
Teste Rey-Osterrieth em EM
Informações do documento
Idioma | Portuguese |
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Tamanho | 2.58 MB |
Resumo
I.Objetivo do Estudo Avaliação das Propriedades Psicométricas da FCR O em Doentes com Esclerose Múltipla EM
Este estudo investiga as propriedades psicométricas do Teste da Figura Complexa de Rey-Osterrieth (FCR-O) em uma amostra de 68 doentes com Esclerose Múltipla (EM) e 81 indivíduos saudáveis. O objetivo principal é determinar a confiabilidade (consistência interna e temporal) e validade (convergente) da FCR-O para diagnosticar défices visuoespaciais e disfunção executiva em pacientes com EM, estabelecendo um ponto de corte e definindo valores normativos para a população portuguesa. Foram utilizados testes adicionais, como a Bateria de Avaliação Frontal (FAB), Teste Stroop Torga (TST), Teste de Fluência Verbal Fonêmica (TFVF) e o Montreal Cognitive Assessment (MoCA), para análise da validade convergente e criação de um índice de funcionamento cognitivo.
1. Introdução O Teste da Figura Complexa de Rey Osterrieth FCR O e a Esclerose Múltipla
Esta seção introduz o estudo, focando-se na avaliação das propriedades psicométricas do Teste da Figura Complexa de Rey-Osterrieth (FCR-O) em pacientes com Esclerose Múltipla (EM). A EM é apresentada como uma doença do Sistema Nervoso Central (SNC) com grande variabilidade de sintomas, incluindo alterações cognitivas significativas que afetam a memória, atenção e funções executivas. A escolha da FCR-O justifica-se pela sua ampla utilização, facilidade de aplicação e potencial para avaliar habilidades visoconstrutivas, visoespaciais, memória e funções executivas, como planejamento. A pesquisa destaca a necessidade de instrumentos neuropsicológicos validados para o diagnóstico e acompanhamento de pacientes com EM em Portugal, dada a carência de instrumentos adequados e validados para esta população. Diversos estudos são citados, destacando a variabilidade da EM e seus impactos cognitivos, incluindo dificuldades em funções executivas, processamento da informação e memória de trabalho, reforçando a relevância do estudo proposto. A prevalência da EM em Portugal é mencionada, assim como os desafios para a qualidade de vida dos doentes e seus cuidadores.
2. Objetivos Principais da Pesquisa
O objetivo central é determinar as propriedades psicométricas da FCR-O em doentes com EM. Isto envolve calcular a confiabilidade (consistência interna, consistência temporal e validade convergente) e a precisão diagnóstica do instrumento, visando determinar um ponto de corte útil. Outro objetivo crucial é determinar os valores normativos da FCR-O para a população portuguesa de doentes com EM, permitindo uma comparação mais precisa dos resultados obtidos com os resultados esperados em uma população saudável. Finalmente, o estudo visa analisar a capacidade discriminativa da FCR-O, ou seja, a sua capacidade em diferenciar entre doentes com EM com défices executivos e aqueles sem tais défices. A importância desta pesquisa reside na validação de um instrumento que possa auxiliar no diagnóstico e no acompanhamento dos pacientes com EM, uma vez que vários instrumentos adequados não se encontram validados para doentes com EM em Portugal.
3. Metodologia Participantes e Instrumentos Utilizados
A pesquisa utilizou uma amostra de 149 participantes, composta por duas subamostras: uma clínica (68 doentes com EM) e outra não-clínica (81 indivíduos saudáveis). Os participantes foram recrutados principalmente através de delegações regionais da SPEM (Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla) em várias cidades portuguesas (Coimbra, Leiria, Lisboa e Viseu), mas também através de recrutamento comunitário. Critérios de inclusão foram definidos, como idade mínima de 30 anos, residência em Portugal, conhecimento da língua portuguesa e capacidade cognitiva e física para realizar as avaliações. A FCR-O foi o instrumento principal, avaliada em três momentos (cópia, memória imediata e memória diferida). Outros instrumentos neuropsicológicos foram utilizados para avaliação de funções cognitivas, incluindo a Bateria de Avaliação Frontal (FAB), Teste Stroop Torga (TST), Teste de Fluências Verbais Fonémicas (TFVF), teste de alternância e o Montreal Cognitive Assessment (MoCA). A utilização destes testes adicionais visa a análise da validade convergente da FCR-O e a construção de índices de funcionamento cognitivo.
