As Comunidades Árabes Muçulmanas de Foz do Iguaçu no contexto de securitização da Tríplice Fronteira: uma perspectiva analítica da construção social de ameaças

As Comunidades Árabes-Muçulmanas de Foz do Iguaçu e a Securitização da 'Tríplice Fronteira'

Informações do documento

Autor

Rafaela Cristina Silva de Souza

Escola

Universidade Federal da Integração Latino-Americana,Instituto Latino-Americano de Arte, Cultura e História (ILAACH),Programa Dd Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos Latino-Americanos (PPG IELA).

Curso Estudos Latino-Americanos
Ano de publicação 2017
Local Foz do Iguaçu
Tipo de documento Dissertação
Idioma Portuguese
Número de páginas 196
Formato | PDF
Tamanho 2.41 MB

Resumo

I.Introdução

Este trabalho tem como objetivo promover uma análise da construção social da suposta ameaça terrorista islâmica na região de fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai, também chamada “Tríplice Fronteira”, sob uma perspectiva sociológica da Teoria da Securitização. A partir do foco nas unidades de análise das audiências e do contexto, é possível concluir que não houve a securitização, de fato, da ameaça terrorista na região, pelo Estado brasileiro. No entanto, a iniciativa de securitização promovida pelo principal ator securitizador - o governo norte-americano – e endossada pela mídia mainstream teve direções negativas para as comunidades árabes-muçulmanas da cidade brasileira de Foz do Iguaçu.

II.Metodologia

A condução de entrevistas semi-estruturadas com membros das comunidades, moradores, empresários e comerciantes da região, assim como a análise de documentos arquivados da Biblioteca Municipal de Foz do Iguaçu foram ferramentas metodológicas fundamentais para a realização deste trabalho.

III.Breve Histórico da Ameaça Terrorista na Tríplice Fronteira

Os primeiros fluxos migratórios datam do final século XIX, e são consequência da crise econômica e política pela qual passavam os povos sob domínio do Império Turco-Otomano. Com a queda desse império, a instabilidade política da região se perpetuou durante as tutelas de França e Inglaterra, bem como no período pós-colonial, refletindo as mazelas causadas pelo apoio das antigas metrópoles a grupos sectários locais. A essa situação, se somaram os conflitos deflagrados após a criação do Estado judeu de Israel na região da Palestina. Vários conflitos – civis e interestatais - e ocupações estrangeiras configuraram a dinâmica desses países ao longo do século XX.

IV.As Comunidades Árabes Muçulmanas da Tríplice Fronteira

A região de interseção de fronteiras entre Argentina, Brasil e Paraguai, denominada “Tríplice Fronteira”, foi – e ainda é – o destino de muitos imigrantes de países de origem árabe e muçulmana, sobretudo Líbano, Síria e Palestina. Os primeiros fluxos migratórios datam do final do século XIX, e são consequência da crise econômica e política pela qual passavam os povos sob domínio do Império Turco-Otomano. Com a queda desse império, a instabilidade política da região se perpetuou durante as tutelas de França e Inglaterra, bem como no período pós-colonial, refletindo as mazelas causadas pelo apoio das antigas metrópoles a grupos sectários locais. A essa situação, se somaram os conflitos deflagrados após a criação do Estado judeu de Israel na região da Palestina. Vários conflitos – civis e interestatais - e ocupações estrangeiras configuraram a dinâmica desses países ao longo do século XX.

V.O Hizballah

O objetivo, precisamente, da presente subseção é entender, minimamente, o complexo contexto político libanês quando do surgimento da organização – em 1982 –, que consistia em uma violenta ocupação militar israelense que, juntamente com as Forças Multinacionais “de Paz” lideradas por EUA, França e Itália, sustentavam um governo Falangista Cristão Maronita, extremamente violento com as minorias, sobretudo os xiitas de subúrbios de Beirute e do sul do país e palestinos refugiados sob a liderança, principalmente, da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), liderada por Yasser Arafat.

VI.As Audiências O Brasil e o Impacto da Iniciativa de Securitização

Cumpre apontar que o relatório, claramente, adota a narrativa em torno da presença de “terroristas islâmicos” em detrimento das observações precisas acerca do Hizballah e do governo iraniano, muito embora o primeiro ainda seja citado, pontualmente, no trecho disposto na seção referente à Argentina, destinado à informação acerca do mandado de prisão expedido por esse governo para o então líder do Hizballah, Imad Mughniyah.

