
Gentrificação: Distinção e Espectáculo
Informações do documento
Autor | Natália Fonseca De Abreu Rangel |
instructor/editor | Profª Alicia Norma González De Castells, Drª Orientadora |
Escola | Universidade Federal De Santa Catarina |
Curso | Ciências Sociais |
Tipo de documento | Trabalho De Conclusão De Curso |
Local | Florianópolis |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 1.93 MB |
Resumo
I.Gentrificação e Requalificação Urbana em Florianópolis Um Estudo de Caso na Rua Vidal Ramos
Este estudo acadêmico analisa os processos de gentrificação e requalificação urbana no Centro Histórico de Florianópolis, com foco na revitalização da Rua Vidal Ramos, projeto intitulado "Open Shopping Vidal Ramos". A pesquisa investiga como a revitalização urbana, apesar de melhorar a infraestrutura (calçadas, iluminação, esgoto), pode impactar a dinâmica social e econômica do local, potencialmente levando à exclusão social de moradores de baixa renda. A análise abrange diferentes perspectivas teóricas sobre a gentrificação, incluindo os trabalhos de autores como Neil Smith e David Harvey, comparando o fenômeno em cidades brasileiras como São Paulo e Rio de Janeiro com a realidade específica de Florianópolis. O estudo considera também a influência das políticas urbanas e o papel da mídia na construção de narrativas sobre o processo de revitalização.
1. Introdução O Estudo da Gentrificação na Rua Vidal Ramos
Esta seção introduz o trabalho de conclusão de curso (TCC) que investiga a requalificação urbana da Rua Vidal Ramos em Florianópolis, sob o nome de "Open Shopping Vidal Ramos". O estudo, realizado entre março de 2012 e março de 2013, analisará os impactos da revitalização na dinâmica social e econômica da região, especialmente no que tange à gentrificação. A pesquisa se baseia em trabalho de campo e revisão bibliográfica, buscando aprofundar questões sobre as políticas de requalificação urbana no Centro Histórico de Florianópolis. A escolha da Rua Vidal Ramos como estudo de caso permite uma análise detalhada de como processos de modernização urbana influenciam a vida dos moradores e o uso do espaço público. O estudo também considera o contexto mais amplo da gentrificação na América do Sul e no Brasil, citando trabalhos relevantes sobre o tema, como os de Leite (2007), D’Arc (2006), e Sabatini (2010).
2. O Conceito de Gentrificação Perspectivas Teóricas e Midiáticas
Esta parte define e contextualiza o termo gentrificação, explicitando sua presença crescente na literatura acadêmica e na grande mídia, impulsionada por processos de revitalização urbana em centros urbanos brasileiros, especialmente cidades turísticas, e eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Autores como Neil Smith (2006), fortemente influenciado por David Harvey, são citados, destacando a mudança física e social inerente à gentrificação, combinando higienização social com a reabilitação de áreas para a classe média. O estudo critica a utilização de termos como "renovação" e "revitalização", que podem neutralizar as críticas ao fenômeno, optando pelo termo requalificação urbana para designar as reformas urbanas visando melhoria da infraestrutura. A pesquisa também discute a valorização imobiliária, a instalação de comércios direcionados a classes sociais mais altas, e a consequente expulsão de moradores de menores recursos financeiros. A influência da mídia na percepção da gentrificação é abordada, analisando-se como a narrativa dominante pode obscurecer os impactos negativos para grupos de baixa renda, mostrando o poder ideológico da imagem na cidade.
