
Adição: Intervenção e Regulação Emocional
Informações do documento
Autor | Carla Isabel Dos Santos Bizarro |
instructor | Professora Doutora Marina Cunha |
Escola | Instituto Superior Miguel Torga, Escola Superior de Altos Estudos |
Curso | Psicologia Clínica, Ramo Terapias Cognitivo-Comportamentais |
Tipo de documento | Dissertação |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 462.38 KB |
Resumo
I.Método Avaliação da Eficácia do Modelo Terapêutico Change Grow em Pacientes com Dependência Química
Este estudo longitudinal avaliou a eficácia do Modelo Terapêutico Change & Grow aplicado na Comunidade Terapêutica VillaRamadas, em Alcobaça, Portugal, num período de cinco meses. Uma amostra de 32 pacientes (com idades entre 15 e 55 anos), a maioria com dependência química e perturbações aditivas, participou. A avaliação utilizou questionários como o DASS21 (ansiedade, depressão, stress), PANAS (afeto positivo e negativo), ELES (memórias precoces negativas), AQ (agressividade), BIS (impulsividade), RRS-10 (ruminação), e MAAS (mindfulness). A Comunidade Terapêutica VillaRamadas, com capacidade para 48 pacientes, aplica o modelo Change & Grow, baseado em 5 princípios (Verdade, Aceitação, Gratidão, Amor e Responsabilidade) e 12 passos. O tratamento é voluntário e com internamento mínimo de 5 meses.
1. Amostra e Protocolo de Avaliação
O estudo utilizou uma amostra de 32 pacientes, com idades entre 15 e 55 anos, em tratamento na Comunidade Terapêutica VillaRamadas. A maioria dos pacientes apresentava perturbações relacionadas com o abuso de substâncias, além de problemas emocionais e comportamentais. O protocolo de avaliação incluiu um questionário sociodemográfico e vários instrumentos psicométricos para avaliar diferentes dimensões: sintomatologia psicopatológica e estados emocionais (DASS21 e PANAS), memórias precoces negativas (ELES), agressividade (AQ), impulsividade (BIS), respostas ruminativas (RRS-10), e mindfulness (MASS). Os dados foram recolhidos em dois momentos: no início e no final de um tratamento de cinco meses, caracterizando um estudo longitudinal. A recolha de dados ocorreu em duas fases: uma primeira fase (Novembro e Dezembro de 2014) e uma segunda fase (Abril, Maio e Junho de 2015), após cinco meses de tratamento. O consentimento informado foi obtido de todos os participantes, garantindo a confidencialidade das respostas. A VillaRamadas, localizada em Alcobaça, possui duas unidades residenciais com capacidade para 48 pacientes e utiliza o Modelo Terapêutico Change & Grow.
2. Instrumentos de Avaliação Detalhada
O estudo utilizou uma bateria de instrumentos para avaliar diferentes aspectos da condição dos pacientes. O DASS21 avaliou a ansiedade, depressão e stress, cobrindo sintomas emocionais negativos. O PANAS mensurou o afeto positivo e negativo. A escala ELES investigou memórias precoces negativas, enquanto AQ quantificou a agressividade em suas diferentes componentes (física, verbal, raiva e hostilidade). A escala BIS avaliou a impulsividade em suas facetas (motora, cognitiva/atencional e não planejada). O RRS-10 explorou as respostas ruminativas, especificamente a componente 'cismar' (pensamento perseverante) e 'reflexivo' (tentativa de compreensão e resolução de problemas). Por fim, a MAAS mediu o nível de mindfulness, avaliando a frequência de estados mindful no dia a dia dos pacientes. Cada instrumento possui uma estrutura e metodologia de aplicação específicas, descritas detalhadamente nos anexos (não incluídos nesta sumarização).
3. Critérios de Inclusão e Limitações da Amostra
Para a inclusão na amostra, foram definidos critérios: pacientes com três ou menos meses de tratamento até Dezembro de 2014, com condições físicas e psíquicas adequadas para responder ao protocolo de avaliação. Uma grande percentagem (43,8%; n=14) dos pacientes tinham menos de um mês de tratamento no primeiro momento de avaliação. O tamanho reduzido da amostra é apontado como uma limitação do estudo, considerando que a Comunidade Terapêutica tem, em média, quarenta pacientes em internamento. Outra limitação refere-se ao facto dos pacientes estarem em fases distintas do tratamento (entre o primeiro e terceiro mês) no momento da primeira avaliação, aspecto a ser controlado em estudos futuros. A ausência de um grupo de controlo também é apontada como uma limitação, dificultando a atribuição da mudança observada exclusivamente à intervenção.
