
Depressão em Idosos: Incapacidade e Desregulação Emocional
Informações do documento
Autor | Hugo Emanuel Costa Santos |
instructor | Professora Doutora Helena Espírito Santo, Professora Auxiliar |
Escola | ISMT |
Curso | Psicologia Clínica, Ramo de Terapias Cognitivo-Comportamentais |
Tipo de documento | Dissertação de Mestrado |
Idioma | Portuguese |
Formato | |
Tamanho | 835.36 KB |
Resumo
I.Objetivos da Pesquisa
Este estudo investigou os níveis de sintomas depressivos em uma amostra de idosos institucionalizados em Portugal, buscando verificar a extensão em que a incapacidade física e a desregulação emocional predizem esses sintomas. Foram analisados correlatos da depressão, incluindo variáveis sociodemográficas e clínicas (sexo, idade, estado civil, escolaridade, medicação).
1. Objetivo Principal
O objetivo principal da pesquisa foi estudar os níveis de sintomatologia depressiva em uma amostra de idosos institucionalizados. A investigação buscou avaliar a prevalência de sintomas depressivos nessa população específica e analisar a influência de fatores como a incapacidade física e a desregulação emocional na manifestação desses sintomas. Essa abordagem central permitiu uma análise focada nas características específicas da depressão em idosos que residem em instituições, permitindo uma compreensão mais detalhada da problemática em questão e suas possíveis causas. A escolha deste objetivo principal se justifica pela alta prevalência de depressão na população idosa, como apontado por Barua e Kar (2010), e pelo maior risco observado em idosos institucionalizados, de acordo com Ferreira (2018) e Silva et al. (2012). A compreensão da influência da incapacidade física e desregulação emocional é crucial, uma vez que estas condições podem exacerbar a vulnerabilidade à depressão e dificultar o tratamento. O estudo se baseia na premissa de que a depressão é uma perturbação do humor que acarreta sofrimento emocional e redução da qualidade de vida (American Psychiatric Association, 2013; Minghelli et al., 2013; Stella et al., 2002), podendo estar associada a diversos fatores, incluindo isolamento social, incapacidade física e morbilidade (Katona et al., 1997; Paradela et al., 2005; Pocinho et al., 2009).
2. Objetivos Específicos
Além do objetivo principal, a pesquisa também incluiu objetivos específicos que complementam e aprofundam a análise da sintomatologia depressiva em idosos institucionalizados. O estudo se propôs a investigar os correlatos da depressão, considerando variáveis sociodemográficas e clínicas. Essas variáveis incluem características como sexo, idade, estado civil, escolaridade e uso de medicação. A inclusão dessas variáveis sociodemográficas e clínicas no estudo se justifica pela influência conhecida destes fatores na saúde mental da população idosa. A avaliação da incapacidade física e da desregulação emocional se integra como objetivos específicos por serem considerados fatores de risco importantes para o desenvolvimento e agravamento de sintomas depressivos. A inclusão destes objetivos específicos visa aprofundar a compreensão do perfil dos idosos institucionalizados que apresentam sintomas depressivos, identificando possíveis fatores de risco e predisposição para esta condição. Através da análise destes dados, se pretende estabelecer relações entre essas variáveis e a severidade dos sintomas depressivos, contribuindo para a identificação de grupos de risco e informando estratégias de intervenção mais eficazes.
II.Metodologia
A amostra compreendeu 326 participantes, divididos em grupos de idosos da comunidade (n=209) e institucionalizados (n=117), com idades entre 60 e 91 anos (média ± DP = 81,80 ± 7,80), sendo 81% mulheres. A avaliação utilizou a Escala de Depressão Geriátrica (GDS), a World Health Organization Disability Assessment Schedule (WHODAS-2) e a Difficulties in Emotion Regulation Scale (DERS-16). A maioria dos participantes (95,1%) residia na região Centro de Portugal, principalmente no distrito de Coimbra (84,4%).
