de ajustes e reforço em certos aspetos, para melhor atender às necessidades específicas da faixa etária.
2. Análise dos Objetivos da Pesquisa e seus Resultados
O estudo tinha como objetivos: 1) identificar as ideias prévias dos alunos sobre dinheiro; 2) familiarizar os alunos com moedas e notas do sistema monetário; 3) compreender os significados atribuídos aos conceitos de gastar, poupar e doar; 4) identificar as dificuldades dos alunos; e 5) perceber os efeitos da proposta didática nos conhecimentos dos alunos. Em relação ao objetivo 1, observou-se uma gama de conceitos prévios, alguns ainda pouco definidos. Em relação ao objetivo 2, a familiarização com moedas e notas foi alcançada com sucesso na maioria dos alunos. O objetivo 3 foi atingido parcialmente, com compreensão de conceitos básicos. O objetivo 4 evidenciou dificuldades na identificação precisa e ordenação de valores monetários. O objetivo 5 concluiu que a proposta didática teve impacto positivo, mas necessita de refinamentos. O estudo demonstra que atividades lúdicas e adaptadas ao nível de desenvolvimento são importantes para o sucesso do ensino de educação financeira.
3. Conclusões e Implicações para a Educação Financeira
As conclusões do estudo apontam para a pertinência da educação financeira desde os primeiros anos de escolaridade, com o uso de metodologias lúdicas e contextualizadas. A proposta didática mostrou-se eficaz em alguns aspetos, mas necessita de ajustes, especialmente no que diz respeito à complexidade das tarefas e à utilização de uma linguagem apropriada para a faixa etária. A análise dos resultados sugere a necessidade de maior formação de professores nesta área e de materiais didáticos mais específicos e adaptados ao ensino básico. A experiência revelou a importância da adaptação contínua da proposta didática às necessidades e ao ritmo de aprendizagem dos alunos. Os alunos, mesmo em idade precoce, demonstraram capacidade para lidar com conceitos financeiros básicos, sugerindo que uma introdução precoce e adequada pode promover a literacia financeira e uma gestão consciente do dinheiro.
V.Recursos e Referenciais em Educação Financeira
O estudo utilizou como referência o Referencial de Educação Financeira (MEC, 2013 b), o Programa de Matemática do Ensino Básico (MEC, 2013 a) e trabalhos de diversos autores. Foram analisados documentos do Banco de Portugal, Caixa Geral de Depósitos, e iniciativas como o Plano Nacional de Educação Financeira (PNFF). A literacia financeira é apresentada como crucial, sendo necessário um reforço da formação de professores nesta área, bem como o desenvolvimento de mais materiais didáticos específicos para o ensino básico.
1. Referenciais Curriculares e Documentos de Apoio
A pesquisa em educação financeira para alunos do 1º ano baseou-se em diversos referenciais e documentos. O Programa de Matemática do Ensino Básico (MEC, 2013a) forneceu o enquadramento curricular matemático, enquanto o Referencial de Educação Financeira (MEC, 2013b) orientou a abordagem pedagógica na área financeira. Recomendações de vários autores complementaram a fundamentação teórica do estudo. A escassez de informação em educação financeira em Portugal foi destacada, contrastando com a existência do Referencial (REF) que, embora útil, precisa de maior desenvolvimento. O REF (2013), produzido em parceria com instituições como o Banco de Portugal e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, abrange diferentes faixas etárias, do pré-escolar aos adultos, organizado por temas globais (Planeamento e Gestão do Orçamento, Sistema e Produtos Financeiros Básicos, Poupança, Crédito, Ética, Direitos e Deveres), discriminados por descritores de desempenho. A consulta destes referenciais permitiu uma construção sólida e fundamentada da proposta didática.
2. Iniciativas e Projetos Nacionais e Internacionais
O estudo considerou iniciativas nacionais e internacionais em educação financeira. No contexto português, o Plano Nacional de Educação Financeira (PNFF) foi mencionado, com os seus objetivos de melhorar conhecimentos e atitudes financeiras, apoiar a inclusão financeira, desenvolver hábitos de poupança, promover o recurso responsável ao crédito e criar hábitos de precaução. A análise de dados do Banco de Portugal (2010) sobre literacia financeira em Portugal e reclamações de consumidores foram importantes para entender as necessidades da população. Em termos internacionais, a OCDE (2013) e a Aflatoun (criada na Holanda em 2005 para disseminar a educação financeira a nível mundial) foram referenciadas, assim como o trabalho de Jeroo Billimoria com uma metodologia centrada na criança como agente de mudança, com enfoque na autoconfiança, direitos e deveres, poupança, planeamento de metas e ferramentas de mudanças sociais e financeiras. A Caixa Geral de Depósitos e a Universidade de Aveiro, com o projeto “Educação +”, e o Banco de Portugal, com o Portal do Cliente Bancário, foram também mencionados como exemplos de iniciativas relevantes. A revisão destas iniciativas reforça a importância da educação financeira.
3. Materiais Didáticos e Recursos Utilizados
A pesquisa reconheceu a escassez de materiais didáticos específicos para educação financeira, particularmente para o 1º ano. Este fator foi considerado um obstáculo à implementação de programas eficazes. Adicionalmente, a formação de professores na área de educação financeira foi identificada como um ponto a melhorar. A grande maioria dos estudos anteriores sobre o tema recorreu à metodologia quantitativa, baseada em questionários, o que justifica ainda mais a escolha de uma metodologia qualitativa para este estudo. Apesar das limitações, foram desenvolvidos recursos didáticos específicos para o estudo, como um mealheiro adaptado e um jogo do euro em PowerPoint, demonstrando a necessidade de criar materiais pedagógicos adequados e atrativos para o público alvo, promovendo assim a literacia financeira de forma prática e divertida.