Conexões (Trans)Fronteiriças: mídia, noticiabilidade e ambivalência

Mídia Transfronteiriça: Noticiabilidade e Ambivalência

Informações do documento

Autor

Ada C. Machado Da Silveira

Escola

Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)

Curso Jornalismo, Comunicação Social, ou áreas afins
Local Foz do Iguaçu
Tipo de documento Livro (recurso eletrônico)
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 1.44 MB

Resumo

I.A Noticiabilidade e a Ambivalência na Cobertura Jornalística de Periferias

Este estudo analisa a noticiabilidade e a ambivalência presentes na cobertura jornalística de periferias, focando em fronteiras internacionais do Brasil. A pesquisa questiona como a produção de notícias molda a percepção da realidade, utilizando o conceito de ambivalência para descrever a representação contraditória de regiões periféricas na mídia. O trabalho examina como a mídia brasileira e internacional retratam temas como contrabando, narcotráfico, e conflitos socioambientais em regiões de fronteira, revelando a complexa interação entre eventos locais e a narrativa nacional.

1. A Produção de Notícias e a Percepção da Realidade

A seção inicia com uma provocação sobre a noticiabilidade, utilizando um exemplo de um ministro brasileiro que perdeu credibilidade devido a comentários vazados. A partir daí, a pergunta central é levantada: como aceitamos informações sobre o mundo como realidade, sabendo como elas são produzidas? O livro, portanto, propõe refletir sobre o 'como' da produção de notícias, a construção da realidade midiática. A pesquisa enfatiza a importância de analisar criticamente o processo de seleção e apresentação das informações, reconhecendo o papel ativo da mídia na formação da opinião pública. A cobertura jornalística, por sua vez, não é um mero reflexo passivo da realidade, mas um processo ativo de construção de narrativas. As periferias, nesse contexto, são frequentemente representadas de forma estereotipada, simplificada e ambígua, omitindo a complexidade da realidade social.

2. Noticiabilidade e Cobertura Jornalística das Fronteiras Brasileiras

O estudo se concentra na noticiabilidade na cobertura jornalística das fronteiras internacionais do Brasil. É analisada a interação entre a mídia brasileira e internacional no tratamento de temas relacionados às fronteiras, identificando tendências na técnica jornalística, como agendamento, angulação e valores-notícia. A pesquisa destaca que a linguagem jornalística não é apenas uma descrição de representações, mas sim uma atividade realizadora de ações, com implicações políticas e sociais significativas. A pesquisa, conduzida por professoras e alunos da UFSM, examina a cobertura jornalística em diferentes níveis (nacional e local), buscando padrões e similaridades nas estratégias empregadas pela mídia. O foco está em entender como a seleção de informações e a construção da narrativa contribuem para a representação das periferias e das fronteiras no imaginário social.

3. Temas Candentes e a Fortuna Midiática nas Relações Transfronteiriças

A pesquisa identifica temas que frequentemente dominam a cobertura jornalística de fronteiras: contrabando de bens e armas, narcotráfico, exploração de recursos naturais, e questões envolvendo populações indígenas e camponesas. A mídia, ao dar destaque a esses assuntos, contribui para a construção de um imaginário que expõe a vulnerabilidade das populações que habitam ou transitam pelas fronteiras. A pesquisa investiga como os valores-notícia associados a crimes de descaminho podem servir a diferentes objetivos políticos, tanto internos (reforma agrária e reservas indígenas) quanto internacionais, relacionados à segurança nacional e modelos de Estado. A ambivalência na cobertura jornalística é ressaltada, mostrando como a ênfase em determinados aspectos pode obscurecer outros, gerando uma visão incompleta e potencialmente distorcida da realidade.

4. Ambivalência na Representação Midiática de Periferias Favelas e Fronteiras

Nesta seção, a ambivalência na cobertura jornalística de periferias é analisada profundamente. Favelas e fronteiras são apresentadas como territórios ambíguos, com características que se sobrepõem. A pesquisa se questiona se essa ambivalência é resultado de valores e cultura profissional, ou se extrapola esses limites, se manifestando como um fenômeno mais amplo. A abordagem da noticiabilidade como um conjunto de protocolos que aproxima eventos distintos e explora a ambiguidade é defendida. A pesquisa cita Mauro Wolf (2001) para discutir a noticiabilidade como um processo de seleção e transformação de acontecimentos em notícias, e as consequências dessa seleção na percepção pública. A ambivalência da representação midiática é enfatizada, destacando como a ênfase em alguns aspectos leva a uma visão parcial e estereotipada de periferias.

