Envelhecer em casa em ambientes predominantemente rurais e moderadamente urbanos : um estudo de base comunitária de Monção

Envelhecimento Rural: Um Estudo em Monção

Informações do documento

Autor

Raquel Sofia Arieira Gonçalves

instructor Alice Bastos, Professora Doutora
Escola

Escola Superior de Educação

Curso Gerontologia Social
Tipo de documento Trabalho de Investigação/Dissertação
Local Monção
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 1.18 MB

Resumo

I.Avaliação das Capacidades e Necessidades de Idosos em Áreas Rurais e Moderadamente Urbanas de Portugal

Este estudo investiga as capacidades e necessidades de idosos (n=87, média de idade 74,1 anos) residentes em freguesias predominantemente rurais e moderadamente urbanas do concelho de Monção, Portugal, visando contribuir para o desenho de diretrizes para políticas e programas de gerontologia. A pesquisa focou-se na avaliação do envelhecimento em lugar (aging in place), analisando a funcionalidade (Índice de Barthel e Escala de Lawton), cognição (MMSE), e apoio social. Resultados significativos apontam para um pior funcionamento cognitivo em idosos de áreas predominantemente rurais, com maior prevalência de défice cognitivo (43,4% vs 17,6% em áreas urbanas; p=0,013). Apesar disso, não houve diferenças significativas na funcionalidade para atividades da vida diária (AVD e AIVD). A maioria dos participantes (69%) declarou não sentir falta de nada para continuar vivendo em suas casas, reforçando a importância do envelhecimento em lugar.

1. Metodologia e Amostra

O estudo teve como objetivo avaliar as capacidades e necessidades de pessoas idosas em áreas predominantemente rurais e moderadamente urbanas, com vistas a traçar orientações para políticas e programas gerontológicos. A seleção da amostra baseou-se em informações do censo populacional do concelho de Monção. Foram selecionadas quatro freguesias: duas classificadas pelo Instituto Nacional de Estatística como predominantemente rurais e duas como moderadamente urbanas. Em cada freguesia, estimou-se inquirir 8% da população com 65 anos ou mais, estratificada por sexo e grupos etários. O estudo incluiu 87 participantes, com idade média de 74,1 anos (desvio padrão = 6,76), variando entre 65 e 98 anos; 54 participantes (62,1%) eram mulheres e 33 (37,9%) homens. A recolha de dados utilizou o protocolo ANCEP_GeroSOC, incluindo instrumentos como um formulário sociodemográfico, o Índice de Barthel (ABVD), a Escala de Lawton (AIVD), o Mini Mental State Examination (MMSE) e escalas de recursos e serviços do Old American Resources Scale (OARS-EN).

2. Resultados Funcionalidade Cognição e Necessidades

Os resultados indicam diferenças significativas no funcionamento cognitivo (avaliado pelo MMSE) entre participantes de freguesias moderadamente urbanas e predominantemente rurais (U=654,0, p=0,031). Os participantes das freguesias rurais apresentaram valores inferiores no MMSE e uma proporção significativamente maior de défice cognitivo (43,4% vs. 17,6%; χ² = 6,2, gl=1, p=0,013). Em relação à funcionalidade para as atividades da vida diária (AVD e AIVD), não foram observadas diferenças significativas (p = 0,979) entre os participantes. Quanto às necessidades relacionadas ao envelhecimento em lugar, a maioria dos participantes (69%) referiu não sentir "falta de nada". Esses resultados devem ser considerados na intervenção gerontológica, na elaboração de planos gerontológicos e na execução de medidas de política social a nível local. O estudo também analisou a relação entre o envelhecimento e a localização geográfica, destacando a escassez de estudos sobre o envelhecimento em meio rural, comparado com o meio urbano, justificando assim a relevância deste trabalho focado em idosos em zonas rurais de Portugal.

3. Análise Comparativa entre Grupos Etários e Zonas de Residência

Comparando os resultados do MMSE entre grupos etários, verificaram-se diferenças estatisticamente significativas entre idosos com 65-79 anos e 80 ou mais anos (U=349,000; p=0,005), com os idosos mais velhos apresentando scores inferiores. Não houve diferenças significativas entre homens e mulheres. No entanto, comparando o funcionamento cognitivo em função da zona de residência (rural vs. moderadamente urbana), observaram-se diferenças significativas, com os participantes das freguesias predominantemente rurais obtendo valores inferiores no MMSE e uma proporção significativamente maior de défice cognitivo (p=0,013). Essa diferença de performance cognitiva entre idosos de áreas rurais e urbanas ressalta a importância de considerar as especificidades de cada contexto no desenvolvimento de políticas e intervenções gerontológicas direcionadas a este grupo populacional em Portugal.