1. Amostra e Recrutamento
O estudo utilizou uma amostra de 326 idosos, com idades entre 60 e 91 anos (M ± DP = 81,80 ± 7,80), sendo 81% mulheres. A amostra foi dividida em dois grupos: um grupo de idosos da comunidade (n=209) e um grupo de idosos institucionalizados (n=117). Apesar de 475 idosos institucionalizados terem sido inicialmente selecionados, 73 não foram avaliados por estarem acamados (15,4%), e mais 282 não participaram devido à pandemia de COVID-19 e dificuldades logísticas. Os critérios de inclusão exigiram idade igual ou superior a 60 anos e consentimento informado, enquanto os critérios de exclusão envolviam doenças mentais ou cognitivas e incapacidades motoras graves. O recrutamento utilizou amostragem por conveniência geográfica, com a maioria dos participantes residentes na região Centro de Portugal (95,1%), principalmente no distrito de Coimbra (84,4%). Houve 7 recusas em estruturas residenciais para idosos (1,5%), 11 em centros de dia (2,3%) e 5 na comunidade (6,7%). A amostragem geográfica concentrada e as perdas significativas por razões logísticas e a pandemia limitam a generalização dos resultados para além da região Centro de Portugal, principalmente para o Distrito de Coimbra. Esta informação é relevante para a interpretação dos dados e para a replicação do estudo em outras regiões e contextos.
2. Instrumentos de Avaliação
Para avaliar os sintomas depressivos, incapacidade física e desregulação emocional, foram utilizados três instrumentos: a Escala de Depressão Geriátrica (GDS), a World Health Organization Disability Assessment Schedule (WHODAS-2) e a Difficulties in Emotion Regulation Scale (DERS-16). A GDS, na sua versão reduzida de oito itens, utilizou um formato de resposta dicotômico (sim/não), com pontuação variando de 0 a 8, e um ponto de corte de 6 pontos para indicar sintomatologia depressiva. O alfa de Cronbach obtido no presente estudo foi de 0,88. O WHODAS-2, avaliou as dificuldades no dia a dia do indivíduo nos últimos 30 dias, em seis componentes: mobilidade, autocuidado, atividades diárias, cognição, participação e relações interpessoais. Este instrumento utilizou uma escala de 1 a 5, com alfa de Cronbach de 0,93 no presente estudo. A DERS-16 avaliou as dificuldades na regulação emocional com alfa de Cronbach de 0,96. Além destes instrumentos, um questionário sociodemográfico e clínico recolheu dados sobre sexo, idade, escolaridade, estado civil, profissão e uso de medicação. Teste-retestes foram aplicados a uma amostra de 55 participantes após um mês para análise de confiabilidade das medidas.
3. Análise Estatística
A análise estatística dos dados foi realizada utilizando o programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS, versão 26.0). Inicialmente, o alfa de Cronbach foi calculado para avaliar a consistência interna do GDS, WHODAS-2 e DERS, com valores acima de 0,8 considerados adequados. A caracterização da amostra global e dos dois grupos (comunidade e institucionalizados) foi feita através da média, desvio padrão e teste do qui-quadrado. A caracterização clínica utilizou o qui-quadrado de independência. Para a análise de regressão, o método de Templeton (2011) foi usado para normalizar os valores e garantir que os pressupostos de normalidade fossem atendidos. O método utilizado para análise dos dados, com o uso do SPSS e as transformações estatísticas aplicadas, garante a fidedignidade dos resultados, permitindo uma compreensão mais precisa das relações entre as variáveis analisadas. As análises estatísticas permitiram testar as hipóteses de pesquisa, determinar a associação entre as variáveis e identificar os preditores dos sintomas depressivos na amostra estudada.
III.Resultados Caracterização da Amostra
O grupo institucionalizado apresentou uma proporção de homens e mulheres diferente da região Centro (χ² = 7,14; p < 0,01) e uma idade média superior à do grupo da comunidade (p < 0,001). Diferenças significativas também foram observadas em relação à escolaridade (p < 0,001), com maior proporção de idosos com o primeiro ciclo no grupo institucionalizado. A maior parte dos idosos institucionalizados estavam em lares (49,6%), seguidos de centros de dia (33,3%) e apoio domiciliário (17,1%).