5. Narrativas Jornalísticas e o Poder nas Periferias

A pesquisa discute a falta de poder das sociedades periféricas sobre suas próprias narrativas jornalísticas. A análise explora como a mídia, ao focar em aspectos negativos, como violência e criminalidade, contribui para a perpetuação de uma imagem distorcida dessas comunidades. A cobertura jornalística, frequentemente, reforça a ideia de inevitabilidade de conflitos, desconsiderando as diferentes dinâmicas sociais existentes em periferias. A análise critica a falta de perspectiva da mídia sobre as nuances das sociedades periféricas, reduzindo-as a estereótipos que desconsideram a complexidade da realidade. Semanas como Época, Veja, IstoÉ e CartaCapital são analisadas como exemplos de publicações que frequentemente reproduzem essas narrativas. A pesquisa questiona a motivação emocional que muitas vezes parece estar por trás da prática jornalística, contrapondo a busca pela objetividade e racionalidade.

II.Valores Notícia e a Construção da Narrativa Jornalística

A pesquisa investiga os valores-notícia que orientam a seleção e a construção de notícias sobre periferias e fronteiras. O estudo destaca como a ênfase em crimes e violência reforça estereótipos negativos, omitindo as complexidades sociais e econômicas dessas regiões. A análise questiona se a cobertura jornalística, influenciada por protocolos e cultura profissional, contribui para uma visão enviesada e incompleta da realidade, perpetuando a ambivalência na representação dessas áreas. Obras de autores como Niklas Luhmann e Mauro Wolf são referenciadas para contextualizar a produção de notícias e o conceito de noticiabilidade.

1. A Noção de Noticiabilidade segundo Mauro Wolf

Esta seção define noticiabilidade com base na perspectiva de Mauro Wolf (2001): um conjunto de requisitos que os acontecimentos devem atender para se tornarem notícias. Esses requisitos são analisados a partir da estrutura de trabalho dos órgãos de informação e do profissionalismo dos jornalistas. A noticiabilidade, portanto, envolve critérios, operações e instrumentos para selecionar, diariamente, entre uma infinidade de fatos, uma quantidade limitada e relativamente estável de notícias. Aquelas informações que não se encaixam nesses parâmetros são excluídas, não adquirindo o estatuto de notícia e permanecendo como simples acontecimentos. Wolf argumenta que a noticiabilidade define o que chega ao conhecimento do público através das comunicações de massa, determinando, portanto, a cobertura jornalística e sua representação da realidade.

2. Ambivalência na Representação de Periferias Fronteiras e Favelas

A pesquisa analisa a representação de periferias (fronteiras e favelas) na mídia, identificando um enquadramento ambivalente. Favelas e fronteiras são apresentadas como territórios ambíguos, de formação recente e estrutura instável, compostos por migrantes e excluídos. As semelhanças residem na instabilidade imaginária, mas suas dinâmicas internas não são completamente apreendidas pela cobertura jornalística. A pesquisa questiona se essa ambivalência é resultado dos valores e da cultura profissional ou extrapola esses limites, se manifestando como um fenômeno mais amplo. A análise considera o contraste entre a realidade e a representação, focando no imaginário de instabilidade e violência associado a essas áreas, frequentemente reforçado pela mídia.

3. Crime e Violência Valores Notícia e a Construção de Narrativas

O estudo examina o imbricamento de crimes, como tráfico de drogas, armas, e de imigrantes ilegais, que se concentram em zonas periféricas, mas também se estendem a outras regiões. A análise destaca como acontecimentos localizados em periferias ganham projeção nacional e internacional, configurando uma narrativa que, frequentemente, destaca a violência e o crime. A relação centro-periferia é revisitada, apontando como a mídia, muitas vezes, a partir de um ponto de vista central, simplifica e distorce a complexidade dessas regiões. A cobertura jornalística, ao manipular a relação centro-periferia, reforça a narrativa de insegurança e violência, muitas vezes sem explorar as causas subjacentes. A repetição insistente de um enquadramento ambivalente cria uma narrativa falaciosa, sobrepondo um imaginário negativo.

4. O Esgotamento da Prática Jornalística e a Falta de Poder das Periferias

A seção discute o esgotamento da prática jornalística na cobertura de periferias, evidenciando a falta de poder dessas sociedades na construção da narrativa jornalística. As periferias, muitas vezes julgadas à revelia, são apresentadas como vítimas do atraso e culpadas da criminalidade. A pesquisa questiona se a motivação da prática jornalística seria basicamente emocional, contrapondo-se à racionalidade moderna. A análise aponta para a criação de uma narrativa que fixa a imagem de uma sociedade paralisada por suas contradições e ambiguidades, gerando uma percepção de inevitabilidade dos conflitos. A cobertura jornalística de semanários brasileiros de grande circulação, como Época, Veja e IstoÉ, é analisada como exemplo da prevalência desse viés.

