Cultura e Segurança Alimentar dos Povos de Terreiro: um estudo com a comunidade Ilê Asé Ojú Ogun Funmilaiyó

Segurança Alimentar: Povos de Terreiro

Informações do documento

Autor

Melrilane Farias Sarges

Escola

Instituto Latino-Americano de Economia, Sociedade e Política (ILAESP) da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)

Curso Desenvolvimento Rural e Segurança Alimentar
Tipo de documento Trabalho de Conclusão de Curso
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 3.27 MB

Resumo

I.A Segurança Alimentar no Ilê Asé Ojú Ogun Funmilaiyó O Papel do Candomblé na Cultura Alimentar de Foz do Iguaçu

Esta monografia investiga a contribuição do Ilê Asé Ojú Ogun Funmilaiyó, em Foz do Iguaçu (Paraná, Brasil), para a segurança alimentar de sua comunidade através das práticas religiosas do Candomblé. O estudo centra-se na cerimônia do Olugbajé, um banquete em honra ao Orixá Omolu (Obaluaiê), analisando a preparação e o significado dos alimentos oferecidos. A metodologia incluiu observação participante do Olugbajé e entrevistas com membros importantes da comunidade, como a Iyalorisá Marina Tunirê, Iya Egbe Crica de Oyá e Iya Ângela Ajoie do Orixá Ogun. A pesquisa destaca a importância da cultura alimentar do Candomblé, que vai além da nutrição física, conectando-se com a espiritualidade e a ancestralidade africana.

1. Metodologia da Pesquisa e Objetivo Principal

O estudo utiliza uma metodologia de observação participante, focando na cerimônia do Olugbajé, um banquete no Candomblé em louvor ao Orixá Omolu (Obaluaiê), no Ilê Asé Ojú Ogun Funmilaiyó em Foz do Iguaçu, Paraná. A escolha do Olugbajé se justifica pela grande variedade de alimentos preparados e servidos, permitindo uma análise aprofundada da cultura alimentar e sua relação com a segurança alimentar da comunidade. Além da observação, foram realizadas entrevistas com membros relevantes do Ilê Asé, incluindo a Iyalorisá Marina Tunirê, Iya Egbe Crica de Oyá e Iya Ângela Ajoie do Orixá Ogun. A Iyalase Roberta de Ogun também contribuiu significativamente, oferecendo ensinamentos sobre os Itãs dos Orixás, cantigas e danças, além de correções de palavras em iorubá. O objetivo principal é demonstrar como o Ilê Asé contribui para a segurança alimentar de sua comunidade por meio de sua cultura alimentar e práticas religiosas, especificamente no contexto do Olugbajé.

2. A Segurança Alimentar como Prioridade no Ilê Asé

A pesquisa explora a dimensão da segurança alimentar dentro do contexto do Ilê Asé, evidenciando como as práticas do Candomblé se entrelaçam com a provisão de alimentos para a comunidade. Em momentos de escassez, os alimentos preparados para as oferendas aos Orixás frequentemente supriam as necessidades básicas dos membros. As entrevistas revelam que a comunidade se beneficia da partilha desses alimentos, tanto nutricional quanto espiritualmente. A Iyalorisá Marina Tunirê descreve como, em épocas passadas, a comida destinada aos Orixás garantia a sobrevivência de muitos, particularmente em São Paulo, onde a casa se localizava próxima a uma comunidade carente. Atualmente, apesar de condições melhoradas, a importância da comida sagrada persiste, e os excessos são compartilhados, mantendo a tradição de solidariedade e reforçando os laços comunitários. Mesmo com as dificuldades, a comunidade prioriza a satisfação nutricional e espiritual, demonstrando a importância do Candomblé para a segurança alimentar e o bem-estar integral.

3. Dificuldades no Acesso a Alimentos Tradicionais e a Influência do Mercado

A pesquisa destaca os desafios enfrentados pelo Ilê Asé para garantir o acesso aos alimentos necessários para suas cerimônias e práticas religiosas. A aquisição de ingredientes específicos, como banana-da-terra e inhame, apresenta dificuldades significativas em Foz do Iguaçu, levando a substituições e custos elevados. A proximidade com Puerto Iguazu (Argentina) oferece alguma alternativa para encontrar certos produtos a preços mais acessíveis. A dificuldade de encontrar alguidares de barro, utensílios essenciais para o Olugbajé, demonstra os desafios em manter a tradição diante da escassez e do aumento de preços na época da festividade, devido à alta demanda. A comparação com o acesso a ingredientes em centros urbanos maiores, como São Paulo, destaca as disparidades e as dificuldades enfrentadas pelas comunidades em locais com menor infraestrutura e acesso a produtos específicos. A preferência por produtos de pequenos produtores, em detrimento de alimentos industrializados, reflete a preocupação com a qualidade, a preservação da cultura alimentar tradicional e a ausência de agrotóxicos.

