A Produção Científica sobre Fadiga por Compaixão: análise bibliométrica

Fadiga por Compaixão: Análise Bibliométrica

Informações do documento

Autor

Patrícia José Rodrigues Vaz

instructor/editor Fátima Regina Ney Matos, Professora Doutora
Escola

ISMT (Instituto Superior de Management de Coimbra)

Curso Gestão de Recursos Humanos e Comportamento Organizacional
Tipo de documento Dissertação de Mestrado
Local Coimbra
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 0.99 MB

Resumo

I.Análise Bibliométrica da Fadiga por Compaixão 1994 2019

Este estudo realiza uma análise bibliométrica da produção científica sobre fadiga por compaixão (e secondary traumatic stress - STS) entre 1994 e 2019, utilizando a base de dados Web of Science. Foram encontrados 831 registros em 426 periódicos diferentes. A pesquisa identificou o Clinical Social Work Journal como o periódico mais representativo, Charles Figley e Diane Hegney como os autores com mais publicações, e Figley e Karen Sprang com mais citações. Os Estados Unidos e a Austrália foram os países mais produtivos. Os artigos mais citados foram "Compassion fatigue: Psychotherapists’ chronic lack of self-care" (Figley, 2002) e "Prevalence of secondary traumatic stress among social workers" (Bride, 2007). O estudo demonstra um aumento significativo de publicações sobre o tema a partir de 2005, culminando em 166 artigos publicados em 2019. A pesquisa aplicou métodos bibliométricos como análise de citações e aplicação das Leis de Bradford e Lotka para identificar tendências e padrões de publicação.

1. Metodologia da Pesquisa Bibliométrica

O estudo utilizou a base de dados Web of Science TM para analisar a produção científica sobre "fadiga por compaixão" entre 1994 e 2019. A pesquisa bibliométrica, com foco em artigos e revisões (excluindo capítulos de livros e trabalhos de conferências), resultou em 831 registros de publicação em 426 periódicos distintos. Este método, considerado inovador e pouco explorado no contexto europeu, visa fornecer uma base sólida para pesquisas futuras. A escolha da Web of Science justifica-se pela sua abrangência e reputação na indexação de artigos científicos, permitindo uma análise robusta da produção acadêmica sobre o tema. A análise considerou diversos indicadores bibliométricos, incluindo o número de publicações, o número de citações, a identificação dos autores mais prolíficos e dos periódicos mais relevantes. O software HistCite, licenciado no Brasil, foi utilizado para auxiliar na análise dos dados obtidos.

2. Resultados da Análise Bibliométrica Periódicos e Autores

A análise bibliométrica revelou o Clinical Social Work Journal como o periódico mais representativo na publicação de artigos sobre fadiga por compaixão, considerando um índice que relaciona o número de citações com o número de artigos publicados. Charles Figley e Diane Hegney se destacaram como os autores com maior número de publicações sobre o tema. Já Charles Figley e Karen Sprang foram os autores com o maior número de citações recebidas. Estes resultados fornecem insights valiosos sobre a distribuição da produção científica, apontando para a importância do Clinical Social Work Journal como um veículo de disseminação de pesquisas sobre fadiga por compaixão e destacando a influência de Figley e seus colaboradores na área. A análise aponta ainda para a concentração de pesquisas em determinadas revistas e autores, refletindo a evolução e o desenvolvimento do campo de estudos.

3. Resultados da Análise Bibliométrica Países e Artigos Mais Citados

Em relação à distribuição geográfica da produção científica, os Estados Unidos e a Austrália surgiram como os países mais representativos na pesquisa sobre fadiga por compaixão. Isso sugere a existência de maior investimento em pesquisa e/ou maior incidência do problema nestes países. A análise identificou dois artigos como os mais citados: "Compassion fatigue: Psychotherapists’ chronic lack of self-care", de Figley (2002), e "Prevalence of secondary traumatic stress among social workers", de Bride (2007). A alta taxa de citações desses artigos indica sua relevância e influência na área, servindo como referenciais importantes para novas pesquisas e estudos. A identificação destes países e artigos como os mais relevantes indica focos importantes de desenvolvimento do tema, e abre caminho para pesquisas futuras focando em comparar os modelos e abordagem dos países mais produtivos, bem como entender o impacto e influência dos artigos mais citados na área.

4. Tendências Temporais na Publicação de Artigos

O estudo observou uma distribuição não uniforme de artigos publicados ao longo do período analisado (1994-2019). Embora tenha havido publicações em todos os anos, um aumento significativo no número de artigos é perceptível a partir de 2005. O ano de 2019 registrou o maior número de publicações (166 artigos), indicando a crescente relevância do tema nos últimos anos, apesar de não coincidir com o ano de maior número de citações (2015, com 1624 citações). A crescente produção científica reflete uma maior conscientização sobre a fadiga por compaixão, estimulando novas pesquisas e investigações na área. A diferença entre o ano com maior número de publicações e o ano com maior número de citações demonstra a complexidade do processo de reconhecimento científico e o tempo necessário para que uma pesquisa tenha seu impacto plenamente refletido nas citações recebidas.