3. Análise do Open Shopping Vidal Ramos Implementação e Impactos
Esta seção detalha a revitalização da Rua Vidal Ramos por meio do projeto "Open Shopping Vidal Ramos", iniciado em 2012. As mudanças físicas são descritas, incluindo a pintura da rua, instalação de mobiliário urbano, padronização de letreiros e melhorias de infraestrutura. A estratégia de marketing e eventos, como desfiles em datas comemorativas (Dia das Mães), patrocinados por entidades como o SEBRAE e Fecomércio Santa Catarina, com apoio do IPUF e Prefeitura Municipal, é analisada. O objetivo era criar um ambiente mais atraente, seguro e com um "padrão shopping", buscando atrair um público específico e aumentar o consumo, reforçando vínculos com a identidade manezinha de Florianópolis. A pesquisa considera a perspectiva de Sennett (2007) sobre a padronização do ambiente urbano no novo capitalismo. A seção também discute a preservação do patrimônio histórico, a tensão entre espaço público e espaço privado, e a construção de uma imagem de rua exclusiva, não destinada “a qualquer um”. O estudo questiona se essas intervenções, apesar de promover o enobrecimento da região comercial, geram processos de exclusão social e impactam os moradores ou preços de aluguel a longo prazo, avaliando se o caso segue as etapas clássicas de gentrificação.
4. Eventos Noturnos e Dinâmica do Espaço Público O Pub Crawl e a Feira Viva a Cidade
Esta parte estuda o evento noturno Pub Crawl e a Feira Permanente Viva a Cidade, analisando a dinâmica do espaço público no Centro Histórico de Florianópolis após o horário comercial. O Pub Crawl, importado da Europa, é analisado como evento privado, exclusivo e de alto custo, que atrai turistas e um público específico, criando uma contraposição com a realidade dos moradores de rua e a insegurança noturna na região central da cidade. A pesquisa discute a consolidação de alianças público-privadas na requalificação urbana, focando na construção de imagem e na tensão entre espaço público e espaço privado. A Feira Viva a Cidade também é examinada, comparando o seu discurso de apoio a pequenos negócios locais com a presença de grandes franquias, como Cacau Show e Subway. Esta seção reforça a ideia da espetacularização urbana, onde a imagem prevalece sobre os usos cotidianos do espaço público, com a criação de simulacros para atrair turistas. A análise de ambos os eventos destaca a apropriação cultural e espacial, o impacto da globalização e as políticas urbanas, e a potencial gentrificação por meio da exclusão de grupos específicos e da criação de diferenciação entre participantes e observadores, como no caso do Open Shopping Vidal Ramos.
II.A Gentrificação Conceito e Processos
O trabalho define e discute o conceito de gentrificação, destacando suas diferentes fases e impactos. São analisadas as intervenções urbanas que transformam áreas desvalorizadas em polos de investimento, levando ao aumento do custo de vida e à substituição de moradores de baixa renda por aqueles com maior poder aquisitivo. O estudo compara as análises macrossociológicas, focadas na economia imobiliária, com abordagens que consideram a teia de significados do espaço urbano na pós-modernidade e a influência de diferentes atores sociais. A pesquisa examina a apropriação do termo "gentrificação" pela grande mídia e seu uso no senso comum, incluindo exemplos da chamada "doutrina do choque" de Naomi Klein.
1. A Definição e o Contexto da Gentrificação
O texto inicia definindo gentrificação como um termo presente em publicações científicas e na mídia, impulsionado por frequentes processos de revitalização urbana nos últimos anos, particularmente no Brasil. A preparação para eventos como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 intensificaram esses processos, principalmente em centros urbanos e cidades turísticas. O estudo aborda a complexidade do conceito, reconhecendo a existência de múltiplas perspectivas teóricas, mas destacando a importância de evitar a neutralização do termo através de eufemismos como "renovação" e "revitalização". Em vez disso, o trabalho prefere usar o termo requalificação urbana, focando na melhoria de infraestrutura física e social, sem ignorar os impactos sociais. A gentrificação, segundo autores como Zukin (2000) e Bidou-Zachariasen (2007), é apresentada como um processo que transforma centralidades urbanas em áreas de investimento público e privado, afetando o significado histórico dos locais e submetendo o patrimônio ao mercado. O estudo observa a preocupação com a desqualificação e o abandono do espaço público urbano central, como discutido por autores como Jayme (2010), Zukin (2000), e Bidou-Zachariasen (2006).