4. O Papel das Mulheres na Preparação dos Alimentos e a Preservação da Tradição

A pesquisa destaca o papel central das mulheres na preparação dos alimentos nas cerimônias do Ilê Asé. Embora os homens contribuam em outras tarefas da festa, as mulheres assumem a responsabilidade principal na cozinha, um espaço sagrado no Candomblé. A transmissão de conhecimento culinário ocorre entre gerações, com as mais velhas ensinando as mais jovens sobre o preparo dos alimentos, as quizilas (restrições alimentares), Itãs (lendas) e cantigas. A resistência a “modernizações”, como o uso do liquidificador em vez de pilão, demonstra a importância da preservação de métodos tradicionais que carregam significado cultural e espiritual. A preocupação com o acesso à terra para o cultivo de alimentos e plantas sagradas evidencia a busca por autonomia e controle sobre a produção alimentar, crucial para a manutenção da cultura e da identidade da comunidade. A busca por uma chácara para cultivo próprio demonstra a ambição em se aproximar da autossuficiência, reduzindo a dependência do mercado e os desafios de acesso a ingredientes específicos.

II.O Alimento como Sagrado no Candomblé Práticas e Significados

A pesquisa evidencia a função vital da comida nas práticas ritualísticas do Candomblé, com o ritual do Bori (dar comida à cabeça) para a renovação do asé (energia vital). Os alimentos, escolhidos cuidadosamente quanto à procedência e qualidade, conectam os participantes ao sagrado. A relação de confiança com produtores locais garante a qualidade dos ingredientes. A comida no Candomblé é também um veículo de transmissão de saberes ancestrais, passada oralmente entre as gerações e considerada segredo religioso. Entrevistas revelam como, em tempos de escassez, os alimentos destinados aos Orixás garantiam a sobrevivência da comunidade. As entrevistas com a Iyalorisá Marina Tunirê e Iya Egbe Crica de Oyá ilustram a importância do alimento para o bem-estar físico e espiritual dos membros do Ilê Asé.

1. O Ritual do Bori e a Renovação do Asé

A comida no Candomblé desempenha um papel crucial nas práticas ritualísticas. Um dos rituais centrais é o Bori (Bo – comida; Ori – cabeça), um ato de dar comida à cabeça, destinado à renovação periódica do asé, a energia vital. Os alimentos utilizados no Bori não são apenas nutrientes, mas também veículos de conexão com o sagrado, carregando a energia dos elementos naturais, sua força e divindade. A preparação é meticulosa, desde a escolha dos ingredientes, observando sua procedência, formatos, sensações e sabores, dando preferência a alimentos in natura e animais sadios. A comunidade estabelece relações de confiança com produtores conhecidos, assegurando a qualidade dos alimentos. A busca pela qualidade dos ingredientes e a preparação cuidadosa demonstram o respeito e a importância atribuídos a este ritual fundamental na manutenção do equilíbrio espiritual e físico.

2. O Alimento como Transmissão de Saberes Ancestrais

Além da sua função ritualística, a comida no Candomblé serve como um importante meio de transmissão de conhecimentos ancestrais. A tradição oral do Candomblé, sem um livro sagrado, utiliza a culinária como forma de perpetuar saberes e segredos religiosos, passados de geração a geração, entre os filhos de santo. Esses ensinamentos, considerados sagrados e muitas vezes mantidos em segredo, são revelados gradualmente, dependendo do tempo de iniciação e do cargo na religião. A citação de Mãe Angela Ajoie do Ogum ilustra essa transmissão de conhecimento através de experiências práticas na cozinha, demonstrando a importância do aprendizado informal e a construção de uma relação especial entre o cozinheiro e as divindades. A comida, portanto, não é apenas alimento, mas uma forma de perpetuar a cultura e a tradição religiosa.

