O futebol além das quatro linhas: impactos da globalização no futebol contemporâneo

Globalização e Futebol: Impactos Contemporâneos

Informações do documento

Autor

Henrique Antônio Trizoto

instructor Prof. Dr. Gerson Wasen Fraga
Escola

Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)

Curso Licenciatura em História
Tipo de documento Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação)
Local Erechim, RS
Idioma Portuguese
Formato | PDF
Tamanho 473.61 KB

Resumo

I.Origens e Profissionalização do Futebol Um Olhar Histórico sobre a Globalização no Futebol

Este estudo investiga a globalização no futebol, analisando sua trajetória desde práticas rudimentares até a profissionalização moderna. A pesquisa destaca a influência do contexto socioeconômico britânico, com o papel das public schools na esportização do futebol (Rugby e Soccer), a formação de identidades e a transição do futebol “primitivo” para o futebol moderno, associando-o à ascensão da burguesia e à disseminação da ideologia de mens sana in corpore sano. A análise também aborda a disseminação do futebol para além das elites, sua rápida popularização entre as classes trabalhadoras, e as primeiras manifestações do futebol como mercado de consumo, com a emergência de clubes e o surgimento de um mercado de transferências entre times de diferentes cidades e países, como foi o caso da imigração de jogadores escoceses para a Inglaterra em 1884.

II.O Futebol como Espetáculo Midiático e Mercado de Consumo A Era da Globalização

A pesquisa aprofunda a análise do futebol como espetáculo midiático e mercado de consumo, enfatizando o papel da televisão na mercantilização do esporte. A evolução dos valores dos direitos televisivos das Copas do Mundo ilustra o crescimento exponencial do futebol como negócio global. A influência de patrocinadores como Coca-Cola, Kalunga e outras multinacionais, juntamente com a ascensão de clubes como o Manchester United e Arsenal, configuram a entrada em massa do capital internacional no mundo do futebol, criando novas receitas e impulsionando o fenômeno da globalização em um contexto onde o futebol deixa de ser uma atividade sem fins lucrativos e se transforma em uma empresa.

III. Globalização Identidade e Rivalidades O Futebol como Cenário de Formação de Identidades

A globalização no futebol impacta diretamente na formação de identidades, tanto individuais quanto coletivas. O estudo destaca o futebol como palco para a expressão de identidades nacionais e regionais, utilizando exemplos como a Catalunha (Barcelona) e Kosovo. O documento analisa como rivalidades históricas, muitas vezes ligadas à questões políticas e sociais, são recriadas e intensificadas no contexto esportivo, com a tensão entre grupos lutando pelo reconhecimento e independência. A xenofobia e o racismo, manifestados frequentemente em estádios, também são analisados como um reflexo das contradições da globalização.

1. Identidades Coletivas e o Futebol Nacionalismo e Regionalismo

A globalização do futebol impactou profundamente a formação de identidades, especialmente as coletivas. A análise aponta para o futebol como um espaço de expressão de nacionalismos e regionalismos, exemplificado pelas situações da Catalunha e Kosovo. No caso catalão, a forte identidade regional, com língua e cultura próprias, se manifesta intensamente nos jogos do Barcelona, contrapondo-se à identidade espanhola. Já Kosovo, apesar de administrado pela ONU e sem reconhecimento pleno de sua independência, utiliza o futebol como ferramenta para a construção de sua identidade nacional, tendo iniciado a disputa de amistosos internacionais em 2014. Esses exemplos demonstram como a globalização, ao mesmo tempo que cria um espaço transnacional, intensifica a expressão de identidades locais e regionais, que utilizam o futebol como palco para reivindicar o reconhecimento de suas singularidades. Outros exemplos são citados, como a rivalidade entre católicos e protestantes na Escócia e o País Basco na Espanha, mostrando como o futebol pode ser palco de disputas e afirmações identitárias.

2. Identidades Individuais e a Experiência do Torcedor

O texto destaca a manifestação de identidades individuais no contexto dos espetáculos futebolísticos. A identificação intensa do torcedor com seu clube o torna vulnerável às oscilações da equipe e intensifica as emoções, principalmente nas rivalidades entre clubes. A rivalidade entre clubes é vista como essencial para a dinâmica emocional dos torcedores, sendo mais acentuada quando envolve grupos sociais historicamente em conflito (religiosos na Irlanda; raça, classe e região no Brasil). Contrariando a ideia de irracionalidade, a pesquisa argumenta que as manifestações nos estádios (cânticos, xingamentos, afetos, etc.) são carregadas de significado, refletindo as idiossincrasias individuais e as formas de sensibilidade forjadas no contexto do futebol como espetáculo (Damo, 2008). A experiência do torcedor, com a sua manifestação individual de identidade, dentro do contexto de uma identidade coletiva, mostra a complexidade da construção identitária no futebol.

3. Xenofobia e Racismo no Futebol Globalizado

A globalização do futebol intensificou também a manifestação de xenofobia e racismo, especialmente na Europa. O texto aponta para a chegada de imigrantes de diversas origens (senegaleses, paquistaneses, chineses) como um fator que, em vez de promover uma maior multietnicidade, difundiu o ódio em diferentes grupos, observável claramente nos estádios. O racismo contra jogadores negros, expresso em cânticos e ofensas racistas, é apresentado como uma forma comum de preconceito. A comparação com o antissemitismo cru do passado mostra a transformação do ódio, que se desloca para outros alvos, mantendo-se presente no contexto futebolístico como um reflexo das tensões sociais relacionadas à imigração e a globalização. O aumento da xenofobia e do racismo no futebol demonstra a complexidade das questões identitárias e as contradições da globalização, como a inclusão e a exclusão simultâneas de grupos sociais no processo.