II.Resultados Melhoras Significativas na Sintomatologia Psicopatológica
Os resultados demonstraram melhoras significativas após cinco meses de tratamento. Observou-se redução significativa em sintomas de depressão, ansiedade e stress, diminuição do afeto negativo e aumento do afeto positivo, bem como decréscimo em comportamentos agressivos e impulsivos. Houve também aumento no mindfulness e diminuição na ruminação (componente 'cismar'). Não houve diferenças significativas nas memórias precoces negativas.
1. Melhoras na Sintomatologia Psicopatológica
Os resultados do estudo indicaram melhorias significativas na sintomatologia psicopatológica dos pacientes após cinco meses de tratamento. Especificamente, observou-se uma redução significativa em sintomas depressivos, ansiosos e relacionados ao stress. A diminuição do afeto negativo e o aumento do afeto positivo também foram estatisticamente significativos. Adicionalmente, houve um decréscimo em comportamentos agressivos e impulsivos. Estes resultados validaram as hipóteses de estudo, indicando a eficácia da intervenção terapêutica aplicada. A análise estatística revelou diferenças significativas (p<0,05) entre os momentos de avaliação inicial e final do tratamento em diversas variáveis, refletindo a magnitude das mudanças observadas. Médias mais baixas foram encontradas nos indicadores de psicopatologia, especificamente na depressão (M=4.47; t(31)=3.22; p=0.003), ansiedade (M=3.00; t(31)=3.40; p=0.002) e stress (M=6.03; t(31)=4.18; p<0.001), enquanto o afeto positivo aumentou significativamente (t(31)=-3.57; p=0.001) e o afeto negativo diminuiu (t(31)=4.43; p<0.001).
2. Regulação Emocional e Memórias Precoces
Em relação aos processos de regulação emocional, o estudo revelou um aumento significativo na prática de mindfulness (agir com consciência) e uma diminuição no processo de 'cismar' associado à ruminação. Este achado é particularmente relevante, pois indica uma melhoria na capacidade dos pacientes de lidar com suas emoções de forma mais consciente e adaptativa. É importante notar que a redução da ruminação se concentrou na componente mal adaptativa ('cismar'), enquanto a componente adaptativa (reflexiva) não apresentou alterações significativas. Por outro lado, não foram observadas diferenças significativas entre os dois momentos de avaliação nas memórias negativas precoces relativas à ameaça e subordinação na interação com os pais. Este resultado sugere que o tratamento, embora eficaz em outras áreas, não teve um impacto direto nestas memórias específicas, o que pode indicar a necessidade de abordagens complementares para o trabalho com traumas de infância em estudos futuros. A ausência de mudanças significativas nas memórias precoces negativas pode ser um ponto para discussão mais aprofundada, e justifica pesquisas adicionais para compreender melhor essa dinâmica.
III.Discussão Abordagem Terapêutica Eclética e Fatores de Sucesso
A terapia de grupo promoveu aprendizagem social e identificação entre pacientes, enquanto a terapia individual focou na reestruturação cognitiva, utilizando técnicas como o registo de pensamentos automáticos negativos. A intervenção eclética, combinando terapia de grupo e individual com estratégias vivenciais e emocionais, incluindo meditação e mindfulness, pode explicar os bons resultados. A abstinência de substâncias é um objetivo, mas o programa visa um desenvolvimento biopsicossocial mais amplo, alterando comportamentos e atitudes.
1. Terapia de Grupo Aprendizagem Social e Feedback
A discussão analisa a contribuição da terapia de grupo para os resultados positivos. O processo de partilha de experiências de vida, sentimentos e emoções, dentro de um ambiente de grupo, permitiu aos pacientes uma aprendizagem social valiosa. Observar nos outros aspetos que não conseguem reconhecer em si próprios, receber feedback e identificações dos pares, e testemunhar diferentes formas de expressar ideias e resolver problemas, contribuiu para a sua capacidade de mudança. A terapia de grupo funcionou como um espaço para o desenvolvimento de novas perspectivas e a mobilização de recursos internos, com a mediação e orientação do terapeuta, que forneceu um feedback terapêutico ao final de cada sessão. Este ambiente colaborativo foi fundamental para a progressão terapêutica, incentivando o autoconhecimento e a construção de novas estratégias de enfrentamento.