2. Perspectivas Teóricas sobre a Gentrificação Smith Harvey e Outros
A seção apresenta a visão de Neil Smith (2006), influenciado por David Harvey, sobre a gentrificação, enfatizando seu caráter de mudança física e social na habitação, combinando higienização social com a reabilitação de áreas para a classe média, resultando em aumento do custo de vida e especulação imobiliária. A pesquisa destaca a importância de considerar as especificidades da modernização urbana tardia na América do Sul e no Brasil, onde a desigualdade na distribuição de renda e moradia é significativa, usando exemplos de capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Recife. O trabalho de Sabatini (2010) é analisado, focando na valorização do solo e sua influência na gentrificação, mas também destacando a necessidade de considerar as peculiaridades latino-americanas, além dos aspectos econômicos do mercado imobiliário. A abordagem marxista de Glass e Smith é contrastada com interpretações que buscam compreender a teia de significados do espaço urbano na pós-modernidade, considerando os interesses de diferentes atores sociais e a mobilização da cultura e do patrimônio. A contribuição de José Guilherme Cantor Magnani (2002) é destacada, sugerindo a necessidade de um olhar “de dentro” para entender a dinâmica da cidade, considerando os atores sociais e seus usos do espaço público.
3. A Gentrificação na Mídia Representações e Apropriação do Conceito
Nesta parte, o estudo examina como o conceito de gentrificação é apropriado pela grande mídia e pelo senso comum. A obra de Naomi Klein (2008) e sua "doutrina do choque" são usadas como lente para interpretar a revitalização urbana, particularmente em relação aos processos de pacificação de favelas no Rio de Janeiro, contrastando áreas ricas com comunidades carentes. A análise critica a forma como a mídia dominante no Brasil apresenta o enobrecimento urbano como algo positivo, frequentemente associando pobreza a violência e ignorando as dificuldades enfrentadas por trabalhadores que precisam se deslocar grandes distâncias diariamente. O texto observa a mudança na percepção da gentrificação, de uma visão pessimista, baseada nos impactos negativos para determinadas classes, para uma apropriação otimista por grupos com poder político, midiático e parlamentar, que a veem como um objetivo para o crescimento econômico das cidades. A discussão sobre a valorização da imagem e a criação de simulacros na cidade contemporânea reforça a influência da ideologia neoliberal e sua ênfase no consumo e na produção de imagens.
III.O Open Shopping Vidal Ramos Revitalização e suas Consequências
Esta seção detalha o projeto de revitalização urbana da Rua Vidal Ramos em Florianópolis, o "Open Shopping Vidal Ramos", inaugurado em março de 2012. As mudanças físicas implementadas incluem a pintura da rua, instalação de bancos e lixeiras, padronização de letreiros, construção de toldos e melhorias no sistema de esgoto. O estudo analisa a estratégia de marketing e eventos (como desfiles no Dia das Mães e outras datas comerciais) para atrair clientes e promover a imagem da rua como um espaço moderno e seguro. A pesquisa investiga se o projeto resultou em algum tipo de exclusão social ou aumento nos preços de aluguel, confrontando isso com as teorias clássicas da gentrificação.
1. Descrição do Projeto Open Shopping Vidal Ramos
Esta seção descreve a revitalização da Rua Vidal Ramos, localizada no Centro Histórico de Florianópolis, através do projeto "Open Shopping Vidal Ramos", inaugurado em 15 de março de 2012. As intervenções físicas são detalhadas, incluindo a pintura da rua de vermelho para uso compartilhado por pedestres e veículos, a instalação de placas com limite de velocidade (20km/h), bancos, lixeiras, padronização de letreiros das 56 lojas, construção de toldos, instalação de paraciclos e iluminação especial. Essas melhorias na infraestrutura visavam criar um ambiente mais atraente e seguro, buscando o que o texto chama de "padrão-shopping", almejando conforto e segurança para os pedestres, seguindo uma tendência de padronização de ambientes urbanos como expressão do novo capitalismo, como aponta Sennett (2007). A requalificação urbana incluiu a restauração de edificações de importância histórica, evitando pichações e depredações, buscando preservar o patrimônio histórico da rua.