1. Distribuição por Sexo
A amostra total incluiu 326 participantes, com predominância feminina (81%). No grupo da comunidade (n=209), a proporção de homens e mulheres foi semelhante à da população idosa da região Centro de Portugal (χ² = 0,670; p = 0,413), segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (2019). Já no grupo de idosos institucionalizados (n=117), a proporção entre sexos diferiu significativamente daquela observada na região Centro (χ² = 7,14; p < 0,01), mostrando uma desproporção que precisa ser analisada em relação aos fatores que podem influenciar a institucionalização de idosos, levando em consideração as diferenças de gênero. Esta discrepância entre as proporções de sexo entre os grupos reforça a necessidade de uma investigação mais detalhada sobre as possíveis razões por trás dessa diferença, considerando-se fatores culturais, sociais e de acesso a cuidados de saúde que possam influenciar a probabilidade de institucionalização para homens e mulheres. A análise de dados futuros poderá contribuir para melhor entender esses fatores.
2. Distribuição por Idade
Diferenças altamente significativas na idade foram observadas entre os grupos (p < 0,001). No grupo da comunidade, a idade mais representada foi entre 70 e 79 anos, enquanto no grupo institucionalizado, a faixa etária mais comum foi entre 80 e 89 anos (70%). A proporção de idosos por faixa etária no grupo institucionalizado diferiu significativamente daquela observada na região Centro (χ² = 152,79; p < 0,001), de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (2019) e PORDATA (2020). Essa diferença reforça a tendência observada de idosos mais velhos serem mais propensos a necessitar de institucionalização, revelando um padrão relevante para a compreensão do perfil populacional estudado e a própria dinâmica de envelhecimento na população portuguesa. O padrão observado sugere que uma análise mais detalhada do perfil de saúde e funcionalidade dos idosos em cada faixa etária se faz necessária, permitindo identificar melhor os fatores que contribuem para a institucionalização.
3. Nível de Escolaridade
A maioria dos participantes havia concluído o primeiro ciclo do ensino básico. Diferenças altamente significativas no nível de escolaridade foram observadas entre os grupos (p < 0,001). Em ambos os grupos, as proporções de idosos por nível de escolaridade divergiram daquelas observadas na região Centro (comunidade: χ² = 42,72; p < 0,001; institucionalizados: χ² = 19,53; p < 0,01), conforme dados do Instituto Nacional de Estatística (2019) e PORDATA (2020). Essa disparidade entre o perfil da amostra e a população da região Centro ressalta a importância de contextualizar os resultados levando em conta esse desvio. É importante considerar que este fator pode ter influência nos resultados encontrados no estudo, uma vez que níveis de escolaridade podem estar correlacionados com o acesso a recursos e a informações que podem influenciar a saúde mental e as oportunidades disponíveis para os idosos na comunidade. Estudos adicionais podem investigar a correlação entre escolaridade e acesso à saúde mental para melhor compreensão do fenômeno.
4. Outras Variáveis Sociodemográficas
A maioria dos participantes (63,8%) residia em áreas rurais, com diferenças muito significativas (p < 0,01) entre os grupos. Quanto à profissão, a maioria exercia trabalho manual, sem diferenças significativas entre os grupos (p > 0,05). No grupo institucionalizado, a maior parte era casada ou em união de facto (51,5%), enquanto no grupo da comunidade esse número era de 64,1%, mostrando uma porcentagem maior de viúvas no grupo institucionalizado (59%). Diferenças altamente significativas foram observadas no estado civil entre os grupos (p < 0,001). A análise dessas variáveis sociodemográficas, em conjunto com outras variáveis clínicas, fornece um contexto abrangente para compreender as características da amostra estudada e suas implicações na pesquisa sobre sintomas depressivos. O tipo de local de residência, estado civil e tipo de trabalho podem influenciar o acesso aos recursos da comunidade e o nível de apoio social disponível para os idosos. A análise aprofundada desta relação poderá elucidar sobre os fatores que contribuem para o desenvolvimento de sintomatologia depressiva em idosos.
