
Identidade Branca no Cinema: Um Estudo
Informações do documento
Autor | Rodrigo Birck Moreira |
instructor | Dinaldo Sepúlveda Almendra Filho, Orientador |
Escola | Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) |
Curso | Literatura Comparada |
Tipo de documento | Dissertação (Mestrado) |
Local | Foz do Iguaçu |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 35.79 MB |
Resumo
I.A Identidade Branca na Construção de Documentários sobre Religiões Afro Brasileiras
Esta pesquisa analisa como a identidade branca influencia a representação de religiões afro-brasileiras em documentários. Utilizando o conceito de "ponto oculto" de Beatriz Nascimento, o estudo critica a forma como cineastas brancos constroem narrativas sobre a cultura negra, muitas vezes perpetuando estereótipos e esquecendo as complexidades da diáspora africana no Brasil. Os documentários analisados são Atlântico Negro (Renato Barbieri, 1997) e Pedra da Memória (Renata Amaral, 2011), comparados com o filme de ficção Xica da Silva (Carlos Diegues, 1976), que gerou polêmica com Beatriz Nascimento por suas representações negras problemáticas. A pesquisa investiga a história do racismo no cinema brasileiro, desde o Cinema Novo, focando na luta por representação e na invisibilização das experiências negras. A análise considera também o documentário menos conhecido, O Poder do Machado de Xangô (Paulo Gil Soares, 1976), que, apesar de seu pioneirismo na abordagem da cultura afro-brasileira, também apresenta limitações.
1. O Conceito de Ponto Oculto e a Análise Comparativa de Filmes
A pesquisa utiliza o conceito de "ponto oculto", proposto por Beatriz Nascimento, para analisar a representação de negros em filmes brasileiros. Este conceito se refere à internalização do negro na construção da identidade social do homem branco, impactando a forma como este representa o negro no cinema. A pesquisa realiza uma análise comparativa de documentários sobre religiões afro-brasileiras, Atlântico Negro (1997) e Pedra da Memória (2011), confrontando-os com o filme de ficção Xica da Silva (1976). A polêmica gerada por Xica da Silva, criticada publicamente por Beatriz Nascimento, serve como ponto de partida para a investigação sobre as representações cinematográficas problemáticas da cultura negra. A análise prioriza os aspectos etnográficos e explora como a identidade branca molda a construção narrativa nesses documentários, especialmente no contexto do racismo estrutural brasileiro. O estudo busca compreender como a perspectiva branca influencia a interpretação e a apresentação de temas religiosos afro-brasileiros.
2. A Árvore do Esquecimento como Metáfora do Apagamento Cultural
A metáfora da "árvore do esquecimento", presente no documentário Atlântico Negro, é central para a compreensão da pesquisa. Este elemento representa o apagamento sistemático das memórias e práticas culturais da população negra, um processo que se estende da diáspora africana ao Brasil. A imagem da árvore simboliza a construção contínua do esquecimento, a invisibilização da existência negra como grande formadora da identidade brasileira. A pesquisa conecta essa metáfora com a forma como o cinema, produzido em grande parte por cineastas brancos, contribui para esse apagamento, perpetuando estereótipos e negligenciando as complexidades da história e cultura negra. A análise considera a influência da branquitude na construção da narrativa, questionando como a perspectiva branca influencia a forma como a diáspora africana é representada nos filmes, muitas vezes de forma superficial. A pesquisa se debruça sobre as formas de resistência e preservação da memória e cultura negra frente a este apagamento sistemático.
3. O Cinema Novo e a Luta por Representação Um Contexto Histórico
A pesquisa contextualiza a problemática da representação de negros no cinema brasileiro, focando no período do Cinema Novo. Apesar de um contexto de mudanças sociais e do movimento negro, que buscava romper com o eurocentrismo e o elitismo na década de 1970/80, o Cinema Novo não conseguiu superar completamente as estereotipificações raciais. O episódio das "patrulhas ideológicas", protagonizado por Beatriz Nascimento e Cacá Diegues, é apresentado como um ponto central dessa inflexão. A pesquisa analisa como os conflitos étnico-raciais e a diversidade religiosa geram tensões sociais no Brasil, mostrando como a ideia da "democracia racial" serviu como mecanismo de propaganda, obscurecendo o racismo estrutural. O estudo demonstra como a identidade branca influenciou, mesmo nesse período, a produção cinematográfica, muitas vezes reproduzindo a visão do branco privilegiado sobre a cultura negra. A análise destaca a necessidade de se considerar a complexidade histórica, incluindo a escravidão e as suas consequências profundas na sociedade brasileira, na compreensão da representação cinematográfica.