3. O Ciclo do Alimento Sagrado e seu Significado

O alimento oferecido aos Orixás, após cumprir sua função de energização e oferenda, deve seguir um ciclo completo. Após o ritual, a comida precisa ser despachada, retornando à natureza. Esse ato de despachar, seja na terra ou na água, finaliza o ciclo do alimento sagrado, transformando-o em outra energia, servindo de alimento a animais ou adubo para a terra. Iya Egbe Crica de Oyá explica a importância desse despachar, enfatizando que a interrupção do ciclo pode resultar na perda da energia sagrada. No Olugbajé, a comida servida em folhas de mamona, um elemento diretamente ligado à terra, representa a fartura e a conexão com a natureza. O ato de comer com as mãos, em determinados momentos, é considerado sagrado, um ritual de purificação que purifica o corpo interno e externo. Esta prática destaca a importância da comida não apenas como sustento físico, mas como um elemento fundamental na conexão espiritual com o mundo natural e as divindades.

III.O Direito à Alimentação Sagrada e os Desafios à Segurança Alimentar

A pesquisa aborda a cultura alimentar como um elemento fundamental para a segurança alimentar e nutricional, especialmente para as comunidades tradicionais afro-brasileiras. A análise discute a importância da preservação do conhecimento tradicional na produção de alimentos artesanais, contrastando-a com os desafios impostos pela produção industrializada e o acesso limitado a ingredientes tradicionais. O estudo destaca a importância de produtores locais e a dificuldade em obter certos itens, como banana-da-terra e inhame, em Foz do Iguaçu, muitas vezes recorrendo a compras em Puerto Iguazu (Argentina). A falta de acesso à terra para cultivo de ingredientes sagrados e o preconceito enfrentado na aquisição de alimentos são barreiras significativas. O trabalho evidencia a resistência e a importância da manutenção das tradições alimentares do Ilê Asé Ojú Ogun Funmilaiyó, apesar das dificuldades de acesso a alimentos saudáveis e a influência da padronização alimentar e da agroindústria.

1. A Cultura Alimentar como Direito e Identidade

A seção discute o direito à alimentação sagrada no contexto da cultura alimentar do Candomblé. A análise parte da premissa de que a vontade de consumir determinados alimentos está relacionada não apenas à carência nutricional, mas também a memórias afetivas e culturais. O gosto por produtos artesanais é visto como forma de valorizar e preservar conhecimentos tradicionais. Roberto Da Matta (1986) é citado para destacar que comida vai além da mera substância alimentar, representando um modo de ser e de se relacionar com o mundo. Poulain (2004) complementa, afirmando que o homem necessita de nutrientes, mas os ingere na forma de alimentos culturalmente construídos e valorizados. A cultura alimentar, portanto, é um elo entre o nutrir biológico e o cultural, evocando memórias, rituais e saberes ancestrais. A ancestralidade africana e a brasilidade são elementos cruciais para a preservação dessa cultura alimentar, demandando ações de reconhecimento e visibilidade do legado dos povos tradicionais, numa luta constante pela inclusão e representatividade, como apontado por Lélia Gonzales.

2. Desafios à Segurança Alimentar Acesso a Ingredientes e Preconceito

A pesquisa destaca os desafios à segurança alimentar enfrentados pela comunidade do Ilê Asé Ojú Ogun Funmilaiyó, relacionados ao acesso a alimentos tradicionais e ao preconceito. Regras alimentares específicas, chamadas de quizilas, podem interferir na saúde física e espiritual, destacando a complexidade da relação entre alimentação, saúde e espiritualidade. A onivoria humana não garante a ausência de fome, sendo a cultura alimentar que orienta a busca por suprir essa fome, seja biológica ou cultural. A compra de alimentos industrializados é questionada por Iya Egbe Crica de Oyá, que enfatiza a importância de ingredientes frescos e não processados para as oferendas aos Orixás. A dificuldade em adquirir alimentos tradicionais, como banana-da-terra e inhame, é citada, assim como o alto custo e a substituição por outros itens. A compra em Puerto Iguazu, na Argentina, evidencia a busca por alternativas para obter ingredientes com preços mais acessíveis. O preconceito sofrido pela comunidade ao comprar animais para rituais destaca a dimensão social da insegurança alimentar, além da dimensão nutricional, impactando o acesso a recursos básicos. A engenheira agrônoma Franciléia Paula de Castro (reportagem 9) é mencionada, alertando sobre a perda de variedades de alimentos, ressaltando a importância da preservação da cultura alimentar diversificada.