IV.Resultados Sintomas Depressivos Incapacidade e Desregulação Emocional
Os idosos institucionalizados apresentaram uma média de 3,91 (DP = 2,85) na GDS, sem diferença significativa em relação ao grupo da comunidade. Contudo, o grupo institucionalizado apresentou média superior no WHODAS-2 (indicando maior incapacidade física), embora a diferença não tenha sido estatisticamente significativa. Na DERS-16, as médias foram superiores no grupo institucionalizado, com diferenças significativas nas subescalas de Estratégias e Não-aceitação (p < 0,01), indicando maior desregulação emocional.
1. Sintomas Depressivos GDS
A análise dos sintomas depressivos, utilizando a Geriatric Depression Scale (GDS), revelou que a média de pontuação no grupo de idosos institucionalizados foi de 3,91 (DP = 2,85). Apesar de numericamente superior à média do grupo da comunidade, essa diferença não foi estatisticamente significativa, e o tamanho do efeito foi considerado insignificante. Considerando o ponto de corte de 6 pontos na GDS, 44,4% (n=52) dos idosos institucionalizados apresentaram sintomatologia indicativa de depressão, comparado a 37,3% (n=78) do grupo da comunidade. Embora a percentagem seja maior no grupo institucionalizado, essa diferença também não foi estatisticamente significativa (χ² = 1,59; p = 0,208). Estes dados sugerem que, apesar de existir uma maior proporção de idosos com sintomatologia depressiva no grupo institucionalizado, essa diferença não é estatisticamente significativa, indicando a necessidade de investigação mais aprofundada sobre outros fatores que podem influenciar a prevalência de depressão nesses grupos.
2. Incapacidade Física WHODAS 2
Utilizando a World Health Organization Disability Assessment Schedule (WHODAS-2), observou-se uma média superior no grupo institucionalizado (M = 35,51; DP = 26,26) em comparação com o grupo da comunidade. Apesar da diferença numérica, a significância estatística não foi alcançada (p > 0,05), embora o tamanho do efeito tenha sido considerado moderado (g de Hedges = 0,67). Este resultado indica uma tendência para maior incapacidade física no grupo institucionalizado, mas sem atingir a significância estatística em relação ao grupo da comunidade. Esta análise sugere que a incapacidade física, avaliada pela WHODAS-2, pode estar presente de forma mais acentuada entre os idosos institucionalizados, apontando para uma possível relação com outros fatores, como a própria condição de saúde, o contexto institucional e as atividades de vida diária dos idosos. A falta de significância estatística pode ser atribuída a variabilidade dos dados ou ao tamanho da amostra.
3. Desregulação Emocional DERS 16
A Difficulties in Emotion Regulation Scale (DERS-16) indicou que a média de pontuação foi superior no grupo de idosos institucionalizados (M = 35,92), comparado ao grupo da comunidade. No entanto, essa diferença não alcançou significância estatística (p > 0,05). Entretanto, analisando as subescalas do DERS-16, observou-se uma média significativamente mais alta no grupo institucionalizado nas subescalas de Estratégias (M = 11,48; DP = 5,80) e Não-aceitação (M = 7,23; DP = 4,06), com p < 0,01 e tamanho de efeito pequeno. Estes achados indicam que, embora a pontuação total da DERS-16 não tenha apresentado diferença significativa entre os grupos, a dificuldade na regulação emocional, especificamente nas áreas de estratégias de regulação e não-aceitação de emoções, é mais acentuada em idosos institucionalizados, destacando a importância de considerar a desregulação emocional em diferentes dimensões na avaliação da saúde mental desta população. É importante considerar que fatores como a adaptação a um novo ambiente, a perda da independência e a solidão podem contribuir para esta diferença.