II.Importância do Ambiente Físico e Social no Envelhecimento Bem Sucedido

A pesquisa destaca a influência do ambiente físico e social no envelhecimento populacional. A harmonia do lugar de residência, boas relações de vizinhança e redes de apoio familiar e social são fatores cruciais para a satisfação e bem-estar dos idosos. Barreiras ambientais (inadequação das casas de banho, falta de corrimãos) podem afetar a qualidade de vida, sendo as modificações habitacionais apontadas como uma estratégia para promover o envelhecimento bem-sucedido e o envelhecimento em lugar . O estudo evidencia a complexidade do processo de envelhecimento, que difere significativamente entre indivíduos, considerando fatores socioeconômicos, culturais e de gênero, influenciando a autonomia e bem-estar.

1. Harmonia do Lugar e Relações Sociais

Uma revisão da literatura (Rioux & Werner, 2011) sugere que a harmonia do local de residência, incluindo a boa manutenção das habitações e a qualidade do ar, é fundamental para a satisfação geral dos idosos. As relações de vizinhança são particularmente importantes, especialmente devido à crescente fragilidade enfrentada por essa população. Segundo Martins (2006), as redes familiares, de amigos e vizinhos constituem uma fonte de apoio fundamental (instrumental e emocional), influenciando o bem-estar. A partilha de intimidade, apoio emocional, momentos de socialização e apoio material são cruciais para o processo de envelhecimento. A proximidade e o apoio da comunidade são, portanto, fatores críticos para o sucesso do envelhecimento, e a qualidade das relações sociais demonstra grande influência na satisfação e bem-estar dos indivíduos.

2. Barreiras Ambientais e Modificações Domiciliares

Idosos que envelhecem em casa (Johansson et al., 2009) frequentemente enfrentam barreiras no seu ambiente habitacional, como inadequação de casas de banho, portas pesadas e falta de corrimãos. Modificações no ambiente doméstico são apresentadas como estratégia de intervenção para aumentar a qualidade de vida e o bem-estar. O envelhecimento no próprio lugar não é um processo linear e previsível, e compreender essa dinâmica é crucial para a prestação de serviços comunitários. Uma visão negativa do envelhecimento pode ser atenuada por fatores externos, como os ambientais e sociais, enfatizando a importância da adaptação do ambiente às necessidades dos idosos para garantir um envelhecimento bem-sucedido e independente em casa. A adaptação da casa e do ambiente em geral é, portanto, crucial para facilitar a vida dos idosos.

3. Envelhecimento em Lugar Conceito e Dificuldades

O conceito de "aging in place" é reinterpretado considerando os cuidados de longa duração e instituições de acolhimento. Essa reinterpretação leva ao surgimento de residências seniores e serviços de apoio social e de saúde personalizados para responder às necessidades individuais. Modificações habitacionais são apresentadas (Pastalan, 1999) como uma estratégia com forte potencial para que os idosos permaneçam em suas casas, prevenindo acidentes domésticos e reduzindo a necessidade de recorrer a serviços de saúde e sociais. Lawton (1978, 1990) vê o "aging in place" como a conciliação entre o idoso e seu ambiente ao longo do tempo, com a localização física sendo a única constante. Alkema, Wilber e Enguidanos (2007) ampliam essa ideia para o lugar onde o idoso deseja viver, enfatizando que não devem ser forçados a mudar devido à necessidade de cuidados. Porém, Means (2007) ilustra as dificuldades do envelhecimento em lugar para certos grupos, como sem-abrigo e pessoas com demência, indicando que o conceito não se aplica a todos. Lawton (1997) enfatiza que, independentemente do local, o importante são as potencialidades do ambiente físico para a vida independente, as escolhas pessoais, a interação social, a privacidade, proteção e segurança.