II. Fadiga por Compaixão Conceito e Fatores de Risco

A fadiga por compaixão é definida como um estado de exaustão física, emocional e psíquica resultante da exposição prolongada ao sofrimento alheio. É fortemente associada à empatia e ao altruísmo, características predominantes em profissionais de áreas como saúde, segurança pública e educação. Fatores como longas jornadas de trabalho, pressão, falta de autonomia e pouco suporte aumentam o risco de desenvolver fadiga por compaixão. A resiliência, capacidade de lidar com situações adversas, desempenha um papel crucial na prevenção e superação da fadiga por compaixão (Figley, 2014). Indivíduos com alta empatia e envolvimento direto com o sofrimento alheio, especialmente em situações traumáticas (Craig & Sprang, 2010), apresentam maior vulnerabilidade.

1. Definição de Fadiga por Compaixão

O texto define a fadiga por compaixão como um estado de exaustão física, emocional e mental, acompanhado de dor, resultante da exposição prolongada ao sofrimento alheio e à falta de apoio no ambiente de trabalho. É descrita como um esgotamento crônico do cuidado e preocupação com o outro devido ao uso excessivo de sentimentos de compaixão (Barbosa, Sousa & Moreira, 2014). A fadiga por compaixão não se limita a profissionais de enfermagem; afeta também bombeiros, policiais, psicólogos, assistentes sociais, professores, veterinários e advogados, devido à sua exposição constante ao sofrimento e à necessidade de empatia e compaixão inerente a essas profissões (Figley, 2002a, 2002b; Stamm, 2002). Figley (1995b) descreve-a como um estado de exaustão e disfunção biológica, psicológica e social resultante do estresse traumático secundário. O sentimento de responsabilidade pelo sofrimento alheio, a recordação constante de situações traumáticas e a culpabilização são fatores cruciais neste estado, impossibilitando o alívio do estresse. Para Figley (1995b), basta que um profissional se preocupe excessivamente para que a fadiga por compaixão ocorra.

2. Fatores de Risco e Vulnerabilidade

O risco de desenvolver fadiga por compaixão aumenta com a ligação e envolvimento direto em situações traumáticas, especialmente para aqueles na linha de frente de ajuda (Craig & Sprang, 2010). Os sintomas podem surgir rapidamente, causando confusão e desamparo (Figley, 2002a). A predisposição para a empatia e a motivação para ajudar o próximo são fatores importantes que contribuem para o desenvolvimento da fadiga por compaixão (Figley, 1995a). Profissionais em contato direto com seres humanos, característica de diversas atividades profissionais que envolvem relacionamentos interpessoais (Barbosa et al., 2014), estão mais vulneráveis. Além da empatia, o altruísmo e a resiliência são características humanas relevantes. O altruísmo, associado a um propósito, fundamenta-se na empatia e na ética, e seu ganho é a motivação para auxiliar o outro (Hoffman, Silveira & Palydoro, 2010). Já a resiliência é a capacidade de adaptação a situações estressantes e o retorno ao estado anterior a uma adversidade (Luthar, Cicchetti & Becker, 2000).

3. Aspectos da Empatia e Altruísmo na Fadiga por Compaixão

A empatia, frequentemente associada a profissionais que lidam com sofrimento (Gambarelli & Taets, 2018), como médicos, enfermeiros e bombeiros, é uma predisposição para sentir e compreender o que o outro está a passar (Eagle & Wolitzky, 1999). Apesar de ser um sentimento humano universal, a sua intensidade e frequência em contextos profissionais podem aumentar significativamente o risco de fadiga por compaixão. O altruísmo, associado a um propósito e movido pela empatia e ética, contribui para a motivação de ajudar o outro, mas se não gerenciado corretamente pode levar ao esgotamento. A combinação da alta empatia e do altruísmo, sem as devidas estratégias de self-care, pode exacerbar o impacto do sofrimento alheio e consequentemente aumentar o risco de fadiga por compaixão. A forma atual de organização do trabalho, com longas jornadas, pressão, falta de autonomia e pouco tempo de descanso e férias, contribui para o desenvolvimento de fadiga, presente em diversas profissões, incluindo os profissionais de saúde (Oliveira et al., 2010).

III.Modelos e Estratégias para Gerenciar a Fadiga por Compaixão

O modelo de resiliência à fadiga por compaixão proposto por Figley (2014) enfatiza a importância do self-care, incluindo a gestão do stress, a regulação emocional e o desenvolvimento de estratégias de resiliência. Medidas como estabelecer limites entre a vida profissional e pessoal, reconectar-se com os sentidos do corpo (“reconnect with the body’s senses”), praticar exercícios físicos e meditação (Cohen, 2007), e cultivar a socialização são fundamentais. A prevenção e o tratamento eficaz da fadiga por compaixão requerem atenção às condições de trabalho, ao suporte social e ao desenvolvimento de habilidades de autocuidado.