III.A Tríplice Fronteira Representações Midiáticas do Contrabando e da Fiscalização

O estudo realiza uma análise comparativa da cobertura jornalística da Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil, Paraguai) em diferentes programas de televisão. Comparando o Jornal Hoje (Rede Globo) e Conexões Urbanas (Multishow), a pesquisa investiga como diferentes formatos jornalísticos constroem narrativas sobre o contrabando e a fiscalização na região. A análise focaliza a utilização de fontes, a linguagem empregada e o enquadramento da problemática, identificando diferentes ênfases na representação dos problemas e seus atores. Figuras como Sandra Annenberg e Evaristo Costa (Jornal Hoje) e José Junior (Conexões Urbanas) são analisadas em relação às suas abordagens.

1. Comparação entre Jornal Hoje e Conexões Urbanas Representação do Contrabando na Tríplice Fronteira

Este estudo compara a cobertura jornalística do contrabando na Tríplice Fronteira (Argentina, Brasil, Paraguai) em dois programas de televisão: o Jornal Hoje (Rede Globo) e Conexões Urbanas (Multishow). A análise se concentra em como diferentes formatos jornalísticos constroem narrativas sobre a fiscalização e o contrabando, focando nas escolhas de linguagem, fontes e enquadramento. O Jornal Hoje, com sua abordagem tradicional de hard news, apresenta Foz do Iguaçu como a principal porta de entrada do contrabando no Brasil, focando na repressão policial e na visão de um local problemático. Em contraste, Conexões Urbanas, com uma abordagem mais híbrida, apresenta um espectro mais amplo de perspectivas, incluindo entrevistas com agentes da Polícia Federal e moradores locais, mostrando a complexidade da questão para além da simples repressão. A mídia, portanto, molda a percepção do público sobre a Tríplice Fronteira e suas problemáticas, influenciando a compreensão sobre o contrabando e a fiscalização.

2. Análise das Fontes e Linguagem Jornal Hoje vs. Conexões Urbanas

A análise aprofunda a comparação entre os programas, focando na seleção de fontes e na linguagem utilizada. O Jornal Hoje prioriza fontes oficiais, como a Receita Federal, enfatizando a perspectiva da fiscalização. A linguagem se aproxima da norma culta, seguindo preceitos dos manuais de Jornalismo, priorizando uma cobertura jornalística mais objetiva. Já Conexões Urbanas utiliza uma linguagem mais coloquial, aproximando-se dos entrevistados e apresentando uma maior pluralidade de fontes, incluindo agentes da Polícia Federal, moradores locais e até mesmo contrabandistas. A presença do apresentador José Junior é marcante, atuando como elo entre as diferentes perspectivas. A escolha de fontes e linguagem influencia a construção da narrativa e a percepção do público sobre a Tríplice Fronteira. A mídia, ao privilegiar determinados discursos, constrói diferentes representações da realidade na região.

3. Ponte da Amizade Um Símbolo da Ambivalência na Tríplice Fronteira

A Ponte da Amizade, que liga Foz do Iguaçu (Brasil) a Ciudad del Este (Paraguai), serve como um símbolo da ambivalência na Tríplice Fronteira. O programa Conexões Urbanas destaca sua importância econômica para o Paraguai, alertando para as consequências negativas de seu fechamento. Por outro lado, o Jornal Hoje apresenta o fechamento da fronteira como uma possível solução para os problemas de contrabando. Essa diferença na abordagem ilustra como diferentes programas de mídia constroem narrativas divergentes sobre o mesmo tema. A análise ressalta a importância de considerar as diferentes perspectivas e a complexidade socioeconômica da região, indo além da simples visão de contrabando como um problema de segurança pública. As entrevistas com Guilherme de Biagi (Delegado-chefe da Polícia Federal em Foz do Iguaçu) e Geancarlo de Souza (Agente da Polícia Federal) exemplificam essas visões contrastantes.