II.Metodologia Instrumentos e Amostra
A recolha de dados ocorreu entre Dezembro de 2018 e Maio de 2019, envolvendo participantes recrutados principalmente através das delegações regionais da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM) em Coimbra, Leiria, Lisboa e Viseu. A amostra total incluiu 149 participantes: 68 doentes com EM (subamostra clínica) e 81 indivíduos saudáveis (subamostra não-clínica). Os critérios de inclusão consideraram idade ≥ 30 anos, residência em Portugal, conhecimento da língua portuguesa e capacidades cognitivas e físicas adequadas para a realização dos testes. A FCR-O (Cópia, Memória 3 minutos e Memória 20 minutos) foi o teste principal, complementada por outros instrumentos neuropsicológicos para avaliação de funções executivas, memória, atenção e velocidade de processamento da informação.
1. Recrutamento e Caracterização da Amostra
O estudo envolveu 149 participantes, divididos em duas subamostras: uma clínica (68 pacientes com Esclerose Múltipla - EM) e uma não-clínica (81 indivíduos saudáveis). A maior parte dos pacientes com EM foi recrutada através das delegações regionais da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM) em Coimbra, Leiria, Lisboa e Viseu. No entanto, uma parte da amostra, tanto de pacientes com EM como do grupo de controlo, foi recrutada na comunidade. O período de recolha de dados foi entre dezembro de 2018 e maio de 2019. A inclusão dos participantes baseou-se em critérios como idade igual ou superior a 30 anos, residência em Portugal, língua materna portuguesa, e capacidades físicas e cognitivas suficientes para a realização dos testes. É importante notar que pacientes com défices cognitivos não foram excluídos, uma vez que esta é uma característica clínica da EM. Informações adicionais, como número de surtos e tipologia da doença, foram obtidas através das delegações da SPEM, embora nem todas as instituições fornecessem todas as informações clínicas. A variável 'número de surtos' foi categorizada em intervalos devido à dificuldade de alguns pacientes em reportar o número exato.
2. Instrumentos de Avaliação Neuropsicológica
O estudo utilizou uma bateria de testes neuropsicológicos para avaliar diferentes domínios cognitivos. O instrumento principal foi o Teste da Figura Complexa de Rey-Osterrieth (FCR-O), administrado em três momentos: cópia, memória imediata (3 minutos) e memória diferida (20 minutos). Este teste avalia memória visual, habilidades visoespaciais e visoconstrutivas, e funções executivas como planejamento. Para análise da validade convergente e construção de índices de funcionamento cognitivo, foram utilizados outros testes: Bateria de Avaliação Frontal (FAB), Teste Stroop Torga (TST) – com uma adaptação que retirou o limite de tempo na prova de nomeação de cor, Teste de Fluências Verbais Fonémicas (TFVF) – utilizando as letras P, U e V, e o Montreal Cognitive Assessment (MoCA), sendo usadas apenas as subescalas de habilidade visoespacial e executiva, memória e evocação diferida. Um questionário sociodemográfico e clínico recolheu informações adicionais sobre os participantes, incluindo sexo, idade, escolaridade, profissão e área de residência.
III.Resultados Análise Descritiva e Psicométrica
A análise descritiva revelou que a média de idades foi de 48,03 anos na subamostra clínica, similar a outros estudos. A maioria dos participantes com EM apresentava o subtipo EMRR. A análise psicométrica da FCR-O mostrou boa consistência interna (alfa de Cronbach de 0,95). A análise teste-reteste indicou uma correlação moderada (r = 0,43). A análise ROC sugere um ponto de corte de 24 pontos para detectar défice visuoespacial, com uma área sob a curva (AUC) alta e significativa. Correlações foram encontradas entre as pontuações da FCR-O e o tempo desde o último surto e o tempo desde o diagnóstico.
1. Análise Descritiva da Amostra
A análise descritiva da amostra revelou que a média de idades na subamostra clínica (pacientes com EM) foi de 48,03 anos, um valor semelhante ao encontrado em outros estudos com pacientes de EM e seus parceiros. A média de idades não diferiu significativamente entre o grupo de pacientes com EM e o grupo de controlo (indivíduos saudáveis), com uma média geral de 47,72 anos. Este resultado corrobora achados de outros estudos, apesar de algumas variações nas médias. Em relação ao sexo, a análise descritiva mostrou uma maior prevalência do sexo feminino na amostra, corroborando os resultados de outros estudos que também observaram uma maior proporção de mulheres entre os pacientes com EM. A maior parte da subamostra clínica (SAC) era constituída pelo subtipo de EM Recidivante-Remitente (EMRR), o que pode ter influência nos resultados obtidos, já que outros subtipos de EM, como EMPP e EMSP, podem apresentar maior comprometimento cognitivo. A análise descritiva das pontuações da FCR-O-C (Cópia) mostrou uma média de 28,57 ± 9,93 na subamostra clínica e 33,17 ± 5,29 na subamostra não clínica, sendo esta última ligeiramente superior aos resultados de outros estudos em populações saudáveis. As subescalas de memória da FCR-O (FCR-O-M3 e FCR-O-M20) apresentaram pontuações mais baixas, um padrão semelhante a outros estudos.