1. Modelo de Resiliência à Fadiga por Compaixão Figley 2014

O modelo de Figley (2014) para resiliência à fadiga por compaixão foca-se em profissionais que lidam diretamente com o sofrimento dos clientes. Ele considera que o cotidiano e experiências traumáticas do indivíduo influenciam a eficácia dos serviços prestados, podendo até causar distração em contextos críticos. O modelo identifica novas fontes de estresse crônico que provocam ajustes emocionais na vida pessoal e profissional. Seu objetivo é auxiliar esses profissionais a adotarem medidas que diminuam a fadiga e aumentem a resiliência, a autorregulação e a satisfação profissional, permitindo uma melhor gestão do estresse, tanto pessoal quanto profissionalmente. A resiliência à fadiga por compaixão é definida como a velocidade e integridade com que um indivíduo recupera de uma situação adversa após alto nível de estresse. O modelo inclui quatro variáveis: estresse residual por compaixão, exposição prolongada aos clientes, capacidade de gerenciar memórias traumáticas e novas fontes de estresse crônico.

2. Estratégias de Self Care para Gerenciar a Fadiga

Para combater a fadiga por compaixão, o texto destaca a importância do self-care, que engloba ações de autocuidado e autoproteção. Cohen (2007) enfatiza a necessidade de estabelecer limites, trabalhando apenas nas horas determinadas e confiando nos colegas fora do horário de trabalho. Também salienta a importância de reconectar-se com os sentidos do corpo ('reconnect with the body’s senses'), buscando o prazer e evitando o afastamento de situações perturbadoras. Cuidar do corpo através de sono reparador, nutrição adequada e momentos de relaxamento (banho, por exemplo) é crucial, assim como definir um 'santuário' onde o trabalho fica excluído, especialmente no quarto. Atividades como exercício físico, que promovem o sono e aliviam a ansiedade, e a meditação, que permite relaxamento profundo (Cohen, 2007), são também recomendadas. A socialização e o convívio com pessoas fora do ambiente profissional, inclusive com animais de estimação, também são destacados como essenciais para a recuperação e prevenção da fadiga por compaixão.

IV.Indicadores Bibliométricos e Bases de Dados

A análise bibliométrica utilizou diversos indicadores, incluindo o número de publicações, citações, o h-index dos autores e o fator de impacto dos periódicos. Foram comparadas as principais bases de dados bibliométricas: Web of Science, Scopus e Google Scholar Metrics, destacando as vantagens e desvantagens de cada uma para este tipo de pesquisa. A análise das citações permitiu identificar artigos e autores mais influentes no campo da fadiga por compaixão e stress traumático secundário (STS).

1. Indicadores Bibliométricos Utilizados

A análise bibliométrica utilizou vários indicadores para avaliar a produção científica sobre fadiga por compaixão. O número de publicações permitiu quantificar a atividade da área científica e compará-la com outras áreas ou países, acompanhando sua evolução ao longo do tempo (Bordons & Zulueta, 1999). Entretanto, este indicador é quantitativo e não avalia a qualidade do conteúdo. A análise de citações, considerada a área mais importante da bibliometria (Araújo, 2006), investiga as relações entre documentos citantes e citados, fornecendo informações sobre a influência de publicações específicas. O h-index, que combina quantidade e impacto (número de publicações e citações), foi usado para avaliar a produtividade e o impacto dos pesquisadores (Lopes et al., 2012; InCites Indicators Handbook, p.15-16). Outros indicadores mencionados, embora não detalhados na análise, incluem o fator de impacto, Eigenfactor TM Metrics e o SCImago Journal Rank (SJR) (Lopes et al., 2012). A utilização de um índice personalizado, que relaciona número de citações e artigos publicados por periódico, permitiu a identificação do periódico mais representativo, independente do ranking geral.

2. Bases de Dados Bibliométricas Web of Science Scopus e Google Scholar Metrics

O estudo utilizou a Web of Science TM como principal base de dados, escolhida por ser uma base de dados de renome, e por permitir pesquisa por ocorrência de palavras, encontrar artigos relacionados e estabelecer ligações entre artigos citantes e citados (Lopes et al., 2012). O texto também menciona a Scopus, com mais de 18.000 títulos de periódicos, incluindo acesso aberto, conferências e livros, e uma cobertura mais forte em revistas de ciência e tecnologia e conteúdo europeu (Lopes et al., 2012). Finalmente, o Google Scholar Metrics é apresentado como uma alternativa gratuita que fornece o h-index para revistas científicas, mas com limitações, como a inclusão de periódicos não revisados por pares e possíveis erros na identificação de autores e dados bibliográficos (Lopes et al., 2012). A escolha da Web of Science justifica-se pela sua abrangência e reputação na indexação de artigos científicos. As outras bases de dados são mencionadas como alternativas, cada uma com seus pontos fortes e fracos na análise bibliométrica.