4. Conclusão Pluralidade de Fontes e Objetividade na Cobertura Jornalística

A conclusão destaca a pluralidade de fontes em Conexões Urbanas, contrastando com a abordagem mais limitada do Jornal Hoje. Embora o Jornal Hoje utilize uma linguagem considerada mais “objetiva”, segundo os cânones do Jornalismo, a pesquisa argumenta que a cobertura jornalística de Conexões Urbanas, apesar de sua linguagem mais coloquial, oferece uma visão mais abrangente e contextualizada do problema. O Jornal Hoje, por sua vez, limita-se a uma visão localizada do problema, sem abordar suas causas e consequências mais amplas. A análise evidencia como a escolha das fontes e a forma de apresentar as informações impactam a compreensão pública sobre o contrabando e suas implicações na Tríplice Fronteira. A mídia, portanto, desempenha um papel crucial na construção do imaginário sobre a região e suas complexidades.

IV.A Revista Veja e a Cobertura do Conflito entre Brasileiros e Paraguaios

Esta seção concentra-se na análise de artigos da revista Veja sobre o conflito de terras entre brasileiros e paraguaios na fronteira, utilizando o termo “brasiguaio”. A pesquisa investiga como a revista constrói a narrativa desse conflito, identificando possíveis vieses e a influência da linha editorial na representação dos personagens envolvidos, incluindo a figura do então presidente paraguaio Fernando Lugo. A análise explora a relação entre a cobertura jornalística e a construção de um imaginário social sobre o conflito, focando em como a mídia influencia a percepção pública do assunto. A pesquisa examina a cobertura jornalística de eventos específicos, como a “Masacre de Curuguaty”, e sua influência na política paraguaia.

1. O Conflito de Terras entre Brasileiros e Paraguaios na Revista Veja

A análise se concentra na cobertura jornalística do conflito de terras entre brasileiros e paraguaios na fronteira, com foco na revista Veja. O termo brasiguaio, utilizado pela publicação, é analisado em seu contexto, representando brasileiros que migram para o Paraguai e estabelecem suas vidas ali. Esse grupo é confrontado pelos carperos, camponeses sem-terra que reivindicam a posse da terra. A pesquisa examina como a revista apresenta esse conflito, identificando possíveis vieses na narrativa. Quatro matérias publicadas entre 2008 e 2012 são analisadas, mostrando a continuidade do conflito ao longo de quatro anos e a aparente ausência de soluções. A cobertura jornalística da Veja, portanto, é o objeto central de análise, buscando entender como a revista molda a percepção pública sobre o conflito.

2. Fernando Lugo e a Representação do Conflito na Revista Veja

A cobertura jornalística da revista Veja apresenta Fernando Lugo, então presidente do Paraguai, como uma figura central no conflito de terras. Em artigos como “O encrenqueiro mora ao lado”, Lugo é retratado como um potencial problema para os interesses econômicos brasileiros, destacando suas políticas de reforma agrária e a possível intenção de aumentar o preço da energia da Itaipu Binacional. A análise identifica um viés na representação de Lugo, que frequentemente é associado aos conflitos entre brasileiros e paraguaios. A mídia, ao apresentar Lugo dessa maneira, contribui para a construção de uma narrativa que o vincula negativamente ao conflito, influenciando a percepção pública sobre sua gestão e suas políticas. A pesquisa investiga se essa representação reflete a realidade ou se é influenciada pela linha editorial da revista.

3. A Linha Editorial de Veja e a Construção do Imaginário Social

A pesquisa analisa a linha editorial da revista Veja e sua influência na construção do imaginário social sobre o conflito de terras. A publicação frequentemente apresenta uma postura crítica em relação a políticas do governo paraguaio, e, principalmente, em relação ao presidente Fernando Lugo, associando-o a um discurso populista e anti-brasileiro. A análise busca identificar a manifestação dessa linha editorial nos artigos selecionados, analisando como a escolha de palavras, metáforas e a seleção de fontes contribuem para a construção de uma narrativa específica. A pesquisa busca entender como a mídia, ao veicular esses discursos, influencia a percepção pública do conflito, reforçando determinados estereótipos e opiniões. O termo brasiguaio, usado pela revista, é analisado em seu contexto, identificando o posicionamento da publicação em relação aos brasileiros que migraram para o Paraguai.

4. Brasiguaios e Carperos Personificações e Conflitos de Narrativas

A pesquisa analisa como a revista Veja caracteriza os atores envolvidos no conflito: os brasiguaios e os carperos. O uso do termo brasiguaio e a forma como esse grupo é retratado na cobertura jornalística são examinados criticamente. A pesquisa investiga se a publicação atribui responsabilidades de forma equilibrada ou se há um viés na representação de cada grupo. A análise considera o impacto da mídia na construção da narrativa do conflito e como isso influencia a percepção pública. A pesquisa identifica pontos comuns nos discursos analisados, como a possível associação de Fernando Lugo aos conflitos por terras. A citação de Appadurai (1997) sobre o Estado e as diásporas étnicas contribui para o entendimento do contexto do conflito e da influência da mídia na sua representação.