2. Análise Psicométrica da FCR O Confiabilidade e Validade
A análise psicométrica da FCR-O focou-se na sua confiabilidade e validade. A consistência interna, medida pelo alfa de Cronbach, foi de 0,95, indicando boa consistência interna do teste, alinhado com resultados de outros estudos com diferentes populações. A análise teste-reteste, com intervalo de quatro a oito semanas entre avaliações, revelou uma correlação moderada (r = 0,43), corroborando outros estudos com intervalos de tempo similares, embora a maioria destes não envolvesse pacientes com EM. Em relação à precisão diagnóstica, a análise ROC (Receiver Operating Characteristic) indicou um valor de AUC (Área sob a Curva) alto e significativo, sugerindo que a FCR-O consegue discriminar eficazmente indivíduos com EM e défices visuoespaciais. Um ponto de corte de 24 pontos foi sugerido para indicar défices visuoespaciais. Finalmente, foram analisadas as correlações entre a FCR-O e variáveis clínicas, como número de meses desde o último surto e tempo desde o diagnóstico, encontrando-se correlações significativas. No entanto, não foram encontradas correlações com o número total de surtos, medicamentos, idade do diagnóstico, invalidez e grau de incapacidade, divergindo de outros estudos que destacam a forte correlação com idade e escolaridade.
IV.Discussão e Limitações
A FCR-O mostrou-se um instrumento útil e acessível para avaliar as habilidades visoespaciais e visoconstrutivas, bem como funções executivas em doentes com EM. No entanto, o estudo apresenta limitações devido ao tamanho de amostra pequeno, o que reduz o poder estatístico e limita a generalização dos resultados para toda a população portuguesa com EM. Os resultados devem ser considerados preliminares, requerendo futuras investigações com amostras maiores e representativas.
1. Discussão dos Resultados A Utilidade da FCR O na Avaliação de Pacientes com EM
A discussão dos resultados destaca a utilidade da FCR-O na avaliação de pacientes com EM, particularmente na detecção de défices visuoespaciais e visoconstrutivos, com a tarefa de cópia fornecendo informações relevantes. A facilidade de compreensão, administração e cotação do teste, bem como a acessibilidade dos materiais, são ressaltadas como vantagens significativas. Os resultados de consistência interna (alfa de Cronbach de 0,95) e consistência temporal (correlação moderada de r = 0,43), apesar de esta última ser considerada moderada, são comparados com estudos anteriores, salientando-se a ausência de estudos comparáveis em doentes com EM para a consistência temporal. A análise ROC, embora com limitações de poder estatístico, aponta para um ponto de corte de 24 pontos na FCR-O para indicar défices visuoespaciais, com uma AUC alta e significativa. Correlações entre as pontuações na FCR-O e o tempo desde o último surto e o tempo desde o diagnóstico foram encontradas. A ausência de correlação com outras variáveis, como o número total de surtos, é discutida à luz de outros estudos e da característica da amostra, composta majoritariamente por indivíduos jovens, altamente escolarizados e com profissões de nível intelectual, sugerindo que esses fatores podem atuar como proteção contra défices cognitivos mais severos.
2. Limitações do Estudo e Sugestões para Pesquisas Futuras
A principal limitação do estudo é o tamanho reduzido da amostra, afetando o poder estatístico de alguns testes e a representatividade da população portuguesa com EM. Os resultados, especialmente os referentes à análise psicométrica, são apresentados como preliminares. A amostra não é representativa da população portuguesa com EM, o que implica que os resultados não podem ser generalizados para toda a população. A necessidade de estudos futuros, com amostras maiores e representativas, é destacada para confirmar os resultados obtidos e validar completamente o Teste da Figura Complexa de Rey-Osterrieth (FCR-O) para a população de doentes com EM em Portugal. A discussão enfatiza a importância de investigações futuras com maior poder estatístico para uma validação mais robusta do instrumento na população em questão.