2. Estratégias de Marketing e Eventos Promoção e Imagem
A seção analisa as estratégias de promoção e marketing do "Open Shopping Vidal Ramos", incluindo a ampla divulgação em jornais (como o Diário Catarinense) e rádios. A realização de eventos em datas comerciais (Dia das Mães, Dia dos Pais, etc.) e a criação de um catálogo promocional são destacados. É mencionado o patrocínio do SEBRAE que oferecia cursos de capacitação para lojistas, enfatizando um discurso empreendedor focado em vendas. A utilização das redes sociais (Facebook) para a divulgação e interação com o público também é abordada. Os eventos, inspirados na Rua Oscar Freire, buscavam atrair clientes e reforçar a imagem da Rua Vidal Ramos, mobilizando status e popularidade entre lojistas associados à ACIF e figuras políticas. Um concurso cultural no Dia dos Namorados de 2012 visava uma maior interação do público com a história da Rua, onde os cinco primeiros colocados foram lojistas da própria Rua, patrocinado pela Fecomércio Santa Catarina, IPUF e FACISC. A discussão inclui a perspectiva de Bourdieu (2007) sobre a distinção de gostos e a construção de uma imagem de rua não destinada a “qualquer um”, buscando um público específico e selecionar um tipo de status.
3. Análise dos Impactos Gentrificação e Transformação Social
Esta parte analisa os possíveis impactos da revitalização da Rua Vidal Ramos, confrontando-os com a teoria da gentrificação. O texto observa que os desfiles realizados na Rua Vidal Ramos, apesar de inspirados na Rua Oscar Freire, apresentam um clima de vizinhança e informalidade diferente. A reportagem de um jornal online, comemorando a beleza e a funcionalidade da rua após as obras, exemplifica a construção de uma imagem e a questão do consumo, embora a melhoria da calçada tenha sido embasada na acessibilidade universal. A análise focaliza a tensão entre espaço público e espaço privado, observando como os eventos promovem a convivência entre aqueles que trabalham e compram na rua, reforçando vínculos pré-existentes e criando uma espécie de clube fechado, enquanto os moradores e passantes apenas observam, gerando uma sensação de exclusão. O estudo conclui que, apesar das mudanças, não são observadas as três etapas da gentrificação clássica, indicando uma tentativa de delimitação dos usos do espaço público e enobrecimento da região, sem afetar, pelo menos até então, os moradores e os preços dos aluguéis.
IV.Eventos e a Construção de Imagem Pub Crawl e a Feira Viva a Cidade
O estudo investiga dois eventos que refletem a dinâmica da requalificação urbana e as relações entre espaço público e privado: o "Pub Crawl", um evento noturno que atrai turistas e moradores, e a "Feira Permanente Viva a Cidade". A análise explora como esses eventos contribuem para a construção de uma imagem específica do espaço público no Centro Histórico de Florianópolis, examinando o potencial de gentrificação por meio da delimitação do uso do espaço e a exclusão de certos grupos. São considerados os impactos na acessibilidade e na dinâmica social da região, questionando se o objetivo de atrair turistas e investimentos se sobrepõe às necessidades dos moradores locais.
1. Análise do Pub Crawl Um Evento Privado no Centro Histórico
Esta seção analisa o evento "Pub Crawl" no Centro Histórico de Florianópolis como um exemplo da dinâmica do espaço público, principalmente à noite. O Pub Crawl, um evento importado da Europa, é descrito como uma experiência paga (R$ 65 para homens e R$ 50 para mulheres), que inclui a visita a bares e uma balada. A observação do evento em um feriado de Páscoa de 2014 revela a contradição entre a imagem de evento turístico e a realidade da região à noite, com pouca segurança, vigilância policial escassa e relatos de assaltos. O evento, fechado para o público não participante, demonstra uma apropriação do espaço público para fins privados, criando uma tensão entre participantes (os "crawlers") e observadores, semelhante à observada no Open Shopping Vidal Ramos. A experiência pessoal do autor, convidando amigos de fora de Florianópolis, reforça a percepção do evento como uma experiência turística que contrasta com a realidade noturna menos convidativa para a população local. A observação da participação de pessoas de outras cidades brasileiras (Brasília e Porto Alegre) e um turista da Tunísia evidencia o caráter turístico e o interesse externo do evento.