4. Impacto das Relações Sociais e Apoio Social

A passagem à reforma muitas vezes diminui as relações sociais, levando a maior isolamento, especialmente para aqueles que não estão institucionalizados. Idosos institucionalizados podem sofrer ainda mais por ter suas interações com o exterior limitadas. A Gerontologia Ambiental enfatiza a compensação do declínio com o aumento da vulnerabilidade dos idosos para melhorar a qualidade de vida. A percepção que temos de nós mesmos como indivíduos capazes influencia o envelhecimento bem-sucedido, sendo o apoio social e a ajuda de cuidadores informais decisivos para melhorar a qualidade de vida e bem-estar (Dornelles & Costa, 2003). O envolvimento em atividades sociais previne o declínio cognitivo (Rodrigues, 2007), com o apoio social podendo ser material, instrumental, emocional e cognitivo (Guzmán et al., 2003). A Teoria do Comboio Social (Antonucci & Akiyama, 1997; Kahn & Antonucci, 1980) destaca a importância das relações sociais próximas para o bem-estar, mas alerta que um apoio excessivo ou indesejado pode ter efeitos negativos.

III.Modelos Teóricos e Envelhecimento Gerontologia Ambiental e Teoria do Ciclo de Vida

O estudo utiliza a Gerontologia Ambiental como base teórica, analisando a inter-relação entre a pessoa idosa e seu contexto físico e social. O modelo de ecologia social de Moos e a Teoria do Ciclo de Vida de Baltes são considerados para compreender o impacto do ambiente na adaptação e qualidade de vida dos idosos. A Teoria do Ciclo de Vida enfatiza a maximização de ganhos e minimização de perdas ao longo do tempo, com ênfase na seleção, otimização e compensação como estratégias para um envelhecimento bem-sucedido. A congruência entre as necessidades do idoso e os recursos do ambiente são cruciais para a adaptação ao meio.

1. Gerontologia Ambiental Pessoa e Ambiente

A Gerontologia Ambiental, segundo Tomasini (2005), estuda a pessoa idosa no seu contexto, focando as inter-relações entre a pessoa e o ambiente físico e social. Ela descreve, explica e modifica as relações entre pessoas idosas e seus contextos de vida. Esta especialidade da Gerontologia abrange diversas disciplinas e profissionais, incluindo psicologia, sociologia, arquitetura, planeamento comunitário e políticas sociais (Morgan & Kunkel, 2011). A pesquisa nesta área avalia o impacto das intervenções ambientais na saúde e bem-estar dos idosos. O modelo de ecologia social de Moos (Paúl, 2005a) versa sobre o impacto do meio físico e social na adaptação dos idosos para aumentar sua qualidade de vida, focando a compreensão do funcionamento das instituições e da adaptação dos idosos a elas. Diversos modelos da perspectiva ambiental buscam maximizar o envelhecimento bem-sucedido a partir da relação entre o idoso e o meio, centralizando a atuação na relação ambiente-pessoa e na importância do sentimento de pertencimento à comunidade.

2. Teoria do Ciclo de Vida e Envelhecimento Bem Sucedido

A Teoria do Ciclo de Vida, com foco na relação indivíduo-contexto, defende que o desenvolvimento bem-sucedido implica maximizar ganhos e minimizar perdas (Baltes et al., 2006). O contexto (classe social, etnia, papéis sociais, períodos históricos) cria oportunidades e/ou limitações no desenvolvimento (Elder, 1974/1998). Baltes et al. (2006) descrevem o desenvolvimento como multidirecional, com crescimento e declínio simultâneos. A compensação destaca-se quando perdas ameaçam o funcionamento, e a falha na compensação leva à reestruturação de objetivos (seleção baseada na perda). Shultz e Heuckhausen (1996) afirmam que a seleção reduz riscos e vulnerabilidades associadas à especialização, fornecendo bases para futuros desenvolvimentos. A otimização maximiza ganhos em áreas específicas, e a compensação lida com fracasso e declínio, permitindo superar frustrações. O envelhecimento ao longo da vida envolve um equilíbrio constante entre ganhos e perdas, com as perdas se tornando mais prevalentes na velhice. Neri (2007) destaca que as limitações podem ser minimizadas pela ativação das capacidades de reserva do organismo, dependendo da plasticidade individual, influenciada por fatores genéticos, biológicos, psicológicos e socioculturais.