3. Políticas Públicas e a Segurança Alimentar Histórico e Necessidades Específicas

A seção contextualiza os desafios à segurança alimentar dentro do panorama histórico das políticas públicas brasileiras. A vanguarda do debate sobre segurança alimentar e nutricional no Brasil é atribuída à década de 1930, com os estudos de Josué de Castro e seu livro “Geografia da Fome”, que se tornou uma referência intelectual na temática. No entanto, com o avanço das tendências neoliberais, as políticas públicas foram relegadas a segundo plano, apenas retornando com mais força no programa “Fome Zero” em 2003. A criação e manutenção do CONSEA (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional) e a Política Nacional de Segurança Alimentar (1993) são referenciadas como marcos importantes. Apesar dos avanços, como o Bolsa Família e o PNAE, a pesquisa aponta a insuficiência dessas políticas para atender as demandas específicas da comunidade do Ilê Asé, que precisa constantemente reivindicar o acesso a políticas públicas voltadas para a sua realidade e necessidades alimentares, demonstrando uma necessidade de políticas que contemplem as especificidades culturais e religiosas.

IV.Olugbajé Ritual Comunidade e Segurança Alimentar

A observação da cerimônia do Olugbajé revela a importância deste evento para a segurança alimentar e a coesão da comunidade. A fartura da comida, servida em folhas de mamona, simboliza a prosperidade e a cura. O contato direto com os alimentos é um ato sagrado de purificação. A festa, além de alimentar a comunidade, também serve como um ebó (oferenda) para afastar energias negativas e garantir a prosperidade do Ilê Asé. A descrição detalhada do Olugbajé, incluindo a preparação dos alimentos e o seu significado simbólico, ilustra a forte ligação entre religião, cultura alimentar e segurança alimentar dentro da comunidade.

1. Olugbajé Significado e Propósito

O Olugbajé, foco central da pesquisa, é apresentado como um banquete anual realizado no Ilê Asé Ojú Ogun Funmilaiyó, em Foz do Iguaçu, em honra ao Orixá Omolu (também chamado Obaluaiê). A Yalorisá Marina Tunirê o descreve como o "banquete do rei", pois Omolu é filho de Nanã e associado à terra e à cura. A cerimônia inclui o Orô, uma prece por saúde para todos os participantes. O Olugbajé também tem a finalidade de servir como ebó (oferenda ritual), limpando a casa de energias negativas, pragas e inveja, contribuindo para a prosperidade contínua. Antes da realização do Olugbajé, a comunidade realizava o Sarapocã, outra cerimônia para a família Jí. O Olugbajé, iniciado há quatro anos na casa, demonstra-se uma prática importante para a coesão e o bem-estar da comunidade, e sua implementação demonstra o crescimento espiritual e a solidificação da comunidade.

2. Aspectos Práticos e Simbólicos da Cerimônia

A comida no Olugbajé é servida em folhas de mamona, grandes o suficiente para serem seguradas com as duas mãos, representando a fartura para os filhos da casa. O contato direto com os alimentos, utilizando as mãos, é considerado um ato sagrado, de purificação, diferente do uso de talheres. Após a refeição, passar a mão pelo corpo é outra forma de purificação, enfatizando a ligação entre alimento, corpo e espiritualidade. A variedade de alimentos ofertados reflete a riqueza da cultura alimentar do Candomblé, cada um com seu significado e associação aos Orixás, que também serve para reafirmar a identidade cultural da comunidade, assim como a satisfação nutricional. Ao final da refeição, deixa-se um pouco de alimento na folha de mamona, que é dobrada e passada no corpo para retirar impurezas, e depois despachada para a terra, servindo de adubo e alimentando outros seres vivos, fechando o ciclo sagrado do alimento.