II.O Racismo e a Representação do Candomblé no Cinema Brasileiro
A pesquisa destaca a escassez de documentação sobre o Candomblé antes do século XX, apontando a publicação de reportagens como "As noivas dos deuses sanguinários" (Revista O Cruzeiro, 1951) e o trabalho fotográfico de José Medeiros e Pierre Verger como marcos iniciais de documentação, muitas vezes distorcida e estigmatizada. O estudo analisa a presença do candomblé em filmes como Bahia de Todos os Santos, Barravento, e O Pagador de Promessas, discutindo como a religião era frequentemente tratada como pano de fundo ou elemento estereotipado. A pesquisa investiga a persistência de preconceitos raciais e religiosos, mesmo em produções mais recentes, e como o racismo religioso afeta a visibilidade e a representação autêntica das religiões de matriz africana no cinema brasileiro. A ausência de debate sobre o racismo religioso em Atlântico Negro, por exemplo, é criticada. Figuras importantes como Mãe Stella de Oxóssi (mencionada em Atlântico Negro) são relevantes para entender a representação do candomblé.
III.A Árvore do Esquecimento e a Superficialidade do Olhar Branco
A metáfora da "árvore do esquecimento", presente em Atlântico Negro, simboliza o apagamento da memória e da cultura africana no Brasil. A pesquisa argumenta que a abordagem de diretores brancos sobre a diáspora africana frequentemente carece de profundidade e empatia, refletindo a branquitude e as estruturas racistas da sociedade. A pesquisa questiona se a proximidade com a religiosidade afro-brasileira garante uma representação mais autêntica, contrastando a narrativa de cineastas brancos com a perspectiva de praticantes do Candomblé. O estudo utiliza conceitos da antropologia visual, discutindo a construção da etnografia em vídeos e a importância do diálogo entre pesquisadores e informantes para uma representação mais justa e precisa da cultura afro-brasileira.
1. A Árvore do Esquecimento e o Apagamento da Memória Africana
A metáfora da "árvore do esquecimento", presente em Atlântico Negro, é analisada como símbolo do apagamento sistemático da memória e da cultura africana no contexto da diáspora africana e da escravidão no Brasil. A descrição da cerimônia em que os escravizados eram forçados a dar voltas em torno da árvore, buscando o esquecimento de suas origens, ilustra o processo de desumanização e controle imposto pelo sistema escravocrata. A pesquisa argumenta que essa prática de esquecimento se perpetua através de diversas formas, incluindo a produção cinematográfica. A branquitude e a identidade branca são analisadas como fatores que contribuem para essa invisibilização da cultura negra, perpetuando estereótipos e negligenciando a complexidade histórica e cultural da diáspora africana no Brasil. A pesquisa, portanto, investiga a persistência desse processo de apagamento na representação cinematográfica de temas relacionados à cultura negra, especialmente no âmbito de religiões afro-brasileiras.
2. Superficialidade no Trato Diaspórico e o Olhar Embranquecido
A pesquisa analisa a superficialidade com que a diáspora africana é frequentemente tratada em obras cinematográficas dirigidas por cineastas brancos. Essa superficialidade é atribuída a uma questão identitária, ligada à branquitude, que dificulta a empatia e a construção de uma narrativa autêntica e respeitosa. O traço fenotípico, segundo o texto, é um fator determinante das estruturas racistas da sociedade brasileira, moldando a personalidade e a perspectiva dos diretores brancos. A análise questiona se a proximidade com a religiosidade afro-brasileira confere aos diretores uma maior propriedade sobre o tema, permitindo uma visão mais interna e compreensiva dos terreiros e de suas práticas. A pesquisa sugere que a falta de uma compreensão profunda da cultura negra e a perpetuação de visões estereotipadas, muitas vezes geradas pela identidade branca do diretor, resultam em narrativas incompletas e superficialmente comprometidas com a complexidade da experiência negra.
3. A Construção de Narrativas e a Importância da Perspectiva Negra
A pesquisa discute a importância da construção de narrativas que contemplem a perspectiva negra na representação da diáspora africana e das religiões afro-brasileiras. A produção de conhecimento, segundo o texto, é um processo de negociação e diálogo entre pesquisadores e informantes, argumentando que a noção de objetividade na etnografia em vídeo é questionável. Um vídeo pode ser considerado ‘etnográfico’ quando seu público o julga como representativo de informações de interesse etnográfico (Pink, 2007). A pesquisa destaca que a utilização de vozes brancas narrando a história da diáspora africana repete o padrão de apagamento cultural simbolizado pela "árvore do esquecimento". A análise levanta a questão crucial da necessidade de se dar voz e espaço para os próprios indivíduos e comunidades negras na construção de representações cinematográficas que sejam verdadeiramente autênticas e respeitosas, reconhecendo as múltiplas perspectivas e nuances dessa complexa experiência histórica.