3. Vinculação ao Lugar e Identidade Pessoal

A vinculação ao lugar está relacionada às tarefas desenvolvidas pelos idosos durante o envelhecimento, como a manutenção da identidade pessoal e a proteção contra mudanças nos modos de vida (Fonseca et al., 2008). Um modelo proposto inclui percepções de identidade (quem sou eu?), interdependência indivíduo-meio (integração social) e comportamentos em contexto (espaço físico da experiência de vida). Paúl (2005a) destaca a ligação afetiva e o valor simbólico atribuído às casas, refletindo valores culturais e identidades pessoais e sociais. A casa forma uma unidade transacional pessoa/ambiente. Proshansky (1978) considera as casas como paraísos seguros onde se criam raízes e se experimenta o sentimento de pertencimento e identidade com o lugar, explicando a preferência de muitos idosos por permanecerem em suas casas (Paúl, 1999). A meta de intervenções adequadas é a conjugação de modelos teóricos de transação entre o meio ambiente e a pessoa para programas que levem em consideração as privações e dificuldades da população idosa.

IV.Funcionalidade Cognição e Apoio Social na População Idosa

A funcionalidade foi avaliada através do Índice de Barthel (AVD) e da Escala de Lawton (AIVD). O funcionamento cognitivo foi medido usando o MMSE, revelando diferenças significativas entre idosos de áreas rurais e urbanas. O estudo também explorou o apoio social, mostrando a importância das relações familiares e de vizinhança para o bem-estar e a prevenção do declínio cognitivo. A Teoria do Comboio Social é referida como um modelo para compreender o impacto do apoio social na capacidade de lidar com desafios. A análise das redes sociais mostrou que a maioria dos participantes tinha alguém disponível para cuidar deles caso necessário, especialmente cônjuges e familiares.

1. Funcionalidade na Vida Diária

A funcionalidade para atividades básicas e instrumentais da vida diária (AVD e AIVD) foi avaliada usando o Índice de Barthel (Mahoney & Barthel, 1965; versão portuguesa Sequeira, 2007) e a Escala de Lawton (Lawton & Brody, 1969; versão portuguesa, Sequeira, 2007). O Índice de Barthel avaliou tarefas como alimentação, vestir-se, tomar banho, higiene corporal, uso do banheiro, controle intestinal e vesical, subir escadas, transferência cama-cadeira e deambulação, classificando os indivíduos em níveis de independência (independente, ligeiramente dependente, moderadamente dependente, severamente dependente e totalmente dependente). A Escala de Lawton avaliou atividades instrumentais como cuidar da casa, lavar roupa, preparar comida, ir às compras, usar telefone, transporte, dinheiro e gerir medicamentos, classificando os indivíduos em três níveis de funcionalidade. Apesar da aplicação destes instrumentos, o estudo não encontrou diferenças significativas na funcionalidade entre os participantes de áreas rurais e urbanas.

2. Funcionamento Cognitivo e o MMSE

O funcionamento cognitivo foi avaliado utilizando o Mini Mental State Examination (MMSE; Folstein, Folstein & McHugh, 1975; versão portuguesa Morgado et al., 2009). O estudo revelou diferenças estatisticamente significativas no funcionamento cognitivo entre os participantes das freguesias moderadamente urbanas e predominantemente rurais (U=654,0, p=0,031). Os participantes das freguesias rurais obtiveram escores significativamente inferiores no MMSE e apresentaram uma proporção significativamente maior de défice cognitivo (43,4% vs 17,6%; χ² = 6,2, gl=1, p=0,013). Comparando grupos etários, houve diferenças estatisticamente significativas entre idosos de 65-79 anos e 80 anos ou mais (U=349,000; p=0,005), com os mais velhos apresentando escores mais baixos. Não houve diferenças significativas entre homens e mulheres. A utilização do MMSE permitiu identificar uma correlação entre a localização geográfica e o desempenho cognitivo, reforçando a necessidade de considerar este aspecto nas políticas de saúde para a população idosa.