2. A Feira Viva a Cidade Modernização e Contradições
A seção analisa a "Feira Permanente Viva a Cidade" como outro caso de requalificação urbana, comparando-a com o "Open Shopping Vidal Ramos". Ambas usam o Facebook para divulgação, mostrando eventos em datas comerciais, criando uma imagem de simulacro. A análise se concentra na aparente contradição entre o discurso de apoio a pequenos comércios locais e a presença de grandes marcas, como Cacau Show e Subway, na feira. A instalação dessas franquias é apontada como um símbolo da modernização da cidade, atraindo turistas e aumentando o consumo, mas também questionando a efetividade do projeto em promover os pequenos negócios locais. Similarmente à Rua Vidal Ramos, a Feira Viva a Cidade é analisada em relação à delimitação dos usos do espaço público e à criação de uma imagem específica, questionando se essas iniciativas, apesar de atraírem investimentos e turistas, podem gerar processos de gentrificação a longo prazo e se há uma exclusão de determinados grupos ou uma limitação de acessibilidade para moradores locais. A análise considera a perspectiva de Jacques (2009) sobre a espetacularização urbana e sua influência na produção de imagens e no consumo.
V.Conclusão Gentrificação em Florianópolis Um Balanço
A conclusão resume as principais descobertas da pesquisa, analisando se os processos de requalificação urbana em Florianópolis, particularmente na Rua Vidal Ramos e na região da Feira Viva a Cidade, se encaixam nos modelos clássicos de gentrificação. O estudo discute a complexidade do fenômeno, considerando a tentativa de delimitar os usos do espaço público e melhorar a imagem da cidade, sem necessariamente resultar na exclusão imediata dos moradores ou no aumento significativo dos preços. A pesquisa destaca a importância de se analisar as políticas urbanas e seus impactos sociais, considerando a interação entre diferentes atores sociais e a construção de narrativas sobre a cidade.
1. Eventos e a Construção da Imagem da Cidade Uma Análise Comparativa
Esta seção conclusiva analisa eventos como o Pub Crawl e a Feira Viva a Cidade, ambos utilizando as redes sociais (Facebook) para divulgação e mostrando eventos em datas comerciais, como forma de promover suas imagens. O estudo sugere que esses eventos, embora com objetivos distintos, contribuem para a construção de um simulacro da cidade, priorizando a imagem e o consumo, em linha com a espetacularização urbana contemporânea descrita por Jacques (2009). A Feira Viva a Cidade, apesar de apresentar um discurso de apoio a pequenos comércios locais, mostra a instalação de grandes marcas como Cacau Show e Subway como símbolos de modernização urbana, atraindo turistas e consumo. Tanto a feira quanto o Open Shopping Vidal Ramos demonstram uma tentativa de delimitar os usos do espaço público e enobrecer as áreas comerciais, sem afetar significativamente, pelo menos por enquanto, os moradores e os preços de aluguel. A análise indica que não se observam as três etapas clássicas da gentrificação, mas sim uma estratégia de requalificação urbana focada na imagem e no consumo, que merece uma análise mais aprofundada sobre seus impactos sociais a longo prazo.
2. Pub Crawl Segurança Turismo e Exclusão no Espaço Noturno
A análise do Pub Crawl destaca a ausência de projetos específicos para o período noturno em áreas comerciais de Florianópolis, mesmo após processos de requalificação urbana. O evento, descrito como importado da Europa, é caro (R$65 para homens e R$50 para mulheres), criando uma experiência exclusiva, e demonstra a falta de segurança no espaço público noturno da região central, contrastando com a imagem promovida pela revitalização. O relato da experiência do autor e seus amigos ilustra as diferenças entre a expectativa de um evento turístico e a realidade da insegurança, o que demonstra a potencial exclusão social da população local do espaço público noturno. A observação de participantes de outras cidades brasileiras e até de outro país (Tunísia) reforça o caráter turístico do evento e a sua desconexão com as necessidades da população local. Este evento, assim como o Open Shopping Vidal Ramos, reforça a ideia da formação de alianças público-privadas na requalificação urbana, consolidando interesses de curto prazo, com potencial gentrificador pela exclusão de determinados grupos e a diferenciação entre participantes e observadores.
Referência do documento
- Os “sem lancha” da cidade classe A (BATISTA, Henrique Gomes)