4. A Globalização e a Circulação de Talentos Desigualdade e Mobilidade

A globalização abriu novos mercados para o futebol, permitindo a circulação de atletas de diversos países, principalmente para a Europa. O texto cita jogadores africanos (Roger Milla, Abedi Pelé Ayew, George Weah) e latino-americanos (Zico, Maradona, Sócrates) que fizeram sucesso em clubes europeus. No entanto, essa mobilidade revela uma desigualdade estrutural: a trajetória típica de um jogador do sul global envolve a passagem por times cada vez maiores, culminando na Europa, onde os clubes, donos de passes e intermediários lucram mais, perpetuando a desigualdade entre os países e a exploração de talentos. O exemplo da entrevista de João Havelange, ex-presidente da FIFA, ilustra esse salto do futebol de uma situação financeira modesta a um negócio bilionário, mostrando a complexa relação entre a globalização, a desigualdade e a mobilidade social no futebol.

IV.A Globalização e suas Contradições Neoliberalismo Desigualdade e o Futuro do Futebol

A pesquisa discute as contradições da globalização no futebol, abordando a perspectiva crítica de autores como Mészáros e a influência do neoliberalismo. O estudo aponta para a concentração de riqueza, a desigualdade entre países e a exploração de talentos em países periféricos, exemplificada pela trajetória típica de jogadores do sul global rumo à Europa. A análise critica a ideia de uma globalização homogênea e justa, destacando como ela acentua as disparidades sociais e econômicas, tanto no campo quanto fora dele, retomando o debate sobre o impacto da globalização na democracia e nas reformas econômicas neoliberais.

1. A Globalização como Fenômeno Seletivo e Concentrador de Riqueza

O texto critica a visão simplista da globalização como um fenômeno de abertura homogênea das economias nacionais, argumentando que ela é seletiva. Igor Moreira é citado para sustentar que a globalização escolhe lugares, atividades, setores e grupos sociais específicos para se beneficiar, excluindo outros. Essa seletividade contribui para uma maior concentração de riqueza, aumentando as diferenças entre países e classes sociais. A alta taxa de composição orgânica do capital, com a lucratividade dependendo menos do salário, agrava essa desigualdade. A análise critica a ideia de uma globalização harmoniosa, apontando para suas consequências negativas na distribuição de riquezas e oportunidades, reforçando a ideia da globalização como um processo com diversas contradições e desigualdades.

2. Neoliberalismo e as Reformas Econômicas Uma Visão Crítica

A perspectiva neoliberal, que defende a abertura econômica, a livre circulação de capital e a desregulamentação dos mercados como imprescindíveis para o desenvolvimento econômico, é analisada criticamente. Economistas neoliberais acreditam que a modernização e o desenvolvimento dependem da adaptação dos países ao mundo globalizado, com reformas que permitam a maior liberdade possível ao capital em busca do lucro máximo. Contudo, o texto argumenta que essa visão ignora as consequências negativas dessa política, como a redução do escopo da democracia, que se torna cada vez mais formal, sem uma real participação nas decisões econômicas. A perspectiva do texto sugere que a globalização neoliberal aprofunda as desigualdades e reduz o espaço da democracia, criticando essa política econômica.

3. A Globalização e a Falácia da Unidade Mészáros e as Contradições do Capital

A crítica à visão homogênea da globalização é reforçada pela perspectiva de István Mészáros, que destaca o caráter não homogêneo do capital, gerando divisões e contradições. Mészáros critica a ideia de um “governo global” capitalista como uma fantasia, argumentando que a multiplicidade de capitais e a heterogeneidade do trabalho impedem a existência de um monopólio global unificado. A análise de Mészáros enfatiza a complexidade da globalização, mostrando que a visão simplificada de um sistema unificado esconde as múltiplas contradições e desigualdades presentes. Os “milagres econômicos” (alemão, japonês, brasileiro, tigres asiáticos) do pós-guerra, vistos como prova do sucesso do neoliberalismo, são apresentados como uma “terrível realidade prosaica”, demonstrando a falha dos modelos econômicos baseados no capital internacional e na ideia de um mundo sem fronteiras. A análise de Mészáros reforça a perspectiva crítica da globalização, mostrando a sua complexidade e os seus diversos problemas.

4. Alternativas à Globalização Neoliberal e o Papel da Democracia

O texto sugere alternativas à globalização neoliberal e às suas consequências negativas, enfatizando a necessidade de expandir a democracia tanto na esfera política quanto econômica. Uma alternativa seria a democratização da gestão de fundos de propriedade coletiva dos trabalhadores, direcionando-os para seus interesses, e o incentivo à democratização da gestão das empresas. A expansão da democracia é apresentada como um caminho para combater a concentração de riqueza e a redução do espaço democrático. A proposta de ampliação da democracia como alternativa à globalização neoliberal demonstra um posicionamento crítico em relação ao modelo econômico vigente e a busca por alternativas para um sistema mais justo e participativo. A defesa da democratização como uma forma de combater a concentração de riqueza no contexto da globalização demonstra uma visão crítica em relação ao modelo econômico.