V.Resultados Preditores de Sintomas Depressivos
A análise de regressão mostrou que o sexo feminino, o uso de fármacos agonistas adrenérgicos-beta, a incapacidade física (WHODAS-2) e a desregulação emocional (DERS-16) foram preditores significativos de sintomas depressivos em idosos institucionalizados. O sexo feminino foi o único preditor sociodemográfico significativo.
1. Análise de Regressão Preditores de Sintomas Depressivos
Para identificar os preditores de sintomas depressivos em idosos institucionalizados, foi realizada uma análise de regressão, utilizando o método de Templeton (2011) para normalizar os dados. A análise revelou que, no primeiro bloco de variáveis, o sexo feminino (b = 0,18; p < 0,05) e o uso de agonistas adrenérgicos-beta (b = -0,21; p < 0,05) foram preditores significativos. No segundo bloco, a disfuncionalidade, medida pelo WHODAS-2 (b = 0,26; p < 0,01), e a desregulação emocional, medida pelo DERS-16 (b = 0,35; p < 0,001), também se mostraram como preditores significativos. O coeficiente de determinação (R²) foi de 12% para o primeiro bloco e 29% para o segundo, indicando que os fatores analisados explicam uma porção considerável da variância nos sintomas depressivos. A análise de variância confirmou a significância estatística de ambos os blocos. Os resultados demonstram a influência de fatores sociodemográficos (sexo), clínicos (medicação), e psicológicos (desregulação emocional e incapacidade física) sobre os sintomas depressivos, reforçando a complexidade da depressão em idosos institucionalizados e a necessidade de abordagens multifacetadas para a sua prevenção e tratamento.
2. Discussão dos Preditores Sexo Disfuncionalidade e Desregulação Emocional
A associação entre sexo feminino e sintomas depressivos corrobora estudos anteriores (Figueiredo-Duarte et al., 2019; Silva et al., 2012; Vaz & Gaspar, 2011), embora outros estudos com idosos institucionalizados não tenham encontrado essa associação (Vicente et al., 2014). A discrepância com o estudo de Vicente et al. (2014), que mostrou maior prevalência de participantes com escolaridade, pode estar relacionada à não associação do sexo feminino com o aumento dos sintomas depressivos neste estudo. De acordo com Bjelland et al. (2008), maior escolaridade pode ser um fator protetor. A maior prevalência de sintomas em mulheres pode estar ligada a fatores socioeconômicos inferiores, menor acesso a atividades sociais e menor apoio emocional (Figueiredo-Duarte et al., 2019; Zunzunegui et al., 1998). A disfuncionalidade (WHODAS-2) e a desregulação emocional (DERS-16) como preditores significativos dos sintomas depressivos reforçam a importância de considerar as limitações funcionais e os problemas de regulação emocional no tratamento da depressão em idosos. A correlação entre sintomas depressivos e incapacidade física (conforme observado na correlação positiva entre GDS e WHODAS-2) também é destacada por outros autores (Ferrer et al., 2019; Moreira et al., 2015), indicando que a incapacidade para realizar tarefas do dia a dia contribui para o aumento dos sintomas.
VI.Discussão e Conclusão
Este estudo contribui para a compreensão da depressão em idosos institucionalizados em Portugal, evidenciando a relação entre sintomas depressivos, incapacidade física e desregulação emocional. A prevalência da depressão em idosos institucionalizados é uma preocupação, e os resultados sugerem que intervenções direcionadas à incapacidade física e à desregulação emocional podem ser importantes na prevenção e tratamento da depressão geriátrica. O estudo apresenta limitações, incluindo o tamanho da amostra e a distribuição geográfica dos participantes, indicando a necessidade de pesquisas futuras com maior poder estatístico.