3. Apoio Social e Bem Estar

A pesquisa explorou o apoio social na população idosa, um fator reconhecidamente importante para o bem-estar. Um percentual significativo dos idosos (92%) afirmou ter alguém em sua rede social para ajuda em caso de doença ou incapacidade. A maioria (77%) relatou ter alguém que poderia cuidar deles sempre que necessário, sendo o cônjuge (27,6%) a principal fonte de apoio, seguido do cônjuge e outros familiares ou amigos (20,7%). Filhos, irmãos e outros parentes também foram mencionados. A grande maioria (93,1%) qualificou o relacionamento com família e amigos como muito bom. O estudo menciona a Teoria do Comboio Social (Antonucci & Akiyama, 1997; Kahn & Antonucci, 1980), que sugere a existência de círculos concêntricos de relações íntimas com diferentes graus de proximidade, essenciais para ajuda e bem-estar. O apoio social, segundo Guzmán et al. (2003), pode ser material, instrumental, emocional e cognitivo, sendo fundamental para a manutenção da autoestima e o sentido de desenvolvimento pessoal. A participação em atividades sociais é apresentada como fator que previne o declínio cognitivo. Embora a maioria dos participantes relatasse não sentir falta de nada, a demanda por serviços de apoio como Centros de Dia (73,6%), Centros de Convívio (71,3%), SAD (59,8%) e Lar de Idosos (55,2%) foi significativa.

V.Experiência do Lugar e Vinculação à Comunidade

A pesquisa investiga a experiência do lugar e a vinculação dos idosos à sua comunidade. A maioria dos participantes reside há muitos anos na mesma freguesia, demonstrando uma forte ligação ao local. A relação com a vizinhança é geralmente descrita como próxima e amigável. Apesar da preferência por envelhecer em casa, a necessidade de serviços de apoio como Centros de Dia, Centros de Convívio e Serviços de Apoio Domiciliário (SAD) é alta.

1. Tempo de Residência e Vantagens Percebidas

Em média, os participantes residem há cerca de 64 anos na freguesia atual (dp=17,86), sendo que os residentes em freguesias predominantemente rurais residem, em média, há mais tempo (M=71,1, dp=12,74 vs. M=52,0, dp=18,64). Quando questionados sobre as vantagens de viver na freguesia, cerca de metade (50,6%) afirmou que a freguesia tem "todas as vantagens"; 16,1% referiram o fato de ser o local onde sempre viveram; 14,9% destacaram a proximidade de serviços e comércio; e 9,2% mencionaram a tranquilidade, ar puro e um estilo de vida mais saudável. Um total de 8 inquiridos consideraram não haver vantagens, sendo 2 das freguesias moderadamente urbanas (AMU) e 6 das freguesias predominantemente rurais (APR). Os 13 idosos que salientaram a vantagem de residir perto de serviços e comércio eram de freguesias AMU. A longa duração da residência em um mesmo lugar aponta para uma forte vinculação com a localidade e um sentimento de pertencimento à comunidade, fatores importantes para o bem-estar e a satisfação com a vida na velhice.

2. Relações de Vizinhança e Mobilidade

Ambos os grupos (rural e moderadamente urbano) classificaram sua relação com a vizinhança como próxima e amigável (94,3%), indicando a importância do apoio social informal no contexto da comunidade. Em relação à mobilidade, ambos os grupos relataram dificuldades em se deslocar fora de casa (80%), indicando potenciais barreiras ao acesso a serviços e recursos externos à sua área de residência. Apesar das dificuldades de mobilidade, dois terços dos participantes (69%) afirmaram não sentir falta de nada para continuar vivendo onde residem, sugerindo uma boa adaptação ao seu ambiente e um nível aceitável de suporte dentro da comunidade. Esse dado, porém, não descarta a necessidade de políticas públicas de apoio, especialmente para aqueles com maior dificuldade de acesso a serviços externos, reforçando a importância do planejamento de serviços que visem o envelhecimento ativo em seu próprio lar.

