
Dolarização na Argentina: Análise Preliminar
Informações do documento
Autor | Karen Gissell Vanessa Rotela |
instructor | Prof. Dr. Fernando Corrêa Prado |
Escola | Instituto Latino-Americano de Economia, Sociedade e Política (ILAESP) da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) |
Curso | Relações Internacionais e Integração |
Tipo de documento | Trabalho de Conclusão de Curso |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 470.07 KB |
Resumo
I.A Crise Econômica Argentina e o FMI Um Estudo de Caso
Este estudo analisa a complexa relação entre a Argentina e o FMI (Fundo Monetário Internacional), focando nas crises econômicas argentinas e o impacto de empréstimos do FMI. A dívida externa argentina, especialmente após a crise de 2001, e a subsequente desvalorização do peso são analisadas. A decisão de Mauricio Macri de buscar novamente financiamento do FMI em 2018, representada pela figura de Christine Lagarde (diretora-gerente do FMI na época), é um ponto central. O estudo examina as consequências dessa política, incluindo a dolarização da economia e o impacto em políticas de estabilização cambial. A convertibilidade do peso com o dólar, implementada pelo governo de Carlos Menem, e seu fracasso também são considerados. Palavras-chave: Argentina, FMI, crise econômica, dívida externa, peso argentino, Christine Lagarde, Mauricio Macri, dolarização.
1. A Crise de 2001 e a Dívida com o FMI
O texto destaca a grave crise econômica argentina de 2001, culminando em um default e levando ao cancelamento da dívida com o FMI sob a liderança de Nestor Kirchner. Essa ação marcou um período de suspensão das relações entre a Argentina e o FMI, que só seriam retomadas com a chegada de Mauricio Macri à presidência. A crise de 2001 resultou de um conjunto de fatores, incluindo a incapacidade de pagamento de milhões de dólares em juros da dívida, resultando na proibição da supervisão das contas nacionais pelo FMI. A crise expôs as fragilidades do sistema econômico argentino e a dependência de políticas econômicas externas. O contexto da crise envolveu, além da dívida, um plano de privatizações agressivo e a limitação da atuação do Estado, elementos que contribuíram para a instabilidade financeira e econômica do país. A superação da crise envolveu uma decisão política crucial de Kirchner, rompendo com a dependência financeira em relação ao FMI e redefinindo as relações econômicas internacionais do país.
2. O Retorno ao FMI sob Macri 2018 e as Consequências
Em 8 de maio de 2018, a notícia de que a Argentina voltaria a se financiar com o FMI sob o governo de Mauricio Macri tomou as manchetes. Essa decisão, divulgada inicialmente pelo site "ámbito.com", gerou amplo debate político antes mesmo da confirmação oficial. O acordo econômico, caracterizado por uma política econômica gradualista e a busca de ajuda "preventiva" por parte do governo, visava superar uma "pesada herança" e estagnação econômica. O acordo envolveu medidas como o corte de mais de dez ministérios públicos e a redução do déficit fiscal, tentando neutralizar os efeitos da alta do dólar e desvalorização do peso. O texto argumenta que esse novo acordo representa um retrocesso para o país, sugerindo que a busca de financiamento do FMI, após a experiência anterior, demonstra uma dependência econômica e uma vulnerabilidade às imposições de instituições internacionais. A figura de Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI na época, torna-se relevante nesse contexto de negociações e implementação de políticas.
3. Plano de Convertibilidade e suas Consequências
O documento menciona o Plano de Convertibilidade de 1991, implementado pelo governo de Carlos Menem e Domingo Cavallo, que ancorou o peso ao dólar em busca do controle da hiperinflação. Este plano, acompanhado de um amplo programa de privatizações, visava estabilizar a economia argentina e conter a inflação galopante que a assolava. Contudo, o texto indica que o plano, embora inicialmente bem-sucedido, limitou a atuação do Estado na economia e contribuiu para a crise econômica posterior. Este plano é apresentado como um exemplo dos desafios de se lidar com a inflação e a estabilidade econômica por meio da fixação cambial, apontando suas limitações e consequências negativas a longo prazo. A análise do Plano de Convertibilidade evidencia a complexidade da gestão econômica em países em desenvolvimento e os riscos inerentes a modelos de ancoragem cambial, especialmente em um contexto de alta vulnerabilidade externa.