3. Desafios Logísticos e Econômicos do Olugbajé

A organização do Olugbajé enfrenta desafios logísticos e econômicos, principalmente quanto ao acesso a ingredientes e materiais tradicionais. A dificuldade em encontrar banana-da-terra e inhame, alimentos considerados essenciais, leva à substituição por outros, impactando a tradição e gerando custos adicionais. Para contornar a escassez de certos ingredientes, a comunidade recorre a compras em Puerto Iguazu (Argentina), em busca de melhores preços. A busca por alguidares de barro, utensílios tradicionais e imprescindíveis para a cerimônia, demonstra-se um grande desafio, devido à escassez e ao aumento de preços em agosto, período em que várias casas de Candomblé em Foz do Iguaçu realizam o Olugbajé simultaneamente, aumentando a demanda e o custo. A dificuldade de acesso à terra para o cultivo de ingredientes e plantas sagradas reforça a vulnerabilidade da comunidade, que precisa depender de produtores externos, muitas vezes a preços exorbitantes, e reforça a luta por uma maior autonomia e autossuficiência alimentar.

V.Conclusão Preservação da Cultura e Luta pela Segurança Alimentar

A monografia conclui que a segurança alimentar da comunidade do Ilê Asé Ojú Ogun Funmilaiyó está intrinsecamente ligada à preservação de sua cultura alimentar e às práticas religiosas do Candomblé. Apesar dos desafios impostos pelo acesso limitado a ingredientes tradicionais, preconceito e falta de políticas públicas eficazes, o Ilê Asé prioriza a alimentação de seus membros, garantindo não apenas a nutrição física, mas também a espiritual. A pesquisa ressalta a necessidade de reconhecimento e valorização dos saberes tradicionais das comunidades afro-brasileiras e a importância da implementação de políticas públicas que garantam o acesso à diversidade alimentar e fortaleçam a soberania alimentar dessas populações.

1. Reconhecimento Acadêmico e Valorização dos Saberes Tradicionais

A conclusão destaca a importância do trabalho em trazer reconhecimento acadêmico às práticas culturais e alimentares de uma comunidade historicamente marginalizada pelo racismo e preconceito religioso. O estudo evidencia o acúmulo de saberes tradicionais presentes nesses espaços, que precisam ser valorizados e integrados ao conhecimento acadêmico. A pesquisa contribui significativamente para o conhecimento acadêmico sobre os saberes ancestrais dos terreiros de Candomblé, que resistem a despeito da dinâmica de produção de conhecimento muitas vezes excludente das universidades. A pesquisa reconhece a complexidade do tema e a importância de dar visibilidade a uma comunidade e práticas culturais frequentemente silenciadas. Este trabalho demonstra a contribuição significativa dessas práticas para a comunidade e ressalta a necessidade de um olhar atento às suas especificidades.

2. Problemáticas que Impedem a Segurança Alimentar

A conclusão aponta diversas problemáticas que impedem a garantia plena da segurança alimentar para a comunidade, destacando a insuficiência da aplicação de políticas públicas voltadas à alimentação, a dificuldade de acesso a alimentos saudáveis, a padronização alimentar, a influência das estratégias de mercado da agroindústria, a redução da variabilidade genética, o uso intenso de agrotóxicos, a dificuldade de acesso à terra para cultivo e o alto custo de animais, grãos e outros ingredientes. A exotização dos alimentos também é mencionada como um fator relevante. A única concretização de acesso a políticas públicas na área de alimentação se deu após insistência e cobrança da comunidade, o que demonstra a necessidade de políticas mais eficazes e inclusivas, capazes de atender as demandas específicas dessa comunidade. A pesquisa demonstra que o Ilê Asé mantém a alimentação de sua comunidade como prioridade, mas enfrenta grandes desafios para garantir a segurança alimentar.

3. Prioridade da Alimentação Nutrição e Espiritualidade

Apesar das dificuldades, a conclusão enfatiza que o Ilê Asé Ojú Ogun Funmilaiyó mantém a alimentação de sua comunidade como uma prioridade em suas relações diárias. A pesquisa demonstra que a comunidade encontra na alimentação não apenas a satisfação nutricional, mas também espiritual, reforçando a forte ligação entre a cultura alimentar, a segurança alimentar e as práticas religiosas. A conclusão reitera a importância da preservação da cultura alimentar e das práticas religiosas do Candomblé como elementos essenciais para a segurança alimentar e o bem-estar integral da comunidade. A pesquisa destaca a resistência e a capacidade de adaptação da comunidade, que, apesar das adversidades, mantém suas tradições e busca alternativas para garantir sua subsistência, tanto física quanto espiritualmente.