3. Condições da Casa e Necessidades de Serviços

A grande maioria dos participantes (96,6%) considerou as condições da sua casa boas, justificando com o fato de ter "tudo o que necessita" (85,1%). Apesar disso, quase metade (48,3%) relatou a existência de barreiras arquitetônicas, sendo a percentagem superior nas freguesias predominantemente rurais (69,8%). Os principais tipos de barreiras mencionadas foram degraus (73,8%), degraus e portas estreitas (19%) ou apenas portas estreitas (4,8%). A maioria dos inquiridos (95,4%) tem água quente e telefone. Em relação ao aquecimento, o uso de lenha é predominante (39,1%), seguido de aquecimento central (23%) e aquecimento elétrico (23%). A necessidade de serviços de apoio para o envelhecimento foi também levantada, com cerca de dois terços dos participantes indicando a necessidade de Centro de Dia (73,6%), Centro de Convívio (71,3%), Serviços de Apoio Domiciliário (SAD) (59,8%) e Lar de Idosos (55,2%). Essas necessidades reforçam a importância de políticas públicas e investimentos em infraestruturas de apoio ao idoso na comunidade, especialmente em áreas rurais onde o acesso a serviços pode ser mais limitado.

VI.Metodologia de Recolha de Dados

A amostra foi selecionada com base no censo populacional do concelho de Monção. Quatro freguesias foram selecionadas: duas predominantemente rurais e duas moderadamente urbanas. A colaboração com as juntas de freguesia e o pároco foi crucial para o acesso à população idosa. A recolha de dados incluiu entrevistas domiciliares, utilizando questionários estruturados com instrumentos como o Índice de Barthel, Escala de Lawton e MMSE. A estratégia de recrutamento incluiu a colaboração de líderes comunitários e a técnica de 'passa-palavra'.

1. Seleção da Amostra e Localização

A seleção da amostra foi baseada no censo populacional do concelho de Monção. Quatro freguesias foram selecionadas: duas classificadas pelo Instituto Nacional de Estatística como predominantemente rurais e duas como moderadamente urbanas. Em cada freguesia, a amostra representou aproximadamente 8% da população com 65 anos ou mais, estratificada por sexo e grupos etários. O estudo resultou em uma amostra total de 87 participantes. A escolha do concelho de Monção e a seleção de freguesias rurais e urbanas permitiu uma comparação entre contextos diferentes, enriquecendo a análise dos resultados. A estratégia de selecionar freguesias distintas garantiu diversidade na amostra, permitindo uma análise mais robusta das variáveis em estudo. Esta metodologia visa ampliar o conhecimento sobre o envelhecimento em diferentes contextos, contribuindo para um entendimento mais abrangente das necessidades específicas de cada localidade.

2. Instrumentos de Recolha de Dados

Para a recolha de dados, foi utilizado o protocolo ANCEP_GeroSOC (Bastos, Moreira, Faria & Melo de Carvalho, 2010), que inclui um formulário sociodemográfico, o Índice de Barthel (Mahoney & Barthel, 1965; Sequeira, 2007) para avaliar as atividades básicas da vida diária (ABVD), a Escala de Lawton (Lawton & Brody, 1969; Sequeira, 2007) para as atividades instrumentais da vida diária (AIVD), o Mini Mental State Examination (MMSE; Folstein, Folstein & McHugh, 1975; Morgado et al., 2009) para avaliar o funcionamento cognitivo e escalas de recursos e serviços do Old American Resources Scale (OARS-EN; Fillenbaum & Smyer, 1981; Rodrigues, 2007). A escolha destes instrumentos específicos permitiu uma avaliação multifacetada dos idosos, considerando diferentes aspetos da sua funcionalidade, cognição e recursos sociais. A combinação desses instrumentos fornece uma perspectiva abrangente sobre as capacidades e necessidades da população idosa estudada, permitindo uma análise mais detalhada dos resultados.

3. Estratégias de Contacto e Recolha de Dados In Situ

Para o acesso à população idosa, houve colaboração com presidentes de juntas de freguesia e o pároco local. A técnica superior de serviço social da Câmara Municipal de Monção auxiliou nos contactos iniciais. As estratégias de recolha de dados incluíram entrevistas domiciliares, onde cada participante era informado sobre o estudo e o seu objetivo. Em algumas freguesias, o investigador foi acompanhado por pessoas influentes da comunidade (presidentes de junta ou pároco), facilitando o acesso e a participação dos idosos. Em situações em que havia dificuldade de contato, o método de "passa-palavra" através de vizinhos se mostrou eficaz. A descrição da experiência de campo, como no caso da freguesia de Mazedo, ilustra as diferentes estratégias e desafios enfrentados durante a recolha de dados, desde o contato inicial até a aplicação dos questionários, evidenciando a importância da construção de confiança e a adaptação da metodologia às particularidades de cada contexto.