II.Teorias das Relações Internacionais e a Dependência Latino americana
A pesquisa explora a aplicação de teorias das relações internacionais para entender a situação econômica da Argentina no contexto latino-americano. Conceitos como teoria da dependência, teoria dos sistemas-mundo (destacando autores como Samir Amin e Ruy Mauro Marini), e a influência da hegemonia estadunidense são centrais. A discussão abrange a desigualdade estrutural entre países centrais e periféricos e como isso impacta a integração latino-americana. A influência de ideais leninistas nas interpretações das relações internacionais é também mencionada. Palavras-chave: Relações Internacionais, Teoria da Dependência, Samir Amin, Ruy Mauro Marini, Hegemonia, Integração Latino-americana, Neoliberalismo.
1. Anarquia e Desigualdade no Sistema Interestatal
O texto introduz a discussão sobre as teorias das relações internacionais, partindo do consenso sobre a anarquia do sistema mundial capitalista. Apesar dessa anarquia, o sistema é descrito como interestatal, hierárquico e estruturalmente desigual, com a formação de centros e periferias. Países do centro são caracterizados por alta produtividade e transferência de valor das regiões periféricas, onde os capitalistas pagam salários menores, gerando maior excedente. Samir Amin é citado como um autor que demonstra como essa desigualdade é reproduzida por meio da convergência de diferentes formações econômico-sociais em torno de um mesmo mercado mundial. Essa estrutura desigual, portanto, molda as relações de poder e as dinâmicas econômicas entre os países, com os países centrais beneficiando-se da exploração dos países periféricos. A análise da estrutura do sistema internacional fornece o arcabouço teórico para compreender a posição da América Latina e, consequentemente, da Argentina.
2. Teoria da Dependência e o Capitalismo Dependente
A teoria da dependência é apresentada como uma lente analítica para compreender a situação da América Latina. O texto cita Ruy Mauro Marini, que argumenta que a dependência não é apenas fruto de relações externas de subordinação, mas também surge da especificidade das relações internas de exploração. Marini descreve o capitalismo dependente como marcado por três elementos interligados: a transferência de valor para os centros, a entrada de capital estrangeiro, intensificando a dependência, e a desvalorização da força de trabalho nas regiões dependentes. A luta contra o imperialismo, segundo Marini, requer o entendimento de que ele não é um fator externo, mas sim parte intrínseca da sociedade latino-americana, permeando todos os seus aspectos. A citação direta de Marini reforça a crítica ao imperialismo e à exploração intrínseca ao capitalismo dependente, destacando a necessidade de compreender as relações internas de exploração para superar a dependência.
3. Leninismo e a Integração Latino americana
A influência da tese leninista é mencionada, destacando sua influência tanto teórica quanto prática na Revolução Russa. Lenin é apresentado como um autor que oferece um suporte teórico para interpretar as relações internacionais. O texto discute a importância da questão cultural na integração latino-americana, enfatizando o desafio de conciliar a integração sem submeter ou borrar as diferenças culturais, preservando a diversidade como elemento criativo. A Aliança Bolivariana para os Povos da América (ALBA) é citada como um exemplo de iniciativa voltada para a integração solidária e a busca de autonomia regional, contrastando com outras iniciativas como a UNASUL e a CELAC, que demonstram menor grau de concretização. A busca por uma integração mais autônoma e a superação dos laços do capital são apresentados como uma necessidade histórica para a América Latina no sistema mundial.