Em 2015, o programa de Assistência Antiterrorismo (ATA) do Departamento de Estado dos EUA proporcionou cursos para pessoal de segurança e responsáveis pela aplicação da lei abrangendo temas como Gerenciamento de Incidentes Críticos, Gerenciamento de Segurança de Aeroportos e Reconhecimento de Documentos Fraudulentos — todos com o objetivo de aprimorar as capacidades investigativas, desenvolver capacidades de segurança de fronteira e apoiar os esforços do Brasil para prevenir ataques terroristas nos Jogos Olímpicos de Verão de 2016. Os cursos de treinamento trouxeram o benefício adicional de reunir agências distintas, o que aprimorou a comunicação interdepartamental brasileira. As autoridades brasileiras continuaram a trabalhar com outras nações preocupadas — particularmente os Estados Unidos — para combater a fraude documental. Desde 2009, várias operações conjuntas regionais e internacionais interromperam com sucesso uma série de fornecedores e facilitadores de documentos, além de redes relacionadas de tráfico de pessoas. O Departamento de Estado forneceu treinamento abrangente e contínuo contra fraude para companhias aéreas e unidades de polícia de fronteira por meio de seu Programa de Investigações (ARSO-I). Desde o início do programa em 2008, o ARSO-I treinou milhares de funcionários de companhias aéreas e funcionários da Imigração brasileira em praticamente todos os portos internacionais de entrada. Além disso, desde 2008, o Immigration and Customs Enforcement (ICE), o Homeland Security Investigations (HSI) e o Customs and Border Protection (CBP) do Departamento de Segurança Interna (DHS) treinaram funcionários de companhias aéreas brasileiras na identificação de documentos fraudulentos. A Iniciativa de Segurança de Contêineres (CSI) Brasil-EUA em Santos, iniciada em 2005, continuou operando ao longo de 2015. A CSI promove cargas de contêineres seguras — enviadas para os Estados Unidos — colocando funcionários do DHS CBP no exterior com administradores alfandegários brasileiros para identificar, detectar e inspecionar cargas de alto risco, facilitando ao mesmo tempo o movimento do comércio legítimo. Os escritórios de Assuntos Internacionais e Operações de Campo do CBP realizam oficinas conjuntas com o Brasil para reforçar a segurança da cadeia de suprimentos e a segurança do porto.

A região de intersecção de fronteiras entre Argentina, Brasil e Paraguai, denominada 'Tríplice Fronteira', foi e ainda é o destino de muitos imigrantes de países árabes e muçulmanos, especialmente Líbano, Síria e Palestina. Os primeiros fluxos migratórios datam do final do século XIX e são consequência da crise econômica e política pela qual passavam os povos sob domínio do Império Turco-Otomano. Com a queda desse império, a instabilidade política da região se perpetuou durante as tutelas da França e da Inglaterra, bem como no período pós-colonial, refletindo as mazelas causadas pelo apoio das antigas metrópoles a grupos sectários locais. A esse cenário, somaram-se os conflitos deflagrados após a criação do Estado judeu de Israel na região da Palestina. Diversos conflitos — civis e interestatais — configuraram a dinâmica desses países ao longo do século XX. Truzzi (1997, p. 34) argumenta que o principal objetivo desses migrantes, em sua maioria rapazes jovens e solteiros, era atender às prioridades de sua família, em sua terra natal, seja por meio do envio de remessas monetárias, seja reconstruindo suas vidas familiares em outros países.

Eles estavam por todas as partes, na rua, nas vielas, nos quintais e cômodos destruídos, embaixo de construções demolidas e sobre montes de lixo. Os assassinos — os milicianos cristãos que Israel deixara entrar nos campos para “desentocar os terroristas” — haviam acabado de partir. Em alguns casos, o sangue ainda estava molhado nos solos. Quando chegamos a cem, paramos de contar os corpos. Em cada viela, havia cadáveres — mulheres, homens bebês e avós — caídos juntos em desordenada e terrível profusão, no local onde tinham sido esfaqueados ou metralhados. Cada corredor em meio aos destroços apresentava mais corpos. Os pacientes de um hospital palestino desapareceram depois que os pistoleiros ordenaram aos médicos para saírem. Em todos os cantos, encontramos sinais de covas coletivas escavadas apressadamente. Talvez mil pessoas tenham sido chacinadas, provavelmente 1500 (...). Nós talvez tivéssemos conseguido aceitar as evidências de uns poucos assassinatos; até mesmo dezenas de corpos, mortos, no calor do combate. Mas havia mulheres jogadas em casas com suas saias rasgadas até a cintura e as pernas bem abertas, crianças com as gargantas cortadas, filas de homens jovens com tiros nas costas após terem sido alinhados diante de um muro de fuzilamento. Havia bebês — bebês enegrecidos, porque tinham sido chacinados havia mais de 24 horas e seus pequenos corpos já estavam em estado de decomposição — jogados em monturos junto a latas descartadas de ração dos EUA, equipamentos médicos do exército israelense e garrafas vazias de uísque (FISK, 2007, p. 488-489)