2. Terapia Individual Restruturação Cognitiva e Estratégias Adaptativas
A terapia individual complementou a terapia de grupo, focando-se na forma como cada paciente observa e avalia suas experiências. O objetivo foi a reestruturação cognitiva, fornecendo a cada paciente estratégias para perceber e responder ao real de forma mais funcional. A reestruturação cognitiva incluiu o registo e a identificação de pensamentos automáticos negativos. Os pacientes foram incentivados a descobrir pensamentos alternativos mais funcionais, aprendendo a responder a seus pensamentos de maneira mais realista e adaptativa. Esta abordagem visa diminuir sintomas como depressão (visão negativa de si, dos outros e do mundo) e ansiedade (visão negativa dos acontecimentos). A terapia individual, portanto, desempenhou um papel crucial na internalização de novas formas de processamento cognitivo e emocional, impactando diretamente a forma como os pacientes lidam com as adversidades.
3. Abordagem Eclética e Atividades Complementares
A discussão destaca a natureza eclética do programa de intervenção, combinando terapia de grupo e individual com outras estratégias vivenciais e emocionais. As atividades e tarefas realizadas, como leitura e trabalhos escritos sobre temas como medo, aceitação, gratidão, autoestima e os 12 passos do programa Change & Grow, estimularam o autoconhecimento, organização das ideias e resolução de problemas. A prática da meditação, relaxamento e mindfulness também foram mencionadas como componentes importantes da abordagem. Este enfoque holístico, que engloba diferentes dimensões do ser humano, contribuiu significativamente para os resultados positivos observados, proporcionando aos pacientes ferramentas e técnicas para lidar com seus problemas de forma mais completa e sustentável. A combinação de diferentes abordagens terapêuticas permitiu uma intervenção mais personalizada e eficaz.
IV.Conclusão Eficácia do Modelo Change Grow na VillaRamadas
Apesar das limitações do estudo (tamanho da amostra e ausência de grupo de controlo), os resultados sugerem a alta promissora do Modelo Change & Grow na VillaRamadas para pacientes com dependência química. A abordagem abrangente, que transcende a simples abstinência, focando no desenvolvimento biopsicossocial e utilizando diversas técnicas terapêuticas incluindo mindfulness, contribuiu para a melhoria significativa da sintomatologia psicopatológica e do bem-estar dos pacientes. Futuramente, estudos com grupos de controlo são necessários para confirmar a eficácia do programa.
1. Resultados Promissores e Natureza do Programa
Apesar das limitações metodológicas do estudo (tamanho da amostra e ausência de grupo de controlo), os resultados obtidos demonstram a promissora eficácia do programa terapêutico Change & Grow na Comunidade Terapêutica VillaRamadas. A conclusão enfatiza que os resultados positivos não se devem apenas à abstinência de substâncias, mas a uma abordagem mais ampla que visa o desenvolvimento biopsicossocial do paciente, promovendo mudanças de comportamento e atitudes. A natureza eclética do programa, que integra terapia de grupo e individual com diferentes estratégias vivenciais e emocionais (incluindo meditação, relaxamento e mindfulness) é apontada como um fator chave para os bons resultados observados. O sucesso da intervenção está intrinsecamente ligado à abordagem holística que considera a complexidade do indivíduo, buscando a transformação em diferentes níveis: físico, psicológico e social.
2. Importância da Abordagem Eclética e Atividades Complementares
A conclusão reforça a importância de uma intervenção terapêutica eclética que aborde diferentes aspectos da vida do paciente. A combinação de terapia de grupo, terapia individual e atividades complementares, como sessões de meditação, relaxamento, mindfulness e trabalhos escritos reflexivos sobre temas específicos do programa Change & Grow, contribuíram para os bons resultados. Estas atividades práticas, que exigem uma ação por parte do paciente, estimularam o autoconhecimento, a organização das ideias e a capacidade de resolução de problemas, promovendo uma mudança mais duradoura e sustentável. A conclusão destaca a necessidade de estudos futuros com grupos de controlo para confirmar a eficácia do programa, mas os resultados obtidos são considerados muito promissores, reforçando a importância da abordagem biopsicossocial e da utilização de uma gama diversificada de estratégias terapêuticas.