V.A Crise Energética Brasileira e a Influência Midiática

A pesquisa analisa a cobertura jornalística da revista Veja sobre a crise energética brasileira, focando nas relações com a Bolívia e o Paraguai. A análise explora como a revista retrata as relações internacionais, incluindo a postura do governo brasileiro e de líderes como Evo Morales e Hugo Chávez, utilizando termos como “populismo” e “imperialismo”. A pesquisa identifica a linha editorial da revista e como ela influencia a interpretação dos fatos e a construção da narrativa. A relação entre Brasil e Bolívia é analisada a partir de acordos internacionais e a questão da dependência energética do Brasil.

1. A Revista Veja e a Crise Energética Brasileira Relações com a Bolívia

Esta seção analisa como a Revista Veja cobre a crise energética brasileira, particularmente as relações com a Bolívia, no período entre 2006 e 2008. A pesquisa investiga como a publicação representa as relações bilaterais, utilizando termos como 'populismo' e 'imperialismo' para descrever as ações do governo boliviano de Evo Morales. A análise destaca como a linha editorial da Veja influencia a cobertura jornalística, moldando a narrativa e influenciando a percepção pública sobre a questão. A Revista Veja apresenta uma crítica ao governo boliviano, acusando-o de práticas populistas e questionando a postura do governo brasileiro. O uso de metáforas e a seleção de fontes contribuem para a construção de uma narrativa que posiciona o Brasil em uma posição de desvantagem nas relações com a Bolívia.

2. Análise Comparativa Veja e Época na Cobertura da Crise Boliviana

A análise compara a cobertura jornalística da crise política na Bolívia na Revista Veja e na Revista Época, no mesmo período (2006-2008). Ambas as revistas abordam a instabilidade política na Bolívia e utilizam a mesma fotografia da agência Reuters, representando manifestações na capital boliviana. A análise destaca que essa similaridade na escolha da imagem denota a utilização de fontes internacionais e a influência da agenda global na mídia brasileira. A comparação permite observar como diferentes publicações constroem narrativas sobre o mesmo evento, identificando similaridades e divergências na cobertura jornalística. A Revista Época, por exemplo, contextualiza os fatos ao apresentar diferentes perspectivas sobre a não intervenção brasileira.

3. A Representação do Brasil na Mídia Potência Imperialismo e Populismo

A pesquisa analisa a representação do Brasil na mídia nacional e internacional, observando como a Revista Veja aborda a questão da influência brasileira na Bolívia. A publicação utiliza termos como 'imperialismo' e 'populismo' para descrever as relações entre os dois países, questionando a política externa brasileira. A cobertura jornalística enfatiza a dependência do Brasil ao gás boliviano, utilizando expressões como “crise de abastecimento” e “custo da dependência”. A análise demonstra que a revista não conceitua o termo 'populismo', e que o discurso da publicação se apoia em fontes diversas, como consultorias ligadas às relações internacionais e ao mercado petrolífero. A Revista Veja, ao utilizar esses termos e selecionar essas fontes, constrói uma narrativa que influencia a percepção pública sobre o papel do Brasil na América Latina.

4. Relações Brasil Paraguai Itaipu e a Narrativa do Hidropopulismo

A seção examina a cobertura jornalística da Revista Veja sobre as relações entre o Brasil e o Paraguai, especificamente em relação à Itaipu Binacional e a ascensão de Fernando Lugo à presidência. A publicação antecipa conflitos de interesse e a necessidade do Brasil se preparar para eventuais perdas nas negociações, apresentando Lugo como um “vizinho turbulento”. O termo “hidropopulismo” é usado para descrever as políticas de Lugo. A análise identifica como a Revista Veja influencia o imaginário social, apresentando uma posição contrária às possíveis alterações nos acordos da Itaipu. A publicação destaca a relação entre a posição de Lugo e outros líderes latino-americanos, classificados como populistas, como Evo Morales e Hugo Chávez. A análise demonstra como a mídia, por meio de sua cobertura jornalística, influencia a percepção pública sobre as relações internacionais.

Referência do documento

  • Soberania sem territorialidade: notas para uma geografia pós-nacional (Appadurai, Arjun)
  • la cuestinada supremacía estadunidense en América latina (Chomsky, Noam)