III.O Sistema Monetário Internacional e a América Latina
O texto investiga o impacto do sistema monetário internacional sobre as economias latino-americanas, com ênfase no papel do dólar como moeda de reserva e na influência dos Estados Unidos. A criação do padrão dólar-ouro e sua posterior substituição por um dólar flutuante após o abandono de Bretton Woods, e as consequências para a América Latina, são analisadas. O estudo destaca a crise da dívida externa na América Latina na década de 1980, particularmente os anos de 1982 e 1983, e a influência de políticas econômicas neoliberais. O impacto no mercado de trabalho e nas políticas de estabilização cambial também são mencionados. Palavras-chave: Sistema Monetário Internacional, Dólar, Bretton Woods, Crise da Dívida Externa, Estabilização Cambial, EUA, Hegemonia.
1. Padrão Dólar Ouro e Hegemonia Estadunidense
O texto discute a implementação de um "novo padrão monetário internacional", o "padrão dólar-ouro", como forma dos EUA imporem sua hegemonia. Isso significava que a gestão do sistema monetário internacional estava nas mãos dos EUA, que detinham a maior parte das reservas mundiais de ouro no final da década de 1940. Essa hegemonia permitiu aos EUA influenciar as relações comerciais e monetárias globais, direcionando o desenvolvimento capitalista e a reconstrução pós-guerra por meio de iniciativas como o Plano Marshall. A análise da implementação unilateral desse padrão demonstra a capacidade dos EUA de estabelecer regras e normas no sistema internacional, impactando diretamente a América Latina e a Argentina, por meio de ajuda, transferência de tecnologia e abertura às importações. A busca por interdependência entre várias regiões do mundo, embora vista como positiva por alguns autores, acaba sendo irrealizável totalmente, devido ao caráter hierárquico do sistema.
2. O Abandono de Bretton Woods e a Crise da Dívida
A década de 1970 marcou mudanças significativas nos EUA, com Paul Volcker no Federal Reserve (FED) e Ronald Reagan como presidente. O país buscava controlar a inflação e recuperar sua hegemonia, após uma crise estrutural que afetou diversos setores. O abandono do sistema de Bretton Woods, pondo fim ao padrão dólar-ouro, é analisado como um evento crucial. O texto menciona que os EUA tinham como objetivo explícito ganhar a Guerra Fria, alinhar aliados e retomar a liderança do bloco capitalista, utilizando políticas econômicas que reduziam gastos sociais e combatiam sindicatos. A mudança para um dólar flexível impactou severamente países latino-americanos afetados pela crise da dívida, que se viram obrigados a aplicar reformas impostas pela nova arquitetura internacional regida pelos EUA, causando consequências que perduram até os dias atuais. A crise da dívida externa na América Latina (1980-1985, principalmente em 1982 e 1983) é apontada como resultado desse processo, marcando um período de instabilidade e dependência econômica para a região.
3. Dolarização e Abertura Comercial na América Latina
O texto destaca a adoção do modelo do Cone Sul dos anos 1970 pelas maiores economias latino-americanas, caracterizado por maior abertura comercial e financeira, com estabilização da taxa nominal de câmbio. Países como Argentina, Brasil e México tornaram-se grandes receptores de capital especulativo internacional. Em resposta à recessão mundial, com a alta dos juros internacionais e queda da demanda por exportações, esses países adotaram políticas recessivas de controle de importações e promoção de exportações. O texto argumenta que a proximidade geográfica e econômica da América Latina com os EUA, combinada com a implantação unilateral do padrão monetário internacional com dólar flexível, resultou em uma situação onde a América Latina se tornou quase uma extensão do território norte-americano. A utilização da moeda estrangeira como meio de troca, motivada por altos períodos de inflação, e a tendência ao depósito de valor em moeda estrangeira são apresentados como consequências deste processo. A renúncia à autonomia monetária e cambial como decisão política é também apontada como uma consequência estrutural desta dependência.