1. Discussão dos Resultados
A discussão dos resultados aborda a relação entre sintomas depressivos, disfuncionalidade e desregulação emocional em idosos, considerando os achados em relação à escolaridade, estado civil e espaço geográfico. A ausência de diferenças estatisticamente significativas na sintomatologia depressiva entre os níveis de escolaridade contrasta com estudos como o de Figueiredo-Duarte (2019), que aponta para um aumento dos sintomas em idosos sem escolaridade. Contudo, a magnitude dessa diferença em estudos prévios foi pequena, e a maior representatividade de idosos institucionalizados com o primeiro ciclo no presente estudo, juntamente com a maior proporção de mulheres (associada a maior sintomatologia depressiva - Figueiredo-Duarte et al., 2019; Silva et al., 2012; Vaz & Gaspar, 2011), podem influenciar os resultados. Da mesma forma, a falta de associação entre sintomatologia depressiva e estado civil contrasta com estudos que apontam para maior prevalência em idosos viúvos (Faísca et al., 2019; Frade et al., 2015; Kabátová et al., 2014), mas a boa representatividade de idosos casados neste estudo pode ter atuado como fator de proteção. A ausência de diferença estatisticamente significativa em relação ao espaço geográfico (rural x urbano) diverge de estudos que apontam para maior solidão e menor qualidade de vida em áreas urbanas (Teixeira, 2010). A maior dispersão na recolha de dados em diferentes distritos pode ter contribuído para esse resultado. A correlação positiva, embora pequena, entre GDS e WHODAS-2 indica que maior sintomatologia depressiva está associada a maior incapacidade física, corroborando estudos que apontam o aumento da incapacidade com a idade (Ferrer et al., 2019; Moreira et al., 2015).
2. Limitações do Estudo
O estudo apresenta algumas limitações a serem consideradas. Valores de confiabilidade de alguns instrumentos e subescalas ficaram acima do recomendado, possivelmente refletindo redundância em vez de homogeneidade. O tamanho reduzido da amostra em alguns subgrupos do grupo institucionalizado pode ter afetado os resultados, comprometendo o poder estatístico. Em estudos futuros, um tamanho de amostra maior é recomendado para corroborar os resultados. A proporção de idosos por tipo de resposta social (lar, centro de dia, apoio domiciliário) não foi semelhante à proporção do distrito de Coimbra, limitando a generalização dos resultados. Pesquisas futuras em outros distritos, com maior número de participantes e uma amostragem mais representativa, são necessárias para confirmar ou refutar os achados e expandir a generalização dos resultados para além do contexto específico deste estudo. A consideração destas limitações é crucial para a interpretação dos resultados e para a formulação de novas investigações na área.
3. Conclusão
A pesquisa conclui que o sexo feminino, o uso de agonistas adrenérgicos-beta, a disfuncionalidade física e a desregulação emocional foram preditores de sintomas depressivos em idosos institucionalizados. A única variável sociodemográfica associada ao aumento da sintomatologia depressiva foi o sexo feminino, corroborando outros estudos. O estudo contribui para a compreensão da depressão em idosos institucionalizados, evidenciando a importância da disfuncionalidade e da desregulação emocional. A prevenção e reconhecimento dessas variáveis são cruciais para o tratamento. O declínio funcional associado ao envelhecimento e a subsequente depressão requerem estudos que aprofundem a compreensão do envelhecimento, dos fatores desencadeantes de problemas de saúde e da forma de lidar com eles para melhorar a qualidade de vida do idoso. Os resultados sugerem que abordagens multidisciplinares, focando no tratamento da disfuncionalidade e da desregulação emocional, sejam necessárias para uma intervenção mais eficaz na depressão em idosos institucionalizados.
Referência do documento
- Fatores associados à depressão em idosos institucionalizados: Revisão integrativa (Nóbrega, I. R. A. P. da, Leal, M. C. C., Marques, A. P. de O., & Vieira, J. de C. M.)
- Avaliação da capacidade funcional e prevalência de sintomas depressivos em idosos institucionalizados (Oliveira, A. C. A. de, Perina, K. C. B., & Machado, P. M. M.)